sexta-feira, 11 de setembro de 2020

 

II Encontro de

Ficção Científica e Ensino de Ciências

(FIOCRUZ)

Dia 2

 

202009102359P5 — 21.981 D.V.

 

“A Terra é o berço da humanidade, mas ninguém pode viver no berço para sempre!”

[Konstantin Tsiolkovsky]

 

“Antes de existir história, já existiam jogos.”

[Marcelo Simão de Vasconcellos]

 

Deu-se hoje à noite a segunda sessão do II Encontro de Ficção Científica e Ensino de Ciências, simpósio online patrocinado pela Fundação Oswaldo Cruz (FIOCRUZ), coordenado pela equipe da professora Anunciata Sawada e do tecnólogo Adílson Júnior.

Os apresentadores de hoje foram Octavio Aragão e Marcelo Simão de Vasconcellos.  O primeiro é escritor, criador do universo ficcional Intempol™, designer e professor na Escola de Comunicação da UFRJ.  O segundo é professor da FIOCRUZ, atuante no Polo de Jogos na Saúde dessa instituição.

Dentre os mais de dois mil inscritos, quase quatrocentas pessoas assistiram essa segunda sessão online, não obstante as mais de duas horas e meia de duração.  A apresentação está disponibilizada no YouTube (https://www.youtube.com/watch?v=AgB3L8Y4PtU).

 

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Após umas breves palavras da coordenadora Anunciata, saudando o público digitalmente presente, o moderador Adílson Júnior leu o biolog do Octavio e lhe passou a palavra.

Sua apresentação, “Construindo o Futuro Página a Página: Como a Ficção Científica ajudou a formatar a Contemporaneidade” falou das raízes do gênero, advogando sua antiguidade, calcada em parte na argumentação de Adam Roberts em The History of Science Fiction.

Octavio abordou os temas icônicos da ficção científica, conforme propostos pelo crítico e estudioso, Gary K. Wolfe: o robô; o alienígena; a nave espacial; a cidade; e a Terra devastada.  Citou com propriedade a máxima de Tsiolkovsky expressa acima e pincelou alguns conceitos do subgênero da história alternativa.  Para ilustrar a possibilidade de que talvez vivamos num universo simulado, mencionou o romance clássico instigante Simulacron-3 (O Cruzeiro, 1968)[1], do norte-americano Daniel F. Galouye, narrativa que deu origem ao filme 13º Andar (1999), escrito e dirigido por Josef Rusnak.

Octavio falou ainda do biopunk como subgênero da FC, do biohacking como prática e do transumanismo do movimento cultural.

Enfim, uma apresentação não só didática e enxuta, como também agradável, leve e divertida.

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Através da lista de comentários, constatei a presença dos amigos seguintes na plateia virtual: Alexander Meireles (Fantasticursos); Alexey Dodsworth; Ana Lúcia Merege; Eduardo Torres; Luiz Felipe Vasques (na qualidade de presidente do Clube de Leitores de Ficção Científica); Naelton Araújo (do Planetário da Gávea); e Wellington Amorim.

Desta vez, para desespero de alguns espectadores, a FIOCRUZ só liberou o link para confirmação de presença lá pelo meio da segunda a apresentação, de Marcelo Vasconcellos.

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Após Adílson ler seu biolog, Marcelo abriu sua apresentação, “Imersão e Ciência: Os Jogos de Ficção Científica”, com um panorama histórico detalhado dos jogos de FC, tanto digitais quanto em tabuleiro.  Falou de alguns jogos bem antigos, ocasião em que pincei a citação colocada acima, e também da gênese dos jogos digitais.  Em seguida, apresentou alguns exemplos dentro da sua especialização[2], jogos digitais, de FC ou não, que lidam com conceitos da saúde, como moléstias; germes e infecções, exemplificando com o videojogo That Dragon, Cancer (2016), criado por Ryan Green, Amy Green & Josh Larson.[3]

No quesito jogos de tabuleiros, impressionei-me com um jogo infantil lançado pela Alemanha sob o governo nazista, cujo objetivo seria expulsar os judeus do país.

Quando Marcelo descreveu o universo ficcional do jogo Bioshock (2007), as nuances daquela ambientação me fizeram lembrar certos aspectos do enredo do romance Terrarium (Editorial Caminho, 1996)[4], escrito pelos autores portugueses João Barreiros & Luís Filipe Silva.  Porém, de repente, esse insight mezzo-espúrio não tem muito a ver.

