Sob pretexto algo óbvio de bebemorações paranatalinas, realizamos hoje à noite, em plena sexta-feira, mais uma das reuniões semiperiódicas da comunidade carioca de FC&F. Tratou-se de mais um evento no novo estabelecimento selecionado pelos alto hierarcas cariocas para as reuniões mais ou menos formais do nosso grupo, o Espaço Gourmet. Cheguei ao restaurante às 19:10h, meros dez minutinhos após o início dos trabalhos. Quando deixei o local por volta das 00:45h, o evento ainda ia de vento em popa.
Ao chegar ao local, lá já estavam Eduardo Torres, nosso Mr. President atual, e o tecnófilo Jorge Pereira. Embora Eduardo já houvesse aberto o serviço com um chope, incentivados pelo Jorge (o.k. que não precisamos lá de tanto incentivo assim...) pedimos a carta de vinhos do estabelecimento. Inadvertidamente, o garçom de plantão em nossa mesa trouxe duas taças de vinho suave em vez da carta que lhe fora solicitada. Taças recusadas com sorrisos e a carta acabou aparecendo nas mãos de um outro personagem: um sommelier-trainee, que se apresentou como Gaúcho. Munido de beneplácito presidencial, pedi um tinto uruguaio da Bodegas Pisano da linha Cisplatino, um corte de Tannat com Merlot. O vinho combinou muito bem com os queijos, frios e o carpaccio de que me servia.
Jorge e Edu perguntaram sobre meu romance de história alternativa, Xochiquetzal: uma Princesa Asteca entre os Incas, prestes a ser lançado pela Draco. Animado, expliquei-lhes o ponto de divergência e as nuances da narrativa de Dona Xochiquetzal da Gama. Aproveitei o ensejo para esclarecer a minipolêmica sobre o anacronismo do vinho do Porto que a protagonista bebe de em vez quando (ou de vez em muito).
Max Mallmann chegou dez ou quinze minutos depois, quando já comentávamos aquilo que iria dominar o bate-papo noite adentro: a quantidade enorme de livros de literatura fantástica brasileira lançada este ano. O gozado é que um ano atrás se dizia que 2008 seria ou teria sido o annus mirabilis da FCB, mas 2009 parece ter sido melhor ainda e estou com forte impressão de que 2010 será ainda melhor.
Nós quatro concordamos que está até difícil acompanhar tudo o que as editoras estão publicando nos últimos meses. De minha parte, elogiei bastante o primeiro romance de nosso amigo Fábio Fernandes, Os Dias da Peste (Tarja, 2009), uma tacada certeira da editora de Richard Diegues e Giampaolo Celli. O romance foi construído a partir da fusão e ampliação de duas noveletas “Um Diário dos Dias da Peste” e “Interface com o Vampiro”, ambas publicadas em na coletânea Interface com o Vampiro (Writers, 2000). Pretendo resenhar esse romance em breve.
Max nos presenteou com exemplares da antologia Galeria do Sobrenatural (Terracota, 2009), organizada pelo Sílvio Alexandre, na qual ele tem um conto, “Hábito Noturno”. Até agora só li dois contos dessa antologia bem acabada, não obstante as gralhas aqui e ali: o do Max e o “A Ponte” do Miguel Carqueija. Ambos me agradaram, sobretudo o do Max, mais contundente e de final menos previsível. Em suas 156 páginas, a antologia enfeixa dezoito contos e uma mini-HQ.
Pouco tempo mais tarde, chegou o Carlos Patati, acompanhado pela esposa e a filhinha que veio dormindo no carrinho de bebê. Contudo, a grande surpresa da noite foi o aparecimento da Ana Cristina. Após ter afirmado nas listas que não iria, ela foi recebida com grande alegria pelos presentes. Ao ser questionada, explicou que, como a comemoração natalina em que se encontrava lhe pareceu tediosa, ela deu uma escapada em direção ao Espaço Gourmet. Bela decisão!
