terça-feira, 29 de novembro de 2016

Prêmio Argos 2016Cápsula do Tempo
no Salão Carioca do Livro

201611262359P7 — 20.595 D.V.

“Prefiro levar agora meu kit Argos para montar.”
[Erick Sama, detentor do Prêmio Argos Especial 2016, ao receber seu troféu desmontado]

“Draco 4x0!”
[Brado dos autores e antologistas da Draco ao fim da cerimônia de entrega do Argos 2016]

Após várias desmarcações e confirmações, eis que chegou enfim o dia aguardado da cerimônia de entrega do prêmio Argos 2016, agraciado pelo Clube de Leitores de Ficção Científica aos melhores da literatura fantástica brasileira em quatro categorias diferentes.
Saí de casa cedo rumo ao aeroporto Santos Dumont para encontrar Erick Sama, que embarcou de Sampa para receber seu Argos Especial, concedido pelo conjunto da obra a indivíduos ou entidades que se dedicaram ao desenvolvimento e à divulgação dos gêneros da literatura fantástica em língua portuguesa.

Erick Sama turistando no VLT Carioca, rumo ao Argos!


Às 10h40 embarcávamos na parada Santos Dumont do VLT rumo à parada dos museus, junto à Praça Mauá.  Primeira experiência de VLT para mim e para o Erick.  Compramos o cartão bilhete-único para ele e o carregamos com passagens de ida e volta na máquina automática instalada na parada.  Para mim, o Riocard funcionou a contento.  Viagem tranquila e sem incidentes pelo centro do Rio nesta bela manhã ensolarada de primavera carioca, com direito a contemplar a Cinelândia, Rio Branco e Candelária de ângulos inteiramente novos.  Quinze minutos mais tarde, desembarcávamos na parada dos museus e caminhávamos por cerca de cem metros até o Armazém nº 2 do cais do porto, um dos dois armazéns que abriga a LER – Salão Carioca do Livro 2016.

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O Salão do Livro ocupa os armazéns 2 e 3 do cais do porto.  Espaço gigantesco, razoavelmente climatizado (necessidade inarredável nesta primavera quase verão), abrigando alguns estandes de vendas (mas, não tantos, nem de longe, quanto caberia ali), salas de leitura e declamação de poesias (muitas voltadas ao público infantil), restaurantes, quiosques e auditórios.  Na lateral dos armazéns voltada para a Baía da Guanabara, situam-se conjuntos de mesas, cadeiras, redes e uma penca de food trucks com as propostas gastronômicas mais diversas e os preços mais absurdos para quem se propõe a fornecer fast food.

Cerimônia de entrega do Argos 2016 no Salão Carioca do Livro.


Entramos pela lateral do Armazém nº 2 voltada para a Praça Mauá.  Como já havia me credenciado para o evento pela internet, o acesso nos foi facultado sem problemas, mas não recebemos crachás (que, também, não fizeram muita falta).  Dali, caminhamos a passos lentos e olhares admirados até o fundo do Armazém nº 3, onde se situa o auditório-teatro Machado de Assis, local em que se daria a cerimônia do Argos.  Esse novo espaço cultural carioca está muito legal.  Como chegamos uma hora e meia antes do horário marcado para o início do evento, regressamos do teatro ao Armazém nº 3 propriamente dito e sentamos num banco para bater papo.  Erick me contou sobre as experiências de sua última estada no Japão, onde se hospedou numa casa de família pelo sistema air-b&b, o que lhe permitiu maior imersão na cultura japonesa.
Aproveitei o ensejo e me esforcei para presentear o Erick com um exemplar autografado do meu Vita Vinum Est!: História do Vinho no Mundo Romano (Mauad X, 2016), mas ele fez questão de pagar pelo livro.
Pouco depois, apareceram os amigos Ricardo França e Eduardo Torres e o presidente do CLFC, Clinton Davisson.  Também encontrei ali Ronaldo Fernandes, meu velho amigo dos tempos da Astronomia no Observatório do Valongo.  Ele compareceu com a esposa Simone e a filhinha Letícia, essencialmente para entreter a pirralha e iniciá-la gradativamente nos prazeres da literatura numa ou várias das muitas rodas de leitura para crianças pequenas.  Nessa ocasião, não tive oportunidade de conhecê-las pessoalmente.
Por volta de meio-dia, trinta minutos antes do horário previsto para o início da cerimônia, dirigimo-nos para o Machado de Assis.  Como a atividade anterior ainda não havia acabado, a organização do teatro nos abrigou no camarim feminino, cuja climatização era mais efetiva do que as dos armazéns.

