Flávio Medeiros in rio 2012
201212142359P6 — 19.152 D.V.
“Muito obrigado, Edu! Sem a força do seu fundo de pensão, minha
vinda ao Rio não seria possível...
[Flávio
Medeiros em discurso de agradecimento a Eduardo Torres]
Aproveitando a presença inopinada de nosso amigo Flávio Medeiros Jr. na
Cidade Maravilhosa para participar da cerimônia de premiação do XII Concurso de
Contos Petros, patrocinado pela Petrobras, marcamos um jantar em petit committee no restaurante Risata,
com direito a uma esticada aqui em casa para degustar uns vinhos legais.
* *
*
Na manhã de hoje, enquanto me preparava para sair ao trabalho, recebi
um torpedo do Flávio Medeiros, dando conta de que estava na cidade e, portanto,
em princípio, disponível para sair com os amigos à noite, pois regressaria para
Belo Horizonte apenas no sábado de manhã.
Liguei de volta e combinamos um jantar às 20h00 no Risata, um
restaurantezinho especializado em risotos muito simpático que abriu há três
meses em frente ao nosso prédio. Prometi
que, depois do jantar no restaurante, daríamos um pulo aqui em casa para
degustar uma ou duas garrafas de um vinho de fina estirpe.
A caminho do trabalho, liguei para tentar arrebanhar os amigos Ana
Cristina Rodrigues, Eduardo Torres, Max Mallmann e Octavio Aragão para o
evento. Max confirmou de
bate-pronto. Edu ficou de dar uma
resposta no meio da tarde e acabou confirmando também. Octavio estava preso num daqueles
compromissos familiares inadiáveis e Ana Cris andava às voltas com a
organização de um concurso ou prêmio literário por conta da Fundação Biblioteca
Nacional. Sugeri que, se fosse o caso,
bypassar o jantar e aparecer só para o vinho lá em casa, mas, ao frigir dos
ovos, eles não puderam vir.
Deste lado do front, Cláudia deveria comparecer numa cerimônia em
homenagem à Escola Naval pela câmara de deputados em pleno Palácio
Tiradentes. O horário previsto para o
início da cerimônia era às 19h00 e sem hora para acabar.
Decidi chegar ao Risata às 19h45 para garantir a mesa, mas tal não foi
preciso, pois, quando ingressei no estabelecimento, só havia um cliente lá
dentro: meu amigo Max Mallmann. Boa
oportunidade para colocarmos nosso papo em dia.
Ele falou sobre algumas nuances dos roteiros e da produção do seriado
global A Grande Família, comentamos o
filme e o seriado Mulher Invisível,
em função da recente premiação desse último no Emmy. Max também me esclareceu certas dúvidas sobre
o enredo do romance de continuação ao Centésimo
em Roma que ele deve lançar no segundo semestre de 2013. Falamos um pouco sobre as repercussões do
lançamento paulistano de minha coletânea carliana Histórias de Ficção Científica de Carla Cristina Pereira.
GL-R, Eduardo Torres, Flávio Medeiros e Max Mallmann no Risata.
Preso num engarrafamento em Botafogo, nosso convidado de honra Flávio
Medeiros chegou por volta das 20h30 com uma mala repleta de livros. Ato contínuo, explicou-nos o motivo de sua
vinda-relâmpago ao Rio. Sagrou-se
finalista num concurso literário, o XII Concurso de Contos Petros, patrocinado
pela Fundação Petrobras de Seguridade Social (Petros), o fundo de pensão dos funcionários
da Petrobras. Como finalista, teve suas
despesas de passagem aérea, alimentação e hospedagem bancadas pelo Petros, com
direito, inclusive, a acompanhantes e extensivo ao fim de semana completo na
Cidade Maravilhosa — benesses que, infelizmente, não aproveitou, pois sua
esposa, Luciana, não pôde vir com ele. Coisa
de meia hora mais tarde, chegou Eduardo Torres, que havia ficado igualmente
retido no engarrafamento supramencionado.
