RioNeon em Botafogo 2025
“O fandom não conhece o fandom.”
(Luiz Felipe Vasques)
202511170530P2 – 23.873 D.V.
Agradecimento: esta é a centésima crônica da ficção científica
brasileira que publico no blogue.
Aqueles que me acompanharam ao longo desse percurso tortuoso, meu muito
obrigado!
Na manhã da
quarta-feira passada, o amigo Luiz Felipe Vasques mandou o link seguinte pelo
WhatsApp: https://www.acasocultural.com/rioneon
Enfim, descobrimos
um encontro, quase uma convenção, dedicada às narrativas fantásticas em pleno
Rio de Janeiro. Para quem tanto se
deslocou para Sampa, Porto Alegre e até Lisboa e Gainesville atrás de
convenções de ficção científica e gêneros afins, parecia o sonho dourado:
comparecer a um encontro de FC&F chegando até lá num simples busão e,
melhor ainda, com a gratuidade recém-adquirida do Jaé? Parecia aquele sonho em que você sente medo
de acordar. Curioso para conferir o que
rolaria nessa miniconvenção, planejei a ida até a casa nº 16 da Vicente de
Sousa no início da tarde de domingo. Os
amigos Felipe, Eduardo Torres e Octavio Aragão também confirmaram presença e já
sabíamos que encontraríamos nossa amiga comum Ana Lucia Merege no evento, pois
ela faria parte de uma mesa.
***
Por conta da
minha rotina pessoal, sabia que não conseguiria chegar àquela ruazinha tranquila
de Botafogo para assistir à abertura dos trabalhos às 11h00. Daí, preparei-me para estar lá uns minutos
antes da mesa das 14h30.
Como domingo
há menos ônibus nas ruas, saí de casa um pouco mais cedo e, de fato, não havia
ônibus algum na Jardim Botânico. Temendo
me atrasar, acabei pegando o primeiro coletivo que passou após dez incríveis
minutos de espera no ponto, mesmo que fosse um intermunicipal para
Niterói. O ruim é que intermunicipais
não aceitam o Jaé. Felizmente, descobri
um Riocard antigo na carteira. Viagem
rápida e tranquila. Leitura de bordo: o
clássico de horror semidesconhecido Damon (G.P. Putnam’s Sons, 1975), do
Terry Cline, Jr.[1]
Saltei na São
Clemente e, após cinco minutos de caminhada, cheguei ao número 16 da ruazinha,
uma casa antiga reformada para receber o restaurante Nonô na frente
(especializado em parrilla e gastronomia contemporânea, segundo o Edu,
tem uma carta de vinhos de responsa) e o centro de eventos Acaso Cultural aos
fundos.
***
A primeira
pessoa que encontrei na miniconvenção foi a autora Jana Bianchi, que eu já
conhecia dos nossos tempos de Casa Fantástica nas FLIP 2018 e 2019. Jana me apresentou seu companheiro, o autor
Diogo Ramos, e comentou que conhecia minha prima Fabiana Poppius no projeto
Fantástico Guia (que Jana coordena). Em
seu aniversário, mais ou menos um ano atrás, Fabiana me havia falado a
respeito.[2]
Em seguida,
encontrei Octavio Aragão e aproveitei o ensejo para adquirir um exemplar
autografado de sua coletânea de ficção curta, Alguém em Guernica olha para
mim (Avec, 2025), onde ele reuniu os contos até então dispersos, publicados
desde o início da sua carreira. Para
quem não sabe, o autógrafo do Octavio é uma obra de arte por si só: ele não
“escreve” o autógrafo, mas o desenha caprichosamente.
Eduardo
Torres, Luiz Felipe Vasques e Fred Furtado apareceram pouco depois. Ana Merege chegou no comecinho da primeira
mesa que assisti. Avistei outras pessoas
que já conhecia, porém, infelizmente, não houve oportunidade de cumprimentá-las
e muito menos conversar com elas, tais como Carlos Felipe Figueiras e Clara
Monnerat. Já o Eric Hart e o Renan Bernardo,
eu consegui cumprimentar, mas não deu tempo de conversar. É pena, mas, outros encontros virão.
***
Às 14h30
começou a mesa “Um Brasil a ser exportado: a ficção especulativa brasileira em
publicações anglófonas”, com a participação do ilustrador e autor Claudio Pozas;
e dos autores Diogo Ramos; Jana Bianchi; e Renan Bernardo, sob a mediação do
também autor, para além de organizador do evento, Pedro Sasse.
Estimulados
pelo mediador, os autores falaram de suas experiências em publicar no mercado
internacional. Começou por Claudio, que
falou do seu trabalho de um quarto de século no mercado estadunidense,
produzindo material para os RPG Dungeons & Dragons; Magic: The
Gathering e outros. Em seguida, os
três autores mais jovens contaram à plateia de suas agruras, peripécias e
alegrias em publicar ficção curta em revistas conceituadas do mercado editorial
anglo-saxão, tais como Clarkesworld e Imagine 2200.