Eduardo Torres, Erick Sama, GL-R e Clinton Davisson no Camarim Feminino.

Ana Lúcia Merege, única mulher no Camarim Feminino.

Ricardo França, Luiz Felipe Vasques, Edu Torres e Daniel Ribas.

Aqui ficamos por um bom tempo...


Às 12h30, horário marcado para o começo da cerimônia, a declamação de poesias no Machado de Assis prosseguia firme e forte, mas não ligamos, pois parte do povo que combinara comparecer ao evento ainda não havia dado as caras.  De fato, minutos mais tarde, João Beraldo e Ana Lúcia Merege estabeleceram contato via WhatsApp e nós despachamos uma expedição de resgate para conduzi-los em segurança até o Machado de Assis.  Encontramos os dois numa mesa do Café dos Livros, restaurante anexo a um auditório no fim do Armazém nº 2.  Dali, avistamos Luiz Felipe Vasques e Daniel Russell Ribas que acabavam de chegar.  Quando todos nos reunimos no auditório do teatro, apareceram Bráulio Tavares, Cirilo Lemos e Gerson Avillez, além dos participantes do Cápsula do Tempo, Renata Aquino, Daniel Faleiro e Diogo Salles.

Plateia na Cerimônia de entrega do Argos 2016.

Plateia na Cerimônia de entrega do Argos 2016.

Plateia na Cerimônia de entrega do Argos 2016.

Plateia na Cerimônia de entrega do Argos 2016.



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Apesar do atraso e de termos sido obrigados a dividir o palco com a equipe de montagem de uma peça que seria apresentada após a cerimônia, o evento transcorreu sem maiores incidentes.[1]  O público presente de cerca de vinte e cinco pessoas foi bastante inferior ao das cerimônias de entrega anteriores, desenroladas na cúpula Carl Sagan do Planetário da Gávea.
Clinton Davisson abriu os trabalhos falando um pouco sobre a história do CLFC e da premiação.  Em seguida, convidou-me a subir ao palco para entregar o Argos Especial ao Erick Sama.  Em breves palavras, destaquei a participação fundamental do Erick e da Editora Draco na eclosão do boom atual de publicações de literatura fantástica nacional, levado avante por editoras de pequeno porte, e da manutenção desse ritmo ao longo dos últimos sete anos.  Em seu discurso de agradecimento, o agraciado exibiu um filmete sobre as publicações da editora e falou um pouco sobre o autêntico esforço de guerrilha necessário para publicar literatura fantástica no mercado brasileiro.

Presidente do CLFC, Clinton Davisson, abre os trabalhos.

Erick Sama recebe o Argos Especial.

Clinton, Erick e GL-R.

