FANTASTICON 2012
(primeira semana)
“Na
literatura fantástica brasileira, às vezes parece que há mais autores do que
leitores.” [Marcia Olivieri]
DIA 1
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Começou hoje a maratona de dois fins de semana seguidos que constituirá
a épica Fantasticon 2012, VI Simpósio de Literatura Fantástica, realizado na
Biblioteca Viriato Correa, Vila Mariana, São Paulo, capital. Este formato de dois fins de semana em vez de
um é novidade. Torço para que funcione a
contento. Imagino que seja melhor para o
público paulistano. Quanto ao pessoal
que vem de fora, com poucas exceções, deverá se concentrar num ou noutro fim de
semana.
* *
*
Cartaz do Simpósio.
Deixei a Cidade Maravilhosa pela rodoviária Novo Rio no ônibus da
Expresso do Sul que partiu às 06:30h e, mesmo com a tradicional meia hora de
parada, conseguiu chegar ao Terminal Rodoviário do Tietê ao meio-dia cravado,
desempenho mais do que satisfatório que me fez reavaliar minha opção padrão de
sempre optar pela Viação 1001, cujas viagens vêm durando, em média, uma hora a
mais do que a de hoje.
Durante essa viagem de ida, revisei o original de um romance ambientado
no universo ficcional de Ahapooka. Encerrada
a revisão do original, retornei à leitura da Space-Opera II (Draco 2012) que, como a antologia anterior, foi
organizada por Hugo Vera e Larissa Caruso.
Até agora os textos de que mais gostei foram “Obliterati” do Fábio
Fernandes e “Inferno de Dantè” do Marcelo Galvão, cuja leitura concluí à
chegada no Terminal Tietê.
Segui de táxi da rodoviária até o Mercure Paraíso, para fazer check-in e deixar a mochila. Não foi uma decisão das mais inteligentes,
pois acabei vítima de mais um dos engarrafamentos de sábado em Sampa e levei
mais de quarenta minutos, do terminal ao hotel.
Enfim no quarto 14, cumpridos os rituais dos bedroom acceptance tests, tomei o metrô na estação Paraíso, bem
próxima ao hotel e saltei na estação de Vila Mariana, a cinco minutos a pé da
biblioteca municipal.
Cheguei à Viriato Correa por volta das 13:20h. Infelizmente, não a tempo de dar uma
conferida na oficina “Como Fugir de Arquétipos de Bom & Mau em sua
História”, ministrada por Gianpaolo Celli, com o qual tive oportunidade de
papear mais tarde, no intervalo entre uma mesa-redonda e outra.
O stand de vendas de livros — agora sob controle da Devir e não mais da
Moonshadows — estava praticamente vazio, a não ser pela presença de Marcello
Simão Branco e Roberto de Sousa Causo, velhos amigos de outras convenções, várias
das quais anteriores ao advento das Fantasticons. Aproveitei o ensejo e adquiri os romances O Alienado (Draco, 2012), de Cirilo S.
Lemos, Mortal Engines (Novo Século,
2011) de Philip Reeve, e a antologia Imaginários
5 (Draco, 2012), organizada por Erick Sama.
Constatei que a antologia Erótica
Fantástica 1 (Draco, 2012) já se encontrava à venda na banca de
lançamentos. Nas prateleiras, outros
frutos da minha lavra, A Guardiã da
Memória, finalista do Argos 2012 na categoria melhor romance; a história
alternativa Xochiquetzal: uma Princesa
Asteca entre os Incas; a coletânea Taikodom:
Crônicas e outras duas antologias que organizei para a Draco no âmbito do
projeto da triantologia punk, Vaporpunk
(2010) e Dieselpunk (2011).
Erótica Fantástica 1.
Missão aquisitiva concluída com êxito (bem ao contrário do malogro da
Fantasticon 2011...), entrei no auditório a tempo de assistir o fim do bate-papo
“Editoras sem Papas na Língua”, com Gabriela Nascimento (Gutenberg), Fabiana
Andrade (Underworld) e Júlia Schwarcz (Companhia das Letras). Pelo pouco que vi, tratou-se de mais do mesmo
em relação aos bate-papos e mesas-redondas dos anos anteriores entre editores
engajados com literatura fantástica nacional e/ou publicação de títulos
estrangeiros do gênero no país.
