O Planeta dos Macacos no Vórtice Fantástico
201508292359P7 — 20.140 D.V.
“— Mas ela é chimpanzé.” (Leo)
“— Uma chimpanzé-fêmea!” (Daena)
[Cena de
ciúmes motivada pelas atenções que a chimpanzé Ari dedicava ao protagonista,
Leo Davidson]
Aconteceu na tarde deste sábado ensolarado de inverno a quarta sessão
mensal do núcleo carioca do Vórtice Fantástico.
Como do mês passado, reunimo-nos na Biblioteca Parque Estadual, em
frente ao Campo de Santana, no centro do Rio.
Essa iniciativa literária apresenta como proposta se reunir mensalmente
para discutir um livro lido pelos participantes, na melhor tradição dos clubes
de leitura brasileiros e estrangeiros. A
novidade aqui é que o Vórtice é um clube de leitura de literatura fantástica. A iniciativa do Vórtice Fantástico já se
espalhou por pelo menos catorze cidades brasileiras. Dentre elas, o Rio de Janeiro.
O livro do mês escolhido para agosto foi o romance O Planeta dos Macacos (Aleph, 2015), escrito pelo autor francês
Pierre Boulle e publicado originalmente em 1963, trabalho que inspirou o filme
homônimo de Franklin J. Schaffner e todas as suas continuações e franquias,
inclusive a releitura de Tim Burton de 2001, também homônima e algo
injustiçada, sobretudo pelo fim completamente idiota e desnecessário.
Já havia lido o romance de Boulle em 1976 pela edição portuguesa da
Unibolso, com Charleston Heston na capa.
Também já havia assistido o filme clássico de 1968 e seu remake de 2001. Como já fazia um bom tempo desde meu último
contato com o universo ficcional criado por Boulle, reli o romance na edição
caprichada da Aleph, com direito à biografia e entrevista com o autor, além de
um posfácio do Bráulio Tavares.
Aproveitei o ensejo e assisti novamente os dois filmes citados.
* *
*
Cheguei à Biblioteca Parque Estadual de táxi para não me atrasar. Já estavam presentes a Stella Rosemberg, o
Daniel Faleiro e uma amiga dele, a Gabrielle Rangel. Pouco depois chegaram o Cláudio Gabriel, o
casal Renata Aquino & Eliseu Ferreira e nossa líder Thaís Cavalcante.
Participaram pela primeira vez Andreia Borges da Silva e Isabella
Alvarez, ambas de Niterói. Bem mais
tarde, já em plena discussão do enredo do romance e sua comparação com os
filmes, chegaram Mariana Rios e o marido da Stella, Gabriel Kirin.
Enquanto aguardávamos a chegada dos demais, Stella, Cláudio e eu
conversamos sobre a escolha do livro do mês de setembro, organizando um lobby
informal em favor do romance Perdido em
Marte (Arqueiro, 2014), de Andy Weir, cuja versão cinematográfica estreará
no país no próximo dia 1º de outubro.
Stella declarou ter trazido brownies para a degustação dos participantes,
ao que Daniel reagiu, afirmando-se campeão na produção de brownies e, alegando
até certa experiência profissional (não confirmada por fontes independentes),
pretendeu estabelecer uma competição entre os brownies presenciais da Stella e
seus congêneres virtuais (e quiçá fictícios).
Minha proposta de que promulgássemos a derrota dos brownies ausentes do
Daniel por W.O. foi aceita por unanimidade.
Quando a Thaís chegou, deixamos nossas bolsas no guarda-volumes da
instituição e passamos à área de convivência.
Porém, como tínhamos comes & bebes para degustar, com a graça do
tempo ameno deste inverno carioca, rumamos para a área externa, que dispõe de
algumas mesinhas, onde nos acomodamos.
Além dos brownies divinos da Stella (preparamos com chocolate branco em
lugar das nuts tradicionais), rolaram
salgadinhos, refrigerantes e uns bolinhos gostosos, creio que trazidos pela
Renata e o Eliseu.
Ainda em meio à aventura gastronômica, começamos a discutir o romance
e, por comparação, os filmes. Daniel
comentou que O Planeta dos Macacos é
um romance ideal para introduzir a literatura de ficção científica para o
público neófito interessado. Dentre as
várias interpretações do romance, quase que a título de brincadeira, avancei a
tese de que o manuscrito encontrado por Phyllis & Jinn, o casal de símios
inteligentes, no início do romance — texto que constitui o cerne da narrativa,
exibindo as aventuras de três astronautas humanos numa expedição interestelar
ao Sistema Betelgeuse e da exploração do planeta biótico, Soror, orbitante ao
redor daquela supergigante vermelha — teria sido escrito não pelo protagonista
humano, Ulisses Mérou, mas sim por um símio autor de ficção científica, pois,
na verdade, não existiriam humanos inteligentes naquele universo ficcional.
Quando concluímos nosso ágape de brownies, bolos e salgadinhos, fortemente
incentivados por um batuque para lá de animado que eclodiu na área externa,
migramos para o espaço de convivência.
Desta vez, com doze participantes, preenchemos inteiramente um dos sofás
semicirculares reservados para bate-papos literários e afins.
