Bagunça
literária
no píer
1327 em sampa
201211242359P7 — 19.138 D.V.
“Nunca tantos se iludiram tanto por tão pouco.”
[Sobre a criação de Carla Cristina
Pereira]
“Onde se pode encontrar todos os contos da Carla num
livro só?” [Kyanja Lee]
Participei na tarde deste sábado da Bagunça Literária, superpromoção de
vendas de livros organizada sob os auspícios das editoras Draco, Estronho e
Tarja, no segundo piso do barzinho Píer 1327, aberto sob esse número de porta
na Rua Joaquim Távora, na capital paulista.
Para começar, programei o despertador para às 04h00 e o bicho funcionou
direitinho. Já debaixo do chuveiro, meio
sonâmbulo, antes de ligar a torneira, resolvi que havia acordado cedo depois e
voltei para a cama quente, só para mais uns minutinhos de sono. Conclusão: acordei assustado com a claridade
da alvorada às 05h30, convicto de que já havia perdido meu ônibus que sairia da
Novo Rio às 06h00.
Com ajuda da Cláudia, aprontei-me às pressas, engoli um copo de café
com leite e desci para o ponto de táxi, improvisado aqui na esquina num posto
de gasolina às 05h35. Quando o motorista
soube do destino e do horário do meu ônibus, falou apenas:
“— Tranquilo.”
Dito e feito. Dez tensos minutos
mais tarde, ele me deixou na área de desembarque da Novo Rio, mais perto da
ponte rodoviária Rio-São Paulo. Ainda
houve tempo de trocar os e-tickets pelas passagens de ida e volta no guichê da
Expresso Brasileiro, ligar para casa da fila de embarque e relaxar em minha
poltrona já a bordo por deliciosos seis minutos, antes que o ônibus partisse
para Sampa.
Leitura de bordo: A Connecticut
Yankee in King Arthur’s Court (1889), de Samuel L. Clemens, mais conhecido
como Mark Twain. Ao terminar esse
romance, concluí que ele inspirou muitas narrativas de viagens retrotemporais
clássicas da ficção científica, inclusive, Lest
Darkness Fall (1939), do L. Sprague de Camp. Não há clichês históricos no texto do Twain,
porque é justamente dali que vieram os paradigmas. De repente, eu devia ter lido esse romance do
Twain quarenta anos atrás. Ler a
influência décadas após os trabalhos influenciados pode distorcer nossas
perspectivas...
Concluído o Yankee, comecei a
ler a antologia Bestiário
(Ornitorrinco, 2012), organizada por Ana Cristina Rodrigues e Ana Lúcia Merege.
* * *
Ao desembarcar no Terminal Rodoviário do Tietê encontrei com os amigos
Carlos Orsi Martinho, Giseli Ramos e Ivo Heinz.
Dali, seguimos de metrô até a galeteria na Alameda Santos onde
almoçaríamos. Percorremos um trecho da
linha amarela do metrô paulistano, construído pela iniciativa privada. Quando saímos do metrô, passamos por uma
gibiteria, onde encontramos meu velho amigo, Fábio Fernandes. Quando comentei que estava achando o ambiente
familiar, Ivo esclareceu que era a mesma gibiteria em que fizemos o lançamento
paulistano da antologia Como Era Gostosa
a Minha Alienígena! no primeiro semestre de 2003. Daí, concluí que a galeteria em que almoçamos
naquela ocasião também deve ter sido a mesma para a qual estávamos prestes a
nos dirigir... Será?
Após uns quinze minutos na gibiteria, que eu e Fábio aproveitamos para
colocar nossos papos e fofocas em dia, rumamos para a tal galeteria. À porta do restaurante, encontramos Edgard
“Garapa” Refinetti.
Após uma entrada caprichada, com ênfase nos pães de queijo quentinhos e
na pasta de galinha, degustei um galeto desossado acompanhado por creme de
espinafre, única concessão aos hábitos alimentares saudáveis. Tudo regado por três latas de coca-zero, pois
declinei do vinho no almoço, em prol do que beberia à tarde, durante os
lançamentos da Bagunça Literária.
O bate-papo animado, antes, durante e depois deste almoço saboroso,
versou sobre política municipal carioca e paulista, sobretudo com referência à
falta de opções eleitorais para os eleitores das duas metrópoles nesse último
pleito para prefeito. Quase não falamos
de FC&F e fandom, mas, além dos galetos, destrinchamos as séries de TV a
cabo Dexter, Breaking Bad e as nacionais Mandrake
(por causa dos dois longas-metragens exibidos neste mês na HBO) e (fdp).