Saindo do auditório, conversei com Gumercindo Rocha Dorea, editor da
famosa coleção de ficção científica GRD e lenda-viva do fantástico
nacional. Também revi outro velha-guarda
do Clube de Leitores de Ficção Científica, Sergio Lins da Costa,
recém-recuperado de uma cirurgia bem-sucedida.
Gumercindo Rocha Dorea e Marcello Simão Branco.
No intervalo, conheci Gustavo Vícola, autor do conto “Roda-Viva”, que eu e Luiz Felipe Vasques selecionamos para integrar a antologia Super-Heróis, a ser lançada em breve pela Draco.
Às 14:30h começou o bate-papo “Alta Literatura vs. Literatura de
Entretenimento”, com a participação do crítico Manuel da Costa Pinto e dos
autores Luiz Brás e Andréa del Fogo.
Para quem não sabe, Luiz Brás é o pseudônimo adotado por Nelson de
Oliveira para escrever literatura fantástica.
A troca de ideias entre os três transmitiu à plateia a conclusão, um
tanto óbvia, de que existem bons e maus textos na literatura dita séria; e bons
e maus textos na literatura de entretenimento.
Outra conclusão óbvia, mas menos óbvia que a anterior, foi a de que o
leitor perspicaz pode extrair prazer de textos literários que não foram escritos
com o propósito precípuo de entreter.
No intervalo seguinte, travei contato com Kyanja Lee, revisora de
textos de literatura fantástica cujo trabalho tenho mais ou menos acompanhado
via Facebook.
Às 16:00h começou a mesa-redonda “Multimeios: Mídias Alternativas para
a Literatura Fantástica”, com Ednei Procópio, Douglas MCT, Marcos Inoue e um
quarto participante, cujo nome não ficou registrado. Não consegui perceber a diferença entre
bate-papo e mesa-redonda. No início,
pensei que ao contrário do bate-papo, mais informal, a mesa-redonda teria um
moderador ou mediador. De fato, Procópio
em alguns pontos pareceu atuar como moderador.
Contudo, na mesa-redonda seguinte, não tive certeza de quem era a
moderadora ou de se havia uma moderadora...
No intervalo que se seguiu à mesa-redonda das mídias alternativas,
conheci João Batista Melo, autor da coletânea As Baleias de Saguenay (Rocco, 1995) que já havia lido há muito,
muito tempo. Aproveitei o ensejo para
lhe autografar meus contos na antologia Outras
Copas, Outros Mundos (Ano-Luz, 1998), “Pátrias de Chuteiras” e “Se Cortez
Houvesse Vencido a Peleja de Cozumel”, enquanto César R.T. Silva me explicava
as nuances da decisão de Nelson de Oliveira, que agora só publicará ficção sob
a pena de Luiz Brás. Nesta mesma
ocasião, reencontrei Christopher Kastensmidt, recém-chegado da Chicon 2012,
convenção mundial de ficção científica e gêneros correlatos em Chicago. Também conversei com Eric Novello sobre a
qualidade do ensaio fotográfico erótico de fino trato que o xará dele, Erick
Sama, encartou no fim da Erótica
Fantástica 1.
Cesar R.T. Silva, GL-R, Marcello e João Batista Melo.
Também aproveitei esse intervalo para apreciar os belos painéis do
projeto que Estevão Ribeiro está desenvolvendo junto à Ediouro de uma graphic novel fundindo as visões vitorianas
de viagens à Lua de Jules Verne e H.G. Wells, com pinceladas de Georges
Miéliès.
Exposição "Da Terra à Lua", de Estevão Ribeiro.
A última atividade oficial da tarde foi a mesa-redonda “O Imaginário
Medieval: Origem e Continuidade dos Seres Fantásticos”, com a editora Karin
Thrall e as autoras e editoras Ana Cristina Rodrigues e Simone Marques. Naquela que considerei a melhor atividade
formal da tarde, as três discorreram sobre os bestiários da Antiguidade
Clássica e Celta, bem como da Idade Média, com forte ênfase nos dragões. Também foi a mesa ou papo em que as
participantes melhor interagiram com a plateia.
