1ª odisseia fantástica
de porto Alegre
2012
201204290742P1 — 18.923 D.V.
“O fator que
mais me motivou a me tornar escritora foi a preguiça.” [Simone Saueressig]
“O mais
importante para escrever bem é ter prazer em escrever. Porque, se você não gostar do que está
criando, como esperar que o leitor goste?” [Giulia Moon]
“Revise
sempre seu texto, revise muito” [Georgette Silen]
Regressei hoje de um sábado memorável vivido na cidade de Porto Alegre,
pela qual já havia passado diversas rumo a Bento Gonçalves ou à Serra Gaúcha,
mas onde nunca havia permanecido mais do que o tempo necessário para embarcar
num ônibus, van ou avião.
Desta vez foi diferente. O
motivo foi a Primeira Odisseia de Literatura Fantástica, organizada por Cesar
Alcázar, Christopher Kastensmidt e Duda Falcão.
O evento se desenrolou no Memorial do Rio Grande do Sul, um belo prédio
histórico situado no centro de Porto Alegre.
* *
*
Deixei o Rio no voo 1452 da Gol que decolou pontualmente às 09:52h do
Aeroporto Internacional Galeão Tom Jobim com míseros 28 minutos de atraso. Aproveitei o tempo no aeroporto e durante o
voo para revisar alguns contos da antologia Erótica
Fantástica 1, que estou organizando para a editora Draco. Trabalho produtivo: para o livro ficar pronto
só falta escrever o prefácio. Assim que
o fizer, atacarei sua irmã gêmea, a Erótica
Fantástica 2.
Felizmente, o voo não sofreu maiores atrasos, pois minha participação
como mediador de uma mesa-redonda se daria às 13:00h. De todo modo, julguei prudente ir direto para
o Memorial sem passar no Hotel Lido para efetuar o check-in.
Saí pelo portão de desembarque do Aeroporto Internacional Salgado
Filho, em Porto Alegre às 11:50h. Quinze
minutos mais tarde, descia do táxi na Sete de Setembro, a um quarteirão do Memorial,
com a recomendação de uma churrascaria tipicamente gaúcha, a Galpão Crioulo.
Já à entrada do Memorial, travei conhecimento com Cesar Alcázar, um dos
organizadores do evento. Cesar me
conduziu à área de vendas de livros, bem mais extensa que a da Fantasticon. Ali, no estande dos livros independentes,
descarreguei cinco exemplares da Como Era
Gostosa a Minha Alienígena! (Ano-Luz, 2002), antologia de contos eróticos
fantásticos que organizei há uma década e que hoje serve de benchmarking para as Eróticas Fantásticas.
Encontrei minha amiga Ana Cristina Rodrigues no estande em frente, que
a Editorial Llyr dividia com a Ornitorrinco, editora que lançou a 2013: Ano Um, antologia de contos
pós-apocalípticos organizada por Alicia Azevedo e Daniel Borba, que abre com
meu “Terra Brasilis”, minha humilde resposta aos romances Choice of Gods, de Clifford D. Simak, e Darwinia, de Robert Charles Wilson.
Como a 2013: Ano Um já estava
à venda no estande, aproveitei e dei uma folheada no livro: está bonito e bem
acabado. Aproveitei o ensejo e comprei,
da mesma editora, a antologia Bestiário,
organizado pela Ana Cristina e pela Ana Lúcia Merege. Conheci também o Henrique de Lima, publisher da Ornitorrinco.
Nessa área de vendas também encontrei os editores Samir Machado de
Machado e Douglas Quintas Reis, além dos autores Rober Pinheiro, Mustafá Ali
Kanso, Roberto Sousa Causo e Douglas MCT.
Revi minha amiga Simone Saueressig, que já não via desde sua visita ao
Rio oito ou dez anos atrás. Apresentei
Simone ao Erick Sama, que apareceu com seu new
look careca de futuro papai, e travei contato com o autor Felipe Castilho,
que ainda não conhecia pessoalmente. Felipe
constará da Erótica Fantástica 1 com o divertido “Conto Pseudo-Erótico de
Fantasia com Fantasias” onde o narrador é um motel que assiste uma cópula
fatídica de uma gostosa com um batedor alienígena; ecos do “Saving the World at
the New Moon Motel”, da Roberta Lannes, só que mais hilário.