Neste certame do Argos, pela primeira vez em cinco anos trabalhando com a mesma empresa para a confecção dos troféus, dois os quatro chegaram quebrados ou descolados de suas bases.  Embora não constituísse problema sério, do tipo que impactaria no êxito da cerimônia, o incidente gerou algumas piadinhas do tipo “convoco o vencedor para receber seu kit Argos para montar em casa”.  Ao todo, o Argos Especial do Erick e o Argos para a Melhor Ficção Curta vieram danificados.  Contudo, nada que algumas gotas de superbonder não possam curar.
Aproveitando a presença de Erick no palco e considerando o papel relevante que a Draco vem desempenhando no lançamento de dezenas de antologias nos últimos anos, Clinton o convidou para entregar o Argos 2016 na categoria Melhor Antologia ou Coletânea.  Como é tradição, o Argos se assemelha ao Oscar em dois aspectos importantes: 1) premia os melhores do ano anterior; e 2) o vencedor e a plateia só descobrem quem receberá o troféu na hora em que o envelope é aberto pelo convidado responsável pelo anúncio do vencedor.
Após certo esforço para ler os nomes dos trabalhos e antologistas concorrentes projetados contra a cortina negra do teatro, Erick abriu o envelope e anunciou os vencedores: Monstros Gigantes - Kaiju (Draco, 2015), organizada por Luiz Felipe Vasques e Daniel Russell Ribas.  Os antologistas subiram ao palco e proferiram seus discursos emocionados diante dos aplausos entusiásticos da plateia.  Fiquei satisfeito com o resultado, pois havia votado na Monstros Gigantes como melhor antologia.

Erick na entrega do Argos, categoria Melhor Antologia.

Luiz Felipe Vasques e Daniel Russell Ribas, antologistas da Monstros Gigantes.


Em seguida, Clinton convocou Bráulio Tavares para a entrega do Argos 2016 na categoria Melhor Ficção Curta.  Bráulio falou da importância passada do CLFC, nos tempos pré-internéticos de antanho em que frequentar as reuniões do clube constituía uma das formas mais baratas e confiáveis de se receber informações sobre livros e filmes do gênero.  Afirmou julgar o conto a melhor forma de expressão da ficção fantástica e que, como autor, considera-se, acima de tudo, um contista.  Em seguida, abriu o envelope e anunciou o trabalho vencedor: “Grande Caçador Branco”, de Luiz Felipe Vasques, publicado na mesma antologia que ele coorganizou com Daniel Ribas.  Assim, a Monstros Gigantes se sagrou, de certa forma, a grande campeã da tarde.

Felipe recebe o Argos 2016 na categoria Melhor Ficção Curta, por "Grande Caçador Branco".


Finalmente, Clinton convidou Eduardo Torres para entregar o Argos 2016 na categoria Melhor Romance.  Infelizmente, os trabalhos concorrentes que apareceram projetados na cortina sob o título dessa categoria foram os da categoria anterior.  O problema foi sanado por alguém da plateia que acessou o site do CLFC e passou o celular ao presidente, que então pôde ler os títulos corretos dos romances concorrentes e os nomes de seus respectivos autores.  Eduardo enfim abriu o envelope e anunciou a vitória de Império de Diamante (Draco, 2015), de João Marcelo Beraldo.  Algo surpreso e visivelmente emocionado, o autor subiu o palco para receber seu troféu (inteiro!) e proferiu umas poucas palavras de agradecimento.  Fiquei muito feliz com o resultado, pois acompanho a carreira de Beraldo desde os tempos em que éramos colaboradores na equipe de criação do universo ficcional da Hoplon Infotainment, responsável pelo MMOG Taikodom.

João M. Beraldo recebe o Argos 2016, categoria Melhor Romance, por Império de Diamante.

Clinton, Edu Torres, João Beraldo.


