segunda-feira, 31 de julho de 2023

 Live

Hipótese da Floresta Escura

Canal Filosofia da Astronáutica e Ficção Científica

 

202307282359P6 – 24.030 D.V.

 

“Somos o Show de Truman da Via Láctea.” (J. Alexandre Freitas, da plateia).

 

“Era uma vez uma criança perdida na mata, chorando alto, questionando-se por que ninguém a socorria e atraindo os lobos com seu choro.  Um dos personagens explica: ‘Empoleirados em nossa árvore, piamos como passarinhos tolos por mais de um século nos perguntando por que outros pássaros não respondem aos nossos pios.  É que os céus galácticos estão repletos de falcões.  Culturas planetárias pouco sábias para se manterem caladas, são devoradas.’ ”. [The Forge of God, Greg Bear]

 

A partir de um convite feito pelo amigo Edgar Smaniotto duas semanas atrás, participei hoje à noite de uma live sobre a Hipótese da Floresta Escura, tese popularizada na trilogia Lembrança do Passado da Terra[1], do autor chinês Cixin Liu, como pretensa solução para o Paradoxo de Fermi.

No início, julguei que a live só ocorreria na última sexta-feira de agosto.  Porém, anteontem, descobri que o evento se daria hoje.

À guisa de esquentar os tamborins para o evento, li pela manhã desta sexta-feira as resenhas do amigo Newton “Nitro” Rocha sobre os romances da trilogia, com direito a uma crítica para lá de perspicaz sobre as limitações da hipótese referida.[2]

Enfim, poucos minutos antes das 21h00, cliquei no linque enviado e me reuni com os amigos Edgar, Carlos Relva, Paulo Elache e Marcus Valério XR.  Enquanto nosso anfitrião confirmava a estabilidade das conexões via StreamYard, discutimos a terminologia “Floresta Escura”, comparando-a com “Floresta Sombria” (título em português do segundo romance da trilogia de Cixin Liu) e “Floresta Negra” (que rejeitamos de pronto, por sua associação gastronômica inescapável).  Verificações concluídas, abrimos a sessão ao público, ecoando-a do StreamYard praticamente ao vivo (com um retardo de poucos segundos) até o canal Filosofia da Astronáutica e Ficção Científica, que Edgar mantém no YouTube.

Chamada para a live Hipótese da Floresta Escura no canal Filosofia da Astronáutica e da Ficção Científica.

 

Toda a sessão de quase três horas de duração transcorreu num clima de bate-papo informal e não de mesa-redonda, aliás, bem ao estilo ameno e tranquilo dos eventos anteriores de que participei com o trio Smaniotto, Relva e Elache.

O evento se encontra disponível no YouTube, acessível através do link:

https://www.youtube.com/watch?v=XuaCLB9BogI

Embora não tenha superado a marca de quinze espectadores em momento alguns das duas horas e quarenta e nove minutos da transmissão, o evento contou com uma plateia participante e ativa durante esses quase cento e oitenta minutos.  A versão disponível da live esteve com mais de cem visualizações no momento em que concluí esta crônica.

Entre os amigos participantes, compareceram Clinton Davisson; Flávio Medeiros; Hidemberg Alves da Frota; e Sidemar Castro.

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Capa original do romance O Problema dos Três Corpos.

 

Edgar abriu o bate-papo indagando se a Hipótese da Floresta Escura solucionaria ou não o Paradoxo de Fermi, questão falsamente atribuída ao físico italiano Enrico Fermi, “Onde está todo mundo?”, apresentada diante das alegações expressas em estimativas otimistas sobre a probabilidade da existência de uma miríade de civilizações tecnológicas alienígenas e a ausência de provas concretas da presença dessas civilizações tanto na Terra quanto “lá fora”.  Portanto, o suposto paradoxo expressaria a contradição aparente entre essas estimativas elevadas e a falta de evidências da existência das civilizações alienígenas.

Comecei conceituando o suposto paradoxo – apesar de, aqui entre nós, eu preferir o termo “Questão de Fermi”[3].  Para tanto, foi necessário dar umas poucas pinceladas iniciais sobre a Equação de Drake, destrinchando os termos mais críticos dessa tentativa preliminar de estimar a quantidade de civilizações tecnológicas existente na Via Láctea.  Em seguida, falei da questão em si e das soluções propostas por diferentes astrobiólogos, citando o livro do Stephen Webb, Where is Everybody?: Seventy-Five Solutions to the Fermi Paradox and the Problem of Extraterrestrial Life (Springer, 2015)[4].  Uma das soluções propostas por Webb é a Hipótese Berserker, na qual civilizações tecnológicas avançadas lançariam sondas estelares genocidas para aniquilar outras civilizações florescentes, ainda em seus nascedouros, por assim dizer.  Pois bem, a Hipótese da Floresta Escura constitui uma subvariante da Berserker, diferindo dela ao admitir que muitas civilizações alienígenas poderiam sobreviver desde que se mantivessem em silêncio.  A Floresta Escura pode ser enxergada então como um caso especial da Hipótese Berserker, em que as sondas berserkers assassinas (devido à otimização ou à escassez e recursos) só seriam enviadas a sistemas estelares que exibissem sinais de vida inteligente. [5]

