sexta-feira, 2 de outubro de 2020

 

II Encontro de

Ficção Científica e Ensino de Ciências

(FIOCRUZ)

Dia 5

 

202010012359P5 — 22.000 D.V.

 

“Até os erros presentes nos filmes de ficção científica podem trazer reflexões em sala de aula.”

[Madalena Mello e Silva]

 

Neste meu vigésimo segundo milésimo dia de vida, desenrolou-se hoje à noite a quinta e última sessão do já saudoso II Encontro de Ficção Científica e Ensino de Ciências (EFCEC) — o simpósio online semanal patrocinado durante o mês de setembro de 2020, ano I da Covid-19, pela Fundação Oswaldo Cruz (FIOCRUZ), coordenado pela equipe da professora Anunciata Sawada e do tecnólogo Adílson Júnior.

Esta sessão se caracterizou por apresentações da valorosa prata da casa.

As apresentadoras desta quinta-feira foram a jovem Nayla Freire Martins, orientanda de iniciação científica da Anunciata; da mestra em Ensino de Biociências pela FIOCRUZ, Bruna Navarone Santos; e da professora Madalena Mello e Silva, também doutora por essa instituição, que tem usado filmes de ficção científica em sala de aula como ferramenta no ensino de ciências.

Desta vez a mediação ficou a cargo da própria Anunciata e de Fernanda Pereira-Silva.  Como de costume, a sessão se iniciou com rigorosa pontualidade carioca às 19h03, embora só estivesse marcada no YouTube para às 19h25.

Dentre os mais de dois mil inscritos no site do II Encontro, houve trezentos e cinco pessoas assistindo a sessão online em lotação de pico.  Ao longo das quase duas horas de duração, pessoas entravam e saíam do evento a torto e a direito.  Ao fim, havia cento e cinquenta expectadores e 240 curtidas.  Números, grosso modo, semelhantes aos das sessões anteriores.

No cartaz de divulgação desta quinta sessão, a palestra da Madalena aparecia acima da fala da Bruna e a participação da Nayla não era mencionada.  A ordem real das falas foi: primeiro Nayla, então a Bruna e enfim a Madalena.  As três empregaram o PowerPoint em suas apresentações, com compartilhamento de telas e tudo o mais.

Essa quinta sessão do II Encontro está disponível no YouTube:

https://www.youtube.com/watch?v=oIRA67Z1aLM.

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Anunciata apresentou sua orientada como uma mãe-coruja e a plateia logo percebeu que a professora realmente tinha razões para se sentir orgulhosa.

A apresentação da Nayla, “Iniciação Científica: Relato de Experiência”, cumpriu a promessa expressa em seu próprio título: ao longo de cerca de dez minutos, ela relatou sua experiência como orientanda no programa de iniciação científica da FIOCRUZ, com ênfase na aprendizagem de ciência como atividade lúdica, com o emprego de animês e mangás.

O mais bacana da fala da Nayla foi observar o brilho de entusiasmo indisfarçável em seus olhos quando descreveu suas atividades no programa, as experiências de vida que adquiriu na instituição e, o mais importante de tudo: a paixão pela ciência, despertada por tais experiências.

A última sessão não poderia abrir de maneira mais inspiradora e auspiciosa.

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Finda a apresentação preambular da Nayla, Fernanda apresentou o currículo da segunda palestrante.  Bruna Navarone Santos é mestra em Ensino em Biociências e Saúde.  Porém, o mais importante é que ela deu uma aula sobre mangás e animês de ficção científica.

A apresentação da Bruna, “Representações de Ciência e Tecnologia no Animê e Mangá”, ensinou um bocado sobre essas duas formas de expressão artística japonesas, preenchendo as profundezas abissais da minha ignorância sobre tais assuntos.

Ela abriu sua fala com um sumário breve do contexto sociopolítico do mangá no Japão do pós-guerra.  Em seguida, comentou a contraposição das concepções de ciência japonesa e ocidental.

