II Encontro de
Ficção
Científica e Ensino de Ciências
(FIOCRUZ)
Dia 2
202009102359P5 — 21.981 D.V.
“A Terra é o berço da
humanidade, mas ninguém pode viver no berço para sempre!”
[Konstantin
Tsiolkovsky]
“Antes de
existir história, já existiam jogos.”
[Marcelo Simão
de Vasconcellos]
Deu-se hoje à
noite a segunda sessão do II Encontro de Ficção Científica e Ensino de Ciências,
simpósio online patrocinado pela Fundação Oswaldo Cruz (FIOCRUZ), coordenado
pela equipe da professora Anunciata Sawada e do tecnólogo Adílson Júnior.
Os apresentadores
de hoje foram Octavio Aragão e Marcelo Simão de Vasconcellos. O primeiro é escritor, criador do universo
ficcional Intempol™, designer e professor
na Escola de Comunicação da UFRJ. O segundo
é professor da FIOCRUZ, atuante no Polo de Jogos na Saúde dessa instituição.
Dentre os mais
de dois mil inscritos, quase quatrocentas pessoas assistiram essa segunda sessão
online, não obstante as mais de duas horas e meia de duração. A apresentação está disponibilizada no YouTube
(https://www.youtube.com/watch?v=AgB3L8Y4PtU).
* *
*
Após umas breves
palavras da coordenadora Anunciata, saudando o público digitalmente presente, o
moderador Adílson Júnior leu o biolog do Octavio e lhe passou a palavra.
Sua apresentação,
“Construindo o Futuro Página a Página: Como a Ficção Científica ajudou a
formatar a Contemporaneidade” falou das raízes do gênero, advogando sua
antiguidade, calcada em parte na argumentação de Adam Roberts em The History
of Science Fiction.
Octavio abordou
os temas icônicos da ficção científica, conforme propostos pelo crítico e
estudioso, Gary K. Wolfe: o robô; o alienígena; a nave espacial; a cidade; e a
Terra devastada. Citou com propriedade a
máxima de Tsiolkovsky expressa acima e pincelou alguns conceitos do subgênero da
história alternativa. Para ilustrar a
possibilidade de que talvez vivamos num universo simulado, mencionou o romance clássico
instigante Simulacron-3 (O Cruzeiro, 1968)[1],
do norte-americano Daniel F. Galouye, narrativa que deu origem ao filme 13º
Andar (1999), escrito e dirigido por Josef Rusnak.
Octavio falou
ainda do biopunk como subgênero da FC, do biohacking como prática e do
transumanismo do movimento cultural.
Enfim, uma apresentação
não só didática e enxuta, como também agradável, leve e divertida.
* * *
Através da
lista de comentários, constatei a presença dos amigos seguintes na plateia
virtual: Alexander Meireles (Fantasticursos); Alexey Dodsworth; Ana Lúcia
Merege; Eduardo Torres; Luiz Felipe Vasques (na qualidade de presidente do
Clube de Leitores de Ficção Científica); Naelton Araújo (do Planetário da Gávea);
e Wellington Amorim.
Desta vez,
para desespero de alguns espectadores, a FIOCRUZ só liberou o link para confirmação
de presença lá pelo meio da segunda a apresentação, de Marcelo Vasconcellos.
* *
*
Após Adílson ler
seu biolog, Marcelo abriu sua apresentação, “Imersão e Ciência: Os Jogos de Ficção
Científica”, com um panorama histórico detalhado dos jogos de FC, tanto digitais
quanto em tabuleiro. Falou de alguns jogos
bem antigos, ocasião em que pincei a citação colocada acima, e também da gênese
dos jogos digitais. Em seguida, apresentou
alguns exemplos dentro da sua especialização[2],
jogos digitais, de FC ou não, que lidam com conceitos da saúde, como moléstias;
germes e infecções, exemplificando com o videojogo That Dragon, Cancer
(2016), criado por Ryan Green, Amy Green & Josh Larson.[3]
No quesito
jogos de tabuleiros, impressionei-me com um jogo infantil lançado pela Alemanha
sob o governo nazista, cujo objetivo seria expulsar os judeus do país.
Quando Marcelo
descreveu o universo ficcional do jogo Bioshock (2007), as nuances daquela
ambientação me fizeram lembrar certos aspectos do enredo do romance Terrarium
(Editorial Caminho, 1996)[4],
escrito pelos autores portugueses João Barreiros & Luís Filipe Silva. Porém, de repente, esse insight mezzo-espúrio
não tem muito a ver.
