Casa Fantástica
na
FLIP 2019:
Dia 01 — 201907101325P4
— 21.551 D.V.
“Partiu,
Paraty II, a Missão!”
Com nossas malas e bagagens de mão arrumadas de véspera, acordamos hoje
às 04h00 para tomar o desjejum sem atropelos e nos deslocarmos até a rodoviária
para viajar a Paraty, para assistir e participar das mesas-redondas, palestras
e eventos que ocorrerão nos próximos dias sob os auspícios da Casa Fantástica,
por ocasião da décima-sétima Feira Literária Internacional de Paraty, a FLIP
2019.
Durante o café da manhã, baixamos a edição digital de O Globo para ler durante a viagem de
ônibus.
A fim de participar desse evento sem preocupações ou sentimento de
culpa, solicitei a antecipação de cinco dias das minhas férias, aquelas mesmas que
precisei adiar e que deverei remarcar tão logo a aposentadoria da Cláudia seja
publicada no Diário Oficial da União.
Pedimos um UBER que nos pegou à porta de nosso prédio e nos conduziu à em
segurança à Rodoviária Novo Rio pela madrugada escura e estrela deste inverno
carioca, chegando lá em menos de quinze minutos.
Uma vez no terminal rodoviário, rumamos até o guichê da empresa Costa
Verde, onde um funcionário da empresa retirou nossas passagens de ida e de
volta para Paraty, que já havíamos adquirido coisa de quinze dias atrás pela
internet. Como havíamos chegado cedo, sentamo-nos
próximos ao portão de embarque para aguardar o ônibus e nos dedicamos ao prazer
da leitura por quarenta e cinco minutos prazerosos. Leitura de espera: A Verdadeira História da Ficção Científica (Pensamento-Cultrix,
2018), do Adam Roberts, autor e estudioso do gênero que esgrime não sem certo
brilhantismo e originalidade a tese heterodoxa, segundo a qual a gênese da ficção
científica se teria dado no século XVI por causa da Reforma Protestante. Como me encontro no capítulo um desse livro
parrudo, ainda que um tanto céptico, resolvi conceder o benefício da dúvida sob
condição resolutória à tese aparentemente estapafúrdia.
Durante essa espera, constatei que o aplicativo bloco de notas do meu
celular está exibindo um defeito sui generis. Cada nota se multiplicou alguns milhares de
vezes e agora há cerca de trinta mil notas no aplicativo. Num cálculo rápido, estimei que levaria pelo
menos dez horas para deletá-las uma a uma.
Deve haver um método mais inteligente e prático de deletar tudo de uma
vez, só que ainda não consegui descobri-lo.[1]
* *
*
Prevista para se iniciar às 07h00, a viagem começou com vinte minutos
de atraso. Em nossa parada às 08h50, lá
pela altura de Itaguaí ou Coroa Grande, o motorista resolveu compensar,
decretando que só permaneceríamos no restaurante de beira-de-estrada por quinze
minutos. Nessa parada, comemos
pães-de-queijo e tomamos café preto. O
ônibus era climatizado e o ar-condicionado estava funcionando a contento. Nem eu, nem Cláudia tiramos nossos casacos,
pois o inverno no Rio de Janeiro chegou firme e forte nesta semana. Dediquei o primeiro terço de nossa viagem à
leitura da edição digital do jornal.
Então, atirei-me ao romance de ficção científica Blindsight (Tor Books, 2006), que consegui terminar meia hora antes
de chegarmos a Paraty. Uma narrativa
tensa de primeiro contato entre humanos dotados de implantes
bionanotecnológicos e uma espécie alienígena inteligente, porém desprovida de
autoconsciência, em plena nuvem de Oort do Sistema Solar em fins do século
XXI. Instigante e original, mas com
personagens com motivações para lá de mal explicadas.
Desembarcamos no terminal rodoviário de Paraty às 11h55, após quatro
horas e trinta e cinco minutos de viagem, incluindo a parada técnica.
Recobramos nossas malas e nos dirigimos ao ponto de táxi da
rodoviária. A tarifa única sem taxímetro
para o entorno do centro histórico continua sendo de vinte e cinco reais, como
no ano passado. Desta vez, nossa pousada
não se localiza dentro desse centro histórico.
Em compensação, é bem melhor do que a do ano passado e as diárias foram mais
baratas.
Chegando à Pousada Paisagem, fizemos o check-in com o funcionário Flávio, que nos conduziu ao quarto 221, situado
no segundo piso do prédio anexo da pousada.
Verificamos o sinal de WiFi e demais comodidades de nossa habitação temporária,
e colocamos nossos celulares e tablets para recarregar. Liguei meu notebook pela primeira vez desde o
fim de abril e ele exibiu certa resistência, ansioso por atualizar todos os
seus pacotes de dados e programas antes de se dignar a permitir que eu iniciasse
esta crônica, mas acabou se reconfigurando a ponto de me facultar a abertura do
arquivo em que escrevo o texto presente.
* *
*
Saímos a pé da pousada, caminhando por um calçadão paralelo à margem do
rio Perequê-Açú por cerca de oitocentos metros, até uma ponte que, uma vez
cruzada, deixou-nos no fim da Rua do Comércio, onde se situa a Casa Fantástica. Esse calçadão possui uma ciclovia segregada da
pista para pedestres.
Caminhamos devagar por essa via de seixos rolados por uns quatro ou
cinco quarteirões, até alcançar o número 90, sede da literatura fantástica
brasileira na FLIP 2019. No caminho, já
de olho nos restaurantes em que poderíamos almoçar, cruzamos a Rua do Rozário,
onde se situava a Casa Fantástica do ano passado. Enfim, após uns duzentos metros de avanço
vagaroso, encontramos a Casa Fantástica 2019.
Lá encontramos a Priscilla Lhacer, publisher
da editora Presságio e organizadora da Casa Fantástica, o Raphael Fernandes, sócio
e braço forte de Erick Santos Cardoso na Draco, e o Mário Bentes, publisher da editora Lendari.