Já imaginando que seria ovacionado (com ovos podres!) pela opinião
iconoclasta, defendi a plausibilidade científica e a originalidade da releitura
de Tim Burton. Afinal, os símios desse
filme se comportam muito mais como os grandes macacos (chimpanzés, gorilas e
orangotangos) do que os símios exibidos no clássico estrelado por Charleston Heston
em 1968.[1] Como mencionei acima, o único defeito sério
desse remake foi o fim estúpido. Porém, sim, sabemos como é: a última
impressão é a que fica.J
Observamos também que, conquanto sempre platônica, a relação entre o
protagonista humano e a chimpanzé-fêmea vai se tornando cada vez mais caliente,
à medida que saímos do romance, para o clássico de 1968 e desse, para a
releitura de Tim Burton. A chimpanzé
ativista Ari é muito mais saidinha e também é retratada de forma mais sensual
em 2001 do que a Zira, presente tanto no romance quanto no filme da década de
1960.
Uma crítica, se não me engano, da Isabella, foi que os humanos do remake do Tim Burton são racionais, ao
contrário dos humanos mudos e abúlicos do romance original e do filme de
1968. Contudo, na série homônima de
catorze episódios, veiculada originalmente em 1974, os humanos já falavam.
Também constatamos uma ênfase maior no papel da religião na sociedade
símia delineada nos dois filmes, em comparação àquela exibida no romance. Aliás, a civilização símia de Soror é bem
mais avançada em termos tecnológicos do que as culturas retratadas nos filmes,
a ponto de possuir satélites artificiais, transporte aéreo de passageiros,
bolsas de valores e outras características da civilização global terrestre da
segunda metade do século XX.
Ao fim da análise, escolhemos os livros que discutiremos nas próximas
reuniões. A sugestão de Perdido em Marte foi aceita com
entusiasmo unânime para o mês de setembro.
Combinamos até assistir o filme no sábado, dia 3 de outubro, após a
discussão do romance. Para outubro,
analisaremos dois ou três contos do Edgar Allan Poe e outros tantos do H.P.
Lovecraft. Para novembro e dezembro,
ainda restam dúvidas quanto à escolha de um romance gráfico (eu, Stella e
Mariana capitaneamos um lobby em favor de Watchmen)
e um romance de fantasia, ou o Mortal
Engines (Novo Século, 2011) do Philip Reeve, ou A Cidade e a Cidade (Boitempo, 2014), do China Mieville.
Andreia comentou comigo que leu meu Aventuras
do Vampiro de Palmares, romance analisado no mês passado, e que gostou
sobretudo das cenas em que Chica da Silva e o Contratador João Fernandes de
Oliveira decidem enfrentar os salteadores palmarinos que, liderados pelo
Capitão Diabo, ameaçavam o fluxo de diamantes para a metrópole portuguesa.
Aproveitei o ensejo e, na categoria jabá institucional, convidei os
participantes do Vórtice Fantástico para o lançamento do meu romance Estranhos no Paraíso (Draco, 2015) no
próximo sábado às 15h00 no estande da editora (Pavilhão Verde, estande O 10-A).
Sofá - Gabrielle, Daniel, Thaís, Renata, Eliseu, Andreia, Gabriel, Stella, Cláudio e Mariana.
Piso - Isabella e GL-R.
Isabella e Andreia saíram mais cedo.
Nós dez restantes deixamos a Biblioteca Parque por volta das 18h00 e seguimos
rumo à Central do Brasil. Thaís e
Mariana desgarraram logo para tomar seus ônibus, mas Cláudio, Renata &
Eliseu seguiram conosco até as escadas rolantes do metrô. Gabrielle embarcou em direção à Saenz Peña
enquanto, Stella & Gabriel, Daniel e eu seguimos rumo a estação de Botafogo. O casal saltou no Catete, mas eu e Daniel
tomamos o ônibus de integração, pois ele iria participar de uma rodada de
pôquer na Gávea. Durante a viagem,
contou que sua família é proprietária do tradicionalíssimo Nova Capela, onde
degustei um cabrito saboroso décadas atrás durante as comemorações do
lançamento da antologia de literatura fantástica futebolística, Outras Copas, Outros Mundos (Ano-Luz,
1998). Anos mais tarde, almocei naquele
mesmo restaurante maravilhoso com a brasilianista Libby Ginway para comemorar o
lançamento da antologia Ficções: Revista
de Contos — Especial de Ficção Científica (7 Letras, 2006). Mundo pequeno.
Mais uma reunião memorável da seção carioca do Vórtice Fantástico. Que venham outras. Nosso próximo encontro será no domingo, dia 6
de setembro, em plena Bienal do Livro 2015, no estande da Editora Draco.
Jardim Botânico, Rio de Janeiro, 29 de agosto de 2015 (sábado).
Participantes:
Andreia Borges
da Silva
Cláudio
Gabriel
Daniel
Faleiro
Eliseu
Ferreira
Gabriel Kirin
Gabrielle Rangel
Gerson
Lodi-Ribeiro
Isabella
Alvarez
Mariana Rios
Renata
Aquino
Stella Rosemberg
Thaís Cavalcante
[1]. Aliás, ao rever esse remake, descobri que o líder humano
grisalho, Karubi, é interpretado pelo Kris Kristofferson, e um orangotango
hilário, o traficante de escravos humanos Limbo, pelo Paul Giamatti. Já o protagonista, o humano Leo Davidson,
embora parecido com o Matt Damon, é na realidade interpretado pelo Mark
Wahlberg.