Marcelo encerrou sua apresentação brilhante com a exibição de um filmete que mostrava crianças jogando uma versão distorcida do Banco Imobiliário.  Nessa versão, crianças brancas do sexo masculino obtinham vantagens injustas, ao passo que meninas, crianças de outras etnias e portadoras de deficiências físicas eram submetidas a desvantagens adicionais.  O objetivo do jogo é conceder às crianças uma percepção visceral das desigualdades.  Nessa exibição, a didática assumiu um aspecto real inusitado quando o som do filmete não entrou e os espectadores tiveram que se virar com as legendas em inglês.  A galera da lista de comentários reclamou.  Afinal, a exibição acabou exemplificando uma desvantagem injusta inesperada para quem não domina esse idioma estrangeiro.😉

Ao fim da apresentação propriamente dita, Marcelo exibiu um merchandising do bem na forma do FIOCRAFT, ou seja a FIOCRUZ dentro do ambiente gráfico do jogo eletrônico Minecraft.

Resumo da ópera: apresentação show de bola!  Aprendi um bocado.

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Já na fase das perguntas da plateia, a questão inevitável da associação espúria dos jogos eletrônicos com a violência, sobretudo entre os consumidores mais jovens não tardou a erguer sua cabeça odienta de Hidra de Lerna.  Felizmente, nossos heróis Marcelo e Octavio se saíram muitíssimo bem em suas respostas.

Em uma dos comentários finais, Marcelo falou do jogo cooperativo de tabuleiro Pandemic (2008), em que os jogadores não competem uns com os outros.  Quando um perde, todos perdem juntos.  Ao explicar, Marcelo acrescentou: “Aliás, como nós estamos perdendo agora.”

 

 


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Enfim, o Dia 2 do II Encontro foi um sucesso divertido e instrutivo.  Neste sentido, fundiu os dois objetivos pretensos (pretensiosos?) do gênero: entreter e instruir.😊

Aguardo as três próximas sessões com as melhores expectativas.

Jardim Botânico, Rio de Janeiro, 10 de setembro de 2020 (quinta-feira).

 


Participantes:

Adílson Júnior (moderador).

Alexander Meireles da Silva.

Alexey Dodsworth.

Ana Lúcia Merege.

Anunciata Sawada (coordenadora).

Eduardo Torres.

Gerson Lodi-Ribeiro.

Luiz Felipe Vasques.

Marcelo Simão de Vasconcellos (apresentador).

Naelton Araújo.

Octavio Aragão (apresentador).

Wellington Amorim.

 

 

 



[1].  Nanorresenha do meu bunker de dados: “Engenheiro-chefe de Projeto de Simulador Socioambiental começa a sofrer alucinações, é acusado da morte de seu mentor e começa a acreditar que está sendo perseguido por entidade superpoderosa e que a humanidade residiria num universo simulado, controlado por entes de um universo verdadeiro, de ordem superior.  Temática e abordagem extremamente atuais, considerando a época em que o romance foi escrito.”

[2].  Marcelo e autor de O Jogo Como Prática de Saúde (FIOCRUZ, 2018).

[3].  Mais detalhes na Wikipedia, em: https://en.wikipedia.org/wiki/That_Dragon,_Cancer.

[4].  Outra nanorresenha:  “Maior, melhor e mais ambicioso romance de ficção científica hard já escrito em português.  A Terra e o Sistema Solar são invadidos por representantes de mil e quinhentas espécies alienígenas, escorraçadas de seus sistemas natais por obra e graça das Potestades, consciências artificiais quase onipotentes que se comprazem em apavorar humanos e alienígenas ao encarnar entre nós sob a forma de avatares semelhantes a Anjos Exterminadores.  Cenário de complexidade extrema e descrição difícil, não só por se tratar de um romance em mosaicos (composto por uma série de novelas e noveletas interligadas), mas, sobretudo, por ter sido escrito a quatro mãos.  Os autores conseguem pintar com maestria um quadro apavorante da humanidade como mero joguete dos interesses antagônicos de espécies e castas alienígenas pertencentes a vários níveis tróficos do poder galáctico.  Genuíno tour de force. [Esse romance foi reescrito pelos autores e relançado como Terrarium Redux (Saída de Emergência, 2016) no vigésimo aniversário do lançamento original durante os Primeiros Encontros de Ficção Científica e Fantástico de Cascais].

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