Conhecemos as instalações da Casa Fantástica deste ano e conversamos um
pouco com os amigos sobre nossas jornadas para Paraty e sobre a crise do
comércio de livros no país. Aproveitei o
ensejo para deixar uns poucos exemplares de minha coletânea Histórias de Ficção Científica de Carla
Cristina Pereira (Draco, 2012) e de meus romances A Guardiã da Memória (Draco, 2011) e Octopusgarden (Draco, 2017) no estande da editora, com o Raphael. Quanto aos três exemplares que eu trouxe da
antologia Fractais Tropicais
(SESI-SP, 2018)[2],
organizada pelo Nelson de Oliveira, finalista do Prêmio Argos 2019, nem serão postos
à venda, pois Priscilla, Raphael e Mário já os compraram.
A verdade é que, por causa do volume ocupado na mala pelos três troféus
do Prêmio Argos (categorias Melhor Romance, Melhor Conto e Melhor
Antologia/Coletânea), não restou muito espaço para trazer livros à Casa Fantástica
deste ano. Uma pena, porque faturei uma
graninha boa com as vendas do ano passado.
Enfim, tudo e mais um pouco pela causa.
Mais leves com a desova dos livros, despedimo-nos dos amigos por hoje e
fomos à caça de um restaurante, pois já estávamos verdes de fome.
Voltamos pela Rua do Comércio até a Rozário, onde dobramos à direita,
em direção à praia, em busca do restaurante Banana da Terra, especializado em
frutos do mar. Tentamos jantar nesse
estabelecimento bem avaliado no ano passado, mas a casa estava lotada. Para nossa surpresa, o Banana da Terra fechou
às portas. Desalentados, regressamos
pela Rozário, mas dobramos à direita antes de chegar à Comércio. Desembocamos na Praça da Matriz e dali
seguimos até o restaurante Prosa, que Cláudia havia pesquisado no TripAdvisor.
Um funcionário do Prosa veio nos buscar literalmente no meio da rua,
detalhando as iguarias do cardápio e nos convencendo a experimentá-las; a
tarefa não foi das mais difíceis, considerando no estado de fome terminal.
Sentados numa mesa no fundo do restaurante, ilhota de penumbra
aconchegante em meio a esta tarde ensolarada de inverno, pedimos casquinhas de
siri de entrada e pratos executivos como principal: medalhão de filé mignon com
fettuccini para mim e filé de peixe
com purê de batata baroa para a Cláudia, repasto regado à água com gás e uma
garrafa do vinho verde rosé QPA. Foi a
primeira vez que degustamos um vinho verde vinificado como rosé. Para minha surpresa, embora não curta os
verdes, Cláudia apreciou esse vinho fresco e fácil de beber.
Do Prosa, seguimos para a grande tenda de livros da Travessa, montada em
frente ao restaurante, onde namoramos um monte de títulos apetitosos, mas, com
a casa repleta de volumes e já comprometidos com a filosofia do livro digital,
só compramos mesmos dois títulos para nossa filha Ursulla.
Vinho Verde Rosé: novidade saborosa!
Rua de seixos rolados no Centro Histórico de Paraty.
Ponte sobre o rio Perequê-Açú I.
Ponte sobre o rio Perequê-Açú II.
Almoço no Dia 1 no Prosa na Praça.
Anoitecer na ponte sobre o Perequê-Açú.
* *
*
Dali seguimos até a sorveteria Pistache, na esquina de Rozário com
Comércio. Sorvetes self-service deliciosos!
Escolhi os sabores pistache e chocolate com laranja, enquanto a Cláudia
pegou limão, jabuticaba e chocolate 70%.
Havia um rapaz que se afirmou aficionado por ficção científica na
Pistache, mas julguei melhor não puxar papo naquele instante.
Da sorveteria, começamos a voltar para a pousada, sem pressa, parando
num ponto turístico ali, uma loja acolá, olhando vez por outra cardápios e
preços, à procura de lugares para comer nos próximos dias. Afinal de contas, a melhor ocasião para fazer
esse tipo de pesquisa preliminar é quando estamos com os estômagos satisfeitos.
Por volta das 18h30, já noite cerrada, pegamos o mesmo calçadão da ida
para enfim regressar à pousada e ao descanso merecido.
Pousada Paisagem, Paraty, 10 de julho de 2019
(quarta-feira).
Dia 02 — 201907110740P5 — 21.552 D.V.
“Em
termos de plausibilidade científica, os cenários otimistas das narrativas solarpunks fazem todo o sentido do
mundo. Porque, do jeito como a
civilização humana vem caminhando, não há como imaginar a continuidade da vida humana
na Terra daqui a cinquenta ou cem anos sem assumir que algo irá melhorar bem
antes disso.”
Acordamos hoje às 06h00 e, como o desjejum na pousada só abriria às
08h00, baixei a edição digital do jornal e comecei a lê-lo em jejum. Esses hotéis e pousadas que só iniciam seus
serviços de café da manhã lá pelas tantas baratinam um bocado a rotina matinal
deste povinho que tem mania de acordar cedo…
Na dúvida entre dar uma última ensaiada na minha fala de abertura que
apresentarei às 10h00 ou ler o jornal para relaxar, acabei optando pela segunda
alternativa.
Ah, o café da manhã! Um mês
hospedado numa pousada aprazível como esta e eu não voltaria para o Rio
andando, mas sim rolando. Ovos mexidos
com salsichas. Fatias de lombo canadense
e mozzarella dentro de um pão quentinho.
Café preto e suco de laranja. Tudo
do bom e do melhor. Depois de saborear
isto tudo, repetir e “trepetir” o que estava mais gostoso.
Após esse lauto desjejum, voltamos ao quarto e ainda tive tempo de
concluir a leitura do jornal antes de caminharmos até a Casa Fantástica.
* *
*
Desta vez levamos apenas vinte minutos para ir a pé da pousada até a
Casa Fantástica. Dez minutos no calçadão
que beira o Perequê-Açú e outros dez para caminhar pela Rua do Comércio, da
ponte até o número 90. Quando passamos pela
Casa Folha, próximo à Igreja da Matriz, no início da Comércio, deparamo-nos com
uma fila imensa, que se estendia por cerca de cem metros, até a Igreja do
Rozário, para assistir não sei bem que atração prestes a rolar naquela casa.
