II Encontro de
Ficção
Científica e Ensino de Ciências
(FIOCRUZ)
Dia
1
202009032359P5 — 21.974 D.V.
“Ficção científica é tudo
aquilo que eu leio, escrevo, compro e vendo como ficção científica.
[Frederik
Pohl, autor, editor e publisher de ficção científica]
Começou hoje há
pouco o aguardado II Encontro de Ficção Científica e Ensino de Ciências, simpósio
online patrocinado pela Fundação Oswaldo Cruz (FIOCRUZ) e coordenado pela
equipe da professora Anunciata Sawada e do tecnólogo Adílson Júnior.
O evento foi
organizado ao longo dos últimos meses, em plena pandemia, daí o formato
online. Justamente o fato de não ter constituído
um simpósio presencial é que facultou a presença de um público muito maior do
que o das minhas participações anteriores em eventos de divulgação sob os auspícios
da FIOCRUZ.
Houve mais de
dois mil inscritos e mais de quatrocentas pessoas assistiram a primeira sessão online,
não obstante as mais de duas horas de duração.
A apresentação foi disponibilizada no YouTube (https://www.youtube.com/watch?v=xA3h44PFDBM).
Minhas duas participações
anteriores foram presenciais. A primeira
se deu há pouco mais de dezesseis anos, em 22 de março de 2004, por ocasião da
Tenda de Ciências da FIOCRUZ. Já a
segunda foi no I Encontro de Ficção Científica e Ensino de Ciências, também no
campus da instituição, que ocorreu em 19 de novembro de 2015, ocasião em que
conheci meus amigos Adílson e Anunciata.[1]
* *
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Como sabia
que a plateia agora seria não só bem maior, mas também mais eclética do que as
dos certames de 2004 e 2015, tentei preparar uma apresentação mais leve, embora
suspeite que ela talvez não tenha ficado tão leve assim...
Ensaiei duas
ou três vezes com o cronômetro do celular ligado para me certificar de que
conseguiria fazer a apresentação nos quarenta minutos previstos. Cravei entre trinta e oito e trinta e nove
minutos, mas a coisa toda ficou parecendo meio corrida demais para o meu
gosto. Quando consultei o Adílson e ele
garantiu e eu e o Rômulo, professor da UFRJ com quem dividiria a honra de abrir
o II Encontro, teríamos dez minutos de tolerância para concluirmos nossas apresentações,
fiquei mais relaxado.
Na hora da
verdade, consegui apresentar a “Representações da Ciência em Narrativas de Ficção
Científica” em cerca de quarenta e cinco minutos.
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*
Francisco
Rômulo Monte Ferreira é professor no Instituto de Bioquímica da Universidade
Federal do Rio de Janeiro. Físico por formação,
com doutorado em neurociência, hoje se dedica mais à história e à filosofia da ciência,
com trabalho paralelo nas relações entre a ciência, a literatura e o cinema. Além disso, é um entusiasta e um estudioso da
história da ficção científica, como eu. Embora
Adílson tenha nos apresentado brevemente tão logo consegui me conectar pelo
StreamYard, não houve muito tempo para conversarmos.
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Primeiro, na
qualidade de coordenadora do Encontro, Anunciata saudou os palestrantes e os espectadores
conectados no canal, desejando a todos boa diversão nas horas seguintes. Então, passou a palavra ao Adílson, que
atuaria como moderador do evento. Quando
esse apresentou meu biolog de forma competente e profissional, aquela fala curta
e enxuta de noventa e poucas palavras me pareceu um dos discursos gigantescos
de político populista. Porém, mesmo nervoso
com a expectativa de estar prestes a efetuar a apresentação inaugural do simpósio,
vibrei quando meu amigo exibiu seu exemplar de meu romance, Octopusgarden
(Draco, 2017).
Daí, Adílson me
passou a bola e eu liberei a apresentação para o público conectado. O mais curioso (e preocupante) é que,
enquanto exibimos as telas de nossas apresentações em PowerPoint, deixamos de enxergar
não só os rostos do outro participante e do moderador, como também a participação
da nossa plateia online na lista de comentários.
Comecei a apresentação
conceituando ficção científica como gênero, com ajuda das citações de Isaac
Asimov e Arthur C. Clarke. Em seguida,
delineei uma breve genealogia idiossincrática do gênero, com ênfase nas alegações
canhestras de ancestralidade remota da FC e, sobretudo, na tese advogada pelo
autor e estudioso do gênero Brian W. Aldiss em seu Trillion Year Spree: The History of Science
Fiction, segundo a qual o gênero teria uma mãe (Mary Shelley) e dois pais
(Jules Verne e H.G. Wells).