Daí, advoguei a gênese provável da Hipótese da Floresta Escura no romance The Forge of God (1987) de Greg Bear, cujo trecho crucial tomo a liberdade de colocar na citação em epígrafe desta crônica.

Infelizmente, nessa fala inicial, esqueci de citar aquela que considero simplesmente a melhor apresentação da Hipótese da Floresta Escura no âmbito da ficção científica, que é o romance The Killing Star (Avon Books, 1995), de Charles Pellegrino & George Zebrowski, que mostra uma civilização humana utópica espalhada pelo Sistema Solar na segunda metade do nosso século sendo aniquilada por um bombardeio relativístico alienígena.  Mais tarde, os alienígenas explicam sua motivação biosfericida aos últimos sobreviventes humanos: “no instante em que vocês desenvolveram técnicas para viajar a velocidades relativísticas, nós os classificamos como vizinhos cósmicos perigosos.  Porque nós assistimos aos seus seriados de ficção científica e concluímos o que vocês fariam conosco se nós lhes déssemos oportunidade.”

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Em seguida, Marcus Valério condenou o termo “Floresta Escura”, advogando uma analogia da situação das civilizações tecnológicas na Via Láctea com vasos perdidos um oceano infinito e vazio em vez de uma floresta.  Em seguida, falou sobre as dificuldades de se detectar indícios de civilizações alienígenas remotas por meio de transmissões radiofônicas ou congêneres.  Daí, criticou as premissas da trilogia de Liu em si.  Também nos recordou dos temores exalados pelo Stephen Hawking no que tange a transmissão de mensagens a civilizações alienígenas hipotéticas.  Enfim, afirmou defender uma versão atenuada da estratégia da Floresta Escura.

Quando Marcus encerrou a fala inicial de sua participação, da plateia, Flávio Medeiros provocou-nos, indagando se a humanidade não estaria involuntariamente encenando uma espécie de reality show para deleite das civilizações de um consórcio galáctico hipotético.  Questão que me fez lembrar da situação exatamente oposta, ou seja, da humanidade de um futuro remoto se regozijando com as agruras cotidianas de uma cultura alienígena mais primitiva, de âmbito planetário, conforme Brian Aldiss bem retratou em sua trilogia Helliconia.[6]

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Paulo Elache afirmou crer que a ausência de contatos radiofônicos com civilizações alienígenas se deve ao grave problema da atenuação do sinal ao longo de distâncias estelares e galácticas.

Nesse ponto, não resisti e, a título de piada, indaguei sobre os nudes gravados numa placa de ouro enviado pelas sondas Pioneer para fora do Sistema Solar e à possibilidade de sofrermos um cancelamento galáctico.  Voltando a falar sério, mencionei a celeuma recente na Astrobiologia sobre se devemos transmitir mensagens Via Láctea afora ou apenas tentar captá-las, sem chamar atenção para nós próprios.

Clinton Davisson indagou sobre a possibilidade da solução do Paradoxo de Fermi passar por algo do gênero da Primeira Diretiva proposto na franquia Jornada nas Estrelas.  Indagação que deu margem a discorrermos sobre os riscos – tanto no esforço SETI quanto na elaboração de enredos de ficção científica – do excesso de antropomorfização.  No quesito dificuldades intransponíveis de comunicações com alienígenas, subquesito mentalidades mutuamente insondáveis, Elache citou o exemplo notável que o autor polonês Stanislaw Lem nos mostra em seu romance Fiasco.

