quarta-feira, 20 de dezembro de 2017

Argos 2017
na Veiga de Almeida

201712161935O7 — 20.981 D.V.

“Para de bancar a pedra e vem ser vidraça comigo!”
[Alfredo Keppler, ex-presidente do CLFC]

Neste último sábado da primavera, tarde ensolarada no Rio de Janeiro, deu-se a aguardada cerimônia de entrega do Prêmio Argos 2017, no campus Tijuca na Universidade Veiga de Almeida.
Premiação que quase foi descontinuada este ano, depois que o presidente do Clube de Leitores de Ficção Científica, Clinton Davisson anunciou nas redes que, ao contrário dos certames anteriores, não teria condições de carregar todo o piano sozinho nas costas, pois agora está residindo e lecionando no interior do Mato Grosso.  Após a saraivada de sugestões inúteis na lista de discussões do clube, apresentadas pelos mesmos velhos palpiteiros de plantão, que adoram opinar, desde que não precisem colocar a mão na massa, eis que surge o trio de paladinos da causa, Luiz Felipe Vasques, Eduardo Torres e Jorge Gervásio Pereira, para assumir a organização do prêmio, voluntariando-se para criar o comitê organizador e apurador que, em última análise, possibilitou o Argos 2017.
Além das categorias tradicionais, Melhor Romance, Melhor Ficção Curta e Melhor Antologia ou Coletânea, este ano o CLFC concedeu o Argos Especial, pelo conjunto da obra, a Douglas Quintas Reis, publisher da Devir, falecido em 12 de outubro último.

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Bem que tentei ir de ônibus para a UVA com o auxílio do aplicativo de celular Moovit, estratégia bem-sucedida por ocasião do segundo dia da Primavera Literária 2017, dois meses atrás.  Confiante nos horários apregoados pelo aplicativo, cheguei ao ponto de ônibus com cinco minutos de antecedência.  Um quarto de hora mais tarde, nada do busão.  Como trabalhava sem muita lazeira, julguei melhor pegar um táxi, que me deixou no campus universitário em questão de quinze minutos.  Leitura de bordo: romance The Ruins of Isis (Timescape, 1978), da Marion Zimmer Bradley.  Deu tempo até para eu me perder dentro do genuíno labirinto de Knossos da UVA, indo parar num seminário de RPG, antes de encontrar o Alexey Dodsworth na portaria e juntos descobrirmos, alguns uns poucos percalços, onde ficava a tal sala A-206, vulga “Miniauditório”.
Lá chegando, encontramos o presidente da comissão organizadora do Argos, Luiz Felipe Vasques, Eduardo Torres e Daniel Russel Ribas.  Na sala, o professor Gabriel Cruz comandava os últimos minutos de uma exibição de curtas de animação produzidos pelos alunos da universidade.  Pouco mais tarde chegava Clinton Davisson, presidente do CLFC e Miguel Carqueija, sócio sênior do CLFC-Rio.  Ana Lúcia Merege e família, Alexandre Mandarino, Carlos Eugênio Patati, Octavio Aragão e seus dois filhos já se encontravam na instituição, assistindo a mostra de curtas.  Pouco mais tarde, chegavam os amigos Jorge Pereira, Ricardo França e Hamilton Kabuna.
Durante os intervalos da cerimônia aproveitei para travar contato presencial com dois autores que já conhecia há tempos pelo Facebook: Ricardo Santos e Heitor Vasconcelos.

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Pouco antes do início da cerimônia, quando já estávamos acomodados no conforto climatizado do miniauditório, Patati se sentiu mal e Luiz Felipe decidiu acompanhá-lo até os portões da UVA, embarcando-o de volta para casa.  Aproveitamos o atraso para bater papo com os amigos, retomar contatos antigos e estabelecer novos.
Assim que Felipe regressou de sua missão, Gabriel Cruz deu início aos trabalhos e passou a palavra a Vitor Almeida, da editora Arqueiro, uma das patrocinadoras da premiação.
Vitor expôs uma breve apresentação em PowerPoint de seu trabalho de mestrado em Criação e Produção de Conteúdos Digitais, Consumo de Ficção Especulativa no Brasil.  Uma análise quantitativa interessante sobre os padrões de consumo de literatura fantástica estrangeira e brasileira no país.
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Finda a apresentação, Clinton Davisson tomou a palavra para falar da importância e do significado do Clube de Leitores de Ficção Científica em geral e do Prêmio Argos em particular.  Em seguida, anunciou o Argos Especial, concedido este ano a Douglas Quintas Reis.  Um prêmio póstumo não planejado, o primeiro da história da premiação, uma vez que, infelizmente, entre a decisão de premiar o publisher da Devir e a cerimônia, o homenageado faleceu.