Daí, passei à
rivalidade Verne vs. Wells em torno da missão primordial das narrativas de FC:
instruir (segundo Verne) ou entreter (de acordo com Wells). Então, conceituei a falácia da literatura de antecipação
e, enfim, adentrei na abordagem da atividade científica nos enredos do gênero. Para tanto, falei primeiro do papel dos
cientistas como ficcionistas, para então discutir os cientistas como
personagens: do clichê do cientista louco ao do cientista-herói. Toquei na questão dos enredos que propunham ciência
produzida por cientistas solitários no fundo de seus quintais ou em seus laboratórios
caseiros. Defendi as tramas e enredos
inspirados na ciência tal como ela é feita no mundo real dos séculos XX e XXI,
exemplificando com os projetos Manhattan e Apollo, bem como com o sequenciamento
do genoma humano e a busca pela vacina contra a Covid-19. Também falei dos bons exemplos ficcionais,
como os romances Time Tunnel (1964) do Murray Leinster e Timescape
(1980) do Gregory Benford. Para concluir,
abordei o Complexo de Frankenstein e o papel deletério do autor Michael
Crichton como propalador dessa temática ultrapassada.
A título de
fecho, num autoplágio confesso, repeti um trecho de minha fala a Tenda da Ciência
patrocinada pela FIOCRUZ em 2004:
“Se, por um
lado, os trabalhos de ficção científica constituem antes de mais nada
narrativas ficcionais e não factuais, por outro, o termo “científica” enfatiza
a necessidade da adoção de pressupostos científicos na elaboração de seus
enredos. O ideal, então, é divulgar
divertindo, pois a divulgação através do prazer, a aprendizagem lúdica, é
sempre a mais efetiva.”
* * *
Ao terminar
minha fala e desligar minha apresentação, pude constatar o público presente na
lista de comentários e constatar o comparecimento de alguns amigos e personalidades
conhecidas da comunidade fantástica brasileira.
Os autores Alexey Dodsworth, Ana Lúcia Merege, Nikelen Witter e Octavio Aragão. O presidente do Clube de Leitores de Ficção Científica,
Luiz Felipe Vasques. Minha amiga do grupo
de discussão em literatura fantástica (do qual Adílson também faz parte),
Juliana Berlim. O pesquisador e divulgador
incansável do gênero Alexander Meireles da Silva, responsável pelo canal
Fantasticursos.
Porém, essa visualização
de nomes conhecidos foi breve e, portanto, suspeito, incompleta. Pois, Adílson logo apresentou o Rômulo e lhe
passou a palavra. Cumpria assistir à apresentação
do colega.
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Rômulo efetuou
sua apresentação “Ficção Científica e a Contemporaneidade” com brilhantismo,
abordando diversos tópicos e temáticas relevantes, como, por exemplo, na conceituação
da literatura; questões de identidade no romance Alice no País das Maravilhas
(1865) de Lewis Carroll; na obsolescência dos conceitos de FC hard e FC soft; nas
pinceladas pertinentes na taxonomia do gênero, com citações aos conceitos de
Darko Suvin e à escola formalista russa liderada por Tzvetan Todorov; na relevância
do romance Solaris (1961), de Stanislaw Lem em termos de filosofia da
ciência; e concluiu com o trans-humanismo, ali representado pelo advento de robôs
e inteligências artificiais.
Após a conclusão
de Rômulo, Adílson nos apresentou as perguntas escritas por nossa plateia
virtual na lista de comentários. Respondemos
de tudo um pouco. Das reclamações por não
havermos citado o seriado Ricky & Morty ou o Professor Pardal no
quesito Cientistas Loucos, até o questionamento por causa do cognome da FC, “Literatura
de Antecipação”; da dicotomia entre Utopia e Distopia; à necessidade de fidelidade
na adaptação cinematográfica ou televisiva de narrativas fantásticas literárias;
e ao emprego em sala de aula das narrativas de FC embasadas nas ciências sociais.
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Jardim Botânico, Rio de Janeiro, 03 de setembro de 2020 (quinta-feira).
Participantes:
Adílson Júnior
(moderador).
Alexander Meireles
da Silva.
Alexey Dodsworth.
Ana Lúcia Merege.
Anunciata Sawada (coordenadora).
Francisco Rômulo
Monte Ferreira (apresentador).
Gerson Lodi-Ribeiro (apresentador).
Juliana Berlim.
Luiz Felipe Vasques.
Nikelen Witter.
Octavio Aragão.
Ah, a palestra foi realmente magnífica, fiquei vidrada em sua fala. Anotei cada vírgula com medo de perder algo! Grande oportunidade ouvir a você, e ao Rômulo!
ResponderExcluirAbraços
Obrigado, Lygia. Fico feliz que tenha gostado.
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