Para exemplificar, pinçou dois mangás de ficção científica clássicos, que mais tarde se tornaram animês de sucesso no Japão e mundo afora: Astro Boy e Nausicäa do Vale do Vento.

O mangá original Astro Boy (1955-1981), escrito e desenhado por Osamu Tezuka, narra as aventuras de um androide criado pelo Ministro da Ciência, Doutor Tenma, para substituir seu filho Tobio, que perdeu a vida em um acidente a bordo de um veículo autopilotado.  Bruna abordou com propriedade os símbolos e metáforas nos enredos de Astro Boy.  Um ponto curioso que ela comentou foi que os androides e robôs desse universo ficcional obedecem as Três Leis da Robótica, propostas por Isaac Asimov.

 

Astro Boy (mangá)


Mais tarde, ao analisar a narrativa pós-holocausto de Nausicäa do Vale do Vento, criação de Hayao Miyazaki, Bruna se deteve nas concepções de ciência e tecnologia do mangá e do animê nele inspirado.  A protagonista Nausicäa é uma princesa-cientista de um cenário pós-holocausto, ambientado num futuro remoto, que se envolve em explorações, aventuras e descobertas.  Como em Astro Boy, esse mangá de sucesso acabou se transformando em animê.

Ao fim de sua apresentação, Bruna colocou que “é preciso ressaltar que nesta tentativa de compreensão dessas narrativas no mangá e no animê não há intenção de buscar correspondência entre os fatos e as representações, mas expressar possíveis ideias, concepções de mundo, diante das tecnologias científicas.”

De todas as palestras que assisti no II Encontro, esta foi disparado a que mais me ensinou.

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Ao longo do relato da Nayla e das duas apresentações formais desta quinta sessão, sempre que possível, tentei passar os olhos pelo chat, para conferir o humor da galera e a lista de presentes.

Ali estavam meus amigos do Vórtice Rio, Adílson Júnior, Juliana Berlim e Ricardo França.  O Clube de Leitores de Ficção Científica se fez presente na figura de seu presidente, Luiz Felipe Vasques.  Os professores Naelton Araújo e Alexander Meireles da Silva compareceram representando o Planetário da Gávea e o Fantasticursos, respectivamente.  Palestrantes de sessões anteriores também estiveram presentes, como foram os casos de Octavio Aragão, Francisco Rômulo Monte Ferreira e da própria Juliana.  A escritora de fantasia Ana Lúcia Merege e o astrobiólogo Osame Kinouchi também deram o ar de sua graça.  E, é claro, não posso deixar de mencionar a prata da casa: Anunciata (que dobrava como mediadora e estimuladora do chat), Sheila Assis e Telma Temoteo.

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Anunciata apresentou o currículo da palestrante seguinte, Madalena Mello e Silva, professora-pesquisadora de Educação Básica na área de Ciências Biológicas e doutora em Ciência e Arte pela FIOCRUZ.

Em sua palestra “Cinema de Ficção Científica no ‘Chão da Escola’”, Madalena falou de suas vivências ao empregar o cinema de ficção científica como ferramenta de apoio no ensino de ciências, ao longo de um projeto implementado durante oito anos no Colégio Estadual Barão de Aiuruoca (CEBA), em Barra Mansa.[1]

Segundo Madalena, “chão de escola” é o espaço de construção e afirmação da identidade dos trabalhadores em educação.  Gostei.

Para exemplificar, no experimento que desenvolveu no CEBA, Madalena introduziu para seus alunos os conceitos das adaptações a mudanças climáticas a partir de Era do Gelo 1 (2002); do DNA e das mutações genéticas com Jurassic Park: O Parque dos Dinossauros (1993); da evolução e da experimentação com animais de laboratório com Planeta dos Macacos: A Origem (2011); da degradação ambiental com Elysium (2013); da sustentabilidade com Avatar (2009); e assim por diante.