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Após o anúncio do Argos Especial, os organizadores convocaram Daniel Russell Ribas para entregar as premiações aos três primeiros lugares, dentre os cinco finalistas anunciados, na categoria Melhor Ficção Curta.
O terceiro lugar foi para o conto “A Noviça Escarlate”, de Luiz Felipe Vasques, publicado na antologia Crônica da Guerra dos Muitos Mundos (autopublicação), organizada por Rita Maria Félix da Silva.
O segundo lugar foi concedido pelos eleitores ao conto “O Domo, o Roubo e a Guia”, de Roberta Splinder, publicado na antologia Dinossauros, organizada por mim para a editora Draco.  Na ausência da autora, recebi o prêmio de segundo lugar, que consistiu no exemplar O Feiticeiro de Terramar, da Ursula K. Le Guin, em edição da Arqueiro.
O vencedor foi o conto “O Grande Livro do Fogo”, de Ana Lúcia Merege, publicado na antologia Medieval: Contos de uma Era Fantástica, organizada por ela e pelo Eduardo Massami Kasse para a Draco.  Além do troféu Argos 2017, atribuído ao primeiro lugar, como parte da premiação, Ana Merege recebeu um envelope com R$ 500,00 (quinhentos reais), retomando uma prática que não acontecia desde o Argos 2000, o primeiro da história da premiação.
O segundo e terceiro lugares das três categorias competitivas receberam títulos da editora Arqueiro.
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Em seguida, na categoria Melhor Antologia ou Coletânea, os organizadores escalaram Eduardo Torres para entregar as premiações aos três primeiros lugares.
Em terceiro lugar, a coletânea Mistérios do Mal, coligindo contos de Carlos Orsi, publicado pela Draco.
Em segundo lugar, a antologia Estranha Bahia, organizada por Alec Silva, Ricardo Santos e Rochett Tavares, para a editora Ex! (autopublicação).
A vencedora foi a antologia Medieval: Contos de uma Era Fantástica, organizada pela Ana Merege e pelo Edu Kasse para a Draco, recebendo seu merecido troféu Argos 2017 e o envelope com a premiação em dinheiro.  É a segunda vez seguida em que o conto de um antologista do vencedor na categoria Melhor Antologia ou Coletânea também se sagra vencedor na categoria Melhor Ficção Curta.
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Fui convocado pelos organizadores para entregar as premiações dos três vencedores do Argos 2017 na categoria Melhor Romance, anunciados entre os cinco finalistas anunciados.
O terceiro lugar foi para o romance de fantasia A Fonte Âmbar, da Ana Merege, publicado pela Draco.  Permiti que a Ana escolhesse seu livro-prêmio, embora, àquela altura, já houvesse poucas opções entre os brindes.
O segundo lugar coube ao romance de dark-fantasy O Caminho do Louco, de Alex Mandarino, publicado pela editora Avec, de Porto Alegre.
O vencedor foi o romance Esplendor, de Alexey Dodsworth, publicado pela Draco, fazendo jus ao troféu Argos 2017 e à premiação em dinheiro.  Alexey já havia vencido nesta categoria em 2015, com o romance 18 de Escorpião (Draco, 2015), ambientado no mesmo universo ficcional que Esplendor.[1]
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Cerimônia de premiação do Argos 2017 no miniauditório da UVA, campus Tijuca.

Plateia: Rebuliço pré-cerimônia - Ricardo França, Jorge Pereira, Miguel Carqueija.

Preparações: Clinton Davisson e Gabriel Cruz.

 Amigos draconianos concorrentes: Ana Lúcia Merege e Alexey Dodsworth.


Comitê organizador: Luiz Felipe Vasques e Eduardo Torres.

Octavio Aragão & Filhos.

Abertura de Gabriel Cruz.

Argos Especial: Douglas Quintas Reis.