Nesse instante, da plateia, J. Alexandre Freitas levantou a indagação filosoficamente profunda sobre o que seria pior: a certeza de estarmos sozinhos ou de não estarmos sozinhos na vastidão do universo?  A indagação lembrou o argumento expresso por Peter D. Ward & Donald Brownlee no livro Rare Earth: Why Complex Life is Uncommon in the Universe (Copernicus Books, 2000)[7] e me levou a enunciar a solução do merecimento: “a solução é antropológica.  Os alienígenas estão aqui nos observando, mas chegaram à conclusão de que a humanidade ainda não está madura o suficiente, pois julgam que um contato eventual nesta fase do nosso desenvolvimento cultural seria prejudicial.  Ou, pior: eles ainda não fizeram contato conosco porque nós não merecemos.  Os alienígenas olham para tudo o que está acontecendo à nossa volta por nossa própria incúria e concluem que não merecemos ingressar na confraria galáctica.”  Ecos distantes da noveleta magnífica de história alternativa e SETI, do Fredrik Pohl, “Esperando os Olimpianos”, publicada entre nós na Issac Asimov Magazine.

Marcus opinou que o pior para a humanidade seria estar absolutamente sozinha no universo.  Argumentei que, se fôssemos a única espécie inteligente do cosmos, após milênios de diáspora estelar, muitos dos nossos descendentes remotos se tornariam alienígenas.  Daí falamos um pouquinho sobre as estratégias antagônicas de pantropia e terraformização.

Em seguida, discutimos a questão da forma humanoide.  Nas mídias audiovisuais, a questão é essencialmente de limites orçamentários.  Nesse ponto, citei o artigo clássico de G.G. Simpson, “The Nonprevalence of Humanoids”.[8]  Edgar advoga a necessidade de órgãos de manipulação minimamente similares às mãos humanas, os demais participantes o acusaram de chauvinismo anticefalópode.  Da plateia, Flávio brada:

— Tentaculofóbicos!

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The Killing Star, de Charles Pellegrino & George Zebrowski.

 

Na tentativa de trazer o debate de volta à Hipótese da Floresta Escura, Edgar afirma que, dentro da variante Ultimate do Universo Marvel, Galactus seria uma inteligência artificial disposta a eliminar toda a vida orgânica da Via Láctea.  Elache defendeu a natureza tradicional e canônica de Galactus como arquipredador, e seu direito de consumir planetas e civilizações à medida das suas necessidades cosmofágicas.  Carlos Relva lembrou que o velho Galactus andava de saias e sem cuecas.  Retruquei que Galactus não tinha nada a esconder.  Nesse ponto, Edgar aventou a hipótese de editar a live para cortar nossos comentários desabonadores à virilidade galáctica, por assim dizer.😊

Nesse ponto, Marcus questionou os demais sobre nossas soluções favoritas para a Questão de Fermi.  Elache insistiu na solução da atenuação das transmissões eletromagnéticas, mas apresentou diversas maneiras de contornar a dificuldade, tais como megaexplosões termonucleares, feixes de neutrinos ou taquiônicos e ondas gravitacionais.  Defendi a fusão das soluções da Terra Rara, com a da quarentena e da atenuação.  Aproveitei o ensejo para citar a crítica da Hipótese da Floresta Escura que Newton Nitro apresentou em sua resenha da trilogia do Cixin Liu.  Carlos se alinhou à tese do Newton.  Comentei que, de umas décadas para cá, com os avanços tecnológicos, a humanidade se tornou muito menos barulhenta em relação à nossa vizinhança cósmica do que éramos sessenta anos atrás.

Da plateia, Clinton e Sid Castro observaram que o limite da velocidade da luz impõe dificuldades às diásporas estelares humana e alienígenas, o que nos levou a discutir estratégias eventuais para viajar periferia galáctica afora num futuro remoto em velocidades próximas à da luz.  Esses argumentos, por sua vez, levaram à consideração dos riscos de tentar imaginar aquilo que nossos descendentes distantes, intelectualmente muito mais capazes do que nós, cogitarão sensato empreender.

If the Universe is Teeming with Aliens... WHERE IS EVERYBODY ?

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Pouco antes de alcançarmos os cem minutos da sessão, Edgar cita o enredo de A Longa Viagem a um Pequeno Planeta Hostil (2014), da Becky Chambers, elogiando as discussões astrobiológicas e a postura pacifista da autora.  Paulo Elache lembra do Devoradores de Estrelas (2021)[9], do Andy Weir, uma das melhores descrições de alienígena não humanoide que li nos últimos tempos.

Voltando à questão da Floresta Escura, abordamos as intervenções e incursões dos trissolarianos ao Sistema Solar, o que me levou a externar minha indignação represada contra a tibieza moral da personagem Cheng Xin, astrofísica chinesa que em várias ocasiões age no sentido de obliterar o destino da humanidade em nome de um amor equivocado pela vida em geral e por nossa espécie em particular.

