terça-feira, 8 de novembro de 2016

Max Mallmann
(1968-2016)

201611051450P7 — 20.574 D.V.

“Veni cum papa!”
(Desiderius Dolens, protagonista de O Centésimo em Roma.)


Conheci Max Mallmann na tarde de 08 de novembro de 1997, sábado, primeiro dia da quinta e última InteriorCon, convenção de literatura fantástica organizada por Roberto de Sousa Causo em Sumaré, cidadezinha do interior de São Paulo.
No primeiro papo, Max me presenteou com um exemplar autografado do seu Mundo Bizarro, romance fix-up de ficção científica disfarçado de fantasia, que havia publicado no ano anterior.  Àquela época, o autor assinava seus trabalhos como Max Mallmann Souto-Pereira.
Após o jantar num restaurante local com a presença de Bruce Sterling, convidado internacional da InteriorCon, regressei à escola onde se dava o evento e encontrei o escritor André Carneiro proferindo a palestra que constituía sua participação principal na convenção.  Extenuado naquele dia de agenda cheia, desde a viagem de carro do Rio de Janeiro até o interior de São Paulo, resolvi abrir mão da palestra do decano, última atividade oficial da noite, saindo para aguardar seu término do lado de fora da escola.  Ali encontrei, em situação idêntica e disposição de espírito similar, o novo amigo gaúcho Max Mallmann.  Sábia decisão.  Pois, a partir daquele segundo bate-papo — onde pudemos conversar sobre processos de criação literária e a liberdade do autor para escrever sobre as narrativas que deseja contar — estabelecemos nossa amizade.
Finda a palestra, eu e Max coletamos os amigos Carlos Orsi Martinho, Marcelo Simão Branco e Leonardo Nahoum, para ir até um barzinho.  Conduzidos por nosso “guia nativo” William Mündel, encontramos um sítio adequado para bater papo até cerca de três da manhã.  Max nos contou então de seus sonhos de escrever e publicar seus livros por uma grande editora e se tornar roteirista da Rede Globo.  Sonhos que lograria concretizar ao longo da década seguinte.
Na manhã de domingo, a primeira atividade oficial da InteriorCon foi a palestra “Ficção Científica e História”, proferida por Max Mallmann.  Apesar do título, os temas abordados foram o mercado editorial para a literatura fantástica no Rio Grande do Sul e a mecânica do seu processo criativo.  Por insistência dos presentes, falou um pouco sobre suas próprias obras.  Além de Mundo Bizarro, à época ele já havia escrito o romance de ficção científica Confissão do Minotauro, publicado uma década antes, quando Max possuía apenas dezenove anos.[1]  Depois do almoço, ele ainda participaria de um painel denominado “Contato Imediato com o Fandom”, em companhia dos escritores Daniel Fresnot, Guilherme Kujawski, Sergio Kulpas e Ataíde Tartari.

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Menos de dois anos mais tarde, contratado pela Rede Globo, Max se mudaria para a cidade do Rio de Janeiro em companhia da esposa, a escritora e poeta, Adriana Lunardi.  Ingressou-se de forma harmônica à comunidade carioca de FC&F, a ponto de se tornar o representante oficial do CLFC-RJ na década de 2000.
Em novembro de 2000, dava-se o lançamento de sua novela de fantasia Síndrome de Quimera, primeiro livro dos quatro que publicaria pela prestigiosa editora Rocco.  Alguns poucos já conheciam a primeira metade dessa novela que acabou abiscoitando o Prêmio Argos 2001 na categoria Melhor Ficção Longa, além de ter sido indicada como finalista do Prêmio Jabuti na categoria Melhor Romance, feito até então inédito para um texto de literatura fantástica.  Pois, já em 1998, Max havia submetido aquela metade inicial ao crivo da Oficina Literária Virtual, esforço que desenvolvemos com a participação de outros autores do fantástico lusófono, como João Barreiros; Roberto Causo; Hidemberg Alves da Frota; António de Macedo; Lúcio Manfredi; Carlos Orsi Martinho; Simone Saueressig; Luís Filipe Silva; dentre outros.  Mesmo ignorantes quanto ao fim da história, muitos de nós então intuímos estarmos diante de uma obra instigante e aguardávamos ansiosos pela publicação da mesma.
Max tornou-se merecidamente o centro das atenções na reunião mensal do CLFC-RJ, em novembro de 2000 na pizzaria Parmê do Largo do Machado, ao falar da Síndrome de Quimera.  Quatro dias antes do seu lançamento oficial na livraria Argumento do Leblon, a novela virou o assunto principal daquela tarde-noite regada por vinho, chope e pizzas.

