segunda-feira, 17 de novembro de 2025

 

              RioNeon em Botafogo 2025

 

“O fandom não conhece o fandom.”

(Luiz Felipe Vasques)

 

202511170530P2 – 23.873 D.V.

 

Agradecimento: esta é a centésima crônica da ficção científica brasileira que publico no blogue.  Aqueles que me acompanharam ao longo desse percurso tortuoso, meu muito obrigado!

 

Na manhã da quarta-feira passada, o amigo Luiz Felipe Vasques mandou o link seguinte pelo WhatsApp: https://www.acasocultural.com/rioneon

Enfim, descobrimos um encontro, quase uma convenção, dedicada às narrativas fantásticas em pleno Rio de Janeiro.  Para quem tanto se deslocou para Sampa, Porto Alegre e até Lisboa e Gainesville atrás de convenções de ficção científica e gêneros afins, parecia o sonho dourado: comparecer a um encontro de FC&F chegando até lá num simples busão e, melhor ainda, com a gratuidade recém-adquirida do Jaé?  Parecia aquele sonho em que você sente medo de acordar.  Curioso para conferir o que rolaria nessa miniconvenção, planejei a ida até a casa nº 16 da Vicente de Sousa no início da tarde de domingo.  Os amigos Felipe, Eduardo Torres e Octavio Aragão também confirmaram presença e já sabíamos que encontraríamos nossa amiga comum Ana Lucia Merege no evento, pois ela faria parte de uma mesa.

***

 

Por conta da minha rotina pessoal, sabia que não conseguiria chegar àquela ruazinha tranquila de Botafogo para assistir à abertura dos trabalhos às 11h00.  Daí, preparei-me para estar lá uns minutos antes da mesa das 14h30.

Como domingo há menos ônibus nas ruas, saí de casa um pouco mais cedo e, de fato, não havia ônibus algum na Jardim Botânico.  Temendo me atrasar, acabei pegando o primeiro coletivo que passou após dez incríveis minutos de espera no ponto, mesmo que fosse um intermunicipal para Niterói.  O ruim é que intermunicipais não aceitam o Jaé.  Felizmente, descobri um Riocard antigo na carteira.  Viagem rápida e tranquila.  Leitura de bordo: o clássico de horror semidesconhecido Damon (G.P. Putnam’s Sons, 1975), do Terry Cline, Jr.[1]

Saltei na São Clemente e, após cinco minutos de caminhada, cheguei ao número 16 da ruazinha, uma casa antiga reformada para receber o restaurante Nonô na frente (especializado em parrilla e gastronomia contemporânea, segundo o Edu, tem uma carta de vinhos de responsa) e o centro de eventos Acaso Cultural aos fundos.

 

Restaurante Nonô e Acaso Cultural.

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A primeira pessoa que encontrei na miniconvenção foi a autora Jana Bianchi, que eu já conhecia dos nossos tempos de Casa Fantástica nas FLIP 2018 e 2019.  Jana me apresentou seu companheiro, o autor Diogo Ramos, e comentou que conhecia minha prima Fabiana Poppius no projeto Fantástico Guia (que Jana coordena).  Em seu aniversário, mais ou menos um ano atrás, Fabiana me havia falado a respeito.[2]

 

Renan Bernardo, Jana Bianchi, Diogo Ramos e GL-R.

 

Em seguida, encontrei Octavio Aragão e aproveitei o ensejo para adquirir um exemplar autografado de sua coletânea de ficção curta, Alguém em Guernica olha para mim (Avec, 2025), onde ele reuniu os contos até então dispersos, publicados desde o início da sua carreira.  Para quem não sabe, o autógrafo do Octavio é uma obra de arte por si só: ele não “escreve” o autógrafo, mas o desenha caprichosamente.

Eduardo Torres, Luiz Felipe Vasques e Fred Furtado apareceram pouco depois.  Ana Merege chegou no comecinho da primeira mesa que assisti.  Avistei outras pessoas que já conhecia, porém, infelizmente, não houve oportunidade de cumprimentá-las e muito menos conversar com elas, tais como Carlos Felipe Figueiras e Clara Monnerat.  Já o Eric Hart e o Renan Bernardo, eu consegui cumprimentar, mas não deu tempo de conversar.  É pena, mas, outros encontros virão.

 

Octavio Aragão autografando.

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Às 14h30 começou a mesa “Um Brasil a ser exportado: a ficção especulativa brasileira em publicações anglófonas”, com a participação do ilustrador e autor Claudio Pozas; e dos autores Diogo Ramos; Jana Bianchi; e Renan Bernardo, sob a mediação do também autor, para além de organizador do evento, Pedro Sasse.

Estimulados pelo mediador, os autores falaram de suas experiências em publicar no mercado internacional.  Começou por Claudio, que falou do seu trabalho de um quarto de século no mercado estadunidense, produzindo material para os RPG Dungeons & Dragons; Magic: The Gathering e outros.  Em seguida, os três autores mais jovens contaram à plateia de suas agruras, peripécias e alegrias em publicar ficção curta em revistas conceituadas do mercado editorial anglo-saxão, tais como Clarkesworld e Imagine 2200.

Da Jana eu já li muita coisa, pois ela publicou bastante material em português e eu já a conheço desde 2018.  Do Renan, só li os trabalhos da sua coletânea solarpunk Different Kinds of Defiance (Android Press, 2024)[3] e o conto “Um Vínculo Inquebrável”, publicado na antologia Além do Véu da Verdade, organizada pelo amigo João M. Beraldo.  Ainda não li trabalhos do Diogo; mas essa é uma lacuna que devo preencher cedo ou tarde.

 

Diogo Ramos, Jana Bianchi, Pedro Sasse, Renan Bernardo e Claudio Pozas.