A partir de uma pergunta do Clinton, expliquei o resultado inicialmente ambíguo de uma das experiências das sondas Viking que amartissaram no planeta vermelho em 1976.  O falso positivo desse resultado inicial acabou sendo explicado por reações químicas não biológicas, para decepção dos estudiosos responsáveis pela missão e do público em geral.  Esse tópico nos levou a abordar as evoluções planetárias (e eventualmente biológicas) passadas e futuras de Vênus e Marte, questões que desembocaram na possível desativação futura da Corrente do Golfo, que resultaria em invernos muitíssimos mais rigorosos ao hemisfério norte da Terra.

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Já na fase final da sessão de bate-papo, quando nosso anfitrião indagou se tínhamos outras colocações a expor à plateia, aproveitei o ensejo para citar en passant a teoria das máquinas autorreplicantes de Von Neumann advogada por Frank J. Tipler numa série de artigos publicados na década de 1980 como solução para a Questão de Fermi.[10]  Concluímos que a estratégia de construção desenfreada de máquinas de Von Neumann não seria uma postura das mais inteligentes e que, provavelmente, atrairia represálias energéticas de outras civilizações alienígenas avançadas.

Também nessa fase, de repente, na questão mais pedaçuda levantada pela plateia nesta live, Dioberto Souza indagou se “descobrindo dados inequívocos de que houve vida em Marte, não ocorrerá consequências de conflitos na Terra entre facções da ciência e religião?”

Respondi que, embora algumas consequências ruins possam eventualmente ocorrer a partir de uma descoberta hipotética de vestígios de vida microbiana no passado paleontológico marciano, captar a mensagem de uma cultura alienígena mais sábia do que a humana e começar a entabular diálogo com essa cultura que nunca foi “salva” por uma figura messiânica seria muito mais impactante e potencialmente mais danoso às visões de mundo inspiradas nas propostas das grandes religiões.

Edgar opinou que os sistemas religiosos são muito mais adaptáveis e resilientes às descobertas científicas modernas do que alguns vãos filósofos agnósticos parecem supor, citando as proposições de Teilhard de Chardin para corroborar seu ponto.

Marcus advogou que a única descoberta que, a seu ver, constituiria um golpe de morte às religiões organizadas seria a conquista da imortalidade.  Afirmação que me fez lembrar do enredo da novela clássica de Orígenes Lessa, A Desintegração da Morte.

Edgar defendeu que o futuro das religiões será similar à visão apresentada na série Babylon 5.  A discussão acabou nos conduzindo naturalmente ao tópico sensível das alegações de existência da alma humana.  Marcus defendeu a tese de que o surgimento da mente não pode ser explicado através de meios puramente materiais, afirmando ser impossível reduzir a compreensão da mente humana à matéria.  Apesar de discordar dessa visão, suspeito fortemente de que avanços no desenvolvimento de inteligências e consciências artificiais nas próximas décadas e séculos lançarão fachos poderosos de luz nessa discussão.  Em tom de brincadeira, Carlos falou que iria nos apresentar ao Chat GPT.  Menos paciente com questões filosóficas a seu ver irrelevantes, Elache afirmou que a ciência moderna não deve perder tempo discussões não pertinentes como a da existência da alma humana.  À medida que a temperatura dos argumentos se elevou, Carlos disparou:

— Dioberto, Dioberto, viu o que você fez, né?  Olha no que você foi mexer.  Eu achei que essa live terminava antes da meia-noite, mas agora ela vai até às quatro da manhã...

Eventualmente, graças a outra pergunta da plateia, conseguimos voltar se não à Hipótese da Floresta Escura, ao menos à Questão de Fermi: qual seria a reação da humanidade à recepção de uma mensagem de origem comprovadamente alienígena?  Lembrei dos debates relativamente recentes dos astrobiólogos sobre o assunto e opinei que, a depender do seu teor, a mensagem poderia gerar um sentimento de inferioridade e depressão profunda na espécie humana.  Marcus lembrou que sempre haverá gente que não acreditará na origem alienígena da mensagem.  Elache opinou que o convencimento só seria universal caso se desse através de uma experiência semelhante à retratada no filme clássico, O Dia em que a Terra Parou (1951).

Em seguida, lembramos das diferenças entre o clímax e a resolução do romance de Carl Sagan, Contato (1985), e os do filme inspirado nesse livro.

Enfim, com quase três horas de live, Edgar nos convidou a confirmar nossas soluções favoritas à Questão de Fermi.  Da minha parte, defendi uma fusão de três soluções distintas: uma versão atenuada da Hipótese da Terra Rara mesclada com as soluções da Quarentena e da Duração Efêmera da vasta maioria das civilizações tecnológicas.

Em virtude da temática extremamente instigante, da participação entusiástica da plateia e do ritmo de bate-papo estabelecido entre nós cinco, essa foi uma das lives mais interessantes de que já participei.