Marcelo encerrou
sua apresentação brilhante com a exibição de um filmete que mostrava crianças
jogando uma versão distorcida do Banco Imobiliário. Nessa versão, crianças brancas do sexo masculino
obtinham vantagens injustas, ao passo que meninas, crianças de outras etnias e
portadoras de deficiências físicas eram submetidas a desvantagens
adicionais. O objetivo do jogo é conceder
às crianças uma percepção visceral das desigualdades. Nessa exibição, a didática assumiu um aspecto
real inusitado quando o som do filmete não entrou e os espectadores tiveram que
se virar com as legendas em inglês. A galera
da lista de comentários reclamou. Afinal,
a exibição acabou exemplificando uma desvantagem injusta inesperada para quem não
domina esse idioma estrangeiro.😉
Ao fim da apresentação
propriamente dita, Marcelo exibiu um merchandising do bem na forma do FIOCRAFT,
ou seja a FIOCRUZ dentro do ambiente gráfico do jogo eletrônico Minecraft.
Resumo da
ópera: apresentação show de bola! Aprendi
um bocado.
* *
*
Já na fase
das perguntas da plateia, a questão inevitável da associação espúria dos jogos eletrônicos
com a violência, sobretudo entre os consumidores mais jovens não tardou a erguer
sua cabeça odienta de Hidra de Lerna. Felizmente,
nossos heróis Marcelo e Octavio se saíram muitíssimo bem em suas respostas.
Em uma dos comentários
finais, Marcelo falou do jogo cooperativo de tabuleiro Pandemic (2008),
em que os jogadores não competem uns com os outros. Quando um perde, todos perdem juntos. Ao explicar, Marcelo acrescentou: “Aliás,
como nós estamos perdendo agora.”
* *
*
Enfim, o Dia 2
do II Encontro foi um sucesso divertido e instrutivo. Neste sentido, fundiu os dois objetivos pretensos
(pretensiosos?) do gênero: entreter e instruir.😊
Aguardo as três
próximas sessões com as melhores expectativas.
Jardim Botânico, Rio de Janeiro, 10 de setembro de 2020 (quinta-feira).
Participantes:
Adílson Júnior
(moderador).
Alexander Meireles
da Silva.
Alexey Dodsworth.
Ana Lúcia Merege.
Anunciata Sawada (coordenadora).
Eduardo Torres.
Gerson
Lodi-Ribeiro.
Luiz Felipe Vasques.
Marcelo Simão de Vasconcellos (apresentador).
Naelton Araújo.
Octavio Aragão (apresentador).
Wellington Amorim.
[1]. Nanorresenha
do meu bunker de dados: “Engenheiro-chefe de Projeto de Simulador Socioambiental
começa a sofrer alucinações, é acusado da morte de seu mentor e começa a
acreditar que está sendo perseguido por entidade superpoderosa e que a
humanidade residiria num universo simulado, controlado por entes de um universo
verdadeiro, de ordem superior. Temática e
abordagem extremamente atuais, considerando a época em que o romance foi
escrito.”
[2]. Marcelo e
autor de O Jogo Como Prática de Saúde (FIOCRUZ, 2018).
[3]. Mais detalhes na
Wikipedia, em: https://en.wikipedia.org/wiki/That_Dragon,_Cancer.
[4]. Outra
nanorresenha: “Maior, melhor e mais
ambicioso romance de ficção científica hard já escrito em português. A Terra e o Sistema Solar são invadidos por
representantes de mil e quinhentas espécies alienígenas, escorraçadas de seus
sistemas natais por obra e graça das Potestades, consciências artificiais quase
onipotentes que se comprazem em apavorar humanos e alienígenas ao encarnar
entre nós sob a forma de avatares semelhantes a Anjos Exterminadores. Cenário de complexidade extrema e descrição
difícil, não só por se tratar de um romance em mosaicos (composto por uma série
de novelas e noveletas interligadas), mas, sobretudo, por ter sido escrito a
quatro mãos. Os autores conseguem pintar
com maestria um quadro apavorante da humanidade como mero joguete dos
interesses antagônicos de espécies e castas alienígenas pertencentes a vários
níveis tróficos do poder galáctico. Genuíno
tour de force. [Esse romance foi reescrito pelos autores e relançado
como Terrarium Redux (Saída de Emergência, 2016) no vigésimo aniversário
do lançamento original durante os Primeiros Encontros de Ficção Científica e Fantástico
de Cascais].
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