Porém, como o nosso barato é literatura fantástica, não paramos para
conferir o oba-oba e chegamos lá na Casa Fantástica, cerca de meia hora antes
do evento, com um tempinho para colocar os pensamentos no lugar e conversar com
os amigos presentes.
Minha fala de abertura, como todas as palestras e mesas que virão
depois, aconteceu sob um telheiro acolhedor instalado aos fundos da edificação
histórica que sedia a Casa Fantástica desta FLIP 2019.
Para minha alegria e surpresa, apesar de estarmos na manhã do primeiro
dia de Casa Fantástica, quando comecei minha fala com meros cinco minutos de
atraso, já havia cerca de vinte pessoas na plateia e ao fim do evento, chegamos
a ter um público presente superior a trinta pessoas. Semanas atrás, Priscilla já havia alertado
que a nova Casa Fantástica não disporia de projetor e telão para exibir apresentações
em PowerPoint. Tudo bem. Mesmo assim, levei meu tablet e planejei uma espécie
de “PowerPoint de pobre”: eu consultaria a apresentação que preparei, just
in case, e, sempre que pertinente, mostraria à plateia capas de livros e
cartazes de filmes citados.
Priscilla Lhacer deu as boas-vindas ao público presente nesta manhã
ensolarada de quinta-feira e em seguida me passou a palavra. Apresentei-me como escritor e antologista de
ficção científica em geral e história alternativa em particular, explanando uma
definição brevíssima do subgênero da H.A. e exemplificando, por mera
travessura, com o cenário da vitória paraguaia na Guerra da Tríplice Aliança.
Usei uma versão atualizada e turbinada da apresentação em PowerPoint Ficção Climática & Solarpunk, que
mostrei no SESC-Santos em 2017. Em termos
de número de telas, essa nova versão é cerca de dez por cento maior do que a
original. Na introdução, falei da
importância da ficção ecológica num país e num mundo onde tantos negam a
realidade científica do aquecimento global antropogênico. Na apresentação propriamente dita, expus os
conceitos de ecoficção, ficção climática e ficção científica climática, bem
como seu subgênero literário, o solarpunk. Ilustrei o conteúdo com exemplos literários e
cinematográficos de ficções climáticas.
Nas narrativas literárias, citei trabalhos de ficção especulativa e mainstream. Em seguida, falei dos enredos clássicos de
ficção climática, das antologias temáticas que reúnem a melhor ficção curta do
subgênero, e então passei para os enredos recentes, com ênfase a trabalhos de
Kim Stanley Robinson, Ursula K. Le Guin, Robert Silverberg, Paolo Bacigalupi,
Margaret Atwood, Gregory Benford, Charlie Jane Anders e outras feras da ficção
científica anglo-saxã. Daí, apresentei o
solarpunk como movimento cultural e subgênero literário, não resistindo à tentação
de citar a coletânea City (1951), de
meu autor predileto, Clifford D. Simak, como uma narrativa solarpunk avant la lettre e, então, enfim, detalhar
a gênese e as narrativas da antologia Solarpunk:
Histórias ecológicas e fantásticas em um mundo sustentável. Na fase das perguntas e manifestações, a
plateia participou ativamente, a ponto de nossa mestre-de-cerimônias, Priscilla,
ter precisado interromper para dar início à mesa-redonda que se seguiria à
abertura da Casa Fantástica.
Fiquei muito satisfeito e orgulhoso com o resultado dessa fala de
abertura. Bastante satisfeito e só um
tiquinho orgulhoso. Pois orgulho em demasia
é soberba e em excesso vira arrogância.😊
Entre o fim da minha fala e o começo da mesa-redonda, Sabine Mendes
Moura comentou comigo que havia lido meu romance curto de história alternativa,
Xochiquetzal: uma Princesa Asteca entre
os Incas (Draco, 2009) ontem e que gostou muito.
Chegada à Casa Fantástica.
Priscilla Lhacer na Abertura da Casa Fantástica.
Palestra de Abertura: Ficção Climática & Solarpunk.
Filmete da Abertura: "Ecoficção".
Filmete da Abertura: "Bem-vindos ao Antropoceno!".
Filmete da Abertura: "Solarpunk".
* *
*
A primeira mesa-redonda da Casa Fantástica, “Young Adult: “O que leem os jovens adultos de hoje?”, foi mediada
pela própria Priscilla Lhacer, com a participação dos autores Felipe Sali e
Thiago Lee. Do ponto de vista de alguém
que já curtiu mais infantojuvenis outrora do que hoje em dia, a parte mais
importante dessa mesa para mim foi quando Felipe detalhou a mecânica de
escrever no Wattpad.
Mesa "Young Adult": Felipe Sali e Thiago Lee.
Ao fim dessa primeira mesa, regressamos à pousada para descansar, pois,
com os estômagos forrados pelo lauto café da manhã, ainda não nos sentíamos
dispostos para o almoço. Colocamos
algumas coisas em dia e então retornamos à Casa Fantástica bem a tempo de
assistirmos a segunda mesa-redonda, “Mitologia: as raízes do fantástico na
literatura”, com mediação de Lucas Rafael Ferraz e participação dos autores
Rosana Rios e Antonio Luiz M.C. Costa e do professor de história, Diego Amaro.
Ao ingressarmos na Casa Fantástica fomos avassalados por um aroma
delicioso emanando da cozinha, o que nos fez perceber que não estávamos com tão
pouca fome assim. Entramos na cozinha e
descobrimos a origem do aroma inebriante: uma fornada de croissants quentinhos
acabando de sair do forno. Compramos um
de queijo e presunto para mim e um de frango para a Cláudia, com duas garrafas
de água com gás para lubrificar as tripas.
A mesa de Mitologia bombou.
