Noite abstêmia no estação
gourmet
201211232359P3 — 19.137 D.V.
“War is hell.”
[William T. Sherman]
Deu-se hoje à noite mais uma das bebemorações periódicas do grupo de
amigos da comunidade de literatura fantástica carioca e afins, congregada como
de costume no espaço gastronômico da Estação Gourmet, sob pretexto de colocar
as conversas em dia.
Do meu ponto de vista, a parte das bebemorações não rolou, pois já
havia jantado com a Cláudia em casa, mas a parte de colocar o papo em dia foi
muito boa.
* * *
Quando cheguei ao restaurante já estavam lá Ana Cristina Rodrigues,
Jorge Pereira, Max Mallmann, Carlos Eugênio Patati e Luiz Felipe Vasques.
Para começar, mostrei aos amigos o livro Nós, Ciborgues, que
Fátima Regis lançou na semana passada na Blooks. Aproveitei o ensejo e mostrei também o
romance de Samuel L. Clemens (mais conhecido como Mark Twain), A Connecticut
Yankee in the King Arthur’s Court, que estou lendo agora. Todos os presentes confirmaram também não
terem lido o romance. Senti alívio: a
lacuna de ignorância literária não era só minha…J Em contrapartida, Ana Cris mostrou-nos o
livro O Cair da Noite, de Isaac Asimov, novela que ela traduziu para o
português. Esse livro chega ao mercado
com um acabamento caprichado, capa dura e ilustração retrô, prefácio de
Marcello Simão Branco e o escambau. Uma aquisição que vale a pena considerar,
mesmo para quem já possui a noveleta numa coletânea ou antologia qualquer.
Ana Cristina Rodrigues, Max Mallmann e Jorge Pereira.
Carlos Eugênio Patati, Luiz Felipe Vasques e GL-R.
Para gáudio da Ana Cris, a narrativa do ianque Hank Morgan em Camelot e
adjacências levou-nos à temática das fantasias medievais em geral e das
fantasias arturianas em particular.
Confirmei-lhe que Twain realmente situa sua narrativa de história
alternativa ou história oculta (como sói acontecer nesses casos, só será
possível proferir o veredicto final ao fim da leitura) avant de letre no
século VI, o que prova que ele estava razoavelmente bem informado para a época
em que escreveu uma narrativa de viagem temporal não-tecnológica na penúltima
década do século XIX, antecedendo em alguns anos a publicação de A Máquina
do Tempo, de H.G. Wells. Tenho
impressão de que Twain logrou estabelecer um diálogo frutífero com outros
romances medievais escritos naquele século, mas precisaria lê-los ou, em alguns
casos, relê-los, para confirmar esse ponto.
Das fantasias arturianas, passamos aos romances históricos medievais
propriamente ditos, com ênfase óbvia no Ivanhoé, de Sir Walter Scott,
autor que chega a ser citado explicitamente em A Connecticut Yankee... Dos romances históricos à história real da
Idade Média e dali à Idade Moderna foi um pulo.
Falamos sobre questões dinásticas do ducado da Borgonha (ante o vastos
conhecimentos de minha amiga, limitei-me a ouvir e aprender) e dos reinos da
península ibérica, com atenção especial à sagacidade matrimonial de el-Rei Dom
Manuel o Venturoso ao decidir desposar a princesa espanhola inicialmente
destinada a seu filho e herdeiro no trono português. Pois, em circunstâncias ligeiramente
diversas, a estratégia do velho monarca poderia ter resultado numa Unificação
Ibérica sob égide lusitana, em vez de espanhola. Um belo exemplo histórico de uma estratégia
brilhante que não deu certo...
Max, Jorge e Felipe esmiuçaram o triste caso de Macarrão no julgamento
do ex-goleiro Bruno, indiciado por sequestro, cárcere privado e homicídio da
ex-namorada. Quando alguém comentou que
Macarrão teria se afirmado humilhado pelos companheiros de prisão, o trio
maldoso tripudiou sobre prováveis sevícias infligidas na prisão: “com aquela
tatuagem, ‘Bruno e Maca, amor eterno’, o que é que ele queria?” As agruras de Macarrão no Caso Bruno. Também se cogitou uma variante da popular meinha
com troca de juras de amor em tatuagens em vez de favores sexuais. Ao que parece, Macarrão resolveu desistir de
se imolar em prol do ex-amigo de infância e botou a boca no trombone. Vamos ver no que vai dar...
Ana Cris comentou que não poderá comparecer à Bagunça Literária que se
desenrolará lá em Sampa no próximo sábado.