Simone Marques, Karin Thrall e Ana Cristina Rodrigues:
"O Imaginário Medieval: Origem e Continuidade dos Seres Fantásticos".
"O Imaginário Medieval: Origem e Continuidade dos Seres Fantásticos".
Nesta Fantasticon, no início de cada bate-papo ou mesa-redonda, uma
jovem vestida em trajes steampunks subiu
ao palco para ler uma poesia de André Carneiro, como parte das comemorações
pelo nonagésimo aniversário do decano da ficção científica brasileira. Pouco mais tarde, conversando com o pesquisador
Carlos Alberto Machado, soube que o André ainda está saudável e inteiramente
lúcido e que, em princípio, poderia topar participar de atividades em
convenções em Sampa ou no Rio.
Sílvio Alexandre: Leitura dos poemas de André Carneiro.
Após o fim dos trabalhos, enquanto aguardava que o casal Erick Sama
& Janaína Chervezan me buscassem para jantar, conversei um pouco com
Anderson Santos, Estevão Ribeiro, Ana Cristina Rodrigues, Marcello Simão Branco
e César R.T. Silva.
Uma boa novidade é que Ana Cris retomará o papel de responsável pelo
selo fantástico Llyr da editora Vermelho Marinho, reassumindo a coordenação da
área de literatura fantástica da editora.
Erick e Janaína me buscaram à porta da biblioteca e, após breve
bate-papo com os amigos ali remanescentes e um não tão breve engarrafamento,
felizmente regado a bom papo a bordo do carro do casal, chegamos ao restaurante
onde me haviam prometido uma pizza espetacular.
De fato, a pizza de javali deliciosa superou minhas expectativas otimistas! O Agnus Merlot da Lídio Carraro que
acompanhou a pizza constituiu uma bela surpresa. Com companhias e papos tão agradáveis, pizzas
e vinhos que harmonizaram com perfeição, quando olhei para o relógio já era
quase uma hora da manhã. As conversas
giraram em torno de gravidez e filhos, uma vez que Janaína está no último mês
da gestação de Eduardo; educação e colégios; mercado editorial e, como não
podia deixar de ser, ficção científica e fantástico. Conversamos um bocado sobre e-books e, sob
insistência do casal e os efeitos do álcool, acabei revelando alguns spoilers sobre os romances da saga Canção e Gelo e Fogo, do George R.R.
Martin, com direito a insights sobre
o mistério da verdadeira ascendência de Jon Snow. Uma noite memorável.
Jantar com Erick Sama & Janaína Chervezan.
Mercure Paraíso, São Paulo, 15 de setembro de 2012 (sábado).
DIA 2
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Hoje de manhã, após a quentinha de pizza de ontem à noite por desjejum,
enquanto escrevia esta crônica, consegui conversar com a Cláudia via
Skype. Em seguida, fechei a mochila e
fiz check-out no Mercure.
GL-R, Mushi, Marcelo Amaral, Ana Cris e Sid Castro.
Almoço: pastel, pastel, pastel...
Fui de metrô até Vila Mariana e da estação a pé até a Biblioteca
Viriato Correa. Lá chegando, encontrei
Ana Cristina Rodrigues e Sid Castro no estande de vendas da Devir. Convidei-os para almoçar o tradicionalíssimo
pastel da Fantasticon. Após resolver algumas
pendengas envolvendo o atraso do recebimento dos exemplares do romance
infanto-juvenil que Marcelo Amaral lançou pela Llyr, Ana Cris conseguiu sair
para almoçar o pastel conosco. Além de
eu, Ana e do autor-órfão de livros, acompanharam-nos Marcelo Pereira, o popular
Mushi, e Sid Castro. O estabelecimento
afirma que os pastéis da casa vêm com trinta centímetros de comprimento. Conferimos mais uma vez que não se trata de
propaganda enganosa. Nove em cada dez
participantes de Fantasticons anteriores admitem que as convenções de
literatura fantástica abrigadas na Viriato Correa não seriam as mesmas sem o
fabuloso pastel desse estabelecimento próximo à biblioteca municipal. Depois de quase uma hora de bate-papo e
fofocas do fandom, degustando um pastel de calabresa com catupiry regado por
duas latas de coca zero, eis que chegam os amigos gaúchos, Duda Falcão, Cesar
Alcázar e André Cordenonsi. Como editora
desalmada que é, Ana sussurrou ao meu ouvido:
— Quer ver como se faz um autor gelar?