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Entre o fim da mesa sobre publicações brasileiras em revistas anglófonas por volta das 15h30 e o começo da seguinte, Ana, Eduardo, Felipe, Octavio e eu batemos um papo delicioso sobre publicações no Brasil e lá fora, sobre editoras e autores, para além de ficção especulativa de maneira geral.  Afinal de contas, como todos sabem ou deveriam saber, o melhor dessas convenções, seminários e encontros sobre ficção especulativa é justamente os bate-papos paralelos que rolam durante os intervalos.  Nesse intervalo, Ana nos apresentou a um casalzinho para lá de simpático que representa a sucursal carioca da Tolkien Society.  Infelizmente, não registrei o nome dela.  Já o nome dele é impossível de esquecer: Erick, um quase homônimo do meu filho Erich.

Como membro da comissão organizadora do Prêmio Argos, Eduardo Torres trocou ideias com o organizador da RioNeon, Pedro Sasse, e conseguiu apalavrar a cerimônia de entrega do Argos 2025 na Acaso Cultural para a segunda quinzena de dezembro.  Grande iniciativa, pois o espaço é bem adequado ao tipo de evento que o CLFC tem organizado nos últimos certames da premiação.

Às 16h30 começou a mesa “Desafios do fantástico nos trópicos”, com a participação dos autores Ana Lucia Merege; Bernardo Stamato; Diogo Andrade; e Pedro Sasse, sob a batuta do mediador Bruno Leandro.  Os autores falaram da ambientação de narrativas fantásticas (com ênfase fortíssima em fantasia, algumas pinceladas no horror e nem cheiro de ficção científica) em cenários brasileiros em geral e cariocas e/ou fluminenses em particular.  Gostei mais dessa segunda mesa do que da primeira.

 

Bernardo Stamato, Ana Lucia Merege, Bruno Leandro, Diogo Andrade e Pedro Sasse.

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Ao fim dessa segunda mesa, após meia hora de bate-papo final, Ana, Edu, Felipe e eu nos despedimos dos demais.  Ao contrário dos demais, Octavio permaneceu lá firme e forte.  Ana pediu um Uber para Niterói.  Depois que ela embarcou, caminhamos até a São Clemente, onde Felipe tomou o metrô, Edu foi a pé para casa e eu peguei um ônibus, aí sim, gratuidade com o Jaé.  Leitura de bordo: mais um capítulo do Damon.

Jardim Botânico, Rio de Janeiro, 17 de novembro de 2025 (segunda-feira).


Participantes:

Ana Lucia Merege.

Bernardo Stamato.

Bruno Leandro.

Carlos Felipe Figueiras.

Clara Monnerat.

Claudio Pozas.

Diogo Andrade.

Diogo Ramos.

Eduardo Torres.

Eric David Hart.

Fred Furtado.

Gerson Lodi-Ribeiro.

Jana Bianchi.

Luiz Felipe Vasques.

Octavio Aragão.

Pedro Sasse (organizador).

Renan Bernardo.



[1].  Quando era garoto, tentei ler esse romance numa edição brasileira da Record, publicada por aqui sob o título enganoso (?) de Demon, mas não consegui terminar a leitura.  Não que o livro fosse ruim.  O caso é que o tipo de horror descrito me impressionou muitíssimo e olha que aos catorze anos eu não me impressionava com qualquer coisinha, não.  Enfim, lembrei-me desse romance arrepiante umas semanas atrás e tentei comprá-lo num sebo.  O problema foi que a edição da Record de 1975 está sendo vendida por uma exorbitância nas estantes virtuais da vida.  Daí, a solução foi comprar o livro num sebo estadunidense; transação intermediada pela Amazon.  O livro em saiu por míseros três dólares e o frete também não foi caro.

[2].  Embora nunca tenha criado uma personagem feminina baseada diretamente na Fabiana, em minha noveleta de história alternativa “O Preço da Sanidade”, escrita e publicada no Somnium 60 em 1993 e republicada na Amazon KDP em 2024, o protagonista Geraldo Lopes Ramos, em meio a suas agruras, refere-se insistentemente à sua prima bióloga Fabiana que vivia no bunker universitário da Unicamp.  Quando escrevi a noveleta, minha prima já se graduara em Biologia.

[3].  Um dos que mais gostei, “Presságio de solidão”, já havia lido em português na antologia Como Aprendi a Amar o Futuro (Plutão, 2023), organizada por Francesco Verso e Fábio Fernandes.

terça-feira, 30 de setembro de 2025

Primavera dos Livros

2025

 

“Estou cansado de assistir filmes de FC com insetos e aracnídeos gigantescos criados pela radiação nuclear.  Eu adoraria assistir a um filme que me mostrasse elefantes reduzidos ao tamanho de camundongos.”

(Bráulio Tavares, em agosto de 1987, durante uma reunião do CLFC-RJ, no playground de um prédio em Laranjeiras).

 

202509291000P2 – 23.824 D.V.

 

Compareci na tarde do último sábado à Primavera dos Livros, evento anual que eu não frequentava desde 2019.[1]  Este ano foi o primeiro dessa feira do livro das editoras pequenas em sua nova casa, o andar térreo do Museu de Arte do Rio.  Pelo que ouvi falar, no que depender da Prefeitura do Rio de Janeiro, a dona desse espaço cultural, doravante a Primavera dos Livros se dará sempre sob os pilotis do museu.  Correu à boca pequena (nem tão pequena assim) que a antiga sede do evento, o Museu da República, instalado no Palácio do Catete (a feira ocorria nos vastos jardins do museu), teria cobrado muito caro pelo aluguel do espaço e a LIBRE (Liga Brasileira de Editoras) – espécie de cooperativa de editoras pequenas que promove o evento – não teve condições de arcar com a despesa.

*     *      *

 

Havíamos combinado comparecer na lista de WhatsApp do clube de leitura Vórtice Rio.  Adílson Júnior, Luiz Felipe Vasques e Juliana Berlim confirmaram presença.  Embora não tenha dado sinais de vida na lista, Ricardo França compareceu assim mesmo.

Às 13h25min caminhei até a Pacheco Leão, onde embarquei num Uber Comfort rumo à Praça Mauá (onde se situa o MAR).  A viagem durou 25 minutos e custou 46 reais.  Leitura de bordo (no celular): novela de ficção científica O Despertar de Sophia (Amazon KDP, 2025), de Tibor Moricz.