Esta última aborda em treze episódios de menos de meia hora as aventuras
e vicissitudes cotidianas de um juiz de futebol que se separa da esposa de quem
ainda gosta; esforça-se para manter a convivência com o filho do casal; apita
as pelejas futebolísticas com coragem e honestidade, mas nem sempre com
competência; diverte-se com os amigos (quase todos do meio da arbitragem); e se
digladia com a crítica esportiva. Os episódios
são marcados pela agilidade e bom humor, começando sempre com um sonho do
protagonista, o árbitro Juarez Gomes da Silva, e terminando com alguém
chamando-o de filho-da-puta, nos contextos mais diversos.
Almoço na galeteria: Fábio Fernandes, GL-R, Edgard Refinetti,
Ivo Heinz, Giseli Ramos e Carlos Orsi Martinho.
Ivo indagou se estávamos a par do racha recente na Terceira Onda da FCB
pretensamente instigado pela publicação da matéria “Patéticas Figuras Literárias”
num blogue de crítica literária, por alguém que assina sob o pseudônimo. A matéria detona indiscriminadamente gregos e
baianos sem citar nomes, mas caracterizando seus personagens bem o suficiente para que sejam facilmente
reconhecíveis por fãs antenados com o povo da Terceira Onda. Confesso que precisei de consultoria para
identificar todos os envolvidos, com uma única exceção. Respondi que havia ouvido falar do
imbróglio. Ivo ainda perguntou se a
Terceira Onda corria o risco de implodir como movimento. Respondi que também não é para tanto. Afinal, muitos de nós da Segunda Onda se
envolveram nas maiores discussões, bate-bocas e baixarias, sem que lográssemos
implodir mais do que uns poucos egos mais sensíveis. Martinho brindou ao fato de ter resolvido se
afastar há muito dessas desavenças estéreis do fandom. Fábio bateu no tampo de madeira da mesa.
Da galeteria, nós seis rumamos para uma galeria da Avenida Paulista
para visitar uma megastore da Livraria Cultura, mais uma vez, tive impressão de
reconhecer o estabelecimento e acabei descobrindo que foi ali que lancei meu
primeiro livro solo brasileiro, a coletânea de história alternativa Outros Brasis (Mercuryo, 2006),
universozinho ficcional pequeno esse, né?
No caminho para a Cultura, Gi Ramos me perguntou sobre como acabava a
trilogia Protocolos de Etrúria que
escrevi para o Projeto Taikodom. Ela
trabalhou conosco no departamento de universo ficcional do projeto e atuou como
revisora técnica e de conteúdo em minha coletânea Taikodom: Crônicas (Devir, 2009) e nos dois primeiros volumes da
trilogia. No entanto, com a
descontinuação da parte literária do projeto multimídia, Gi nunca chegou a
receber o romance final para revisar.
Nessa galeria, despedimo-nos dos amigos Fábio e Garapa, que partiram
para seus afazeres vesperais de sábado.
Uma vez na megastore, dividimos nossa atenção entre os livros importados
e as prateleiras de literatura fantástica publicada em português, onde comprei
uma coletânea parruda do Richard Matheson, O
Incrível Homem que Encolheu, que inclui o romance curto homônimo, um
clássico da ficção científica já transformado em filme em 1957, com roteiro do
próprio Matheson. Na cafeteria da
Cultura, Martinho pagou um cappuccino para o Ivo para quitar uma aposta que
firmaram a respeito de uma determinada particularidade biográfica de minha
querida amiga fictícia, Carla Cristina Pereira.
Infelizmente, mais não posso contar...
Da Cultura, após breve passagem por uma farmácia, fomos até a
Paulista. Como estava chovendo, rachamos
um táxi até o Píer 1327 e chegamos lá cerca de meia hora antes da abertura dos
trabalhos. Já estavam no segundo
pavimento arrumando seu estande os editores da Tarja, Richard Diegues e
Gianpaolo Celli. O grande lançamento da
Tarja nesta tarde foi o volume verde (o quarto) da série de antologias
eróticas, Fantástica Literatura Queer.
Mal eu, Martinho, Gi e Ivo nos aboletamos numa mesa e eis que aparece
nosso amigo Anderson Santos, a quem rápida e espertamente cedemos a cabeceira,
na esperança vã de que ele, magnânimo, resolvesse pagar a conta inteira.J Também surgiu logo depois o jovem autor Lucas
Zavagli, sobrinho do Ivo Heinz, que está estreando profissionalmente com o
conto “O Príncipe dos Rios”, na Queer
Verde.