Como engenheiro da Petrobras, nosso amigo Edu não logrou esconder sua
preocupação com os gastos milionários de seu fundo de pensão. Para amenizar o clima, Flávio agradeceu
efusivamente pela oportunidade de vir ao Rio, rever os amigos e, melhor ainda,
ser publicado, tudo às custas de Eduardo e outros milhares de pensionistas e,
quem sabe (pois o futuro é incerto), futuros pensionistas. Frisamos o lado positivo do patrocínio ao
mecenas involuntário: se o Petros possui tantos recursos assim para esbanjar —
algo como a caixa-forte abarrotada do Tio Patinhas, em que é preciso torrar
alguns milhões de reais porque simplesmente não cabe mais numerário lá
dentro... — é sinal de que sua aposentadoria está assegurada. Claro que sempre há o lado negativo, nosso
amigo matutou, lembrando que não foi o primeiro ou sequer o quinto concurso de
contos, mas o décimo-segundo...
Flávio presenteia seu mecenas involuntário com um exemplar da antologia.
Flávio conquistou o segundo lugar no XII Petros com o conto “Conto de
Fadas”, uma atualização satírica da velha historinha “A Princesa e o
Sapo”. A escolha final — após uma
comissão ter escolhido os trinta trabalhos finalistas — ficou a cargo do
escritor, jornalista e tradutor, Carlos Heitor Cony. Embora o concurso seja voltado para contos mainstream, o trabalho do Flávio em
particular se enquadraria sem dificuldade numa antologia de fantasia. É a terceira premiação de nosso amigo em
2012. As outras duas foram o segundo
lugar no Concurso Hydra com o conto de ficção alternativa “Por um Fio” e o
Prêmio Argos na categoria ficção curta, com a bela noveleta de ficção
científica, “Pendão da Esperança”.[1]
Com os quatro já presentes, pedimos o cardápio. Eu, Flávio e Max escolhemos picanha (a minha,
acompanhada por batata rösti), Edu,
quiçá já preocupado com despesas futuras, limitou-se a um risoto. Como iríamos tomar vinho lá em casa após o
jantar no Risata, eu, Edu e Flávio nos limitamos a taças de branco argentino,
para acompanhar o couvert, e tinto,
para regar os pratos principais, ao passo que Max manteve-se fiel às suas
Boemias.
Durante o jantar conversamos sobre as idiossincrasias do subfandom
carioca e os últimos embates e novidades das redes sociais e listas de
discussão. Flávio lamentou não ter a
oportunidade de conhecer pessoalmente o legendário Miguel Carqueija.
Ao fim do ágape, Cláudia chegou do Palácio Tiradentes e se sentou
conosco, degustando os últimos fiapos de batata rösti do meu prato, pois não
havia jantado. Quitada a conta,
atravessamos a rua, transferindo a bagunça aqui pra casa. Para acompanhar os vinhos, servimos mousse de
salame hamburguês, pasta de grão-de-bico, pão sírio e queijo provolone. Abrimos o serviço com um tinto italiano, o Sponsà
Veronese 2009, da Tenuta Sant’Antonio.
Cláudia preferiu um espumante, o Chardonnay Brut da Panizzon. À medida que a noite avançava, liquidado o
italiano, para homenagear tanto o Flávio, autor galardoado, quanto o Edu,
mecenas da ficção curta, passamos ao ícone chileno, Clos Apalta 2008, da Casa
Lapostolle, devidamente decantado de modo a revelar todo o seu potencial. Enfim, quando a noite se transformou em
madrugada, fechamos com chave de ouro com o excelente Sordo Barolo 2005, um
tanto jovem, é certo, mas não é sempre que o Flávio vem ao Rio, então, valeu o
pretexto.J
Flávio mostrou seu diploma do XII Petros e presenteou com exemplares
autografados da antologia comemorativa que, este ano, homenageou o autor
Marcelo Rubens Paiva. Além das despesas
pagas, ele recebeu cinquenta exemplares e uma bela bolsa do XII Petros. Eduardo mostrou-se mais uma vez preocupado e
até temeroso com o teor desta crônica.
Aproveitei o ensejo para presentear Flávio com um exemplar autografado
da minha coletânea carliana.
Flávio Medeiros: premiado & diplomado mais uma vez!
Nosso convidado de honra aqui em casa.
Conforme os teores alcoólicos se elevaram em nossas bravas correntes
sanguíneas, nossas línguas foram se soltando.