Estimo que houvesse um público presente de pelo menos cinquenta
pessoas. Quando cheguei, tive que
permanecer de pé por alguns minutos até que uma jovem caridosa me cedeu o lugar. Mesmo assim, meu assento era numa das últimas
filas e por vezes precisei me esforçar um pouco para ouvir o que os
participantes diziam. Mas, valeu a
pena! Rosana e Antonio deram um
verdadeiro banho de erudição ao discorrerem sobre as raízes mitológicas da
literatura, remetendo os ouvintes à origem da escrita e da própria civilização
na Suméria de seis ou sete milênios atrás.
Falou-se de tudo um pouco e sempre muito bem, desde as culturas
matriarcais do mesolítico, até o machismo inerente ao mito de Héracles, das
mudanças paulatinas no enfoque narrativo das deusas da mitologia greco-romana,
até a origem da lenda urbana da loura do banheiro, que remonta ao Império do Brasil
da segunda metade do século XIX. Há
muito tempo não assistia uma mesa tão instrutiva e interessante. Show de bola!
Mesa "Mitologia": Lucas Rafael Ferraz, Antonio Luiz M.C. Costa, Rosana Rios, Diego Amaro.
Rosana Rios e GL-R no estande da Draco.
Ao fim dessa segunda mesa, quando já nos preparávamos para regressar à
pousada, enquanto encomendávamos dois croissants e duas empanadas à cozinheira
da Casa Fantástica, encontrei minha amiga Kyanja Lee e começamos a conversar
sobre ficção científica. Kyanja me
apresentou às irmãs gaúchas, Evelyn e Ceres Postali. Conversamos sobre o quadro atual da
literatura fantástica nacional, em que o horror e a fantasia atraem mais
leitores do que a ficção científica, ao contrário do que ocorria três ou quatro
décadas atrás. As duas irmãs acabaram
adquirindo dois exemplares de meu romance de ficção científica A Guardiã da Memória (Draco, 2011),
agraciado com o Argos 2012 na categoria Melhor Romance.
Antes de partir, ainda consegui bater um papo com a Rosana Rios, elogiei
a mesa excelente e logrei tirar algumas fotos com ela.
Já na Rua do Comércio, caminhando em direção à ponte, encontramos com
minha amiga, Maria José Gouveia, do curso de italiano a quem descrevi
brevemente a variedade dos chapéus estou usando nesta Casa Fantástica da FLIP
2019.
De volta à Paisagem, pedimos duas taças de vinho na recepção, para não
precisarmos degustar nossos tintos em copos de vidro como ontem à noite.
Depois que conclui o trabalho nesta crônica, assistimos o Em Pauta na GloboNews e os dois últimos
episódios da primeira temporada de Big
Little Lies.
Como pousada, a Paisagem constitui um problema: é muito aconchegante e
confortável. Mas, também é um pouco
distante da Casa Fantástica. Daí, quando
voltamos para cá pela segunda ou terceira vez do dia ao longo da tarde, bate
uma preguicinha gostosa que solapa nossa vontade de regressar ao bochicho outra
vez. Desta forma, infelizmente, perdemos
as mesas vespertinas: “Clubes de Assinatura: Como a curadoria recorrente está
mudando o mercado editorial” (17h00) e “Agenciamento Literário: como trabalha
um agente literário?” (19h30).
Pousada Paisagem, Paraty, 11 de julho de 2019
(quinta-feira).
Dia 03 — 201907120640P6
— 21.553 D.V.
“— Quem você
pensa que é para me falar assim?
“— Eu sou um
monstro!”
(Cena do
filme Jovem Frankenstein, de Mel
Brooks)
Desjejum satisfatório, ainda que tardio, na Paisagem nesta sexta-feira
de manhã. Mais ou menos as mesmas escolhas
gastronômicas apetitosas, mas não muito saudáveis, de ontem. Antes da refeição matinal, ainda no quarto
221, baixamos e iniciamos a leitura da edição digital do jornal.
De volta ao quarto, conectei o celular e o tablet ao notebook para
transferir o arquivo em epub do romance Echopraxia,
do Peter Watts, continuação do Blindsight, cuja leitura concluí na
viagem de ida para cá.
* *
*
Caminhamos da pousada até a
Casa Fantástica e lá chegamos às 10h00, bem no início da mesa-redonda
“Criaturas Fantásticas: Criando monstros, bestas-feras e outros bichos”, com
mediação do autor Diego Guerra e participação dos autores Jana P. Bianchi,
Claudia Dugim e Fernando Vugman. A mesa
abordou a questão do monstro na história humana e na literatura fantástica. Fernando falou das origens históricas dos mitos
e narrativas sobre monstros. Discutiu-se
o monstro no romance seminal Frankenstein,
concluindo-se que o verdadeiro monstro era
Victor, pois a criatura, conquanto tenha praticado homicídios, começou sua vida
como vítima de um abandono monstruoso.
Falou-se sobre os monstros clássicos: lobisomens, vampiros, zumbis e
suas representações na literatura e no cinema.
Jana Bianchi contou-nos sobre o lobisomem em sua novela, Lobo de Rua (Dame Blanche, 2016) e Paola
Siviero, abduzida da plateia para a mesa pelo mediatador Diego,
falou-nos sobre os monstros de seu romance O
Auto da Maga Josefa (Dame Blanche, 2018), finalista ao Prêmio Argos 2019.[3] Na fase das perguntas, um rapaz da plateia
indagou se um monstro ainda podia ser considerado como tal quando despertava
desejo sexual em personagens humanos.
Resisti à tentação de comentar meu conto erótico “Para Agradar Amanda”
que trata da relação sexoafetiva de um humano básico com uma lobisomem, mas não
à tentação de falar sobre relações sexuais entre humanos e parceiros terrígenas
e alienígenas em geral, uma das minhas temáticas favoritas na literatura fantástica.
Mesa "Criaturas Fantásticas": Diego Guerra, Fernando Vugman.
Mesa "Criaturas Fantásticas": Fernando, Jana P. Bianchi, Claudia Dugin.
Mesa "Criaturas Fantásticas": Paola Siviero.