E, em seguida, comentou casualmente com Duda Falcão:
— Comecei a ler seu livro e parei na página cem... — Malvada, deixou o
comentário pelo meio.
Após alguns segundos de tensão, um Duda nervoso retrucou:
— Sim, tchê, mas, e daí?
Ana Cris permaneceu calada, apenas encarando Duda até que o rapaz
começasse a suar frio. Piedoso que sou, encerrei
a sessão de tortura:
— Tudo bem, Ana. Você ganhou a
aposta.
* *
*
Da pastelaria regressamos à biblioteca.
Antes de começar a cerimônia de entrega de certificados do Concurso Hydra,
num golpe de sorte, logrei descolar a chave para um armário no guarda-volumes,
desovando então minha mochila pesada.
O criador do prêmio, Christopher Kastensmidt, e um dos juízes, Tiago
Castro (a outra juíza, Ana Carolina Silveira, não pôde comparecer) detalharam a
gênese e a mecânica da premiação. Explicaram
que coube aos próprios autores inscrever seus trabalhos de até 10.000 palavras
publicados, profissionalmente ou não, nos dois anos anteriores. O triunvirato (Chris, Ana e Tiago) escolhe os
melhores trabalhos e os direcionam ao autor norte-americano Orson Scott Card
que estabelece a seleção final e, se for o caso, recomenda a publicação na
revista que leva seu nome. Nesta
primeira edição os vencedores foram:
1º lugar — “História com Desenho e Diálogo”, de Brontops Baruq (Portal Fundação, Projeto Portal);
2º lugar — “Por um Fio”, de Flávio Medeiros, Jr. (Steampunk, Tarja Editorial); e
3º lugar — “Eu, a Sogra”, de Giulia Moon (Imaginários 1, Draco).
Tanto o primeiro colocado quanto o segundo tiveram sua publicação
aprovada na revista Orson Scott Card’s
Intergalactic Medicine Show (www.intergalacticmedicineshow.com).
Concurso Hydra: Tiago Castro (juiz); Ana Cristina Rodrigues (por Flávio Medeiros Jr.);
Giulia Moon; Brontops Baruq; Christopher KAstensmidt (juiz).
Ao longo do bate-bola informal entre os dois juízes presentes, Christopher
se confessou surpreso pelo fato de que vários autores brasileiros importantes
publicados em 2009 e 2010 não terem submetido trabalhos ao Hydra. Não sei se me qualifico nessa categoria, mas,
no que me concerne, informo que não submeti meus contos porque o certame é
patrocinado por Scott Card. Reparem, não
tenho nada contra o autor, sujeito afável e simpático que tive o prazer de conhecer
em 1990, por ocasião de sua vinda ao Brasil como convidado de honra da
InteriorCon I. A questão é a pletora de
ideias que ele defende e eu combato, desde o proselitismo religioso até a
discriminação contra os direitos de minorias, sexuais e outras, para não falar
no conservadorismo político extremo.
Seria hipocrisia de minha parte defender determinados ideais e, ao mesmo
tempo, movido por interesses, digamos, ahn, literários, transigir a ponto de me
alinhar com alguém que comunga de ideais tão contrários. Não pretendo tecer juízo de valor sobre a
conduta moral alheia, pois, cada um sabe onde seus calos apertam e, de mais a
mais, é bem possível que essas questões de me incomodam não sejam em absoluto
relevantes para os autores que submeteram seus trabalhos ou, quiçá, eles
ignoram o perfil político do patrocinador, vá lá saber. De todo modo, é possível que outros autores
tenham pensado mais ou menos por essas mesmas linhas, daí, a relativa ausência
de algumas submissões mais ou menos esperadas pelos organizadores. Claro que isto não passa de uma teoria
fosfórica da minha parte...