O itinerário escolhido pela uberista Isabela nos levou a contornar a Rodoviária Novo Rio e seguir pela Avenida Rodrigues Alves, beirando os armazéns abandonados do Cais do Porto, onde não se observava vivalma caminhando pelas calçadas desertas de uma aparente cidade fantasma.  Em seguida, entramos na Rua Arlindo Rodrigues, recentemente urbanizada, com prédios novos reluzentes, mas igualmente deserta, talvez pelo fato de só abrigar estabelecimentos comerciais.  Depois de tudo que ouvi falar sobre a pretensa revitalização da Região Portuária do Rio, julguei que me depararia com mais, ahn, vitalidade sob a forma de um certo movimento e, quem sabe, moradores, sei lá, pedestres transitando.  Mas não foi o caso.  Só avistamos pedestres quando estávamos praticamente chegando à Praça Mauá.  Esse itinerário nos fez passar pelo Acqua Rio e pela Roda-Gigante[2], que eu ainda não tinha visto ao vivo.

*     *      *

 

Desembarquei na Praça Mauá às 13h50min e logo constatei que a Primavera dos Livros rolava no térreo do Museu de Arte do Rio, resguardado do fulgor do sol naquele início de tarde de primavera pela laje que se apoia nos pilotis do prédio.

Num reconhecimento preliminar rápido, percorri o “corredor” central que se estendia no sentido longitudinal do térreo entre as duas fileiras de estandes da editoras ali presentes.  Julguei o evento como um todo e o número de expositores menor do que nos certames de anos anteriores nos jardins do Palácio do Catete.  Por se localizarem em área coberta, os estandes este ano não precisaram dos telhadinhos que caracterizam seus símiles de certames anteriores – fato que, imagino, deva ter barateado os custos – afinal, em vez que barraquinhas completas, algo semelhantes a bancas de jornais antigas, os estandes deste ano lembravam bancas de camelô.  Ao fim desse corredor havia dois quiosques de comida.  Segundo informes, vendiam quitutes da cozinha baiana.  À direita do corredor central havia outro estande gastronômico, de acordo com Adilson, vendiam comida mais cara e supostamente melhor do que a servida nos quiosques.  Aliás, devo ao Adilson todas as avaliações gastronômicas daquela tarde no museu, pois que não me aproximei dos quiosques ou do estande.

Encontrei Adílson ao fim do reconhecimento inicial e, uma vez juntos, “resgatamos” o amigo comum Ricardo França no estande da Aleph.  Do nosso ponto de vista, esse estande era o mais tentador da feira.  Examinamos os lançamentos e as novas edições de diversos romances que amamos, vários dos quais, inclusive, já analisados em nossas reuniões do Vórtice.  Imagino que França, com sua força de vontade enfraquecida pela fome, deva ter deixado umas boas centenas de reais por ali.  No que me tange, resisti bravamente às tentações da Aleph, só para sucumbir a um lançamento da Seiva: Como Criar Histórias: um guia prático para escritores, da Ursula K. Le Guin.  Minha única aquisição naquela tarde.

Por falar em livros, aproveitei o ensejo para passar às mãos do Adílson um exemplar da edição capa dura do meu romance de ficção científica teológica Novas do Purgatório (Amazon KDP, 2024).  Também passei às mãos do Ricardo e do Adílson exemplares em brochura da minha coletânea Relatos Desgarrados (Uiclap, 2024), livros que vendo no Brasil em formato digital e que imprimo um ou outro para agradar os amigos.

Pouco após essas entregas, nossa amiga Juliana Berlim deu o ar de sua graça.  Infelizmente, não pôde ficar conosco até o fim da nossas aventuras literárias.

Bráulio Tavares apareceu pouco depois.  Fiquei bastante satisfeito e algo surpreso em revê-lo.  Pois, ao contrário de Ricardo e Adílson, não sabia que o Bráulio participaria de uma mesa-redonda no quinto andar do museu, “Encontros e Confrontos na Ficção Científica e no Mistério”.  Afinal, qualquer mesa tripulada por esse velho amigo dos primeiros tempos da sucursal carioca do Clube de Leitores de Ficção Científica é diversão e entretenimento intelectual garantidos.


Adílson Júnior, Ricardo França, GL-R, Bráulio Tavares e Juliana Berlim no “corredor” central.

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Enfim, Luiz Felipe Vasques apareceu e se reuniu à nossa roda de bate-papo animada que rendeu reminiscências deliciosas e boas risadas.  Bráulio e Adílson nos contaram que os primeiros certames da Primavera dos Livros se deram no interior do Jockey Club da Gávea, lá por idos de 2005.  Adilson, Felipe e Juliana aproveitaram a presença do autor para adquirir exemplares do livro mais recente de não-ficção do Bráulio: Não Ficções: a Literatura e a Ficção Científica, os escritores e seus escritos (Bandeirola, 2023) no estande da editora.  Naturalmente, esses exemplares foram autografados no ato pelo Bráulio.  Ricardo se imbuiu de coragem e sacou seu exemplar da mochila (previdente, havia adquirido antes do autor chegar) para coletar o seu autógrafo, mas a coragem não se estendeu a ponto de pedir que autografasse os outros dois livros do Bráulio que também havia adquirido naquela tarde.  Quem sabe não fica para a próxima?

Conversamos bastante sobre ficção científica e um assunto que surgiu espontaneamente foi o das nossas experiências pitorescas e/ou hilárias recentes com aplicativos dotados de rudimentos de inteligência artificial.  Lembramos dos esforços hercúleos de Adílson para (re)educar I.A. recalcitrantes, um método que ele invariavelmente começa obrigando o programinha safado a confessar que está inventando respostas falsas e o fazendo jurar de pés virtuais juntos que não incidirá mais nesse erro.  Falar em fakes de IA mal intencionadas levou-nos ao assunto das redes sociais e dali ao combate às fake news de cunho pseudocientífico, o que nos fez lembrar do Instituto Questão de Ciência, capitaneado por nosso amigo Carlos Orsi e a esposa Natalia Pasternak.