Estevão Ribeiro, GL-R e Simone Saueressig.
Outros sujeitos simpáticos que adorei conhecer foram Daniel Borba e
Roberto Belli, ambos bastantes ativos nos Facebooks e listas de discussão da
vida, mas que ainda não havia visto nas convenções presenciais. A outra coantologista da 2013: Ano Um, Alícia Azevedo, eu já conhecera na Fantasticon
passada, mas o Daniel foi agora na Odisseia.
Roberto Belli, GL-R e Daniel Borba.
Daniel Borba, Suzy Hekamiah e Amanda Reznor.
Mais tarde também conheceria Daniel Dutra e Estevan Lutz, outros dois
autores que participam da Erótica
Fantástica 1 com trabalhos interessantíssimos. Daniel submeteu quatro trabalhos ambientados
no mesmo universo ficcional, todos dignos de ingressar na antologia. Acabei optando por “A Mulher Imperfeita”,
noveleta que discute discriminação contra minorias sexuais e o impacto social
da adoção da prática de sexo com robôs.
Já “A Cópula dos Devoradores de Mundos” do Estevan trata do acasalamento
e da reprodução de entidades autoconscientes de dimensões cósmicas que
habitariam o espaço interestelar. Tive
oportunidade de conversar bastante com os dois autores. Daniel contou que começou a escrever ficção
há relativamente pouco tempo. Pelo pouco
que li dele, foi um começo com o pé direito.
Estevan Lutz confessou preferir FC hard clássica de Asimov e Clarke nos
tempos áureos desses autores. Falou de
sua ideia de um romance de história alternativa e eu lhe contei sobre o filme de
história alternativa Nação do Medo,
baseado no romance Pátria Amada, do
Robert Harris. No original, romance e
filme são homônimos, sob o título Fatherland. Aproveitei o ensejo da presença do autor para
adquirir um exemplar autografado de O Voo
de Icarus (Novo Século, 2010), de Estevan Lutz.
GL-R e Estevan Lutz.
Também conheci pessoalmente o sócio do CLFC Leo Carrion, que atuava como
gerente do estande de livros independentes. Leo me contou os detalhes da aquisição da vasta
biblioteca da família de um sócio fundador do CLFC paulistano. A manobra incluiu o aluguel de um caminhão de mudança
para trazer os 40.000 itens do acervo desde São Paulo até Porto Alegre. Segundo ele, uma pechincha.
Pouco antes de nossa mesa-redonda, Estevão Ribeiro me autorizou a divulgar
seu projeto de reinterpretação quadrinizada do romance Da Terra à Lua, de Jules Verne, em que ele pretende misturar
elementos do filme clássico de George Méliès e de Os Primeiros Homens na Lua, do H.G. Wells. Estevão me convidou para prefaciar o livro,
que sairá por uma editora do Grupo Ediouro (Agir ou Nova Fronteira).
Da Terra à Lua, de Estevão Ribeiro & Jules Verne.
Esta Primeira Odisseia de Literatura Fantástica decorreu em dois dias:
anteontem e ontem. A programação abriu
às 19:00h de sexta-feira com a palestra “Simões Lopes e o Fantástico em Lendas
do Sul”, de Cesar Augusto Barcellos Guazzelli, que não tive oportunidade de
assistir. Após essa palestra houve um
jantar de gala com cerca de quarenta presentes.
A abertura oficial do evento deu-se no sábado às 10:30h com a
participação dos três organizadores, Alcázar, Kastensmidt e Falcão. Em seguida, às 11:00h, houve uma
mesa-redonda, “Fantastchê! Escritores
Gaúchos de Fantasia”.
Às 13:00h deu-se a atividade seguinte, a mesa-redonda que moderei: “Literatura
Fantástica Além dos Livros”. Originalmente,
a mesa seria composta por Estevão Ribeiro, Max Mallmann e pelo cineasta Pedro
Zimmermann. No entanto, Max nos
desfalcou ao receber o convite para participar de uma feira do livro em Bogotá
com despesas pagas. Daí, os
organizadores convidaram o escritor e especialista em RPG, Bruno
Schlatter. Embora tal convite tenha
chegado meio de última hora, Bruno pegou o touro pelos chifres, discorrendo com
propriedade sobre os RPG com argumentos fantásticos, com direito a um apanhado
histórico resumido sobre o desenvolvimento desse tipo de jogo. Após as apresentações iniciais efetuadas pelo
Christopher, tomei a palavra para discorrer brevemente sobre a presença
prevalente da literatura em outras mídias, como fontes de inspiração nos
roteiros de filmes, jogos e novelas. Em
seguida, passei a palavra a Estevão, que discorreu sobre a inserção dos
super-heróis nas HQ e da evolução nas explicações científicas fantásticas para
seus superpoderes ao longo do século XX.