Apresentação "Consumo de Ficção Especulativa no Brasil".

Melhor Ficção Curta:
Ana Lúcia Merege (1º); GL-R por Roberta Splinder (2º); Luiz Felipe Vasques (3º).

Melhor Antologia ou Coletânea:
Ana Lúcia Merege (1º);  Ricardo Santos (2º); Clinton Davisson por Carlos Orsi (3º).

Melhor Romance:
Alexey Dodsworth (1º);  Alexandre Mandarino (2º); Ana Lúcia Merege (3º).



Concluída a parte oficial da premiação, não pude comparecer ao melhor da festa, que é sempre a comemoração festiva num bar ou restaurante próximo, pois precisava voltar para casa e me preparar para a festa de Natal com o pessoal do curso de italiano.
Portanto, saí da UVA a pé em companhia de Ricardo França e Miguel Carqueija.  Seguimos até a Praça Afonso Pena, onde embarcamos no metrô.  Durante a viagem, contei para o França algumas nuances do Ruins of Isis, uma espécie de O Conto da Aia exatamente o contrário.

Jardim Botânico, Rio de Janeiro, 16 de dezembro de 2017 (sábado).



Participantes:
Alexandre Mandarino
Alexey Dodsworth
Ana Lúcia Merege
Carlos Eugênio Patati
Clinton Davisson
Daniel Russell Ribas
Eduardo Torres
Gabriel Cruz
Gerson Lodi-Ribeiro
Hamilton Kabuna
Heitor Vasconcelos
Jorge Gervásio Pereira
Luiz Felipe Vasques
Miguel Carqueija
Octavio Aragão
Ricardo França
Ricardo Santos
Vitor Almeida

terça-feira, 19 de dezembro de 2017

Centenário de Arthur C. Clarke no Planetário da Gávea

201712152359O6 — 20.980 D.V.

“Decidi abandonar a série quando percebi que o personagem pelo qual eu sentia mais empatia era o tardígrado.”
(Meu comentário a Edu Torres sobre Star Trek: Discovery)

“A internet nos concede a capacidade de aprender um idioma por ano, se a gente quiser, mas a gente usa a internet para fazer fofoca.”
(Alexey Dodsworth)


Cheguei (um pouco) mais cedo ao trabalho hoje para poder sair mais cedo de consciência tranquila, a fim de assistir uma palestra e participar de uma mesa-redonda em comemoração ao centenário do nascimento de Arthur C. Clarke no Planetário da Gávea.  Depois de pensar um pouco sobre a melhor maneira de me deslocar da sede da Prefeitura até o Planetário, concluí que o busão era a melhor saída.  Ou melhor, os busões.  Pois peguei o velho e bom 110 que uso habitualmente para voltar para casa e, do ponto em frente ao meu prédio, tomei outro ônibus até o Planetário.  Calculei bem a duração da viagem, já computados os engarrafamentos de sexta-feira à tarde, pois consegui chegar ao destino quinze minutos antes do horário combinado de 17h00.
O fato de ter saltado na Lagoa e caminhado até em casa, como sempre faço, livrou-me de um engarrafamento mais do certo, do qual me tornaria vítima, caso houvesse simplesmente pedido um UBER para me levar direto do trabalho até a Gávea.

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Cheguei ao Planetário às 16h45 e fui conduzido ao auditório da Cúpula Carl Sagan, onde encontrei Eduardo Torres.  Pouco depois chegavam Naelton Araújo, meu veterano na graduação na Astronomia e nosso elemento de ligação no Planetário da Gávea, e Alexey Dodsworth, de mala em punho, literalmente, pois acabara de chegar do aeroporto.  Alexey ministraria a versão em português da palestra que proferiu em Canterbury dias atrás: “Todos estes mundos são seus, exceto Europa: A Ética da Terraformação”.
O coordenador do evento pelo lado do Clube de Leitores de Ficção Científica, Luiz Felipe Vasques, chegou logo depois, munido do notebook que possibilitaria a transmissão ao vivo da palestra do Alexey e da mesa-redonda que se seguiria à mesma pelo novo canal de Youtube da agremiação.
Apenas o presidente do CLFC, Clinton Davisson, sexto componente da mesa, ainda não havia chegado, por conta do trânsito caótico do regresso do trabalho com happy hour deste início de noite de sexta-feira.
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A palestra do Alexey foi interessante e instrutiva.  Após falar um pouco de sua participação no seminário sobre o centenário do nascimento do Clarke em Canterbury, dissertou sobre a ética da terraformização em relação a quatro escolas filosóficas: antropocentrismo, zoocentrismo, biocentrismo e cosmocentrismo.  Falou também das principais questões filosóficas presentes na obra do autor britânico e das perspectivas comerciais da mineração de asteroides.