Quando Bráulio nos contou o enredo de um romance do autor britânico M. John Harrison que ele está lendo e gostando muito, Ricardo comentou que não conhecia muitos autores britânicos além do Arthur C. Clarke.  Lembrei-o de que ele já leu romances de, pelo menos, H.G. Wells, Aldous Huxley, George Orwell, Brian Aldiss, John Wyndham, Douglas Adams e Ian M. Banks.  Isso para não falar doutros, menos publicados em português (mas Ricardo lê em inglês fluentemente), tais como Adrian Tchaikovsky, Alastair Reynolds, Charles Stross, Peter F. Hamilton e vários outros.  Conquanto siderado pela fome, prudentemente, ele retirou o que disse.😉

Juliana aproveitou o ensejo para confirmar o convite a Bráulio Tavares para que esse compareça numa reunião do grupo de leitura em literatura fantástica que ela coordena junto aos alunos do Colégio Pedro II, onde leciona.  Pouco depois, ela se despediu de nós e partiu rumo a outro museu, o da República, se não me engano, para assistir e/ou participar de um evento sobre café (???).

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Como a mesa da qual o Bráulio participaria começava às 16h00, subimos meia hora antes até o auditório situado no Espaço Cais, no quinto andar do museu.  Quando os funcionários do museu tentaram barrar nosso acesso, explicamos que fazíamos parte do staff do Bráulio Tavares. Daí, facultaram o nosso acesso sem maiores questionamentos.  Porém, mesmo assim, julgamos melhor ingressar no elevador junto com ele.

A mesa-redonda começou pontualmente às quatro da tarde e contou com três intérpretes em libras, que se revezaram ao longo do evento.  A M-R foi transmitida ao vivo pelo YouTube.  LIBRE já disponibilizou o link:

https://www.youtube.com/watch?v=HQ1WN481yDc&list=PLgjcH81nFcdZzacfIBlv8mJrMSsCCkmhL&index=3


Esquenta da mesa-redonda com Luiz Felipe Vasques e a gang habitual.

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A mesa-redonda foi mediada autor e publisher da Seiva[3], Daniel Lameira, com a participação de Bráulio Tavares e do autor e editor Marcelo Ferroni.

Lameira atuou com precisão ao estimular os autores da mesa, levando-os a falar livremente sobre seus ofícios, escritos e anseios.  Sentados na primeira fila do auditório, ouvimos com interesse os detalhes sobre a carreira e processo criativo do Marcelo que, embora milite no mainstream e no horror, já escreveu um romance de FC graças ao incentivo do Bráulio.  Contudo, para mim e, acredito para os três amigos na plateia (Juliana não assistiu à mesa), o mais interessante foi a participação de nosso amigo comum, que tenho como meu sênior e mentor nas lidas de escritor e estudioso de ficção científica.  Foi um prazer ouvir o Bráulio falar sobre sua iniciação literária como cronista, poeta e ficcionista desde menino em Campina Grande.  Vê-lo discorrer sobre as métricas e versificações da poesia; as sutilezas e dificuldades inerentes ao processo criativo para se escrever (boa) ficção científica; seus trabalhos como escritor de ficção e não-ficção; e diversos outros temas e assuntos correlatos foi uma delícia, mesmo para aqueles de nós que já haviam escutado boa parte do que ele falou em ocasiões anteriores.  Porque além de escrever muito bem, Bráulio também fala muito bem.  Sobre qualquer assunto que se disponha a falar.  Ponto.  Agora, quando ele se dispõe a falar sobre FC, é um espetáculo imperdível, não importando muito o quanto você já tenha ouvido discorrer sobre esse tema antes.

Poderia escrever vários parágrafos detalhando o que esses dois escritores falaram na tarde desse último sábado, mas prefiro que você sinta em primeira mão o mesmo prazer que tive anteontem.  O link está aí em cima.

Ao fim das falas de Bráulio e Marcelo, naquela espécie de pingue-pongue orquestrado por Daniel Lameira, esse passou a palavra à plateia numa rápida sessão de perguntas e comentários.

 

Mesa-Redonda “Encontros e Confrontos da Ficção Científica e do Mistério” com

Daniel Lameira (mediador); Marcelo Ferroni; e Bráulio Tavares.

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Descemos juntos no elevador até o térreo do museu.  Adílson se despediu de nós, praticamente à porta do elevador.  Depois de uns vinte minutos de bate-papo ali, eu, Felipe e Ricardo nos despedimos do Bráulio e dos demais e tomamos nossos caminhos de volta para casa.

Eu e Felipe dividimos um Uber Comfort para a Zona Sul.  Na viagem conversamos sobre uma mesa-redonda que estamos tentando organizar no Centro Cultural da Justiça Federal.  Ainda conversamos sobre as segundas temporadas das séries de streaming de super-heróis Pacificador (HBO Max) e Gen V (Prime Video).  Observamos que o sexto episodio dessa temporada da série da HBO dialoga de forma bem-humorada com a série de streaming de história alternativa O Homem do Castelo Alto (também da Prime Video, quatro temporadas, 40 episódios ao todo), inspirada no romance homônimo de Philip K. Dick.

Chegando em casa, finalmente comi o pedação de pizza caseira que me aguardava em companhia de uma garrafa de Clos de Torribas Crianza 2018.  Daí pensei: e, por que não?  Liguei a TV e retomei a série O Homem do Castelo Alto que havia parado há tempos, assistindo ao primeiro episódio da terceira temporada.  O problema é que, quando enfim terminar de assistir a essa série, precisarei pôr a preguiça de lado, pois haverá muito o que escrever para a segunda edição do meu Cenários de História Alternativa.

Jardim Botânico, Rio de Janeiro, 29 de setembro de 2025 (segunda-feira).

 


Participantes:

Adílson Júnior

Bráulio Tavares.

Daniel Lameira.

Gerson Lodi-Ribeiro.

Juliana Berlim.

Luiz Felipe Vasques.

Marcelo Ferroni.

Ricardo França.