Pedro Zimmermann falou sobre o cinema fantástico brasileiro com ênfase
na ficção científica, subgênero cinematográfico do qual ele é um dos poucos
cultores no Brasil. Em seguida debatemos
a presença, normalmente incidental, da ficção científica nas novelas da Globo,
citando como exemplos O Clone e Morde e Assopra (cujo título provisório
chegou a ser Robôs e Dinossauros). Observei que, de maneira geral, os elementos
de FC aparecem inseridos nas novelas globais como uma espécie de balão de
ensaio. À menor suspeita de rejeição dos
telespectadores, os elementos são atenuados ou até mesmo varridos para fora do
enredo. Comentou-se também a ousadia
temática do ciclo de novelas da Record iniciado com Os Mutantes. Daí, abrimos
para as produções dessa emissora calcadas em épicos do Antigo Testamento. Enfim, roubando dois minutinhos do tempo que
pretendia dedicar às perguntas e comentários da plateia, falei um pouco sobre a
experiência de criar o universo ficcional de um projeto multimídia como o
Taikodom da Hoplon Infotainment e dos tipos de compromissos que é necessário
estabelecer quando o consumidor final se torna personagem do enredo. Quando passamos a palavra à plateia, Ana
Carolina Silveira comentou sobre as temáticas bíblicas da dramaturgia da
Record, afirmando tratar-se mais de épico do que religião. Faz sentido, porque, no fundo, muito do Antigo
Testamento constitui mitologia hebraica, semelhante às mitologias nórdica,
greco-romana e hindu em sua capacidade de atuar como gerador perpétuo de tramas
épicas.
Momento de Epifania: "São Verne, iluminai nossas palavras!"
Mesa-Redonda: Literatura Fantástica Além dos Livros.
GL-R, Estevão Ribeiro, Bruno Schllatter e Pedro Zimmermann.
Mesa em Ação I: Prolegômenos.
Mesa em Ação II: FC nas telenovelas.
Encerrada nossa mesa-redonda, eu e Estevão nos dirigimos à nossa mesa
de autógrafos, onde contamos com a companhia agradável da escritora Gislene
Vieira de Lima. Os pontos brilhantes
dessa sessão foram os bate-papos com Pedro Zimmermann e com o Christopher sobre
minha participação no Projeto Taikodom, bem como poder ouvir em primeira mão do
Estevão, o detalhamento do Da Terra à Lua. O lado chato foi que perdemos o painel das
14:00h sobre o mercado editorial da literatura fantástica no Brasil, com a
participação dos publishers Guilherme
Dei Svaldi, Cesar Alcázar, Erick Sama, Samir Machado de Machado e Douglas
Quintas Reis. Aliás, esse é o mais
problema dessas convenções: às vezes há duas atividades legais rolando em
simultâneo e o fã se vê obrigado a escolher uma em detrimento da outra. Durante nossa permanência à mesa de
autógrafos, várias pessoas sorridentes — não sabemos se curiosos ou fãs —
passaram em frente e tiraram nossas fotos, sem falar conosco. Direto da seção, “em breve num Facebook perto
de você...”
Mesa de Autógrafos: Gislene Vieira de Lima, GL-R e Estevão Ribeiro.
Sentei para assistir a mesa-redonda “Crítica Literária e o Fantástico”,
mas daí lembrei que ainda não havia feito o check-in no Lido e, o pior, nem
sequer tinha certeza de que sabia chegar lá.
Felizmente, Ana Cris se dispôs a ir até lá comigo, uma vez que estávamos
hospedados no mesmo hotel e ela precisava deixar algum material e buscar outro
em seu quarto.