Palestra de Alexey Dodsworth 1.

Palestra de Alexey Dodsworth 2.



Ao fim da palestra, Felipe nos convidou a compor a mesa-redonda, agora sim, já com a presença de Clinton, que chegara durante a palestra do Alexey.
Eduardo Torres abriu a mesa falando sobre a ética da intervenção alienígena na Terra em termos de destino manifesto nos romances O Fim da Infância (1953) e 2001: Odisseia no Espaço (1968) e sobre outra intervenção alienígena, essa mais light, no sistema jupiteriana, no romance 2010: Odisseia no Espaço II (1982).
Em seguida, embarcando no mote da palestra do Alexey, falei um pouco sobre a mudança de enfoque na temática de terraformização na obra de Clarke, desde o antropocentrismo explicitado em Areias de Marte (1951) até o enfoque biocêntrico, apenas esboçado em Canções da Terra Distante (1985).
Clinton Davisson falou sobre as críticas negativas que Clarke recebeu ao longo de sua carreira por privilegiar o sense of wonder em seus enredos, em detrimento do desenvolvimento psicológico dos personagens.
Naelton Araújo falou um pouco sobre as carreiras paralelas de Clarke como cientista e divulgador científico, abordando, inclusive, a proposta das órbitas geossíncronas, hoje batizadas órbitas Clarke.

Naelton Araújo.

Eduardo Torres, GL-R.

 Alexey Dodsworth.


Clinton Davisson.

Mesa-Redonda 100 anos de Arthur C. Clarke.

Mesa-redonda.


Luiz Felipe Vasques.


Em seguida, abrimos a mesa-redonda para as perguntas da plateia que, apesar de pequena em número, participou ativamente do evento, que só se encerrou por volta das 20h00.
Ao longo da palestra e da mesa-redonda a plateia flutuou em torno de vinte e cinco espectadores presenciais.  No instante em que escrevo este parágrafo, o canal de Youtube indica que já houve 66 visualizações do evento, que consta ali com duração de 2h36min36s.  Dentre os presenciais, compareceram os amigos Ricardo França, Flávio Lúcio Abal e Adílson Júnior.[1]

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Cartaz do evento.


Do Planetário, caminhamos até a Praça Santos Dumont e sentamo-nos à mesa para o jantar comemorativo no restaurante Garota da Gávea.  Dividi com Mr. President um filé ao bêbado (tudo a ver com o clima festivo reinante no evento) e linguiças calabresas com farofa e molho a campanha, ágape regado por um honesto Miolo Reserva Cabernet Sauvignon que Edu Torres nos ajudou a liquidar.  Durante o jantar conversei principalmente com o Clinton, o Edu, o Felipe, e uma jovem que conhecemos ali à mesa, a Laísa.

Garota da Gávea 1.

Garota da Gávea 2.



Contamos para Laísa um pouco da história do CLFC e Clinton nos falou sobre a vida de professor universitário numa cidade do interior de Mato Grosso.  Felipe perguntou-nos se o Argos se encontra registrado em nome do CLFC.  Abordamos en passant a ideia de organizar uma antologia de contos inspirados nos trabalhos de Arthur C. Clarke.  Ao fim do jantar, despedimo-nos com um “até amanhã!”, pois a maioria dos presentes se reencontrará na tarde de sábado para a cerimônia de entrega do Prêmio Argos 2017 no campus Tijuca da Universidade Veiga de Almeida.
Jardim Botânico, Rio de Janeiro, 15 de dezembro de 2017 (sexta-feira).



Participantes:
Adílson Júnior
Alexey Dodsworth
Clinton Davisson
Daniel Russell Ribas
Eduardo Torres
Flávio Lúcio Abal
Gerson Lodi-Ribeiro
Laísa Torres
Luiz Felipe Vasques
Naelton Araújo
Ricardo França