 



[1].  Nos velhos tempos da Draco, compareci à Primavera dos Livros de 2014 a 2019 para encontrar amigos junto ao estande daquela editora.  Com exceção do certame de 2017, que transcorreu na Casa França-Brasil, os outros cinco se desenrolaram nos jardins do Palácio do Catete.  Em decorrência da pandemia de Covid-19, nos anos de 2020, 2021 e 2022 não houve Primavera dos Livros.  O evento foi retomado em 2023.  Não compareci em 2023 e 2024 porque a Draco não montou estande lá.  No entanto, apesar de nova ausência da minha antiga editora, neste ano – animado por conta da nova localização – resolvi comparecer e não me arrependi.

[2].  Instalar uma roda-gigante ao nível do mar em uma cidade repleta de morros como o Rio soa como um contrassenso.  Porque, do alto de qualquer morrinho de meia-tigela se consegue vislumbrar uma vista mais deslumbrante do que do alto de uma roda-gigante.  Mas, enfim, há gosto para tudo.

[3].  Mundinho pequeno: ouvi falar dessa editora pela primeira vez na vida ao adquirir o livro da Le Guin hora e meia antes...

segunda-feira, 16 de dezembro de 2024

 Cerimônia de Entrega

do

Argos 2024


202412132359P6 – 23.534 D.V.


Missão Argos 2024.  Saí de casa mais cedo hoje à tarde rumo ao campus da Universidade Veiga de Almeida a fim de evitar o engarrafamento que costuma atormentar o trânsito no entorno do Jardim Botânico nos fins de tarde de sexta-feira.  A cerimônia de entrega do Prêmio Argos 2024 estava prevista para se iniciar às 18h00 e eu saí daqui às 16h20.

Pedi um UBER do Jardim Botânico ao Maracanã.  Viagem tranquila de cerca de meia hora.  Daí, acabei chegando à UVA com mais de uma hora de antecedência, o que não foi mau negócio, pois prossegui na leitura de bordo prazerosa que iniciara no UBER e avancei alguns capítulos no romance de história alternativa Sargassa (DAW Books, 2024) da Sophie Burnham, mais um cenário de Estado Romano Mundial ambientado na América do Norte.

Uma vez no campus, subi ao segundo andar e me dirigi ao miniauditório, local onde o Clube de Leitores de Ficção Científica já efetuara a cerimônia de entrega da premiação em 2017.   O supervisor daquele piso, Marcos, facultou graciosamente meu acesso ao miniauditório por volta das 17h00, fornecendo-me ar-condicionado e sinal de WiFi.

*     *      *


Eduardo Torres chegou por volta das 17h30 trazendo os troféus dos vencedores e os certificados dos finalistas consigo.  Pouco depois, chegava Luiz Felipe Vasques, presidente do CLFC e da comissão organizadora do Prêmio Argos.  Mr. President me incumbiu com a grave missão de filmar a cerimônia com meu celular.  Minutos mais tarde chegaram os amigos Ana Lúcia Merege e Ricardo França.  Pouco antes do início da cerimônia, chegaram Andriolli Costa, Pedro Luna e Orfeu Favilla.

Embora o finalista Alan de Sá tenha chegado após o término da cerimônia de entrega, em prol dos registros oficiais, repetimos a entrega de seu certificado como finalista na categoria Melhor Coletânea ou Antologia por Xuxa Preta (autopublicação).  Alan também recebeu o diploma como representante da autora G.G. Diniz, finalista na categoria Melhor Romance com A Diplomata (Plutão Livros, 2024).

*     *      *


Felipe abriu a cerimônia com um discurso breve, explicando a natureza do Clube de Leitores de Ficção Científica e de sua premiação oficial, o Argos.

Cumprido esse introito, dividiu o palco com o mestre de cerimônias Eduardo Torres, para o anúncio dos resultados na categoria Melhor Conto, cujos finalistas foram revelados na ordem abaixo:

5º lugar: “O Grande Concerto”, de Fábio Fernandes, publicado em sua coletânea 16 (Caos e Terra);

4º lugar: “O Arquipélago”, de Ursulla Mackenzie, publicado na edição número 7 da revista Histórias Extraordinárias (Editora Mundo).

3º lugar: “Sete Horrores”, de Fábio Fernandes, na 16.

2º lugar: “Breve Biografia de uma Cadeira Lúcida”, de Renan Bernardo, publicado na revista Samovar.

Vencedor: “Despertar na Aurora Sideral, de Juliane Vicente, publicado na revista Suprassuma 2: Fobias (Editora Suma).

Seguindo as tradições do Argos, a comissão convocou ao palco a autora Ana Lúcia Merege, vencedora nessa categoria em vários certames anteriores do Argos, para anunciar o vencedor deste ano.

Dos cinco finalistas, li os contos do Fábio e o da Ursulla.  Gostei bastante dos três, com destaque para “O Grande Concerto”, que já li em várias das suas encarnações e que considero um clássico da ficção curta brasileira.

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Em seguida, a comissão organizadora passou aos anúncios dos finalistas e vencedor na categoria Melhor Antologia ou Coletânea, divulgados na ordem abaixo:

5º lugar: antologia O Último Dia do Futuro (autopublicação), organizada por Lu Evans.

4º lugar: coletânea 16, de Fábio Fernandes (Caos e Letras).

3º lugar: coletânea Xuxa Preta, de Alan de Sá (autopublicação).

2º lugar: antologia Estelar volume II: Edição especial de férias, organizada por Lu Evans (autopublicação).

Vencedor: antologia Mundos Paralelos da Ficção Científica, organizada por Ana Rüsche (GloboClube).

O anúncio da antologia vencedora foi proferido por Luiz Felipe Vasques, vencedor nessa mesma categoria no certame de 2016.

Dos cinco finalistas, li a coletânea do Fábio Fernandes e a antologia organizada pela Lu Evans.  Recomendo a leitura de ambos com máximo empenho.  Quanto aos três outros, vou correr atrás.