Da Jana eu já
li muita coisa, pois ela publicou bastante material em português e eu já a
conheço desde 2018. Do Renan, só li os trabalhos
da sua coletânea solarpunk Different Kinds of Defiance (Android Press,
2024)[3]
e o conto “Um Vínculo Inquebrável”, publicado na antologia Além do Véu da
Verdade, organizada pelo amigo João M. Beraldo. Ainda não li trabalhos do Diogo; mas essa é uma
lacuna que devo preencher cedo ou tarde.
***
Entre o fim
da mesa sobre publicações brasileiras em revistas anglófonas por volta das
15h30 e o começo da seguinte, Ana, Eduardo, Felipe, Octavio e eu batemos um papo
delicioso sobre publicações no Brasil e lá fora, sobre editoras e autores, para
além de ficção especulativa de maneira geral.
Afinal de contas, como todos sabem ou deveriam saber, o melhor dessas
convenções, seminários e encontros sobre ficção especulativa é justamente os
bate-papos paralelos que rolam durante os intervalos. Nesse intervalo, Ana nos apresentou a um
casalzinho para lá de simpático que representa a sucursal carioca da Tolkien
Society. Infelizmente, não registrei o
nome dela. Já o nome dele é impossível
de esquecer: Erick, um quase homônimo do meu filho Erich.
Como membro
da comissão organizadora do Prêmio Argos, Eduardo Torres trocou ideias com o
organizador da RioNeon, Pedro Sasse, e conseguiu apalavrar a cerimônia de
entrega do Argos 2025 na Acaso Cultural para a segunda quinzena de
dezembro. Grande iniciativa, pois o
espaço é bem adequado ao tipo de evento que o CLFC tem organizado nos últimos
certames da premiação.
Às 16h30
começou a mesa “Desafios do fantástico nos trópicos”, com a participação dos
autores Ana Lucia Merege; Bernardo Stamato; Diogo Andrade; e Pedro Sasse, sob a
batuta do mediador Bruno Leandro. Os
autores falaram da ambientação de narrativas fantásticas (com ênfase fortíssima
em fantasia, algumas pinceladas no horror e nem cheiro de ficção científica) em
cenários brasileiros em geral e cariocas e/ou fluminenses em particular. Gostei mais dessa segunda mesa do que da
primeira.
***
Ao fim dessa
segunda mesa, após meia hora de bate-papo final, Ana, Edu, Felipe e eu nos
despedimos dos demais. Ao contrário dos
demais, Octavio permaneceu lá firme e forte.
Ana pediu um Uber para Niterói.
Depois que ela embarcou, caminhamos até a São Clemente, onde Felipe
tomou o metrô, Edu foi a pé para casa e eu peguei um ônibus, aí sim, gratuidade
com o Jaé. Leitura de bordo: mais um
capítulo do Damon.
Jardim Botânico, Rio de Janeiro, 17 de novembro de 2025 (segunda-feira).
Participantes:
Ana Lucia Merege.
Bernardo Stamato.
Bruno
Leandro.
Carlos
Felipe Figueiras.
Clara Monnerat.
Claudio
Pozas.
Diogo
Andrade.
Diogo Ramos.
Eduardo
Torres.
Eric David
Hart.
Fred Furtado.
Gerson Lodi-Ribeiro.
Jana Bianchi.
Luiz Felipe Vasques.
Octavio
Aragão.
Pedro Sasse
(organizador).
Renan
Bernardo.
[1]. Quando era
garoto, tentei ler esse romance numa edição brasileira da Record, publicada por
aqui sob o título enganoso (?) de Demon, mas não consegui terminar a
leitura. Não que o livro fosse ruim. O caso é que o tipo de horror descrito me
impressionou muitíssimo e olha que aos catorze anos eu não me impressionava com
qualquer coisinha, não. Enfim,
lembrei-me desse romance arrepiante umas semanas atrás e tentei comprá-lo num
sebo. O problema foi que a edição da
Record de 1975 está sendo vendida por uma exorbitância nas estantes virtuais da
vida. Daí, a solução foi comprar o livro
num sebo estadunidense; transação intermediada pela Amazon. O livro em saiu por míseros três dólares e o
frete também não foi caro.
[2]. Embora nunca
tenha criado uma personagem feminina baseada diretamente na Fabiana, em minha
noveleta de história alternativa “O Preço da Sanidade”, escrita e publicada no
Somnium 60 em 1993 e republicada na Amazon KDP em 2024, o protagonista Geraldo
Lopes Ramos, em meio a suas agruras, refere-se insistentemente à sua prima
bióloga Fabiana que vivia no bunker universitário da Unicamp. Quando escrevi a noveleta, minha prima já se
graduara em Biologia.
[3]. Um dos que
mais gostei, “Presságio de solidão”, já havia lido em português na antologia Como
Aprendi a Amar o Futuro (Plutão, 2023), organizada por Francesco Verso e
Fábio Fernandes.





Excelente resumão. O nome da esposa do Erick é Isa. :-)
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