Madalena explicou que até mesmo os erros científicos presentes nos filmes exibidos aos alunos trouxeram reflexões em sala de aula.  Além disso, abordou brevemente a questão de em que ponto a ciência e a arte se encontram.

Em seguida, detalhou sua tese de doutorado, que versou justamente sobre o emprego do cinema de FC em sala de aula.  Falou também que o cinema de FC constitui uma ferramenta ideal não só para discutir questões ambientais e climatológicas, como, por exemplo, o aquecimento global antropogênico, quanto certas questões, ditas transversais, como desigualdades econômicas e sociais, sexualidade, superpopulação e outras.

Explicou a adoção da estratégia de exibir fragmentos de filmes em vez de narrativas cinematográficas completas, em prol do melhor aproveitamento do tempo em sala de aula.

Por fim, Madalena encerrou sua fala com um bordão muito feliz, que eu adoro, a ponto de o ter adotado em boa parte da ficção que escrevo:

— É tarde demais para ser pessimista!

Com perdão pelo abuso de um clichê para lá de surrado: essa última apresentação do II EFCEC fechou com chave de ouro esse grande evento de divulgação patrocinado pela FIOCRUZ.  Pronto: falei.

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Finda essa última palestra, Anunciata e Fernanda moderaram a já tradicional sessão de perguntas, reações e comentários da plateia digital.

Ante a questão irresistível da sexualização infantil, presente em alguns mangás, Bruna esclareceu que o fenômeno não é prevalente em mangás de FC.

Alguém na plateia comentou que Astro Boy poderia ser lido (ou assistido) como uma revisitação temática de Pinóquio, do autor italiano Carlo Collodi.  Todos concordaram que o comentário fazia certo sentido.

Outro alguém indagou à Madalena como implementar a ferramenta dos filmes de FC em escolas de nível médio acometidas por grave carência de recursos humanos e materiais.  A professora reconheceu que em algumas escolas não há condições de implementar a metodologia descrita em sua fala.

Ao fim dessa sessão participativa animada, podada pelas moderadoras por questão de exiguidade de tempo, sob pena das três apresentadoras estarem respondendo questões lá no YouTube até agora, por alguns breves instantes apresentou-se a propaganda institucional do bem sobre o Grupo de Estudos AMSEC (Animê, Mangá, e SciFi no Ensino de Ciências) da FIOCRUZ.



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Como tudo que é bom, acaba, encerrou-se o II EFCEC.  Um encerramento cum maxima lauda.  Como muitos participantes, sinto-me um pouco órfão dessa iniciativa criativa e original.  Aquele gostinho de “quero-mais”.

A notícia boa é que a equipe da FIOCRUZ prometeu tentar tornar o Encontro um evento anual no calendário da instituição.  Torço para que essa proposta alvissareira se concretize.

Jardim Botânico, Rio de Janeiro, 1º de outubro de 2020 (quinta-feira).

 


Participantes:

Adílson Júnior.

Alexander Meireles da Silva (Fantasticursos).

Ana Lúcia Merege.

Anunciata Sawada (coordenadora e moderadora).

Bruna Navarone Santos (apresentadora).

Fernanda Pereira-Silva (moderadora).

Francisco Rômulo Monte Ferreira.

Gerson Lodi-Ribeiro.

Juliana Berlim.

Luiz Felipe Vasques (Clube de Leitores de Ficção Científica).

Madalena Mello e Silva (apresentadora).

Naelton Araújo (Planetário da Gávea).

Nayla Freire Martins (apresentadora).

Octavio Aragão.

Osame Kinouchi.

Ricardo França.

Sheila Assis.

Telma Temoteo.

 



[1].  Imagino se Madalena não terá se inspirado no clássico Fantastic Voyages: Learning Science through Science Fiction Films (Springer-Verlag, 2004), de L.W. Dubeck, S.E. Moshier e J.E. Boss.  Não me espantaria se essa obra estivesse presente nas referências da sua tese de doutorado.