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Enfim, a comissão anunciou os finalistas e o vencedor da categoria Melhor Romance.  Eduardo Torres explicou que houve empate no quinto lugar na primeira fase da votação (indicação dos cinco trabalhos favoritos por parte dos sócios ativos do CLFC).  Os seis trabalhos finalistas foram divulgados na ordem abaixo:

6º lugar: Rio 60 Graus, de Fábio Fernandes (Draco).

5º lugar: A Diplomata, de G.G. Diniz (Plutão Livros).

4º lugar: Silêncios Infinitos, de Nikelen Witter (Draco).

3º lugar: A Noite Imperfeita, de Gílson Luís Cunha (autopublicação).

2º lugar: O nome dela é Luana, de Eberson Terra & Gustavo Nascimento (autopublicação).

Vencedor: Um Milhão de Mim, de Cirilo Lemos (Draco).

Quando fui convocado para anunciar o nome de Cirilo, o amigo França assumiu a pilotagem da câmera do meu bom e surrado Samsung 21 a fim de registrar o evento.

Desde o estabelecimento do prêmio Argos em 1999, Cirilo Lemos foi o primeiro autor a se sagrar vencedor na categoria Melhor Romance em dois certames consecutivos.

Essa foi a categoria em que li mais finalistas.  Recomendo enfaticamente a leitura dos romances Rio 60 Graus; Silêncios Infinitos; A Noite Imperfeita; e Um Milhão de Mim.  Infelizmente, ainda não li A Diplomata e O nome dela é Luana, mas pretendo sanar essa lacuna.

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Felipe proferia um breve discurso de encerramento, eis que Alan de Sá adentrou no miniauditório.  Depois que o autor se identificou, a comissão resolveu, acertadamente, repetir a entrega do certificado.  Afinal, Alan foi o único finalista a comparecer à cerimônia de entrega.  Para além de ter sido o único representante nomeado para receber o diploma de outro finalista, no caso, ele representou a autora G.G. Diniz.


 

Alan de Sá, autor da coletânea Xuxa Preta, finalista do Argos 2024.


 




Selfie panorâmica: Eduardo Torres; Pedro Luna; Luiz Felipe Vasques, Orfeu Favilla;

Ricardo França; Andriolli Costa; Alan de Sã; Ana Lúcia Merege; GL-R.



 


Xuxa Preta, de Alan de Sá.


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Finda a cerimônia de premiação, caminhamos até a entrada da UVA.  Uma vez reunidos ali, fomos guiados por nosso bravo batedor das noitadas tijucanas Edu Torres, numa intrépida jornada a pé do campus até o bar afamado Bode Cheiroso, situado a poucas centenas de metros da universidade.  Em plena sexta-feira à noite, o estabelecimento estava cheio, mas ainda havia mesas do lado de fora, democrática e generosamente espalhadas logradouro público adentro.

Em questão de segundos, senti que aquela não era bem a minha praia e que eu não me sentiria feliz ali.  Daí, como estava meio cansado, julguei melhor me despedir dos amigos aos poucos, embora permanecesse no bate-papo enquanto meu UBER não aparecia.  Suspeito que Ana Merege tenha sentido algo parecido, pois estabeleceu uma estratégia similar e o melhor foi que o UBER dela chegou antes do meu.😉

A viagem de volta para casa decorreu sem problemas.  Leitura de bordo: a América Romana de Sargassa, da Burnham.


   



Antologia Mundos Paralelos da Ficção Científica, organização de Ana Rüsche.



Romance Um Milhão de Mim, de Cirilo S. Lemos.



Resumo da ópera: de todas as cerimônias de entrega do Prêmio Argos de que já participei, essa foi de longe a com menor número de presentes.  Ademais, ao contrário da cerimônia do ano passado, essa não foi transmitida ao vivo pelo YouTube.

Apesar do esforço hercúleo e meritório da comissão organizadora, a experiência toda me pareceu meio chocha.  Torço para que as próximas sejam melhores.

Jardim Botânico, Rio de Janeiro, 13 de dezembro de 2024 (sexta-feira).


 

Participantes:

Alan de Sá.

Andriolli Costa.

Ana Lúcia Merege.

Eduardo Torres (membro da Comissão Organizadora do Prêmio Argos).

Gerson Lodi-Ribeiro.

Luiz Felipe Vasques (Presidente do CLFC e da Comissão Organizadora do Prêmio Argos)

Orfeu Favilla.

Pedro Luna

Ricardo França.


sexta-feira, 15 de dezembro de 2023

 

Cerimônia de Entrega

do

Argos 2021, 2022 & 2023

 

202312132359P4 – 24.168 D.V.

 

“Ana Lúcia Merege terá que construir outra estante em sua biblioteca para abrigar seus troféus do Argos.” (Octavio Aragão)

 

Compareci hoje à cerimônia de entrega dos Prêmios Argos, certames de 2021, 2022 e 2023.  Esse acúmulo se deveu à pandemia de Covid-19, que impediu as reuniões presenciais para a entrega das premiações nos anos passado e retrasado.  Os finalistas e vencedores do Argos 2021 e 2022 nas categorias Melhor Conto; Melhor Antologia ou Coletânea; e Melhor Romance foram anunciados há tempos pela Comissão Organizadora do Argos[1], nomeada pela diretoria do Clube de Leitores de Ficção Científica (CLFC).  Já os finalistas e vencedores deste ano só foram anunciados durante o último terço da cerimônia, como rezam as tradições dessa premiação desde os seus primórdios em 2000.

A cerimônia foi devidamente registrada pelo dublê de presidente do CLFC, Grande Kahuna e cinegrafista amador, Luiz Felipe Vasques, que filmou tudo em seu celular.  O registro pode ser assistido aqui: https://www.youtube.com/live/XLBXr15-ZRs?si=fZ8JIter-OScOVbl


Membros da Comissão Organizadora do Prêmio Argos: Luiz Felipe Vasques e Eduardo Torres.