Realmente, o Lido é bem próximo do Memorial. O Google Maps afirma que se trata de uma
caminhada de cerca de 350 metros. Porém,
mesmo sob chuva fina (ambos estávamos sem guarda-chuvas), não pareceram mais do
que duzentos metros. O quarto 901 era
amplo, limpo, com uma boa cama, uma televisão de tela grande que não liguei e
um frigobar à disposição do hóspede que nem sequer tive tempo de examinar. Com diária inferior a cem reais, já foi eleito
como favorito para as próximas Odisseias Literárias.
De volta ao Memorial do Rio Grande do Sul, sentei para assistir o
painel “Brasil Fantástico”, moderado por Roberto de Sousa Causo, com a
participação de Simone Saueressig, Ana Lúcia Merege e Rober Pinheiro. Antes de abrir a palavra para os outros
fantasistas, Causo apresentou um apanhado histórico sobre os enredos de
fantasia na literatura brasileira. Em
seguida passou a palavra a Simone, que discorreu sobre sua carreira e sua
motivação para escrever fantasia. Então,
Ana Cristina falou sobre os tipos de fantasia que ela costuma escrever e,
enfim, Rober delineou seu principal universo ficcional, definitivo por ele
próprio como uma fusão de elementos de folclore e fantasia brasileiros e
estrangeiros, estabelecendo um amálgama consistente. Embora fantasia não seja a minha praia, estou
curioso para conhecer esse universo ficcional.
Painel "Brasil Fantástico": Roberto Sousa Causo (mediador),
Ana Lúcia Merege, Rober Pinheiro e Simone Saueressig.
Brasil Fantástico - Rober e Simone pensativa.
Antes da mesa-redonda das 17:00h saí para trocar uma ideia rápida com o
Silvio Alexandre. Não encontrei meu
amigo, incidi em bate-papos interessantes com Daniel Dutra, Estevan Lutz e
Roberto Belli, e, em consequência, acabei perdendo uns dois terços da
atividade, um dos temas mais instigantes e recorrentes dos nossos congressos
literários fantásticos, “Quero Escrever Meu Livro, Quero Escrever Meu Conto”,
moderado pela Giulia Moon, com a participação dos autores Rosana Rios, Douglas
MCT, Chico Medina e Eddie Van Feu. Como
costuma acontecer nesse tipo de mesa ou debate, as dicas motivacionais dos
autores mais experientes aos mais jovens não se limitou à parte formal de suas
falas, estendendo-se também à sessão de perguntas & respostas do fim da
mesa. Neste sentido, a frase mais
emblemática e lapidar da Odisseia foi proferida pela Giulia Moon: “para
escrever bem é preciso ter prazer com o que se está escrevendo. Porque, se o autor não estiver gostando do
que escreve, como esperar que o leitor goste?”
A mesa-redonda das 18:00h, a última da Odisseia, constituiu uma espécie
de gêmea siamesa da anterior. Sob o
título de “Quero Publicar Meu Livro, Quero Publicar Meu Conto”, versou
essencialmente sobre submissão de originais de ficção fantástica a editores e
antologistas. A mesa contou com a
participação da antologista Georgette Silen, o publisher Marcelo D. Amado, o promotor de evento e parecerista
Silvio Alexandre. A mediação foi
exercida com mão de ferro por Ana Cristina Rodrigues. A participação do Silvio foi importante
também porque ele já foi organizador de várias coleções de ficção científica
publicadas no Brasil. Amado, por sua
vez, é dublê de antologista e publisher
na Estronho. Já Georgette atua mais ou
menos como eu: autora e antologista, especialista, portanto, na análise e
seleção de textos de ficção curta, ao passo que Sílvio e Ana Cris estão mais
acostumados a analisar e selecionar romances de literatura fantástica. No entanto, os conselhos desses
selecionadores aos jovens autores foram essencialmente semelhantes, não
importando se falavam de ficção curta ou romances. Todos os quatro dedilharam as mesmas teclas:
revise sempre e revise muito; mantenha um mínimo aceitável de apuro
ortográfico; observe as recomendações constantes das guidelines (antologias) e as políticas editoriais (submissão de
romances); não julgue que se tornará a próxima J.K. Rowling ou André Vianco,
pois fenômenos editoriais como esses constituem a exceção da exceção; não se
preocupem em lucubrar a narrativa mais original do mundo: é de todo provável
que a roda só tenha sido inventada uma vez, mas ela vem sendo aperfeiçoada até
hoje. A título de brincadeira, a mesa
sugeriu que o autor inexperiente evite tentar subornar o editor ou antologista
com bombons, chocolates e outros que tais.