* *
*
Ao fim dessa primeira
mesa-redonda, regressamos brevemente à pousada e dali seguimos até o
supermercado Carlão, próximo à rodoviária de Paraty, onde adquirimos alguns
itens essenciais à sobrevivência da vida inteligente tal como a conhecemos: Activia,
frutas, água com gás, uma garrafa do tinto Porca de Murça e outra de um
espumante da Salton. Também paramos numa
farmácia para comprar silicone e desodorante.
De volta ao nosso lado do rio e
à pousada, deixamos nossas compras e regressamos ao centro histórico de
Paraty. Separamo-nos na Rua da
Lapa. Cláudia seguiu para a mesa-redonda
“Tecnologia na Educação” na Casa Santa Rita de Cássia e eu para a Casa
Fantástica.
Cheguei às 14h00, bem a tempo
de assistir o começo da mesa “O Medo como Inspiração: Horror e mistério na
literatura nacional”, com mediação do escritor e acadêmico Oscar Nestarez e participação
dos autores Carol Mancini e Hedjan Costa, do cineasta e autor Marcos Brito, do
editor e roteirista de HQ Raphael Fernandes, e do livreiro e editor Cid Vale
Ferreira. Desta vez só consegui me
sentar lá atrás. Não que essa mesa
estivesse mais concorrida do que a matinal, só que não consegui chegar nos cinco
minutos antes regulamentares. Os seis
componentes da mesa – mediador e participantes – cultistas praticantes do
horror literário em suas diversas manifestações, falaram das motivações e terrores
noturnos que os atraíram para o gênero.
Também se falou, e muito, dos horrores da vida real, o que não deixa de
ser um clichê em palestras e mesas sobre o horror literário. Brito falou em como transformar temores
pessoais em narrativas ficcionais. Na
fase das perguntas, os participantes explicaram o que um autor de horror inédito
precisa fazer para ser publicado.
Mesa "Medo como Inspiração": Marcos Brito, Oscar Nestarez, Carol Mancini.
Mesa "Medo como Inspiração": Carol, Raphael Fernandes, Hedjan Costa.
Mesa "Medo como Inspiração": Cid Vale Ferreira, Marcos Brito.
Finda a primeira mesa
vespertina, bati um bom papo com Cláudia Dugim, autora do conto “Gente é Tão
Bom”[4],
sobre narrativas de literatura fantástica em geral e sobre um conto intrigante
que ela escreveu, “O Desejo de Ser Como um Rio”. Fiquei tão curioso que, chegando à nossa
pousada, entrei na Amazon Brasil e comprei a coletânea em e-book O Desejo de Ser Como um Rio e Outras
Histórias.[5]
Também cumprimentei minha amiga
Ana Lúcia Merege que acabara de chegar à Casa Fantástica.
Mais tarde, travei conhecimento
com o autor e publisher da Luva,
Vitto Graziano, carioca residente no Méier, bairro em que nasci, que me falou,
dentre várias coisas divertidas, algumas impublicáveis, da concepção de um
romance “round-robin”, Rio Vermelho
(Luva Editora, 2018), escrito por nada menos do que vinte e três autores,
dentre os quais, Fábio Fernandes, Oscar Nestarez e Hedjan Costa. Comprei-o de imediato. Curiosíssimo para ler.
Cláudia me reencontrou na Casa
Fantástica para almoçarmos. Conseguimos
enfim almoçar no Celeiro, um restaurante simpático bem próximo à sede da
literatura fantástica brasileira na FLIP 2019.
Nossa mesa foi posta em plenos seixos rolados, bem no meio da Rua do
Comércio, com direito a cachorro metendo o nariz na comida de nossos pratos e
tudo o mais. Mas, enfim, relaxa que é FLIP time, baby! Pedi carne assada com molho negro (antigo
molho Madeira) com purê de mandioquinha (vulga batata baroa), enquanto Cláudia
degustou um risoto de filé mignon com shitake.
Se a comida não era farta, estava gostosa e os preços pareceram convidativos,
ao menos pelos padrões de FLIP.
Do Celeiro, seguimos pela Rua
Santa Rita até a igreja homônima, famosa por só possuir uma torre e por se
situar junto à cadeia colonial da cidadezinha.
Como eu havia esquecido meu casaco na pousada e, às 17h30, já fazia um frio
danado em Paraty (de minha perspectiva de carioca, é lógico), regressamos à
Paisagem e por aqui ficamos. Perdi as
mesas-redondas “Misticismo e Literatura: O encontro da arte com o oculto”
(17h00) e “O Futuro das Editoras Independentes” (19h30).
À noite no quarto, pedimos
misto-quente e queijo-quente de lanche noturno, regado à Porca de Murça. Mais tarde, li os outros dois contos da
coletânea da Cláudia Dugim. Em seguida,
comecei a leitura da novela Lobo de Rua,
da Jana Bianchi.
Pousada Paisagem, Paraty, 27 de julho de 2019
(sexta-feira).
Dia 04 — 201907130830P7 — 21.554 D.V.
“And the Argos goes
to…”
[Priscilla
Lhacer ao anunciar o vencedor na categoria Melhor Romance]
Acordamos hoje um pouco mais tarde.
Porém, mesmo assim, lá pelas 07h00 eu já havia concluído a leitura da
edição digital do jornal. Nesta manhã,
havia os iogurtes Activia para quebrar nosso jejum ainda no quarto, antes de
descermos para o lauto café da manhã no restaurantezinho à varanda da pousada.
O desjejum de hábito. Ovos
mexidos com fatias de lombo canadense.
Minirrabanadas, café preto e suco de laranja. Hoje observamos vários passarinhos no gramado
em torno da piscina da pousada, inclusive, uma saíra e um sabiá-laranjeira.