Ao término da parte formal da cerimônia, o presidente do CLFC me convocou ao palco e, após pedir um minuto de aplausos em homenagem a Max Mallmann, autor de literatura fantástica e roteirista de TV falecido há cerca de um mês, passou-me o microfone.  Chegara enfim o momento que eu mais temia na cerimônia.  A perda do Max emocionou e chocou um bocado todos aqueles que o tiveram por amigo nestas últimas duas décadas.  Pensei em ler uma versão resumida da crônica que escrevi sobre o assunto[2], mas acabei resolvendo falar de improviso e, não obstante os olhos marejados, logrei fazê-lo sem chorar.  Esqueci um ou dois tópicos que pretendi abordar, mas, tudo bem, faz parte.
Finda a cerimônia de premiação do Argos 2016, rumamos para o Café do Livro, restaurante já inspecionado por ocasião do resgate do Beraldo e da Ana Merege, cuja oferta de vinhos e espumantes revelou-se mais do que correta.
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Permaneci por cerca de duas horas no Café do Livro.  Ao longo da segunda parte dessa estada, fomos brindados com a mesa-redonda de Clinton Davisson, Bráulio Tavares e Heloísa Seixas.  Ausentes da cerimônia, apareceram no restaurante Miguel Carqueija e a jovem autora Renata Ventura, amiga de Felipe e Daniel.  Carqueija chegou lamentando que não houve tempo para assistir a entrega dos prêmios.  Já Renata, interagiu bem com os presentes em nossa mesa, mostrando-nos seu livro e folheando os nossos.

Nossa mesa no Café do Livro, Armazém 2 do Cais do Porto.

 Erick Sama, Ana Merege, Renata Ventura.

Antologistas premiados, sua cria e seu troféu (inteiro!).

Brindes e comemorações no Café do Livro.

Mesa-redonda de Clinton Davisson, Bráulio Tavares e Heloísa Seixas.

Cápsula do Tempo comparece ao Café do Livro para assistir mesa-redonda.

Tinto Guatambu 2015 faz sucesso.

Beraldo, Renata, Daniel e Cirilo Lemos com suas crias queridas.

Felipe, Edu Torres, Beraldo, Cirilo, Erick e Ana Merege.

Thaís Cavalcanti, Daniel Faleiro e Daniel Ribas.


Na conversa com Felipe e Daniel, as experiências literárias de minha persona Carla Cristina Pereira vieram à baila novamente.  Lembrei que àquela época remota de fins do segundo milênio, alguns autores com existência real comprovada, como é o caso de Roberval Barcellos, foram assumidos durante algum tempo como personae de outros autores.
Erick aproveitou para colocar à venda alguns dos romances e antologias finalistas do Argos 2016 e também a antologia Dinossauros (2016), que organizei para a Draco.  Nosso bate-papo animado foi regado por uma garrafa do espumante Faces, da vinícola Lídio Carraro, e duas do tinto Guatambu 2015, um corte delicioso de Tannat, Cabernet Sauvignon e Tempranillo.  O bom equilíbrio e a qualidade elevada desse tinto surpreenderam agradavelmente os presentes à mesa que lograram experimentá-lo.  Era tão bom e acessível que eu e Edu Torres adquirimos garrafas extras para trazer para nossas casas.  Durante o ágape, conversei, sobretudo, com Erick, Felipe, Eduardo e Daniel.  Falamos sobre os concorrentes do Argos deste ano e as perspectivas dos trabalhos que concorrerão no ano que vem.  Como não podia deixar de ser, comentamos também um bom punhado de livros e filmes sem qualquer relação com o Argos — ênfase especial para os trabalhos de Ted Chiang e o filme recém-estreado A Chegada, baseado na noveleta daquele autor, “The Story of Your Life”.  Presenteei o Felipe com um exemplar de Vita Vinum Est! e Edu declarou ter apreciado bastante a leitura desse livro.  Segundo ele, “o texto flui bem, nem parece um trabalho acadêmico”.

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Quando a mesa-redonda do Bráulio e do Clinton começou, o pessoal do Cápsula do Tempo retornou ao Café do Livro e ocupou suas carreiras no auditório do estabelecimento para assisti-la, mas a maioria dos velhas guardas da comunidade carioca de literatura fantástica, acrescida pelo Erick Sama, continuou batendo papo em nossa mesa, pois, afinal de contas, depois de tantos anos de estrada, dinossauros que somos, já sabíamos mais ou menos o que seria dito ali.  Procuramos não nos exceder demasiado nos brindes e comemorações, para não atrapalhar o bom andamento da mesa-redonda.
Por volta das 16h00, reencontrei meu amigo Ronaldo Fernandes e, aí sim, ele me apresentou à esposa Simone e à filha de três anos, Letícia, com direito, inclusive, a sessão de fotos com a garotinha linda em meu colo.