Daí, não me espantei tanto com os elogios rasgados do Flávio à ousadia
erótica em algumas cenas de meu romance de ficção científica A Guardiã da Memória (Draco, 2011). Confessei-me ligeiramente preocupado com a
associação automática do meu nome a textos com carga erótica explosiva. O fato é que tenho recebido ultimamente,
junto com convites para participar de antologias de ficção curta, alguns toques
para maneirar porque os antologistas pretendem veicular seus livros junto à
rede escolar e, embora os adolescentes reprimidos de plantão pudessem até
adorar o tipo de texto erótico que costumo escrever, as professoras
responsáveis pela seleção de material de leitura dificilmente o aprovaria.
Bate-papo animado: colocando as fofocas em dia.
Brinde dos quatro heróis etílico-literários!
Nosso convidado de honra falou-nos de suas experiências memoráveis em
Las Vegas e logrou apagar pelo menos parte de nossos preconceitos contra a meca
norte-americana do jogo e da diversão.
Como jamais apreciamos a jogatina, a ponto de, vinte anos atrás, termos
sobrevivido virgens e incólumes às pretensas tentações dos Cassinos de
Montecarlo e Estoril, Las Vegas nunca pontuou como um de nossos sonhos de
consumo turístico. Só que Garfield nos
contou sobre uma porrada de Circos de Soleil existentes na cidade, dos
restaurantes cinco estrelas a preços módicos e das excursões de helicóptero ao
Grand Canyon a preços mais acessíveis do que um mísero sobrevoo na Zona Sul do
Rio. Daí, para sonharmos com uma outra
excursão, partindo de Las Vegas para a Cratera do Meteoro foi um pulo... Sem dúvida, nosso amigo nos fez rever nossos
conceitos!
Bate-papo animado: in vino veritas!
Lá pelas tantas, Flávio trouxe à baila a questão de meu boicote ao
Concurso Hydra, assumido publicamente na primeira semana da Fantasticon
2012. Expliquei que, apesar de
considerar Orson Scott Card um autor extremamente talentoso de ficção
científica e fantasia, bem como uma pessoa humana afável (pelo menos foi a
impressão que tive quando o conheci pessoalmente no interior de São Paulo no
fim da década de 1980), discordo frontalmente de sua postura política
homofóbica. Diante dessa discordância,
não faz sentido participar de um certame literário patrocinado por aquele
autor.
Casal anfitrião.
Vítimas do pelotão de fuzilamento em ordem de abate.
Em meio à degustação do Barolo, Flávio perpetrou a confissão da noite,
declarando não possui o sentido do olfato para todo e qualquer efeito
prático. Daí, o assunto derivou para os
alegados aromas sutis dos vinhos e, então, para os kits de aromas enológicos. Foi o bastante para que minha cara-metade
buscasse nosso kit e nós cinco passássemos a brincar de experimentar e tentar
adivinhar os aromas dos diversos frascos do kit. Há um ditado no mundo enológico que afirma
que “degustação às cegas constitui uma lição de humildade”. Pois bem: Eduardo foi o único a conseguir
adivinhar um único aroma dos quatro ou cinco experimentados. A exceção óbvia foi a essência de amêndoas,
que nós cinco logramos acertar.
Nosso evento terminou sob protesto por volta das 02h00 de sábado. Um encontro memorável sob dezenas de
aspectos. Pena que muito do que falamos
não possa constar de uma crônica pública como esta. A lamentar de verdade, apenas as ausências da
Luciana, da Ana Cris e do Octavio.
Jardim Botânico, Rio de Janeiro, 14 de dezembro de 2012 (sexta-feira).
Participantes:
Cláudia Quevedo Lodi
Eduardo
Torres
Flávio
Medeiros
Gerson
Lodi-Ribeiro
Max Mallmann
[1]. O primeiro
lugar do XII Petros foi para o conto enxuto e pungente “A Gaiola”, de Éber
Veríssimo Rocha.
Só tenho que agradecer aos amigos Edu, Max, e especialmente ao casal Gérson e Cláudia.Com esses amigos, o Rio de Janeiro adquire um encanto especial acessível a poucos. Foi uma noite memorável. Quem sabe teremos a oportunidade de fazer algo semelhante em BH? Sintam-se convocados... ;-)
ResponderExcluirAye, aye, Captain!
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