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Em plena cerimônia de entrega do Prêmio Argos 2003, no SESC-Tijuca, Max Mallmann foi ungido e então aclamado por unanimidade como representante oficial do CLFC no Rio de Janeiro.  Compareceu ao evento de pé quebrado, bota ortopédica e par de muletas, após ter sido vítima da violência urbana carioca: uma dupla de trombadinhas lhe aplicou uma trombadona na Rua Barão da Torre, em Ipanema.  Max caiu de mau jeito e acabou quebrando o pé.  O pior foi que, apesar de existir elevador do SESC, o coitado foi obrigado a subir vários lances de escada até a Casa Rosa, sítio onde se desenrolou a cerimônia do Argos.  Naquela ocasião, Max nos mostrou um exemplar de seu novo romance, Zigurate, então prestes a ser lançado pela Rocco.  Considerei-o à época um candidato fortíssimo ao Argos 2004 na categoria Melhor Romance.  Infelizmente, a premiação foi descontinuada pela nova diretoria do CLFC e o romance não recebeu o reconhecimento merecido dos sócios da agremiação.
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Ao longo destas duas décadas de amizade e convivência, Max sempre prestigiou os amigos e a comunidade de FC&F carioca e brasileira com sua presença, seu senso de humor irônico e sua índole afável e conciliadora.  Houvesse o costume de batizarmos as verves da ironia como se fossem gládios famosos, aquela brandida com precisão cirúrgica por Max, com sua lâmina afiada e sua extremidade aguçada, tal como a espada de Arya Stark, devia ser chamada “Agulha”.
Max constituiu presença constante em convenções como as Fantasticons paulistanas e as Odisseias de Porto Alegre, bem como nos eventos oficiais do CLFC-RJ e das reuniões mais informais da comunidade carioca de literatura fantástica nos restaurantes e barzinhos da cidade ou, ainda, nos queijos & vinhos e demais bebemorações de caráter etílico que se desenrolavam nas residências dos amigos.  Sempre bem-humorado, invariavelmente divertido e acessível, sempre disposto e capaz de alegrar os amigos com suas tiradas espirituosas, suas colocações sutis e seus comentários mordazes sobre política, costumes, literatura e outros bichos mais.
Por tudo isto, mais do que por qualquer outra coisa, Max Mallmann fará falta e deixará saudades entre seus amigos cariocas e brasileiros, que granjeou tanto na comunidade literária quanto na de roteiristas do Rio de Janeiro.
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Na reunião carioca de agosto de 2008, no Manuel & Joaquim do Largo do Machado, Max nos apresentou ao roteiro do seriado Ilha de Ferro, recém-submetido à Rede Globo.  Então atuante, no núcleo de roteiristas do humorístico semanal A Grande Família, Max foi convidado a submeter um roteiro para uma nova minissérie ou seriado, junto com outros roteiristas da Globo.  Dos vinte e cinco roteiros gerados a partir daquele processo de seleção, dez passaram pelo primeiro crivo, dentre eles o do nosso amigo.  Ilha de Ferro fala das peripécias de um grupo de profissionais que trabalha numa das plataformas off-shore da Petrobras.  Ambiente que, até onde eu saiba, jamais foi explorado numa narrativa mais extensa do que um longa-metragem.  O ex-presidente do CLFC, Eduardo Torres, que é engenheiro químico da Petrobras, atuou como consultor e colocou o autor em contato com outros engenheiros que já haviam trabalhado em plataformas.  Após ficar de molho por quase uma década, o projeto recebeu enfim o sinal verde da direção da Globo.  Por ironia do destino, essa aprovação se deu numa época em que Max já havia sido diagnosticado com uma forma rara de câncer muscular.  Infelizmente, embora tenha escrito os roteiros dos episódios da primeira temporada, o autor não viveria para concretizar o sonho de ver um produto solo com sua assinatura nas telas da emissora.
Como roteirista da Globo desde 1999, Max integrou o time de redatores de Malhação (1999-2001), da novela Coração de Estudante (2002) e das séries Carga Pesada (2004) e Grande Família (2005-2014), sendo, portanto, corresponsável pela criação dessa que constituiu uma das séries mais divertidas e saudosas da teledramaturgia brasileira.  Quando me encontrava com o Max num barzinho ou num queijos & vinhos, quase sempre conversávamos sobre as nuances dos enredos dos episódios da Grande Família, série de que eu era e ainda me considero um grande fã.
No que concerne à Ilha de Ferro, as notícias não poderiam ser mais alvissareiras.  Segundo a crítica televisiva Patrícia Kogut, em nota de sua coluna em 21 de setembro último:
“A série Ilha de Ferro, da Globo, terá 12 episódios.  Max Mallmann e Adriana Lunardi criam a trama, sobre petroleiros numa plataforma fictícia de produção de petróleo.  Os personagens viverão a tensão de trabalhar num local perigoso, com risco de explosões, e também conflitos de poder e histórias de amor.”
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Em 15 de abril de 2010, Max lançou O Centésimo em Roma, romance histórico instigante e original que considero seu melhor livro.  O evento se deu na livraria Travessa da Visconde de Pirajá e o autor inovou ao utilizar, no lugar de autógrafos, carimbos com ditos sacanas espirituosos em latim.
O intervalo de sete anos entre a publicação de Zigurate e esse romance deveu-se provavelmente ao trabalho de pesquisa caudaloso que o autor empreendeu, lendo e digerindo quase uma centena de livros sobre Roma Antiga ao se preparar para a empreitada.