*     *      *

 

Minha intenção de chegar ao auditório do campus tijucano da Universidade Veiga de Almeida a tempo se frustrou, graças a imperícia e/ou imprudência do motorista celerado (mas não acelerado) do ônibus 416 (Horto-Tijuca Expresso: Via Rebouças), que executou a “façanha” de se deixar ultrapassar pelo ônibus seguinte daquela mesma linha, que partiu do ponto de regulação meia hora após o dele, para além de ter permitido que seu veículo morresse umas duas dúzias de vezes ao longo do itinerário, culminando em percorrer em setenta minutos um percurso que um motorista normal teria feito em trinta.  Resumo dessa história triste: saltei na Praça Afonso Pena às 18h05 bastante irritado, pois julguei ter saído de casa com tempo de sobra para chegar ao local com uma lazeira de quinze minutos.  A cerimônia estava programada para começar às dezoito em ponto e ainda precisei caminhar até lá, primeiro pela Campos Sales e, depois, pela Rua Ibituruna.  Itinerário de setecentos e cinquenta metros, percorridos em cerca de dez minutos.

Enfim no campus, dirigi-me até o auditório.  Felipe, Eduardo Torres, Daniel Ribas, Ana Lucia Merege e família já estavam lá.  Octavio Aragão; Ricardo Labuto Gondin e Ricardo França chegaram pouco depois.  Estimo que a cerimônia tenha começado entre dezoito e vinte e dezoito e trinta.

O público presente não chegou a duas dezenas e muitos finalistas e vencedores não nomearam representantes para receber seus certificados ou troféus e ler suas considerações e agradecimentos à plateia presencial e virtual.  Em compensação, muita gente não só acompanhou a transmissão ao vivo, transmitida direto do celular do Felipe, como ainda emitiu seus comentários, saudações e pitacos online para nós.

Na plateia virtual, consegui identificar (por ordem de ingresso na live): Edgar Franco; Lu Evans; Saulo Adami; Ursulla Mackenzie; Diego Mendonça; Oghan N’Thanda; Davenir Viganon; Thamirys G.S. Lemos; Sidemar Castro; Edgar Smaniotto; Clinton Davisson; Hidemberg Alves da Frota.

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O membro da Comissão Organizadora Eduardo Torres atuou como mestre de cerimônias do evento, enquanto o presidente Felipe filmava tudo.

Em primeiro lugar, Eduardo anunciou os finalistas e vencedores de 2021, começando pela categoria Melhor Conto, vencida por Ana Lucia Merege, com “Vovó Nevasca”.  A vencedora não proferiu discurso de agradecimento por já tê-lo feito quanto da cerimônia virtual, transmitida no ano II da pandemia.  Mesmo assim, agradeceu à Lu Evans, organizadora da antologia onde o conto vencedor foi publicado.  Presente em nossa plateia virtual, Lu agradeceu prontamente lá dos EUA.  Ao entregar certificado e troféu à vencedora, Eduardo executou o primeiro de muitos tutoriais de reembalagem do Argos apresentados nesta noite.  Conta a lenda que esse ritual seria fruto de uma antiga tradição do CLFC, oriunda dos primórdios dessa agremiação primeva e sua premiação vetusta, segundo a qual, numa cerimônia do passado remoto, decorrida numa época quase esfumada nas brumas do tempo, os troféus trazidos para premiar os vencedores teriam chegado ao palco destroçados.  Tantos milênios passados, não há como apurar a veracidade dos resíduos (eventualmente) factuais que teriam dado origem ao ritual da reembalagem.  Porém, como rezam os registros arcanos dessa agremiação, “tradição é tradição.”  Portanto, nosso mestre de cerimônias reencenou o tutorial de reembalagem dezenas de vezes para gáudio da diminuta plateia ali presente.

Rito cumprido (pela primeira de uma dúzia de vezes), Eduardo passou à enunciação dos trabalhos finalistas na categoria Melhor Antologia ou Coletânea, cujo vendedor foi Edgar Franco, o famoso “Ciberpajé”, organizador da antologia 2021 (Marca de Fantasia, 2020).  Octavio Aragão leu o discurso de agradecimento do antologista e esse agradeceu da plateia virtual, elogiando o desempenho de seu representante.

Octavio Aragão recebe Argos 2021, Melhor Antologia em nome de Edgar Franco.

 

Enfim, para concluir o certame de 2021, Eduardo enunciou os finalistas e o vencedor na categoria Melhor Romance.  Como já sabíamos, o vencedor foi Ricardo Labuto Gondin, com Pantokrátor (Caligari, 2020).  Aclamado, Gondin subiu ao palco e proferiu seu discurso de agradecimento.


Ricardo Gondin recebe o Argos 2021 (Melhor Romance) por Pantokrátor.

*     *      *

 

Encerrado o Argos 2021, Eduardo passou à categoria Melhor Conto do Argos 2022, cujo vencedor foi “Sobre a fé de um andante que teve a cara mastigada”, de Ricardo Celestino, publicado na antologia Outros Brasis da Ficção Científica (Caligo, 2021), organizada por Davenir Viganon.

Em seguida, anunciou os finalistas na categoria Melhor Antologia ou Coletânea, vencida pela própria Outros Brasis da Ficção Científica.

Na categoria Melhor Romance, o vencedor foi Até que a Brisa da Manhã Necrose teu Sistema (Clube de Autores, 2021), de Ricardo Celestino que, ao abiscoitar dois Argos, sagrou-se como o grande vencedor do certame de 2022.

Ainda na categoria Melhor Romance, ao ser convocado ao palco a fim de receber meu certificado de finalista pelo romance distópico infantojuvenil Pecados Terrestres, constatei uma divergência irrisória: a versão publicada em 2021 e que, portanto, concorreu ao Argos 2022, foi a do Somnium e não a da Draco, que abriu a Coleção Dragão Mecânico em 2022.  Ante o impasse, a Comissão Organizadora reconheceu o equívoco do certificado e ensaiou o confisco desse diploma.  Contudo, seguindo o conselho oportuno de Octavio, resolvi manter esse diploma sob custódia até o fornecimento eventual de sua versão correta.😉  Afinal de contas, embora já tenha sido agraciado com o Argos três vezes e ter sido finalista outras tantas, essa foi a primeira vez em que recebi um certificado e o primeiro certificado a gente nunca esquece e, muito menos, abre mão.[2]

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Daí, finalmente, Eduardo Torres passou ao grande momento da noite: a revelação dos vencedores do Argos 2023.  Ao contrário do que ocorreu nos certames de 2021 e 2022, nesse último, nossa pequena plateia presencial aplaudiu todos os finalistas anunciados.