Os chocolates serão apreciados, mas os trabalhos serão rejeitados. Mais sérios, pontificaram: não tentem impressionar
o editor/antologista: ele(a) provavelmente tem muito mais experiência de
leitura que você e, a menos que você seja um autêntico gênio literário,
daqueles que só surgem século sim, século não, você só logrará deixá-lo(a) mal
impressionado. Após ter sido
identificado na plateia pela mediadora, comentei brevemente sobre o esforço
para organizar antologias sob regime de submissões abertas. Falou-se muito da necessidade de um bom
começo, o primeiro capítulo do romance seria fundamental para o leitor decidir
se prossegue ou não na leitura. Daí, nos
dez minutinhos dedicados a perguntas e comentários, sugeri o recurso surrado,
mas sempre efetivo, do prólogo, quando a autor iniciante não dispõe de um
primeiro capítulo matador.
Mesa-Redonda: "Quero Publicar Meu Livro/Meu Conto" -
M.D. Amado, Ana Cristina Rodrigues (mediadora), Georgette Silen e Silvio Alexandre.
Erick Sama, Organizadores e participantes da última mesa-redonda.
Daniel Borba com Comissão Organizadora: Christopher Kastensmidt, Cesar Alcázar e Duda Falcão.
Christopher Kastensmidt e GL-R.
Ao fim dessa última mesa-redonda, tive oportunidade de conversar melhor
com Roberto Belli, que havia conhecido horas antes. Belli tendo sido um dos principais apoiadores
de Clinton Davisson na proposta de ressuscitar o Prêmio Argos e, como já havia
feito anteriormente com o presidente do Clube de Leitores de Ficção Científica,
parabenizei o Belli pela iniciativa corajosa.
Falei um pouco sobre a experiência dos velhas-guardas na organização do
Prêmio Nova e, mais tarde, do Argos em sua primeira encarnação. Roberto Belli me presenteou com um exemplar autografado
de sua coletânea, Farol do Espaço
Profundo (Nova Letra, 2012).
Também aproveitei o ensejo para conversar com
Georgette Silen, que também não conhecia pessoalmente. Naturalmente, nosso bate-papo animado girou
em torno de antologias em geral e ficção erótica fantástica em particular. Falei da experiência pretérita com a Como Era Gostosa a Minha Alienígena! e
da atual com as Eróticas Fantásticas,
nas quais, enfim, logrei obter ficções homoafetivas de qualidade. Georgette Silen fará parte da Erótica Fantástica 2, com o conto
“Negócios são Negócios”.
Ao fim da Odisseia Fantástica, saímos para jantar na churrascaria
Galpão Crioulo, aquela mesma que o motorista de táxi havia recomendado quando
me trouxe do aeroporto ao Memorial. O
casal Christopher e Fernanda Kastensmidt me deu carona até a churrascaria,
situada dentro de um parque municipal.
Fernanda é doutora professora universitária na área de informática. O jantar encerrou com chave de ouro esse
sábado fantástico em Porto Alegre.
Buffet de saladas e frios pra lá de generoso; carnes bem temperadas e
saborosas; tintos da vinícola Boscato; show de danças típicas: não precisava
mais nada para que votássemos a favor de realizar todas as próximas cinquenta e
sete convenções brasileiras de literatura fantástica naquela cidade.
Após 24 horas redondas de jejum, travando o bom combate
contra cortes de carnes nobres, escoltado pelo bom e leal Boscato.
Nosso grupo possuía trinta e poucas pessoas, divididas numa mesa de
vinte e poucas e outra com umas sete ou oito.
Sentei em frente ao Erick Sama e guardei dois lugares à minha direita
para Ana Cris & Estevão. À minha
esquerda sentou-se o autor gaúcho Andre Zanki Cordenonsi, que eu ainda não
conhecia pessoalmente. Andre é meu
companheiro na antologia 2013: Ano Um
com um conto pós-apocalíptico enxuto, “A Rapineira”. Feijão com arroz, bem temperado.