Anderson Santos, Lucas Zavagli e o Tio Ivo, orgulhoso.
Hugo Vera, Renato Azevedo e GL-R com antologia Space-Opera 1.
GL-R e Anderson Costa em Grande Parceria Queer: Linguiça & Mandioca.
Gi Ramos, GL-R e Ivo com exemplares de Histórias de FC de Carla Cristina Pereira.
Sessão de autógrafos: "... e com um beijo da Carla..."
Modéstia à parte, outro lançamento que causou sensação foi o de minha Histórias de Ficção Científica de Carla
Cristina Pereira (Draco, 2012), coletânea em que, graças ao entusiasmo do
amigo e editor Erick Sama, finalmente concretizei um sonho antigo de reunir
todos os trabalhos que escrevi sob esse pseudônimo num único volume. Além dos cinco trabalhos de ficção curta[1],
inclui um ensaio biográfico, “Os Anos em que Fui Carla”, em que tento explicar
as motivações que me levaram a criar essa que foi, ao longo de quinze anos,
minha personagem mais verossímil.
Valentina Silva Ferreira, autora de A Morte é uma Serial Killer.
Outro lançamento de impacto, agora da Estronho, foi o romance de
estreia da autora madeirense Valentina Silva Ferreira, A Morte é uma Serial Killer.
Ao que parece, a autora veio pela primeira vez ao país por conta do
lançamento. Valentina publicou vários
contos em antologias temáticas brasileiras, dentre os quais, o divertido “Sexo
com Água, uma Mutação Tentadora” que acabou de aparecer na Erótica Fantástica 1 (Draco, 2012).
Junto à nossa mesa, contamos com as presenças insignes dos autores Sid
Castro e Tibor Moricz. Conversamos sobre
vários assuntos candentes, dentre eles as submissões aos novos volumes da Erótica Fantástica.
Hugo Vera, GL-R, Ivo, Sid Castro, Anderson Costa e Tibor Moricz.
A certo momento, fui obrigado a interromper o bate-papo agradável para
adquirir uns poucos livrinhos. Afinal de
contas, os descontos da Bagunça Literária estavam irresistíveis. Portanto, além dos volumes amarelo e verde da
Fantástica Literatura Queer, comprei
o romance Metanfetaedro (Tarja,
2012), da Alliah; A Morte é uma Serial
Killer (Estronho, 2012), da Valentina; a antologia lusitana ficção
retrofuturista organizada pelo Rogério Ribeiro, Fantasporto (Tarja, 2012); e a antologia de fantasia histórica da
Estronho, História Fantástica do Brasil —
Guerra dos Farrapos, organizada pelo M.D. Amado. Tudo isto pela pechincha ridícula de R$
124...
Então, coligi os autógrafos dos autores presentes. Peguei o da Valentina no romance dela e os de
Lucas Zavagli e Amanda Marchioreto na Queer
Verde. Nessa antologia e também na Queer Amarela, fiz questão de coletar
também os autógrafos dos antologistas Cristina Lasaitis e Rober Pinheiro. Ambos me convidaram para submeter um conto
para um dos próximos volumes do projeto.
Tentarei escrever algo legal, porém, falei-lhes que esperava, como
contrapartida, que eles escrevessem algo para uma dos próximos volumes da Erótica Fantástica.
GL-R, Amanda Marchioreto e Ghad Arddhu e nossos exemplares autografados da Queer Verde.
Rober Pinheiro e Roberta Nunes.
Estande da Tarja: Camila Fernandes, Cristina Lasaitis, Gianpaolo Celli, Verena Peres e Richard Diegues.
Estande da Estronho: MD Amado & Celly Borges.
Conversei um pouco com o casal Alícia Azevedo & Henrique de Lima, da
editora Ornitorrinco e lhes contei que meu conto “Terra Brasilis”, publicado na
antologia 2013: Ano Um, que ela e
Daniel Borba organizaram, tem causado uma sensação surpreendente entre meus
antigos colegas de farda. Bom, talvez eu
não devesse me surpreender tanto.
Afinal, quase todos os personagens são militares da Marinha do Brasil e boa
parte da ação se passa a bordo de belonaves da MB ou em tanques anfíbios do
Corpo de Fuzileiros Navais.
Henrique de Lima, GL-R, Alícia Azevedo e ???.