Simone, Ronaldo, GL-R e Letícia.

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Meio atrasado, reencontrei o pessoal do Cápsula do Tempo numa das mesas instaladas na lateral do Armazém nº 3.  Na sessão mensal de hoje à tarde, analisamos duas noveletas do Ted Chiang, “História da Sua Vida” e “A Torre da Babilônia”[3], bem como o filme A Chegada, que a maioria de nós assistiu na tarde ou na noite de anteontem, dia da estreia nacional dessa produção.
No que concerne o filme, simplesmente adorei.  Ao contrário do que eu temia, não deturpou o cerne da trama delineada na noveleta, limitando-se a mudançazinhas pontuais aqui e ali, bem como à atualização e valorização do cenário político internacional, do início dos anos 1990 para a segunda década do século XXI.  Foi preciso manobrar toda a minha rotina de trabalho nessa última quinta-feira para poder assistir a estreia, mas valeu a pena.

Reunião do Cápsula do Tempo na lateral do Armazém 3:
Thaís Cavalcanti, Renata Aquino, Isabella Alvarez, Thaís Costa,
Stella Rosemberg e Ricardo França.

Reunião do Cápsula do Tempo na lateral do Armazém 3.

Reunião do Cápsula do Tempo na lateral do Armazém 3:
Daniel Faleiro, Mariana Rio, Renata Aquino e Diogo Salles.


Dedicamos muito mais tempo à discussão de “A História da Sua Vida” e A Chegada do que à de “A Torre da Babilônia”.  As discussões do livre arbítrio e da percepção do tempo não como uma experiência sequencial (como é a percepção humana), mas sim como um todo, em que passado, presente e futuro são igualmente conhecidos (como é a percepção dos alienígenas heptápodes) renderam panos para mangas.  Tais questões me intrigaram um bocado quando li a noveleta pela primeira vez em 2011 e me intrigaram ainda mais quando a reli na segunda-feira passada.  A dúvida passa pela cabeça de nove dentre cada dez leitores é se ela ou ele agiria da mesma maneira que a protagonista em relação à concepção de sua filha, se já soubesse tudo o que o futuro lhe reservava.  Após essa segunda leitura, passei a considerar essa noveleta de primeiro contato da humanidade com uma civilização alienígena em visita à Terra como a peça de ficção curta mais bem escrita e mais inteligente que já li.
Já no que diz respeito a “A Torre da Babilônia”, Chiang parte de uma premissa absurda: o universo é realmente regido e limitado pelos parâmetros da cosmologia suméria.  A partir dessa proposta, elabora a narrativa instigante do que acontece quando a construção da torre finalmente termina depois de muitas gerações de labuta e os humanos são capazes de tocar o topo do firmamento com as próprias mãos.  Alguns dos colegas não entenderam o fim da noveleta.  Procurei explicar esse clímax em termos de topologia de universos fechados.
Ao longo do debate, dei um pulo num food truck defronte à nossa mesa e comprei um sanduíche de grife, um tal “Triunfo”.  Na ocasião, soube-me nutritivo e saboroso.  No entanto, quando cheguei em casa há pouco, senti-me mal sob o efeito digestivo maléfico do podrão.
Ao discorrer sobre a excelência técnica, estilística e narrativa dos contos e noveletas do Ted Chiang, acabei confessando meu orgulho por meu conto “Xochiquetzal e a Esquadra da Vingança” ter ficado em segundo lugar na categoria Ficção Curta do Sidewise Awards, atrás somente do “Seventy-Two Letters” do Ted Chiang.
Enquanto o resto da mesa continuava a debater “A Torre da Babilônia” ou outros assuntos, encetei um papo com o Diogo Salles sobre alguns detalhes da construção do meu universo ficcional Três Brasis, sobretudo, no que diz respeito às narrativas incluídas no romance fix-up Aventuras do Vampiro de Palmares (Draco, 2014).  A questão foi levantada por Diogo, a partir do comentário dele sobre a originalidade de romances fantásticos brasileiros com fortes elementos africanos e/ou afro-brasileiros, como Esplendor (Draco, 2016) de Alexey Dodsworth; Império de Diamante do Beraldo e meu Aventuras.  Segundo ele, tais romances não teriam sido tão originais e efetivos se não fosse a pegada da cultura africana.  Diogo também indagou como um vampiro científico foi parar numa história alternativa ambientada no Brasil Colonial.  Expliquei do convite de Jean-Pierre Moumon para que eu escrevesse uma narrativa de vampiros, numa época (1994) em que eu estava cheio de Palmares e Nova Holanda na cabeça...  Deu no que deu e a noveleta resultante, “O Vampiro de Nova Holanda”, foi solenemente rejeitada pelo editor da Antarès.  Mesmo assim, não tenho queixas do histórico de desempenho de publicações e premiações desse trabalho.J