Como eu e Erick precisávamos relaxar e comemorar, não necessariamente
nesta ordem, abrimos os serviços enoetílicos com um Boscato Cabernet
Sauvignon. Acho que foi a primeira
experiência de meu amigo com a Boscato e posso afirmar que se tratou de uma experiência
extremamente bem sucedida! O cabernet
combinou muito bem com a carne vermelha do churrasco. Sentada à direita do Erick, a autora Amanda
Reznor se aliou a nós a partir da segunda garrafa, um Pinot Noir, novo
lançamento da Boscato — rótulo que o próprio gerente do estabelecimento julgou
não dispor, embora constasse da carta de vinho.
No fim, a Pinot apareceu e a considerei mais estruturada e mais gostosa
do que a Cabernet simples. Erick ficou
em dúvida. Para dirimir a questão, uma
terceira garrafa, outra Boscato Pinot Noir.
Havíamos pedido uma de cabernet, mas como o garçom que fazia as vezes de
sommelier trouxe o rótulo errado, deixamos por isto mesmo. Contrariando os conselhos de Ana Cris,
preocupada com o teor alcoólico elevado do comportamento do Erick, partimos
para a quarta garrafa, essa sim, outra Boscato Cabernet Sauvignon.
Nossa Mesa no Galpão Crioulo.
Ana Cris, GL-R, Andre Cordenonsi, Amanda Reznor e Erick Sama,
ao fundo, o show de danças folclóricas.
Após o 4º Boscato: Erick equilibrado por um fio ou, no caso, pelo dedo da Simone.
Amanda Reznor e Simone Saueressig.
Amanda nos brindou com o relato bizarro de um paciente atendido num
hospital público mato-grossense por sua mãe, que é médica. O rapaz teria chegado entalado com uma
abobrinha de dimensões avantajadas no reto.
Após várias tentativas frustradas de remover o invasor oblongo, primeiro
com pinças e mais tarde com fórceps, a mãe da Amanda vestiu luvas lubrificadas
e se obrigou a remover o objeto a unha.
Literalmente. Dos cinco
dedos. Impressionados com a narrativa,
incentivamos a jovem autora a transformar a experiência hospitalar de sua mãe
em narrativa ficcional. Sugeri que, se
ela colocasse o médico como um doutor alienígena atendendo num hospital
poliespecífico, espantado com as idiossincrasias da conduta sexual humana,
poderia submeter o conto resultante para a Erótica
Fantástica 3. Entusiasmada, Amanda
sacou um guardanapo, pediu uma caneta emprestado e começou a rascunhar uma
sinopse ali mesmo.
Além dos cortes de carne sensacionais e da profusão de Boscatos em sua
carta de vinhos, o Galpão Crioulo proporciona a seus clientes um show de danças
folclóricas gaúchas, com direito a cruzamento de facas e boleadeiras. O boleador deu um show a parte, convidando
ao palco Rober Pinheiro e a editora Simone Mateus. Devidamente vendados, nossos heróis foram submetidos
ao estranho poder da boleadeira.
Primeiro, Simone teve seus longos cabelos louros “escovados” pelo vento produzido pelas
bolas que giravam em alta velocidade a milímetros de seu crânio. Em seguida, foi a vez do Rober, que teve um
cigarro primeiro apagado e então arrancado de seus lábios pelas bolas da
morte. Então, num grand finale, o boleador arrancou uma guimba de cigarro minúscula
de sua boca. Nem é preciso dizer que
aplaudimos de pé, não o boleador, mas o Rober, que arriscou a vida pela nossa
diversão.
El Boleador!
Simone Mateus atemorizada em "O Desafio Mortal".
A Grande Hora de Rober Pinheiro.
Ana Cris & Estevão com os Artistas.
Enfim, como tudo que é bom se acaba, por volta da meia-noite fechamos
nossas contas e nos despedimos. Acabou
que eu, Estevão e Ana Cris rachamos um táxi até o Lido. De volta a meu quarto, consideravelmente
bêbado mas insone, fiquei até uma da matina namorando a 2013: Ano Um. Li o prefácio
do Cesar R.T. Silva e o posfácio dos organizadores, arrematando com a leitura
preocupada de meu próprio conto à caça de erros. Cisma de autor paranoico...