Na categoria Melhor Conto, o vencedor foi “Jogo do Destino”, da Ana Lucia Merege, com 490 votos válidos (34,5% do total); contra 343 do segundo colocado “Sankofa” de Juliane Vicente e 194 do terceiro, “O Renascer dos Deuses”, de Oghan N’Thanda.  Além de seu próprio discurso de agradecimento, Ana leu o do finalista Carlos Relva, autor de “Fica com Mi-go esta Noite”, ovacionado como o título mais espirituoso e divertido desse certame tríplice.

Na categoria Melhor Coletânea ou Antologia, o vencedor foi a coletânea Os Pilares de Melkart (Draco, 2022) de Ana Lucia Merege, com 498 votos válidos (35,0% do total); contra 157 do segundo colocado, a antologia Outros Brasis da Ficção a Vapor (Caligo, 2022), organizado por Davenir Viganon e 150 do terceiro, a antologia Mafaverna: Democracia (Mafagafo, 2022), organizado por Jana Bianchi e Diogo Ramos.  Ao que eu me lembre, desde a introdução dessa categoria em 2013 ou 2014, é a primeira vez em que uma coletânea se sagra vencedora.  Guindada ao palco mais uma vez, em seu discurso, Ana agradeceu a Erick Santos e Raphael Fernandes, publishers da Editora Draco.

Ana Lucia Merege, vencedora do Argos 2023 nas categorias Melhor Conto e Melhor Coletânea.

 

Na última premiação da noite, Argos 2023 na categoria Melhor Romance, o grande vencedor foi Cirilo S. Lemos com Estação das Moscas (Draco, 2022), com 483 votos válidos (34,0% do total), contra 244 do segundo lugar, O Fantasma de Cora (Gutemberg, 2022), de Fernanda Castro; e 151 de Paradoxo de Theseus (Draco, 2022), de Alexey Dodsworth.  Ana Merege leu o discurso de agradecimento enviado por Cirilo.

Mais uma vez, a Editora Draco se sagrou como a grande vencedora do certame anual: sob seus auspícios foram publicados o romance, a coletânea e o conto campeões de 2023, numa decisão amparada por centenas de votos.

Melhor Romance, Melhor Coletânea; Melhor Conto.

 

Selfie panorâmica: Ricardo França; Ana Lucia Merege, Octavio Aragão,

Ricardo Gondin; Luiz Felipe Vasques; Eduardo Torres; GL-R.

*     *      *

 

Encerrada a cerimônia oficial, deixamos o campus da Veiga de Almeida.  Alguns de nós se despediram enquanto outros caminharam até o restaurante Salete um pé-sujo com empadas deliciosas na Afonso Pena, pertinho da esquina com a Mariz e Barros.  Seguimos para lá Octavio Aragão; Ricardo França; Daniel Ribas; Eduardo Torres; Luiz Felipe Vasques; eu e Eric Hart, um sócio do CLFC que eu ainda não conhecia e que compareceu à cerimônia do Argos envergando uma camisa da SF WorldCon 2024 em Glasgow.

Embora o garçom Eliano nos tenha informado que o carro-chefe ali era a empada de camarão, por ojeriza ao crustáceo, degustei duas empadas de linguiça e outras duas de costela com agrião, regadas a água com gás, pois o estabelecimento não fornecia vinho de procedência confiável.

Conversamos bastante sobre vários assuntos, ficção científica, inclusive.  Comentou-se desde a beleza estonteante das telecomentaristas esportivas nas mesas-redondas futebolísticas até a mitomania de certas personalidades da FCB.  Comentamos sobre a justiça da vitória de Cirilo Lemos com A Estação das Moscas.  Eric confirmou que realmente irá à SF WorldCon 2024.  Eduardo nos falou sobre suas peripécias em um clube de uísque.  Octavio teceu considerações estilísticas sobre o romance gráfico Saros 123, de Alexey Dodsworth.

Enfim, por volta das 22h00 saímos do Salete.  Octavio pediu um UBER para casa e ofereceu carona ao Ribas, enquanto nós cinco caminhamos até a estação de metrô Afonso Pena e embarcamos no sentido Jardim Oceânico.  Durante a viagem, trocamos dicas sobre séries de streaming com elementos fantásticos.

Saltei junto com Eduardo na estação Botafogo e tomei o ônibus de integração para casa.  Leitura de bordo, romance sensacional Semente Originária (Morro Branco, 2021), da Octavia E. Butler.

Enfim, uma salva de palmas à Comissão do Argos, que conseguiu pôr em dia os três anos do atraso causado pela pandemia.

Jardim Botânico, Rio de Janeiro, 13 de dezembro de 2023 (quarta-feira).

 


Participantes Presenciais:

Ana Lucia Merege.

Daniel Russell Ribas.

Eduardo Torres (membro da Comissão Organizadora do Prêmio Argos).

Eric David Hart.

Gerson Lodi-Ribeiro.

Luiz Felipe Vasques (Presidente do CLFC e da Comissão Organizadora do Prêmio Argos)

Octavio Aragão.

Ricardo França.

Ricardo Labuto Gondin.

 

Participantes Virtuais:

Clinton Davisson.

Davenir Viganon.

Diego Mendonça.

Edgar Franco (Ciberpajé).

Edgar Smaniotto.

Hidemberg Alves da Frota.

Lu Evans.

Oghan N’Thanda.

Saulo Adami.

Sidemar Castro (membro da Comissão Organizadora do Prêmio Argos).

Thamirys G.S. Lemos.

Ursulla Mackenzie.

 



[1].  A Comissão é atualmente integrada por Luiz Felipe Vasques (presidente); Eduardo Torres; e Sidemar Castro.

[2].  Entre os certames de 2010 e 2018, o Prêmio Argos só atribuiu troféus, mas não certificados aos vencedores e finalistas.