Não julgo O Centésimo em Roma e sua continuação As Mil Mortes de César, lançado quatro anos mais tarde, apenas romances históricos brilhantes, mas, simplesmente, os dois melhores romances históricos já escritos no Brasil e, possivelmente, os dois romances históricos mais bem escritos e mais divertidos dentre os ambientados em Roma Antiga.
Max estava escrevendo um terceiro romance nesse mesmo universo ficcional protagonizado por Desiderius Dolens, o Carniceiro de Bonna.  A escrita ainda estava no início quando a morte intempestiva bateu à sua porta.
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Em outubro de 2015, Max surpreendeu seus amigos mais próximos quando nos convidou para seu jantar de aniversário no bar Belmonte do Jardim Botânico.  Porque, ao chegar ao local, deparamo-nos com sua calva reluzente, arauta de notícias funestas.  Havia contraído uma forma rara de câncer nos tecidos musculares, mais especificamente no músculo da coxa.  Embora a moléstia já houvesse produzido metástase, a equipe de oncologistas que acompanhava o tratamento mostrava-se otimista.
A notícia nos pegou de surpresa e todos à mesa se sentiram bastante abalados diante das perspectivas ruins.  Uma exceção notável foi o próprio aniversariante, que se exibiu confiante e otimista.
Dois meses mais tarde, por ocasião da cerimônia de entrega do Prêmio Argos 2015 na cúpula do Planetário da Gávea e no banquete comemorativo que se seguiu, Max comunicava aos amigos que o tratamento à base de quimioterapia fora bem-sucedido e que os médicos haviam declarado que ele se encontrava oficialmente no período de remissão.  Poucos sabiam, mas Max exercia o papel de mecenas anônimo dessa premiação.
Cerca de vinte dias atrás, recebi um telefonema insólito de um amigo comum, informando que Patrícia Mallmann, irmã caçula do Max, estava planejando uma festa-surpresa para comemorar o aniversário dele no hospital Copa D’Or.
— Ué, mas o Max está internado?
— Está, sim.  Mas, não é nada sério.  Foi submetido a uma pequena intervenção cirúrgica, mas passa bem.  Já saiu da UTI e está no quarto.  A Patrícia falou que seria legal comemorar o aniversário com ele.
— É mesmo?  Então, tá.
Naquela tarde ensolarada de terça-feira, 18 de outubro, saí do trabalho mais cedo e, meio acabrunhado, tomei o metrô na direção Copacabana.  Pelo visto, o câncer voltara.
Ao entrar no quarto do hospital, deparei-me com um Max Mallmann fisicamente debilitado, mas falante e bem-humorado, não obstante por vezes precisar usar uma máscara de oxigênio para conversar conosco.  Presenteei-o com um exemplar do meu Vita Vinum Est: História do Vinho no Mundo Romano, livro que ele me incentivou a escrever, ao afirmar diversas vezes que o utilizaria como subsídio para ambientar as narrativas de Desiderius Dolens.  Além da Adriana e da Patrícia, estiveram presentes a mãe de Max e outra irmã que eu ainda não conhecia, Roberta Mallmann, ambas vindas do Rio Grande do Sul para o aniversário.  Do pessoal da FC&F carioca, compareceram Ana Cristina Rodrigues, Eduardo Torres, Luiz Felipe Vasques e eu.  Muitos amigos da Globo também estiveram presentes.  Ao todo, calculo que éramos quase trinta pessoas.  Para controlar essa autêntica multidão, em termos de ambiente hospitalar, Adriana pediu que permanecêssemos no quarto apenas três de cada vez.  Apesar do bom humor e da fleugma do Max, havia certo clima de despedida no ar.  Descemos os quatro no mesmo elevador e sentamos numa mesa do Cafeína aberto no térreo do hospital para rememorar nossa amizade com o Max.  À época, não sabíamos que ele já estava com um pulmão inoperante e o outro funcionando com apenas metade da capacidade.
Mesmo assim, quando recebi uma mensagem de WhatsApp ontem às oito da manhã para avisar do falecimento do nosso amigo, no primeiro instante precisei me esforçar um bocado para acreditar.  Infelizmente, era verdade: Max Mallmann faleceu aos 48 anos, em pleno auge da carreira como escritor e roteirista, na madrugada de ontem, sexta-feira, dia 04 de novembro de 2016.
Ontem à noite, triste e saudoso, afoguei meu desânimo numa garrafa de Clos Apalta 2008, o mesmo tinto chileno magnífico que bebi com o Max, Edu Torres e Flávio Medeiros num dos últimos eventos em que reunimos os amigos aqui em casa.
Mais concorrido do que a família pretendia, o velório se deu nesta manhã, na Ordem do Carmo.  Estiveram presentes a família, com exceção de Renata Mallmann, irmã mais nova que Max, e mais velha que Roberta e Patrícia, residente nos EUA (ela conversou conosco e com muitos outros presentes à cerimônia via Skype), e muitos, muitos amigos dos milhares que esse sujeito amável, inteligente e simpático congregou ao longo da vida.  Na maioria daqueles que compareceram para lhe prestar a última homenagem, notava-se certo sentimento de revolta e perplexidade: por que um cara tão bacana quanto o Max teve que morrer tão jovem quando há tanta gente ruim vendendo saúde por aí?
Por volta das 13h00, quando os funcionários do cemitério já estavam prestes a levar o féretro para o crematório, A mãe do Max pediu uma salva de palmas para o filho.  Os presentes aplaudiram por quase dois minutos emocionantes.  Como nova última homenagem, Patrícia pediu nova salva de palmas para o irmão e nós aplaudimos por noventa segundos seguidos.
Enfim, o féretro que permanecera fechado durante todo o breve velório foi levado pelos funcionários e nós nos despedimos, tristes e chorosos.