Outro assunto que veio à baila foi a discussão recente na comunidade de FC do Orkut sobre uma resenha à antologia Steampunk (Tarja, 2009) que será publicada em breve por um crítico anglo-saxão. O motivo da celeuma foi que um sujeito chamado Eduardo insistia em bater na tecla gasta de que, por não ter o português como primeiro idioma, o crítico não seria capaz de produzir uma resenha pertinente. Por isto não, porque, ao que eu saiba, a brasilianista norte-americana especializada em FC brasileira, Libby Ginway, costuma apresentar críticas mais profundas e pertinentes do que onze de cada dez críticos brasileiros que militam em nosso gênero.
Edu pediu outra garrafa do Pisano Cisplatino, idêntica à anterior, já que aprováramos a primeira.
Por essa altura chegou Miguel Carqueija que, meio adoentado, permaneceu quase calado numa das extremidades da mesa durante o pouco tempo em que ficou conosco. Mesmo assim, logrou sortear dois livros e vender outros tantos. Os sorteados foram Patati e Eduardo. Aliás, por falar em doença, Raul Avelar também não pôde comparecer, pois iria se submeter a uma cirurgia de rotina.
Comentamos pormenorizadamente as duas temporadas da minissérie Roma, que todos gostamos bastante. Jorge inclusive confessou que possuía os dois boxes de DVD. Conversa vai, conversa vem, acabou batendo uma baita vontade de assistir as duas minisséries outra vez. Aproveitando o ensejo, Max nos falou um pouco sobre seu romance histórico que se passa no Império Romano do século I A.D., que sairá pela Rocco em março de 2010.
Quando tentamos pedir nossa terceira garrafa do uruguaio, o tal Gaúcho informou-nos que não havia mais. Após breve análise da carta de vinhos, talvez para se manter fiel aos hispânicos, Mr. President selecionou um Rioja de média extração (pois que os de alta costumam vir com preços proibitivos), faturado na comanda de nosso amigo Jorge. Um bom vinho, mas não tão bom quanto o Pisano.
Passei dos queijos & carpaccios à sobremesa, com direito a torta alemã e sorvete de chocolate, pois que era noite de festa. Como não cabia insistir no vinho, pedi uma dose de Cointreau. Como Ana Cris se interessou e sou como que tutor dela para assuntos de caráter etílico, ofereci-lhe uma dose. Foi só provar e se apaixonar. Quando seu marido, Estevão Ribeiro, chegou cerca de meia hora mais tarde, ela falou que eles precisaram comprar uma garrafa do licor. Depois que expliquei ao meu companheiro de clã que esposas amimadas com licores finos costumam se comportar de forma dócil e amorosa e, mais importante, no dia seguinte acordam satisfeitas e, melhor ainda (!), não se lembram de nada do que fizeram, ele concordou entusiasmado, ao que Ana, sempre esperta, aproveitou para pedir duas novas doses para nós.
Aliás, Eduardo elogiou bastante a novela autobiográfica do Estevão, Enquanto Ele Estava Morto (A1, 2009), onde o autor nos brinda com o relato impressionante da semana em que ele passou buscando o paradeiro de seu irmão mais velho, supostamente assassinado num garimpo da Bahia. É curioso, porque Edu repetiu quase que ipsis litteris os elogios que proferi ao autor em nossa última reunião.
Por conta da filhinha, Patati e a esposa foram os primeiros a deixar nosso ágape. Pouco mais tarde, Carqueija seguiu seu exemplo. Aproveitamos que estávamos praticamente em petit committee, para colocar as fofocas em dia. Comentei sobre o evento steampunk de que participei lá em Sampa semanas atrás e do lançamento da Imaginários (Draco, 2009), e ouvi bastante sobre as intrigas internéticas relatadas por Jorge e Ana. Fofoca vai, fofoca vem, ainda mais regada a cálices de Cointreau, acabamos só saindo de lá quase uma da matina. Quer dizer, o Jorge, o Edu e eu, porque a Ana, o Estevão e o Max permaneceram firmes e fortes para defender as honras da FC&F carioca.
Participantes:
Ana Cristina Rodrigues
Carlos Eugênio Patati
Eduardo Torres
Estevão Ribeiro
Gerson Lodi-Ribeiro
Jorge Pereira
Max Mallmann
Miguel Carqueija