Às 08h30 já estávamos de volta ao 221 e eu comecei a planejar alguns
detalhes da cerimônia de entrega do Prêmio Argos. Relacionei os representantes dos finalistas
que não poderão comparecer. Até hoje de
manhã, dos nove finalistas, apenas três compareceriam, enquanto seis nomearam
representantes. Contudo, hoje cedo li
uma mensagem privada pelo FB do finalista na categoria Melhor Antologia, Nelson
de Oliveira, antologista da Fractais
Tropicais, avisando que sua carona e hospedagem haviam furado e que ele não
poderia comparecer. Pedi-lhe que
designasse um representante com urgência e ele indicou Cláudia Dugim, já
designada como representante de Ricardo Labuto Gondim, finalista na categoria
Melhor Romance, com Corrosão (Caligari,
2018), e do Marcelo Galvão, finalista na categoria Melhor Conto, com “Sombras
no Coração”. Assim, Cláudia representará
finalistas nas três categorias do Argos.
* *
*
Envolto com os preparativos da cerimônia de entrega do Argos, acabei perdendo
a mesa-redonda matinal, “Literatura Juvenil: Como formar leitores (fantásticos)
no século XXI”.
Saímos daqui da pousada por volta de quinze para o meio-dia. Resolvemos adotar um caminho alternativo,
cruzando a ponte de pedestres próxima à nossa base, em vez de seguir pelo
calçadão do rio até a Rua do Comércio.
Ganhamos um bom tempo, pois, embora tivéssemos que cruzar uma via
desprovida de calçada, chegamos ao quarteirão da Comércio que abriga a Casa
Fantástica sem precisar enfrentar o furdunço que tomou conta daquela via
histórica neste sábado.
Visitamos a cadeia colonial (transformada numa casa de cultura durante
a FLIP) e o cais antes de nos dirigirmos à Casa Fantástica. Pelo caminho, como ninguém é de ferro,
fizemos uma parada técnica junto à sorveteria Pistache para tomar um sorvetinho
esperto. Nesse percurso, descobrimos o
restaurante Banana da Terra, que agora se situa em um sítio mais nobre da Rua
do Rozário, em relação ao seu endereço do ano passado. É isto ou então simplesmente me enganei
quanto à localização de que me lembrava do ano passado, hipótese que,
considerando meu Alzheimer avançado, não é de todo improvável.
Uma vez na Casa Fantástica, encontramos nosso amigo Ricardo França, que
chegou à FLIP 2019 numa viagem de bate-e-volta, devendo regressar hoje à noite
para o Rio. Conversamos um pouco com o
França, até que ele saísse para almoçar com a Ana Merege e a Cláudia Dugim. Aproveitei o ensejo para convidar a Ana
Merege para entregar o Argos na categoria Melhor Conto.
Também revi minha amiga Ana Rusche e ainda o Paulo Vinicius, do Ficções
Humanas, com quem bati bons papos e tirei fotos para postar no Instagram, com apoio
dos ensinamentos providenciais do Raphael Fernandes.
Enfim, às 14h00 se iniciou a mesa-redonda “Crítica Literária x
Influenciadores: Conflito ou convergência?”, com mediação da Clara Madrigano e
participação de Filipe Laredo, publisher
da Empíreo; do professor e escritor João Peçanha; do influenciador digital
Paulo Vinicius; e da escritora e crítica Ana Rusche. Se fosse necessário definir essa mesa numa
única palavra, essa seria “pedaçuda”. Como
não é esse o caso, falarei um pouquinho sobre a mesa mais “tretada” da Casa Fantástica
2019. O estímulo para propor essa mesa
foi a treta surgida em fins de 2018, quando um autor emergente enviou um livro
recém-lançado para ser resenhado por uma influenciadora digital – referida pela
mesa simplesmente como “italiana”[6]
– e, escandalizado com o preço cobrado pela profissional, em vez de simplesmente
declinar da proposta, resolveu colocar a boca no trombone, divulgando a tabela
de preços da moça. Daí, a discussão se
iniciou e seguiu firme, indo desde a pretensa rivalidade, até a possível
convergência entre a crítica especializada dos cadernos literários dos jornais
e revistas especializadas e os ditos influenciadores digitais. Paulo Vinicius afirmou que cobra pelas
resenhas, mas que deixa a critério do autor se as publica ou não. Filipe Laredo comentou sua experiência como publisher em relação aos blogueiros e
influenciadores. Na fase das perguntas e
manifestações, a plateia participou intensamente, levantando diversas questões
quanto à ética de se pagar por essas críticas, sendo brilhantemente ripostadas
pelos integrantes da mesa.
Finda essa mesa, antes de sair para o almoço, fechei algumas questões
sobre a cerimônia do Argos com a Priscilla Lhacer e a convidei para entregar os
diplomas na categoria Melhor Romance.
Saindo da Casa Fantástica, enfrentamos o engarrafamento de pedestres na
Rua do Comércio até chegar ao restaurante Dolce Vita, onde já havíamos almoçado
no sábado da FLIP 2018. Hoje pedimos gnocchi ao molho de tomate com
mozzarella de búfala e manjericão, regado por uma garrafa do tinto Porca de
Murça e outra de água com gás.
Do restaurante, regressamos à Paisagem para pegar os troféus e
certificados do Argos. Com isto, perdi a
mesa-redonda “História em Quadrinhos: Ascensão da nona arte no Brasil”. Ah, o dever.
Sempre há que se cumprir com o dever.
Não permanecemos muito tempo na pousada e regressamos à Casa Fantástica
por um atalho via ponte de pedestres sobre o rio Perequê-Açú que nos deixou tão
próximo à sede da literatura fantástica brasileira na FLIP quanto o caminho
escolhido pela manhã.
Uma vez lá, posicionamos os troféus e certificados à mesa em torno da
qual receberíamos os finalistas, de forma que ocultasse os nomes dos finalistas
e vencedores.
Minha amiga do Vórtice Literário, Juliana Berlim, apareceu nesta hora
na Casa Fantástica. Infelizmente, não houve
oportunidade de tirarmos uma foto junto com o Ricardo França, outro companheiro
do Vórtice.
GL-R e Ricardo França.
GL-R e Antonio Luiz M.C. Costa.
Apreensão antes da Cerimônia do Argos.
Juliana Berlim e GL-R.
Priscilla havia combinado comigo e com o Antonio Luiz que
apresentássemos um panorama breve da ficção científica brasileira no século
XXI. Antonio falou sobre a diversidade de
autores e narrativas nessas duas primeiras décadas. Eu discorri sobre o boom da literatura
fantástica brasileira nas duas últimas décadas e do predomínio relativo do
horror e da fantasia sobre a ficção científica.