Jardim Botânico, Rio de Janeiro, 28 de julho de 2023 (sexta-feira).

 


Participantes:

Carlos Relva (participante).

Clinton Davisson.

Dioberto Souza.

Edgar Smaniotto (anfitrião).

Flávio Medeiros, Jr.

Gerson Lodi-Ribeiro (participante).

Hidemberg Alves da Frota.

J. Alexandre Freitas.

Marcus Valério XR (participante).

Paulo Elache Duarte (participante).

Rodrigo (Pais & Filhos Games).

Rubens Angelo.

Sidemar Castro.



[1]O Problema dos Três Corpos (2006); A Floresta Sombria (2008); e O Fim da Morte (2010).  Essas são as datas das publicações originais em mandarim.  Li as edições brasileiras dos três romances de enfiada em outubro de 2019.

[3].  Aliás, “Questão de Fermi” foi o título de um artigo de divulgação científica sobre o assunto, que escrevi em parceria com o amigo Ronaldo Fernandes, publicado mais de três décadas atrás na saudosa edição brasileira da Asimov’s: Isaac Asimov Magazine nº 9 (Record, 1990).

[4].  Nanorresenha extraída do meu bunker de dados: Where is Everybody? – Setenta e cinco soluções para a Questão de Fermi.  Análise lúcida da problemática SETI direcionada ao leigo inteligente.  Praticamente todas as soluções minimamente plausíveis estão aqui.  O autor apresenta conhecimento mais do que razoável da literatura de ficção científica.

[5].  O conceito de sondas berserkers se inspirou na saga Berserker, criada pelo autor estadunidense Fred Saberhagen e iniciada com o romance Brother Assassin (1969).  É de todo provável que esse universo ficcional tenha servido de fonte de inspiração aos criadores da franquia Battlestar Galactica (1978).  No âmbito dos debates da comunidade SETI (Search for ExtraTerrestrial Intelligence) sobre soluções possíveis à Questão de Fermi, o astrofísico e autor de ficção científica David Brin foi o primeiro a apresentar a Solução Berserker em seu artigo “The Great Silence: the Controversy Concerning Extraterrestrial Intelligent Life” (Setembro de 1983), in Quaterly Journal of the Royal Astronomical Society, 24: 283-309.

[6]Helliconia Spring (1982); Helliconia Summer (1983); e Helliconia Winter (1985).

[7].  Defesa brilhante da Teoria da Terra Rara, segundo a qual o surgimento de bactérias seria muito mais comum do que se pensa universo afora.  Porém, em contrapartida, o aparecimento de vida animal seria um evento muito mais raro do que até então se supôs. Isto porque a Terra – com sua Lua gigante, suas placas tectônicas e composição privilegiada – seria um planeta muito mais especial do que supunha nossa vã filosofia.  Leitura instigante, para mudar a cabeça dos propoentes mais otimistas do esforço SETI.

[8]Science, volume 143, nº 3608, 21 February, 769-775 (1964).

[9].  Nanorresenha: Devoradores de Estrelas (Suma dos Livros, 2022) – A partir da descoberta dos “astrofágicos”, microrganismos que estão consumindo a energia solar e ameaçando tornar a Terra inabitável, humanidade congrega esforços para enviar uma expedição estelar até Tau Ceti a fim de encontrar um predador hipotético dos astrofágicos, uma vez que aquela estrela era a única aparentemente imune à praga dos monstrinhos.  Weir intercala capítulos sobre o desenrolar da missão em Tau Ceti com outros que mostram a preparação da Missão Hail Mary na Terra. A missão só se torna factível com o emprego dos próprios astrofágicos como fonte de energia.  Uma vez em Tau Ceti, Ryland Grace se descobre amnésico e o único sobrevivente dentre os três tripulantes da Hail Mary.  Logo estabelece contato com Rocky, único sobrevivente de uma missão alienígena proveniente de 40 Eridani que também se dirigiu a Tau Ceti em busca de uma solução para a infecção dos astrofágicos.  Logo Grace e o aracnoide hiperbárico Rocky se tornam os melhores amigos de infância e estabelecem uma parceria profícua para tentar descobrir e capturar os predadores dos astrofágicos num planeta de Tau Ceti.

[10].  Essa série se iniciou com a publicação do artigo de título bombástico “Extraterrestrial Intelligent Beings Do Not Exist”, no prestigioso Quartely Journal of the Royal Astronomical Society, 21, 267-281 (1980).  Artigo já citado trinta e três anos atrás no ensaio “Questão de Fermi”, publicado na Isaac Asimov Magazine, referido anteriormente.