Essas mulheres e sua literatura fantástica
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“A mente masculina é um universo fantástico para nós.”
[Eliane Raye]
Saí do trabalho mais cedo hoje à tarde para assistir a estreia das sessões de bate-papo planejadas pela minha amiga Ana Cristina Rodrigues sob os auspícios da Biblioteca Nacional, no espaço cultural propiciado pela Casa da Leitura de Laranjeiras.
Ana Cris pretende abrir um espaço para a literatura fantástica, organizando vários eventos nos moldes desse primeiro bate-papo, que ocorreu no Auditório Clarice Lispector da instituição.
Esse primeiro bate-papo, “Essas Mulheres e sua Literatura Fantástica” foi mediado pela própria Ana Cris, contando com a participação das autoras Eliane Raye e Flávia Côrtes.
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Eliane Raye, Ana Cristina Rodrigues e Flávia Côrtes.
O bate-papo reuniu cerca de quarenta pessoas no auditório, sendo que mais ou menos metade desse número era constituído por alunos de uma escola pública levados ao evento por professores interessados em estimular o hábito da leitura.
A mediadora apresentou primeiro Eliane Raye como uma das poucas escritoras brasileiras de ficção científica com romances publicados. Eliane falou-nos então de seu último romance, O Portal (Vermelho Marinho, 2010), uma trama de suspense e viagens no tempo com protagonista norte-americana, mas ambientada no Brasil.
Em seguida, Ana apresentou Flávia Côrtes, uma autora de literatura infantil que começa a se aventurar na fantasia. Flávia falou de seu romance, Senhora das Névoas (Edelbra, 2011), em que uma jovem comum descobre que descende das fadas de Avalon e precisa decidir se prossegue com sua vida de humana normal ou abandona tudo para assumir sua herança feérica.
Ainda mais interessante do que os enredos dos romances descritos pelas duas autoras foram suas considerações sobre seus respectivos processos de criação literária e as motivações que as levaram a se dedicar à escrita de ficção especulativa. Ao longo do bate-papo, a plateia participou ativamente com comentários, perguntas e — em pelo menos uma ocasião — críticas, quando a mediadora citou en passant a baixa qualidade literária dos romances da série Crepúsculo da Stephenie Meyer.
Ao serem questionadas sobre o emprego de protagonistas femininas, Eliane e Flávia se saíram com respostas distintas. Flávia explicou que já escreveu trabalhos com protagonistas masculino. Eliane explicou que se sente mais à vontade trabalhando com protagonistas femininas, pela maior facilidade em estabelecer um arcabouço psicológico consistente para o personagem. Confessou julgar o universo da mente masculina é um mistério e brincou, afirmando que o funcionamento da mente masculina é um universo fantástico para as mulheres.
Conquanto animado, o evento teve que ser encerrado por volta das 18:30h, imagino que em virtude do horário de funcionamento da instituição, pois a impressão foi que autoras e plateia ainda tinham assunto, questões e entusiasmo para várias horas de bate-papo.
Autoras e Mediadora.
Após o término do bate-papo em si, Ana Cris sorteou exemplares dos romances das duas autoras e também de sua coletânea de contos de fantasia, AnaCrônicas (Gráfica A1, 2009).
Bati algumas fotos das autoras, conversei brevemente com Flávia, que ainda não conhecia, embora ela tenha comparecido na última ou penúltima Fantasticon, e também com Lucas Rocha, adiantando-lhe meus comentários sobre sua noveleta “A Verdade sobre Raio Vermelho — Uma Biografia”, submetida à antologia Super-Heróis, que estou organizando com Luiz Felipe Vasques para a editora Draco.
Findo o evento, cumpre torcer para que esse bate-papo tenha sido apenas o primeiro de muitos organizados pela Casa da Leitura de Laranjeiras versando sobre literatura fantástica.
Jardim Botânico, Rio de Janeiro, 20 de março de 2012 (terça-feira).