Em seguida, dei início à cerimônia do Argos 2019, narrando a história
da premiação, com ênfase ao hiato de oito anos entre a primeira encarnação do
prêmio (2000-2003) e a atual (2012-2019).
Aproveitei o ensejo para lembrar os presentes de que a continuidade do
Argos dependerá das decisões da futura diretoria do Clube de Leitores de Ficção
Científica. Quem sabe não inspirei um
certo senso patriótico pela causa no espírito da garotada?
Daí, passei à entrega da premiação na categoria Melhor Antologia. Em primeiro lugar, anunciei a finalista 2084: Mundos Cyberpunk (Lendari),
organizada pela Lídia Zuin, cujo certificado foi recebido pelo Mário Bentes. Mário falou algumas palavras sobre a gênese
da antologia. Então, anunciei a
finalista Aqui Quem Fala é da Terra (Plutão), organizada por André Caniato
& Jana Bianchi. Ambos compareceram
para receber o diploma e proferiram um breve discurso conjunto de agradecimento. Aproveitei a oportunidade para declarar que a
Comissão Organizadora do Argos considera todos os nove finalistas vencedores do
certame 2019. Por fim, anunciei o
vencedor da categoria: a antologia Fractais
Tropicais (SESI-SP),organizada pelo Nelson de Oliveira. Cláudia Dugim recebeu o troféu e o diploma em
nome do Nelson que, devido à mudança de planos de última hora, não enviou
discurso de agradecimentos.
Categoria Melhor Antologia.
Mário Bentes recebe o Argos em nome de Lídia Zuin por 2084: Mundos Cyberpunk (Lendari).
Jana Bianchi e André Caniato recebem o Argos por Aqui Quem Fala é da Terra (Plutão).
Claudia Dugin recebe o Argos em nome de Nelson de Oliveira por Fractais Tropicais (SESI-SP).
Para anunciar os vencedores da categoria Melhor Conto, convidei minha
amiga, Ana Lúcia Merege, vencedora deste mesmo certame em anos anteriores. Ana anunciou o finalista “A Noite Não me Deixa
Dormir”, da Camila Fernandes, representada pelo Diego Guerra que, à ausência de
um discurso da finalista, improvisou algumas palavras laudatórias de sua
própria lavra. Então, Ana Merege
anunciou o finalista “Entre as Gotas de Chuva, Encruzilhada”, do Cirilo Lemos,
representado pela Jana Bianchi, que leu o belo discurso de agradecimento
enviado pelo finalista. Enfim, Ana
anunciou o vencedor da categoria, “Sombras no Coração”, de Marcelo Galvão,
também representado pela Cláudia Dugim, que leu as palavras generosas do
discurso de agradecimento do vencedor.
Categoria Melhor Conto: Claudia Dugin recebe o Argos em nome de Marcelo Galvão por "Sombras no Coração".
E, para anunciar os nomes dos vencedores da categoria Melhor Romance,
convidei a fada-madrinha da literatura fantástica brasileira na FLIP, Priscilla
Lhacer. Ela anunciou o romance finalista
Corrosão (Caligari), do Ricardo
Labuto Gondim, igualmente representado pela representante sênior, Cláudia
Dugim, que leu as palavras de agradecimento enviadas pelo finalista. Daí, Priscilla anunciou o finalista O Auto da Maga Josefa (Dame Blanche), da
Paola Siviero, que agradeceu, emocionada, falando que esse foi seu primeiro
romance publicado profissionalmente.[7] Finalmente, Priscilla anunciou o vencedor da
categoria: A Mão que Pune: 1890
(Caligari), de Octavio Aragão. Na
ausência de um discurso de agradecimento, improvisei algumas palavras, sobre
essa continuação da novela A Mão que Cria
(Mercuryo, 2006), aproveitando para introduzir o conceito de ficção alternativa
à plateia.
Categoria Melhor Romance: Claudia Dugin recebe o Argos em nome
de Ricardo Labuto Gondim por Corrosão (Caligari).
Paola Siviero recebe o Argos por O Auto da Maga Josefa (Dame Blanche).
GL-R recebe o Argos em nome de Octavio Aragão por A Mão que Pune: 1890 (Caligari).
Finda a parte formal da cerimônia de premiação, finalistas e seus
representantes posaram para fotos dos presentes.
Logo depois, postei no grupo de WhatsApp do CLFC os títulos dos três
trabalhos vencedores.
Vencedores do Argos 2019 e seus representantes.
* *
*
Encerrada a cerimônia do Argos, passamos à área dos estandes de vendas
de livros da Casa Fantástica. Ali travei
contato com Renata Assis, que me pediu para falar sobre a trama de meu romance
de ficção científica, Octopusgarden
(Draco, 2017), detentora do Argos 2018 na categoria Melhor Romance, solicitação
que atendi com prazer. Para minha
alegria, Renata adquiriu um exemplar autografado desse far future.
Acertei as contas de minhas vendas de livros com Raphael Fernandes,
responsável pelo estande da Draco, com Priscilla e Mário Bentes. Juliana Berlim comprou um exemplar da minha
coletânea Histórias de Ficção Científica
de Carla Cristina Pereira.
Despedimo-nos dos amigos e caminhamos pela última vez pela via crucis da Rua do Comércio até a
ponte que cruza para o outro lado do rio.
Uma vez ali, dirigimo-nos à pastelaria na qual estávamos de olho cobiçoso
desde a quarta-feira passada, pelo fato de que o estabelecimento prometia
pastéis de trinta centímetros de comprimento.
Chegado o grande dia, pedimos dois pastéis para viagem: calabresa com
catupiry para mim e queijo com banana para a Cláudia.
* *
*
Uma vez no quarto 221, degustamos nossos pastéis, ainda quentinhos, com
o espumante moscatel da Salton que compramos ontem no Carlão, enquanto
conferíamos as repercussões da entrega do Argos nas redes sociais.