Com essa ausência inopinada, minha amiga me delegou a missão de trazer
de volta para o Rio uma data de biscoitos que lhe será trazida pela autora
portuguesa Valentina Silva Ferreira. Valentina
já publicou diversos trabalhos deste lado do Atlântico, dentre os quais destaco
— por razões óbvias — o conto “Sexo de Água, uma Mutação Tentadora”, lançado na
antologia Erótica Fantástica 1, que organizei para a Draco este ano.
Não sei por que cargas d’água a conversa derivou para o alcoolismo de
Ulysses S. Grant, comandante-em-chefe das forças da União na segunda metade da
Guerra Civil Americana. Destrinchamos a
estratégia de Grant, o Açougueiro, e Sherman, o Flagelo de Atlanta, bem como os
papéis desses generais no propósito do presidente Abraham Lincoln de aniquilar
definitivamente a sociedade escravista do Velho Sul.
Comentei com Max que estamos presentemente assistindo uma espécie de
maratona do seriado da Rede Globo, A Grande Família, em que ele atua
como roteirista. Andamos gravando uns
sete ou oito episódios seguidos e só agora encontramos tempo para
assisti-los. Uma das atrações mais
legais da temporada atual é um personagem gay cujo pai era amigo de infância do
Lineu e que acabou se tornando sócio da Nenê.
Outro aspecto interessante é a inserção gradativa dos personagens do
universo digital da internet, redes sociais, Facebook e outros que tais. Quando começamos a assistir um episódio novo
de A Grande Família, aqui em casa
sempre apostamos se o roteiro tem ou não participação do Max Mallmann. Sem falsa modéstia, cumpre confessar que
acertamos em cerca de 90% das vezes.
Estevão Ribeiro chegou direto da redação quando eu já estava em plena
sobremesa (torta suíça), após um copo de mate diet e uma coca zero. Mesmo assim, cavamos tempo hábil para que ele
detalhasse o desenvolvimento do projeto de sua graphic novel verniana Da
Terra à Lua e me falasse um pouco sobre o êxito de vendas de seu livro Os
Passarinhos e Outros Bichos.
Aliás, Ana e Estevão contaram que esse último foi até Itaguaí pelo O
Dia, para uma matéria sobre o projeto do submarino nuclear brasileiro, que
acabou não sendo publicada...
Eduardo foi outro que chegou mais tarde, numa hora em que todos já
apostavam em novo forfeit, embora ele tenha chegado antes do Estevão.
A saída, lamentei um pouco do excesso de trabalho este ano na
Prefeitura, mas, enfim, nada que seja novidade ou que valha a pena comentar. O importante é que, na despedida, ao saber
que lançarei a coletânea Histórias de
Ficção Científica de Carla Cristina Pereira no próximo sábado na Bagunça
Literária, o pessoal cobrou um lançamento carioca. De repente, combino com o Erick Sama um
evento conjunto com a Erótica Fantástica
1 lá na Blooks...
Eu, Eduardo e Jorge saímos juntos do Estação Gourmet e tomamos táxis em
frente ao estabelecimento.
No todo um bom encontro, pois eu estava realmente precisando colocar a
conversa em dia com meus amigos da ficção científica carioca para desopilar um
pouco.
Jardim Botânico, Rio de Janeiro, 23 de novembro de 2012 (quinta-feira).
Participantes:
Ana Cristina Rodrigues
Carlos Eugênio Patati
Eduardo Torres
Estevão Ribeiro
Gerson Lodi-Ribeiro
Jorge Pereira
Luiz Felipe Vasques
Max Mallmann
Por limitações geográficas, não consigo participar dos interessantes encontros que vocês promovem no RJ, mas sempre os acompanho por meio de suas crônicas. Contudo, desta vez não consegui apenas lê-la, tanto que agora redijo este comentário. Digamos que o comentário funciona como uma máquina do tempo, uma forma de participar de um encontro que já aconteceu. Durante a conversa, resolvi acrescentar ao debate sobre IVANHOÉ: "Até 1891, os EUA 'pirateavam' os direitos autorais de obras inglesas. Isto fez de IVANHOÉ um best-seller também em terras americanas. Boa parte dos romances de Twain criticam o romantismo exagerado de Scott e sua influência sobre a literatura norte-americana. Não apenas 'A Connecticut Yankee in King Arthur's Court', mas também o conhecido 'Adventures of Hucklberry Finn'". Era isso! De volta ao presente!
ResponderExcluirObrigado pelo adendo precioso, Rodolfo!
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