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Encerradas nossas discussões e análises sobre a obra do Chiang, voltei a me integrar a minha outra tribo, ao reencontrar Felipe, Daniel e Clinton.  Por volta das 19h00, cansado e satisfeito, senti que era hora de picar minha mula, regressando à base.  Mutante infatigável, Daniel permaneceu na lida, encontrando e papeando com velhos e novos conhecidos e adquirindo cada vez mais livros.  Simples mortais, eu, Felipe e Clinton, empreendemos uma retirada honrosa e ordeira, arrastando-nos até o outro lado da Praça Mauá, onde embarcamos num táxi rumo à Zona Sul.
Pelo caminho, destrinchamos os resultados deste Argos que nós três consideramos os mais justos dos últimos certames.  À altura da estação de metrô Botafogo, ativamos o assento ejetor de Mr. President, que embarcaria ali rumo a seu hotel em Copacabana.  Dali, nosso táxi prosseguiu até o Jardim Botânico.  Ao saltar, já me sentia bastante adernado por conta do maldito podrão de grife que consumi no food truck...
Jardim Botânico, Rio de Janeiro, 26 de novembro de 2016 (sábado).



Presentes na Primavera Literária:
Ana Lúcia Merege
Bráulio Tavares
Clinton Davisson
Daniel Faleiro
Daniel Russell Ribas
Diogo Salles
Eduardo Torres
Erick Sama
Gerson Avillez
Gerson Lodi-Ribeiro
Heloísa Seixas
Isabella Alvarez
João Marcelo Beraldo
Letícia Fernandes
Luiza Palmeira
Luiz Felipe Vasques
Mariana Rio
Miguel Carqueija
Renata Aquino
Renata Ventura
Ricardo França
Ronaldo Fernandes
Simone Masruha Ribeiro
Stella Rosemberg
Thaís Cavalcanti
Thaís Costa



[1].  As cortinas permaneceram cerradas durante a cerimônia.  Clinton, os premiados e convidados permaneceram o tempo todo do lado das cortinas voltado para a plateia, enquanto a equipe de montagem trabalhava do outro lado.
[2].  A versão integral deverá ser publicada na próxima edição do fanzine Somnium, veículo oficial do CLFC.  Ao que parece, na mesma edição, sairá meu conto de fantasia e cenário alternativo, “A Moça da Mão Perfeita”, ambientado no universo ficcional criado para o conto “Para Agradar Amanda”, lançado na antologia Erótica Fantástica 1 (2012), que organizei para a Draco.
[3].  Ambos presentes na coletânea do autor, História da Sua Vida e Outros Contos (Intrínseca, 2016), recém-publicada no Brasil.

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