Conversei um bocado com meu editor favorito, Erick Sama, com quem dividi outra garrafa de Finca Finchmann, tomando a liberdade de lhe sugerir que experimentasse a magnífica linguiça artesanal com provolone e orégano. Creio que ele não se arrependeu. Aliás, chamei o Erick para testemunha juramentada no caso dos biscoitos lusitanos que Valentina trouxe para Ana Cris Rodrigues. É que Valentina se esqueceu de trazer os biscoitos legendários para a Bagunça Literária e, portanto, julguei melhor me resguardar de futuras acusações de gulodice desenfreada, pois, desta vez — excepcionalmente — sou inteiramente inocente... Eu juro!
Estande da Draco: Erick Sama e Raphael Fernandes.
A Grande Linguiça de Erick Sama.
Área de Vendas.
Ao fim do certame, acompanhei Erick até seu dracomóvel para receber meu
engradado de Histórias de Ficção
Científica de Carla Cristina Pereira e acabei ganhando uma carona. Inicialmente, meu amigo me levaria até a
estação de metrô mais próxima, de onde eu seguiria até o Terminal Rodoviário
Tietê. Porém, como a primeira estação
pela qual passamos já estava com as portas cerradas e o papo estava bom, num
arroubo de generosidade que já se tornou tradicional, Erick acabou me levando
até a rodoviária.
A viagem de regresso para o Rio num ônibus-leito da Expresso Brasileiro
se deu sem maiores percalços. Parti às
23h50, a poltrona reclinável era mais confortável do que nas viagens
anteriores, de forma que consegui dormir relativamente bem. Seis horas mais tarde, às 05h45, aportei na
Cidade Maravilhosa e, menos de dez minutos a bordo de um táxi célere, retornei
à casa antes mesmo da edição dominical de O
Globo subir para o apartamento.
Além de uma bela oportunidade de rever vários amigos queridos, eis-me
de volta ao lar com mais um livro lançado, a quinta coletânea de minha
carreira. Já pus a moçoila na
estante! No que se refere ao êxito da
empreitada Bagunça Literária, do ponto de vista das vendas, tenho a impressão
de que as três editoras que patrocinaram o evento não tiveram do que se
queixar.
Jardim Botânico, Rio de Janeiro, 24 de novembro de 2012 (sábado).
Participantes:
Alexandre Heredia
Alfer Medeiros
Alícia Azevedo
Amanda Marchioreto
Anderson C. Santos
Átila Oliveira
Camila Fernandes
Cândido Ruiz
Carlos Orsi Martinho
Carol Chiovatto
Celly Borges
Cristina Lasaitis
Dana Guedes
Edgard “Garapa” Refinetti
Erick Sama
Fábio Fernandes
Gerson Lodi-Ribeiro
Ghad Arddhu
Gianpaolo Celli
Giseli Ramos
Henrique de Lima
Hugo Vera
Ivo Heinz
Lucas Zavagli
M.D. Amado
Raphael Fernandes
Renato A. Azevedo
Richard Diegues
Rober Pinheiro
Roberta Nunes
Sid Castro
Tibor Moricz
Valentina Silva Ferreira
Verena Peres
Verônica Freitas
[1]. Os cinco trabalhos são:
“Se
Cortez Houvesse Vencido a Peleja de Cozumel” (1998);
“Estigma
da Morte Anunciada” (2001);
“Xochiquetzal
e a Esquadra da Vingança” (1999);
“Uma
Certa Capitã Rodriguez” (2000); e
“Clandestina
Candente de Cosa” (2002).
MINHAS BELGAS!!!! VCS ESTÃO ME ENGANANDO!!! APOSTO QUE VC AS COMEU JUNTO COM O ERICK!!!
ResponderExcluirMuito legal, Gerson. Só uma correçãozinha... "A Morte é uma Serial Killer" é o segundo romance da Valentina e não o primeiro. O primeiro é "Distúrbio" lançado ano passado também pela Estronho ;-)
ResponderExcluirBelgas?! Serias essas que a Valentina deixou aqui em casa e o Preto comeu e... Oh, wait!
ResponderExcluirParabéns por mais essa Gerson! Não pude comparecer, mas saiba que faço votos que esse "novo" livro seja muito próspero.
ResponderExcluirAfinal, é uma obra interessantíssima! Já li-a de cabo a rabo rsrs.
Abraços!
NOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOO!!!!!!
ResponderExcluirÓtima cia!
ResponderExcluirExperiência inesquecível dividir a mesa com presenças ilustres!
Abraços!