segunda-feira, 17 de novembro de 2025

 

              RioNeon em Botafogo 2025

 

“O fandom não conhece o fandom.”

(Luiz Felipe Vasques)

 

202511170530P2 – 23.873 D.V.

 

Agradecimento: esta é a centésima crônica da ficção científica brasileira que publico no blogue.  Aqueles que me acompanharam ao longo desse percurso tortuoso, meu muito obrigado!

 

Na manhã da quarta-feira passada, o amigo Luiz Felipe Vasques mandou o link seguinte pelo WhatsApp: https://www.acasocultural.com/rioneon

Enfim, descobrimos um encontro, quase uma convenção, dedicada às narrativas fantásticas em pleno Rio de Janeiro.  Para quem tanto se deslocou para Sampa, Porto Alegre e até Lisboa e Gainesville atrás de convenções de ficção científica e gêneros afins, parecia o sonho dourado: comparecer a um encontro de FC&F chegando até lá num simples busão e, melhor ainda, com a gratuidade recém-adquirida do Jaé?  Parecia aquele sonho em que você sente medo de acordar.  Curioso para conferir o que rolaria nessa miniconvenção, planejei a ida até a casa nº 16 da Vicente de Sousa no início da tarde de domingo.  Os amigos Felipe, Eduardo Torres e Octavio Aragão também confirmaram presença e já sabíamos que encontraríamos nossa amiga comum Ana Lucia Merege no evento, pois ela faria parte de uma mesa.

***

 

Por conta da minha rotina pessoal, sabia que não conseguiria chegar àquela ruazinha tranquila de Botafogo para assistir à abertura dos trabalhos às 11h00.  Daí, preparei-me para estar lá uns minutos antes da mesa das 14h30.

Como domingo há menos ônibus nas ruas, saí de casa um pouco mais cedo e, de fato, não havia ônibus algum na Jardim Botânico.  Temendo me atrasar, acabei pegando o primeiro coletivo que passou após dez incríveis minutos de espera no ponto, mesmo que fosse um intermunicipal para Niterói.  O ruim é que intermunicipais não aceitam o Jaé.  Felizmente, descobri um Riocard antigo na carteira.  Viagem rápida e tranquila.  Leitura de bordo: o clássico de horror semidesconhecido Damon (G.P. Putnam’s Sons, 1975), do Terry Cline, Jr.[1]

Saltei na São Clemente e, após cinco minutos de caminhada, cheguei ao número 16 da ruazinha, uma casa antiga reformada para receber o restaurante Nonô na frente (especializado em parrilla e gastronomia contemporânea, segundo o Edu, tem uma carta de vinhos de responsa) e o centro de eventos Acaso Cultural aos fundos.

 

Restaurante Nonô e Acaso Cultural.

***

 

A primeira pessoa que encontrei na miniconvenção foi a autora Jana Bianchi, que eu já conhecia dos nossos tempos de Casa Fantástica nas FLIP 2018 e 2019.  Jana me apresentou seu companheiro, o autor Diogo Ramos, e comentou que conhecia minha prima Fabiana Poppius no projeto Fantástico Guia (que Jana coordena).  Em seu aniversário, mais ou menos um ano atrás, Fabiana me havia falado a respeito.[2]

 

Renan Bernardo, Jana Bianchi, Diogo Ramos e GL-R.

 

Em seguida, encontrei Octavio Aragão e aproveitei o ensejo para adquirir um exemplar autografado de sua coletânea de ficção curta, Alguém em Guernica olha para mim (Avec, 2025), onde ele reuniu os contos até então dispersos, publicados desde o início da sua carreira.  Para quem não sabe, o autógrafo do Octavio é uma obra de arte por si só: ele não “escreve” o autógrafo, mas o desenha caprichosamente.

Eduardo Torres, Luiz Felipe Vasques e Fred Furtado apareceram pouco depois.  Ana Merege chegou no comecinho da primeira mesa que assisti.  Avistei outras pessoas que já conhecia, porém, infelizmente, não houve oportunidade de cumprimentá-las e muito menos conversar com elas, tais como Carlos Felipe Figueiras e Clara Monnerat.  Já o Eric Hart e o Renan Bernardo, eu consegui cumprimentar, mas não deu tempo de conversar.  É pena, mas, outros encontros virão.

 

Octavio Aragão autografando.

***

 

Às 14h30 começou a mesa “Um Brasil a ser exportado: a ficção especulativa brasileira em publicações anglófonas”, com a participação do ilustrador e autor Claudio Pozas; e dos autores Diogo Ramos; Jana Bianchi; e Renan Bernardo, sob a mediação do também autor, para além de organizador do evento, Pedro Sasse.

Estimulados pelo mediador, os autores falaram de suas experiências em publicar no mercado internacional.  Começou por Claudio, que falou do seu trabalho de um quarto de século no mercado estadunidense, produzindo material para os RPG Dungeons & Dragons; Magic: The Gathering e outros.  Em seguida, os três autores mais jovens contaram à plateia de suas agruras, peripécias e alegrias em publicar ficção curta em revistas conceituadas do mercado editorial anglo-saxão, tais como Clarkesworld e Imagine 2200.