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Vários amigos insistiram em afirmar que Max Mallmann se foi no auge de sua vida e carreira.  Não creio.  Pois, não fosse essa partida intempestiva, com sua capacidade e talento, ele decerto galgaria píncaros mais elevados.  O fato é que deixará muitas saudades e uma comunidade carioca de literatura fantástica menos inteligente, menos bem-humorada e menos alegre.  Como diria Billy Joel, “só os bons morrem jovens”.

Jardim Botânico, Rio de Janeiro, 05 de novembro de 2016 (sábado).


2000 - Churrasco Natalino do CLFC-RJ na Stylus.


2003 - Queijos & Vinhos com Libby Ginway.



2005 - Queijos & Vinhos.



2006 - Planejando a Dominação Global no Belmonte da Lapa.


2008 - ITAÚ Invisibilidades II: Mesa FC Pós-Moderna.


2008 - Confraternização no Manuel & Joaquim.


2009 - Reunião no Cabidinho.


2009 - Reunião no Estação Gourmet.


2010 - Bazinga! (sabre de luz por cortesia de Clinton Davison).


2010 - Lançamento de O Centésimo em Roma na Travessa de Ipanema.


2010 - Comemoração do Centésimo no Estação Gourmet.


2010 - Jantar na Fantasticon.


2010 - Queijos & Vinhos Natalino.



2011 - Reunião no Estação Gourmet.


2011 - Mesa-Redonda na Fantasticon.


2012 - Queijos & Vinhos com Flávio Medeiros.


2012 - Lançamento da coletânea da "Carla Cristina" na Blooks.


2013 - Lançamento da antologia Espada & Magia na Travessa de Ipanema.


2013 - Odisseia Fantástica, almoço no Bistrô do Museu.


2013 - Odisseia Fantástica: Leitura de O Centésimo em Roma.


2014 - Reunião no Estação Gourmet com Raul Avelar.


2014 - Mesa-redonda na Odisseia Fantástica.


2015 - Aniversário do Max no Belmonte, Jardim Botânico.


2015 - Jantar do Argos no Espaço Culinare (ex-Estação Gourmet).



2015 - Argos: Cerimônia de Premiação.
















Microrresenhas dos Livros de Max Mallmann:

1) Confissão do Minotauro (Instituto Estadual do Livro, 1987).
ð Romance de ficção científica.  Observador histórico com tendências suicidas embarca numa imensa fortaleza espacial dos Mundos Periféricos, entidade interestelar sob a égide humana, prestes a ser atacada pelos respiradores de amônia da Confederação Phin.  A fortaleza espacial é tripulada por milhões de indivíduos pertencentes a diversas espécies inteligentes respiradoras de oxigênio e governada por um megacomputador neurótico com dupla personalidade.  Max Mallmann juvenil apresenta uma FC hard inteligente e relativamente adulta.

2) Mundo Bizarro (Mercado Aberto, 1996).
ð Ficção científica com roupagem de fantasia.  Aventuras políticas, militares, amorosas e diplomáticas de Krysio V, novo monarca do Reino de Gavorya, no planeta Ruydia, auxiliado em suas maquinações maquiavélicas por Zé Carlos, um humano da Terra que caiu em Ruydia após cruzar uma fenda dimensional com seu automóvel.  O romance é antes um fix-up de duas noveletas e uma novela.  Divertido e de leitura compulsiva.

3) Síndrome de Quimera (Rocco, 2000).
ð Novela de fantasia.  Homem com cascavel enrodilhada no coração associa-se com um amigo, que é capaz de retirar o cérebro quando estressado, a fim de abrir café-livraria em Porto Alegre, reunindo como clientela outras criaturas exóticas e anomalias genéticas.  O enredo se complica quando aparecem Falena, uma jovem de olhos luminescentes e o pai do protagonista, um rato gigante de 300 kg que costuma se alimentar de carne humana.

4) Zigurate (Rocco, 2003).
ð Romance de ficção científica.  Em seus últimos meses de vida, doutoranda francesa portadora de moléstia incurável tropeça, em meio à pesquisa de sua tese, na existência de um casal de imortais que compartilha a Terra com a humanidade desde antes do alvorecer da história.  Desesperada para desvendar o mistério antes de morrer, ela parte de Paris para Edimburgo em busca do homem imortal.  Paralelamente, depois que um gênio do marketing eleitoral norte-americano morre no Rio, após receber felação de uma puta local, o assistente dele se vê envolvido com a mulher imortal, que trabalha na agência encarregada da campanha política de um candidato, dublê de deputado federal e traficante de armas, primeiro ao Senado e depois à Presidência.  Quase toda a ação se concentra no Rio de Janeiro e em torno da mulher imortal, ao passo que quase todas as revelações sobre a origem obscura dos imortais se concentram em Paris e Edimburgo, em torno da pesquisadora moribunda.

5) O Centésimo em Roma (Rocco, 2010).
ð Tour-de-force de Max Mallmann.  Melhor romance histórico já escrito no Brasil.  Um dos melhores romances históricos jamais ambientados em Roma.  Centurião Desiderius Dolens, vulgo Carniceiro de Bonna, regressa à Roma vindo da Germânia no fatídico ano dos quatro imperadores (68 A.D.) e recebe o comando de uma guarnição das coortes urbanicianas, posto aquém de suas ambições de ascender ao patriciato.  Divertido e original.

5) As Mil Mortes de César (Rocco, 2014).
ð Continuação de O Centésimo em Roma.  Quase tão bom quanto o romance anterior.  Desiderius Dolens prossegue em suas aventuras, envolvendo-se cada vez mais profunda e inexoravelmente na guerra civil entre os candidatos ao posto de imperador, Vitélio e Vespasiano.  Mallmann magistral.

7) Tomai e Bebei (Aquário Editorial, 2015).
ð Noveleta de horror.  Em fins do século XIX, padre beberrão do interior se depara com um crime bizarro após a chegada de um bispo misterioso e seu criado anão numa noite de tempestade.  Max Mallmann torna o clichê surrado numa narrativa palatável com clima de horror clássico.





[1].  Embora Max tenha mais tarde tentado renegar esse filho primogênito, atribuindo suas pretensas falhas aos arroubos criativos juvenis (em seu autógrafo, pontificou “Para Gerson, com vergonha de minhas tosquices de juventude.  Um abraço do Max”), não creio que haja motivos para se envergonhar desse romance de ficção científica hard elaborado com estilo inteligente e maduro, sobretudo, quando se considera a idade do autor à época de sua escrita e publicação.

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