Findos os folguedos, dediquei-me à escrita desta crônica e à leitura da
novela Lobo de Rua, da Jana Bianchi.
Amanhã partiremos de Paraty pela manhã, perdendo as atividades
dominicais da Casa Fantástica.
Pousada Paisagem, Paraty, 13 de julho de 2019 (sábado).
Dia 05 — 201907140830P1 — 21.555 D.V.
“Take the Long Way Home.”
[Supertramp]
Neste domingo acordamos mais tarde.
Porém, não tão tarde, pois precisamos fazer as malas e o nosso check-out da pousada. Assim, levantamos por volta das 06h30,
baixamos a edição digital do jornal para nossos tablets, arrumamos o grosso das
malas e descemos para o desjejum.
Na volta do café da manhã, já adiantamos o check-out e agendamos nosso táxi na recepção. Regressamos ao 221 para fechar as malas e,
quinze minutos mais tarde, estávamos de volta à recepção.
Nosso táxi marcado para às 09h00 apareceu às 09h05 em ponto. Horário mais do que adequado, pois a viagem
curta até a rodoviária levou menos de cinco minutos. Embarcamos nossas malas no bagageiro do ônibus
e embarcamos às 09h15. Com partida
prevista para às 09h20, o busão partiu com pontualidade paratiense às 09h25.
Apesar de suas três paradas e três entradas em condomínios de casas ao
longo da Rio-Santos, nossa viagem durou cinco horas cravadas. Só vinte e cinco minutos a mais do que a viagem
de ida, não obstante o desvio por ruelas estreitas, para contornar o trecho em
obras da Avenida Brasil, já próximo ao Terminal Rodoviário Novo Rio. As três paradas se deram nas rodoviárias de
Angra dos Reis (onde embarcaram cinco passageiros), de Itaguaí (onde desembarcaram
sete) e numa lanchonete de beira de estrada à altura da cidadezinha de Itacuruçá. Os condomínios visitados, sem qualquer
embarque ou desembarque de passageiros, foram os das usinas nucleares Angra I e
II, e o dos funcionários do estaleiro Verolme (que agora possui outro
nome). Durante o início da viagem, li a edição
digital de O Globo. Findo o
jornal, passei à leitura da novela Lobo de Rua. Finda a leitura, meus dois grãos de sal: gostei
muito da trama e do jeito que a Jana contou a história, mas considerei o fim um
tanto ou quanto frustrante. Enfim, concluída
a novela, comecei a ler o romance da Paola Siviero, finalista do Argos 2019, O
Auto da Maga Josefa.
Ao desembarcar na Novo Rio às 14h20, resgatamos nossas malas e tomamos
um táxi pré-pago com bandeira 2 cuja corrida saiu por R$ 53,00. Na altura do elevado Paulo de Frontin pegamos
um bruto engarrafamento, por causa de um acidente quase à entrada do túnel Rebouças. Apesar dos percalços, chegamos em casa incólumes
e com o sentimento do dever cumprido.😉
Resumo da ópera: embora menos intensa do que a experiencia da Casa
Fantástica 2018, nossa estada em Paraty para a FLIP 2019 foi mais relaxante e
menos estressante. Não obstante as
responsabilidades de proferir a palestra de abertura e presidir a cerimônia de
entrega do Prêmio Argos 2019, desta vez houve tempo para almoçar em ritmo slow
food, apreciar uns poucos pontos turísticos do centro histórico e caminhar
pelas belas tardes ensolaradas deste feriadão flipeiro.
Agora, é torcer para que no ano que vem haver mais Casa Fantástica na
FLIP 2020.
Jardim Botânico, Rio de Janeiro, 14 de julho de 2019
(domingo).
Participantes:
Ana Lúcia Merege.
Ana Rusche.
André Caniato.
Antonio Luiz
M.C. Costa.
Berenice
Young.
Carolina
Mancini.
Ceres
Postali.
Cid Vale
Ferreira.
Clara
Madrigano.
Cláudia
Dugim.
Cláudia
Pucci Abrahão.
Cláudia
Quevedo Lodi.
Diego Amaro.
Diego Guerra.
Evelyn
Postali.
Felipe Sali.
Fernando
Vugman.
Filipe
Laredo.
Gerson
Lodi-Ribeiro.
Hedjan
Costa.
Jana P.
Bianchi.
João
Peçanha.
Juliana
Berlim.
Kyanja Lee.
Lucas Rafael
Ferraz.
Maria José Gouveia
(Italiano).
Marcos
Brito.
Mário Bentes.
Oscar
Nestarez.
Paola
Siviero.
Paulo Vinicius
(Ficções Humanas).
Priscilla
Lhacer.
Raphael
Fernandes.
Renata de
Assis.
Ricardo
França.
Rosana Rios.
Sabine
Mendes Moura.
Sarah Helena.
Thiago Lee.
[1]. À noitinha, em nosso quarto na
pousada de Paraty, depois de várias tentativas infrutíferas, logrei deletar as
cópias das notas. No entanto, o bug
da geração espontânea de notas continua lá.
Só que agora, com três comandos rápidos, consigo deletar todas elas em questão
de segundos.
[2]. Meu conto “Coleira do Amor”
foi republicado nessa antologia.
[3]. À noite, de volta à pousada,
adquiri os e-books do Lobo de Rua e
d’O Auto da Maga Josefa. Aos quais atribuí prioridade de leitura
triplo zero.
[4]. Publicado na antologia Trasgo: Ficção Científica e Fantasia
(Trasgo, 2017).
[5]. Já li o conto que empresta seu
título à coletânea hoje à tardinha. Gostei
muito. Cláudia conseguiu fazer mais com
menos.
[6]. Termo que me
remeteu de imediato às delações da Lava-Jato.
Mas, deixemos essas questões jurídico-políticas de lado, pois nosso
negócio é literatura fantástica.
[7]. Fiz questão de mencionar que O Auto da Maga Josefa foi o grande
vencedor na categoria Melhor Romance do prêmio André Leblanc deste ano. O Leblanc é a outra grande premiação da
literatura fantástica brasileira.
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