De manhã, deu tempo para tomar uma ducha, mas o café da manhã ficou
para a próxima Odisseia, pois meu voo partia cedo para o Rio e aproveitei o
tempo livre, primeiro no Salgado Filho e depois no voo 1453 da Gol para começar
a escrever esta crônica.
Tomara que esta Odisseia Fantástica seja a primeira de muitas!
Jardim Botânico, Rio de Janeiro, 29 de abril de 2012 (domingo).
Participantes:
Alicia Azevedo
Amanda Reznor
Ana Carolina Silveira
Ana Cristina Rodrigues
Ana Lucia Merege
Andre Zanki Cordenonsi
Bruno Schlatter
Cesar Alcázar
Christopher Kastensmidt
Daniel Borba
Daniel Dutra
Douglas MCT
Douglas Quintas Reis
Duda Falcão
Erick Sama
Estevan Lutz
Estevão Ribeiro
Felipe Castilho
Fernanda Lima Kastensmidt
Georgette Silen
Gislene Vieira de Lima
Giulia Moon
Hanny Saraiva
Henrique de Lima
Leo Carrion
M.D. Amado
Marcelo Paschoalin
Mariana Albuquerque
Mustafá Ali Kanso
Pedro Zimmermann
Rober Pinheiro
Roberto Belli
Roberto de Sousa Causo
Samir Machado de Machado
Sheila Liz
Sílvio Alexandre
Simone Mateus
Simone O. Marques
Simone Saueressig
Suzy M. Hekamiah
Excelente a crônica, Gerson. Como sempre. Foi muito bom conhecê-lo pessoalmente. Grande abraço!
ResponderExcluirSalve, Daniel! Também foi um prazer conhecê-lo. A 2013: ANO UM ficou show!
ExcluirBaita texto, Gerson! Foi uma honra ter te conhecido e compartilhar um churrasco contigo! Abraços
ResponderExcluirValeu, Andre! Muito bom ter conhecido você pessoalmente!
ExcluirGrande Gerson! Maravilhosa a sua crônica da Odisseia. Muito obrigado pela presença, foi um prazer conhecê-lo pessoalmente. Abração!
ResponderExcluirO prazer foi meu, Cesar.
ExcluirAliás, deixo registrado que o Cesar foi a primeira pessoa que encontrei na Odisseia, convencendo-me de que eu estava no lugar certo e não numa convenção alienígena que nada tinha a ver com literatura fantástica... ;-D
Só quero deixar registrado que o episódio da boleadeira foi covardemente arquitetado contra minha pessoa e, ah... enfim, não vai adiantar explicar mesmo, não é?
ResponderExcluirBtw, excelente crônica, moço.
Abraço
Obrigado, Rober (o grande herói da noitada)! A propósito, a filmagem (quase 8 minutos) ficou ótima! Obviamente não postarei (danem-se vocês que não assistiram ao vivo!), mas, se quiser, te mando o DVD.
ExcluirQuanto ao "covardemente arquitetado", vale o comentário: "... e quem precisa de inimigos?" ;-)))
Parafraseando Vinícius: "Se todos fossem no fandom iguais a vc..." rs
ExcluirE claro que quero o vídeo [mesmo sabendo que mais cedo ou mais tarde ele vai parar na rede].
Abraço
Gerson, sua crônica teve o poder de me transportar ao evento, característica de um bom texto redigido. Bons textos guardam essa força de nos levar a lugares que nós não fomos. Parabéns! Gostaria muito de ter participado da Odisseia, principalmente para conhecer o(s) autore(a)s que eu admiro, como você, o Estevão Ribeiro, a Giulia Moon, entre outro(a)s. Fica para uma próxima oportunidade. Um abraço!
ResponderExcluirAngelo, conversei com os organizadores e eles pretendem transformar a Odisseia Literária num evento anual.
ResponderExcluirDe qualquer forma, não perca a próxima oportunidade, pois são esses eventos que possibilitam que a gente interaja ao vivo, para depois voltar a interagir virtualmente de outra perspectiva, com outros olhos.
Realemnte o evento estava muito legal.
ResponderExcluirAguardarei ansioso pela próxima edição!
Olá Gerson!
ResponderExcluirExcelente relato sobre o evento, muito bom mesmo. Pena que não pudemos conversar mais, gostei muito da nossa prosa. Uma outra oportunidade, quem sabe =)
Abraços