Da Jana eu já li muita coisa, pois ela publicou bastante material em português e eu já a conheço desde 2018.  Do Renan, só li os trabalhos da sua coletânea solarpunk Different Kinds of Defiance (Android Press, 2024)[3] e o conto “Um Vínculo Inquebrável”, publicado na antologia Além do Véu da Verdade, organizada pelo amigo João M. Beraldo.  Ainda não li trabalhos do Diogo; mas essa é uma lacuna que devo preencher cedo ou tarde.

 

Diogo Ramos, Jana Bianchi, Pedro Sasse, Renan Bernardo e Claudio Pozas.

***

 

Entre o fim da mesa sobre publicações brasileiras em revistas anglófonas por volta das 15h30 e o começo da seguinte, Ana, Eduardo, Felipe, Octavio e eu batemos um papo delicioso sobre publicações no Brasil e lá fora, sobre editoras e autores, para além de ficção especulativa de maneira geral.  Afinal de contas, como todos sabem ou deveriam saber, o melhor dessas convenções, seminários e encontros sobre ficção especulativa é justamente os bate-papos paralelos que rolam durante os intervalos.  Nesse intervalo, Ana nos apresentou a um casalzinho para lá de simpático que representa a sucursal carioca da Tolkien Society.  Infelizmente, não registrei o nome dela.  Já o nome dele é impossível de esquecer: Erick, um quase homônimo do meu filho Erich.

Como membro da comissão organizadora do Prêmio Argos, Eduardo Torres trocou ideias com o organizador da RioNeon, Pedro Sasse, e conseguiu apalavrar a cerimônia de entrega do Argos 2025 na Acaso Cultural para a segunda quinzena de dezembro.  Grande iniciativa, pois o espaço é bem adequado ao tipo de evento que o CLFC tem organizado nos últimos certames da premiação.

Às 16h30 começou a mesa “Desafios do fantástico nos trópicos”, com a participação dos autores Ana Lucia Merege; Bernardo Stamato; Diogo Andrade; e Pedro Sasse, sob a batuta do mediador Bruno Leandro.  Os autores falaram da ambientação de narrativas fantásticas (com ênfase fortíssima em fantasia, algumas pinceladas no horror e nem cheiro de ficção científica) em cenários brasileiros em geral e cariocas e/ou fluminenses em particular.  Gostei mais dessa segunda mesa do que da primeira.

 

Bernardo Stamato, Ana Lucia Merege, Bruno Leandro, Diogo Andrade e Pedro Sasse.

***

 

Ao fim dessa segunda mesa, após meia hora de bate-papo final, Ana, Edu, Felipe e eu nos despedimos dos demais.  Ao contrário dos demais, Octavio permaneceu lá firme e forte.  Ana pediu um Uber para Niterói.  Depois que ela embarcou, caminhamos até a São Clemente, onde Felipe tomou o metrô, Edu foi a pé para casa e eu peguei um ônibus, aí sim, gratuidade com o Jaé.  Leitura de bordo: mais um capítulo do Damon.

Jardim Botânico, Rio de Janeiro, 17 de novembro de 2025 (segunda-feira).


Participantes:

Ana Lucia Merege.

Bernardo Stamato.

Bruno Leandro.

Carlos Felipe Figueiras.

Clara Monnerat.

Claudio Pozas.

Diogo Andrade.

Diogo Ramos.

Eduardo Torres.

Eric David Hart.

Fred Furtado.

Gerson Lodi-Ribeiro.

Jana Bianchi.

Luiz Felipe Vasques.

Octavio Aragão.

Pedro Sasse (organizador).

Renan Bernardo.



[1].  Quando era garoto, tentei ler esse romance numa edição brasileira da Record, publicada por aqui sob o título enganoso (?) de Demon, mas não consegui terminar a leitura.  Não que o livro fosse ruim.  O caso é que o tipo de horror descrito me impressionou muitíssimo e olha que aos catorze anos eu não me impressionava com qualquer coisinha, não.  Enfim, lembrei-me desse romance arrepiante umas semanas atrás e tentei comprá-lo num sebo.  O problema foi que a edição da Record de 1975 está sendo vendida por uma exorbitância nas estantes virtuais da vida.  Daí, a solução foi comprar o livro num sebo estadunidense; transação intermediada pela Amazon.  O livro em saiu por míseros três dólares e o frete também não foi caro.

[2].  Embora nunca tenha criado uma personagem feminina baseada diretamente na Fabiana, em minha noveleta de história alternativa “O Preço da Sanidade”, escrita e publicada no Somnium 60 em 1993 e republicada na Amazon KDP em 2024, o protagonista Geraldo Lopes Ramos, em meio a suas agruras, refere-se insistentemente à sua prima bióloga Fabiana que vivia no bunker universitário da Unicamp.  Quando escrevi a noveleta, minha prima já se graduara em Biologia.

[3].  Um dos que mais gostei, “Presságio de solidão”, já havia lido em português na antologia Como Aprendi a Amar o Futuro (Plutão, 2023), organizada por Francesco Verso e Fábio Fernandes.

Um comentário: