Primavera
Literária
do Rio
de Janeiro
2016
201611192359P7 — 20.588 D.V.
“Dino rides again!”
[Luiz Felipe
Vasques, ao assumir mais uma vez a guarda da volumosa bolsa de livros de Dino
Freitas]
Ao contrário do que se deu em certames anteriores, este ano minha
participação na Primavera Literária do Rio de Janeiro acabou se limitando à
tarde deste sábado, dia 19 de novembro, dia da Bandeira.
Programei-me de antemão para comparecer ontem à tarde, após o
trabalho. No entanto, a chuva grossa,
acompanhada por uma ventania fortíssima, fez alguns estandes voarem e derrubou
uma palmeira nos jardins do Museu do Catete, local que abriga essa feira
literária, levando os organizadores a fechar temporariamente o evento por
motivos de segurança, em vista dos riscos de curto-circuito na fiação exposta
das instalações da feira. Avisado por
Erick Sama e Luiz Felipe Vasques, mudei meus planos quando já estava prestes a
sair do trabalho rumo à Primavera.
Hoje de manhã, o clima firmou e as previsões meteorológicas indicaram
possibilidade de chuva zero com tanta certeza que nem levei guarda-chuva quando
descemos para tomar o UBER que nos levaria até o Palácio do Catete. O pai da Cláudia, Carlos Quevedo,
acompanhou-nos durante o evento.
Após ingressarmos nos jardins do palácio pela entrada de uma rua
lateral (a entrada principal está interditada), separei-me da Cláudia e de meu
sogro, pois ambos estavam a passeio e eu nem tanto.
* *
*
O primeiro estande que visitei nesta tarde ensolarada de céu azul
impecável foi o da Aquário, minieditora de Ana Cristina Rodrigues e Estevão
Ribeiro. Aproveitei o ensejo para
conhecer pessoalmente as gêmeas do casal, Sofia e Guilhermina, e para adquirir
o Grande, Gordo e Feliz (Aquário
Editorial, 2016) do Estevão, que reúne todas ou quase todas as tirinhas dos Passarinhos até agora. Em meio à conversa, meio tristonhos,
recordamos que o livreto com a noveleta de horror Tomai e Bebei (Aquário Editorial, 2015) acabou sendo o último
título publicado por nosso saudoso amigo Max Mallmann.
Dali segui para o estande da Draco, onde encontrei Luiz Akira e Ricardo
França. Embora não houvesse à venda exemplares
da Dinossauros (Draco, 2016),
antologia que organizei e cujo lançamento oficial se deu meses atrás na Bienal
do Livro de São Paulo, havia das outras antologias que organizei para a
editora: Vaporpunk (2010); Dieselpunk (2011) e Super-Heróis (2013). Segundo
o Akira, também havia Solarpunk
(2012), mas esgotou antes de eu chegar.
Aliás, autografei vários exemplares da Vaporpunk e da Super-Heróis,
que também se esgotaram durante a tarde.
No que concerne meus livros-solo, havia Aventuras do Vampiro de Palmares (2014); A Guardiã da Memória (2011); e Estranhos
no Paraíso (2015). Apenas o Vampiro se esgotou ao longo da
tarde-noite.
GL-R e suas crias no estande da Draco.
Luiz Akira no estande da Draco.
Estande da Draco.
Pouco depois, chegava Luiz Felipe Vasques e Ana Lúcia Merege. Conversamos os bastante sobre as expectativas
quanto aos resultados do Prêmio Argos 2016, cuja cerimônia será realizada no
Boulevard Olímpico, por ocasião da feira carioca do livro (LER).
O estande da Draco situa-se logo depois de uma ponte que cruza o lago
artificial dos jardins e bem próximo da palmeira que caiu ontem, de forma que
as pessoas paravam ali toda hora para fotografar a árvore despencada,
atravessada no laguinho. A palmeira
falecida era tão grande que, houvesse caído na direção do estande, certamente o
teria esmagado.
Palmeira despencada na véspera junto ao estande da Draco.
Cláudia e Carlos no banco da ponte junto ao estande da Draco.
Para alegria dos visitantes da Primavera, um casal de gansos enormes
transitava para lá e para cá na vizinhança do nosso estande. O macho emitia grasnidos estridentes, algo semelhantes
ao som de uma trombeta. Observei que as
cristas ósseas que esses gansos exibem nas testas, acima dos bicos, atua como
uma espécie de caixa de ressonância, semelhante à de algumas espécies de
hadrossauros (dinossauros popularmente conhecidos, aliás, como “bicos-de-pato”).
Gansos grasnadores.
Grasnidos em si.
* *
*
Novamente em companhia da Cláudia e de meu sogro, visitei brevemente o
estande da Mauad para verificar se meu livro Vita Vinum Est!: História do Vinho no Mundo Romano (MauadX, 2016)
está à venda. Estava e com 20% de desconto.
Visitei também o estande da Aleph, bastante lotado, surpreendendo-me
com o desempenho dinâmico eletrizante de meu amigo Daniel Faleiro, membro do
grupo de leitura Cápsula do Tempo (ex-segmento carioca do Vórtice
Fantástico). A editora está com um punhado
de títulos interessantíssimos.
Infelizmente, para dinossauros da velha-guarda como eu, há pouca coisa
que não tenha sido publicada por aqui vinte ou trinta anos atrás. Daniel me indagou sobre o clássico Um Cântico para Leibowitz, de Walter
Miller Jr. (meu exemplar foi publicado pela Melhoramentos em 1982 e lido em
fevereiro daquele mesmo ano remoto do segundo milênio) recém-relançado pela
Aleph e eu o recomendei com máximo empenho.
Daniel Faleiro em ação no estande da Aleph.
Numa passada posterior pelo estande da Aleph, agora em companhia dos
amigos Ricardo França e Dino Freitas, encontrei Stella Rosemberg, também do
Cápsula do Tempo, e conversamos um bocado sobre leituras e atividades
literárias. Encontrei outra amiga desse
clube de leitura especializado em literatura fantástica, Renata Aquino, no
estande da Draco. Conversamos um bocado
sobre as narrativas de Ted Chiang, melhor escritor de ficção curta da
literatura fantástica, cuja coletânea Sua
História e Outros Contos (Intrínseca, 2016) será finalmente lançada no
Brasil nos próximos dias e que contém a noveleta “Story of Your Life”, trabalho
que inspirou o filme de ficção científica A
Chegada. A película estreará nos
cinemas na próxima quinta-feira. Há
planos para assistir o filme antes de analisar essa noveleta em nossa próxima
reunião, junto com a noveleta “Tower of Babylon”, presente na mesma coletânea.
* *
*
Como na Primavera de 2015, desta vez meu amigo Nuno Caminada apareceu
novamente no estande da Draco para bater um papo comigo. Na conversa com Nuno e em muitas outras entabuladas
ao longo dessa tarde e no início da noite, o tema dominante foi a crise
econômica, política e moral que se abateu sobre o país, sobretudo, suas
repercussões fluminenses mais recentes: as prisões dos ex-governadores Sergio
Cabral Filho e Anthony Garotinho.
Outro amigo que compareceu lá na Draco foi Adilson Júnior, que conheci
por ocasião de uma mesa-redonda de que participei em fins do ano passado. Após indagar se meu Aventuras do Vampiro de Palmares era uma expansão da noveleta
“Capitão Diabo das Geraes”, Adilson adquiriu um exemplar desse romance fix-up.
Dino Freitas e Flávio Abal se sagraram como os dois recordistas de
aquisições literárias da tarde. Mesmo
sem sua indefectível mala vermelha de rodinhas, Dino demonstrou uma voracidade
aquisitiva surpreendente, que o forçou a numerosas rearrumações frenéticas no
conteúdo de sua volumosa bolsa de feira.
Como uma coisa leva à outra, o recordista tarado não descartou a ideia —
sugerida por mim à guisa de piada — de comparecer amanhã com um carrinho de
feira. Abal não ficou muito atrás do
campeão, logrando, inclusive, descobrir num de seus raids um exemplar do meu Vita Vinum Est! lá no estande da Mauad.
Já minha amiga Ana Lúcia Merege adquiriu seu exemplar de meu livro de
vinho na minha mão e com desconto ainda maior do que o do estande da
Mauad. Como sempre, Ana mostrou-se
incansável ao ajudar o Akira em seus esforços de venda hercúleos no estande da
Draco. Aliás, este ano, Akira me ensinou
um método para bloquear as malditas ligações de telemarketing pelo site do
PROCON. Infelizmente, esse importante recurso
humanitário ainda não se encontra disponível no PROCON-RJ, pois, além de roubado,
falido, fodido e mal pago, o Estado do Rio de Janeiro parece ser um dos poucos
que não aprovou leis neste sentido.
* *
*
Visitei também o estande da editora Vermelho Marinho, onde encontrei os
amigos Thomaz Adour e Bruno Anselmi Matangrano.
Aproveitei a oportunidade para adquirir com desconto a coletânea do
Bruno, Contos para uma Noite Fria
(Llyr Editorial, 2014), a antologia O
Outro Lado do Crime: Casos Sobrenaturais (idem, 2016), que ele coorganizou
com Debora Gimenes para aquele selo, e a novela clássica de Morgan Robertson, Futilidade ou o Naufrágio do Titan
(Vermelho Marinho, 2014). Publicado em fins
do século XIX, esse último trabalho conta a história do naufrágio do Titan em sua viagem inaugural, um
transatlântico, considerado como inafundável, bastante semelhante ao Titanic, que de fato naufragou em
1912. Mais do que qualquer outro fator,
é a coincidência dessa antecipação notável que transformou a novela num
clássico. É a primeira vez que esse
trabalho é publicado em nosso idioma.
* *
*
Lá pelas tantas, eu, Felipe, França, Ana Merege e outros amigos
deixamos o estande da Draco sob os cuidados mais do que competentes do Luiz
Akira a fim de tomar um café e comer algo na praça de alimentação da
Primavera. Eu e o França acabamos caindo
na tentação irresistível dos doces portugueses.
Caí ante o assédio moral da bomba de chocolate, enquanto ele optou pela
mil-folhas. Os demais tomaram expressos
com bolos ou algo do gênero. Fiquei de
olho vivo e faro fino numa barraquinha que estava fazendo uns crepes salgados
com uma cara ótima e um aroma inebriante, mas, por conta do papo animado, acabei
não encetando a aproximação final.
Neste bate-papo, travei contato com Maurício, que atuou como ilustrador
na saudosa edição brasileira da Isaac
Asimov Magazine de Ficção Científica.
Conversamos um bocado sobre incursões a sebos literários e autores da
primeira onda, como Jerônymo Monteiro, André Carneiro, Rubem Teixeira Scavone e
Fausto Cunha. Descrevi-lhe o enredo
básico da noveleta “Última Estrela” (1976), o trabalho de Cunha de que mais
gosto, onde o leitor é brindado com a concretização de uma fantasia masculina
clássica: após uma sessão de sexo animada com sua cientista-chefe, o comandante
de uma nave de pesquisas humana desperta de madrugada e se percebe recebendo
sexo oral. Na manhã seguinte descobre
que a amante humana não teve nada a ver com a felação. A dose de prazer misterioso fora concedida
por uma capelliana, fêmea humanoide de um metro de altura, nativa do planeta
explorado pelos humanos.
* *
*
O ponto alto dessa tarde divertida memorável em que absolutamente tudo
deu certo foi sem dúvida os bate-papos sobre história, política, ciência,
literatura e até mesmo ficção científica com os amigos Felipe, França, Abal,
Dino e com um físico estudioso de psicanálise, Fernando, que conheci hoje. Cláudia e o pai já haviam partido há tempos,
mas eu prossegui com minhas andanças e bate-papos até depois do anoitecer. Quando dei por mim, já passavam das 20h00.
Meia hora mais tarde, parti com Felipe e Abal rumo à estação de metrô
do Catete para voltar para casa. Estou
com vontade de regressar à Primavera 2016 amanhã cedo, mas creio não dará
tempo, pois eu e Cláudia devemos almoçar com um casal de amigos no
Piraquê. Enfim, vontade é coisa que dá e
passa.
Jardim Botânico, Rio de Janeiro, 19 de novembro de 2016 (sábado).
Presentes na Primavera Literária:
Adílson
Júnior
Ana Cristina
Rodrigues
Ana Lúcia
Merege
Bruno Anselmi
Matangrano
Carlos Peres
Quevedo
Christiane
Caminada
Cláudia
Quevedo Lodi
Daniel
Faleiro
Dino Freitas
Estevão
Ribeiro
Fernando
Flávio Abal
Gerson Lodi-Ribeiro
Luiz Akira
Luiz Felipe
Vasques
Maurício
Nuno
Caminada
Renata Aquino
Ricardo
França
Stella Rosemberg
Thomaz Adour
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