De volta à cerimônia, Tiago e Chris exibiram o certificado e em seguida
convocaram Giulia Moon ao palco para receber o Hydra por seu divertido e
inspiradíssimo “Eu, a Sogra”. Como
Flávio Medeiros não pôde comparecer, Ana Cristina Rodrigues recebeu o certificado
em seu nome, pela noveleta de ficção alternativa “Por um Fio”, onde o autor
antepõe o gênio de Jules Verne ao de H.G. Wells de uma forma inusitada e
original. Enfim, o vencedor tímido,
Brontops Baruq, foi chamado para receber seu certificado pelo conto “História
com Desenho e Diálogo”, originalmente publicada no Portal Fundação.
Considero o Concurso Hydra uma iniciativa valorosa para divulgar a
literatura fantástica brasileira no exterior.
Daí, apesar das ressalvas expressas acima, torço para que o projeto
frutifique em edições futuras, propiciando a disponibilização de mais e mais
histórias brasileiras de ficção científica, horror e fantasia para o público
internacional.
No intervalo que se seguiu à cerimônia de entrega de certificados do
Hydra, conversei com Marcelo Galvão e agradeci a homenagem bem-humorada de
batizar um planeta com meu nome na noveleta “Inferno de Dantè”. Um mundo reputado em toda a esfera de
influência humana por seus vinhos tintos notáveis...
Também conversei brevemente com Antonio Luiz M.C. da Costa, trajado de
bermudas, e com Marcia Olivieri, algo nervosa por estar prestes a entrar no
auditório para participar da mesa-redonda “Caminhos do Fantástico na Literatura
Brasileira”. Marcia estreou como
romancista com o lançamento de seu juvenil, O
Portal de Capricórnio.
A mesa-redonda supracitada foi moderada por Cláudio Brites. Além de Marcia, participaram os autores André
de Leones e Dynion Golau, ambos com experiência predominantemente mainstream
(inclusive, com premiações) e incursões esporádicas na literatura fantástica. Não sei se o efeito esteve o tempo todo nos
planos de nosso mestre-organizador Sílvio Alexandre, ou se tudo não passou de
uma coincidência feliz, mas o fato é que esta mesa-redonda constituiu um
contraponto interessantíssimo ao bate-papo de ontem à tarde, “Alta Literatura
vs. Literatura de Entretenimento”.
Pessoalmente, apreciei mais a mesa de hoje. Os participantes me passaram a impressão de
estarem mais soltos e mais interessados em transmitir suas experiências e
motivações à plateia. Sei lá. De repente, foi só impressão...J
André de Leones, Marcia Olivieri, Dynion Golau e Cláudio Brites:
"Caminhos do Fantástico na Literatura Brasileira".
"Caminhos do Fantástico na Literatura Brasileira".
No intervalo seguinte, Camila Fernandes, autora do conto “A Melhor
Trepada da Cidade”, que abre a antologia Erótica
Fantástica 1, à semelhança do que já havia ocorrido com outros autores com
quem encontrei nesta primeira semana da Fantasticon 2012 — Ana Cristina
Rodrigues (“A Ilha dos Amores”); Felipe Castilho (o bem-humorado “Conto
Pseudo-Erótico de Fantasia com Fantasias”) e Sid Castro (que fecha o livro com
sua noveleta “Fêmea Humana”) — cobrou-me seu exemplar do dito livro. Mais uma vez, humildemente, expliquei que não
passo de um antologista inocente e que eventuais reclamações, cartas-bomba e
ovos podres devem ser encaminhados ao nosso publisher,
Erick Sama.
Não obstante seu título bombástico (literalmente), a última mesa-redonda
desta primeira semana, “Mulheres & Fantasia: uma Combinação Explosiva” foi
de longe a mais interessante e divertida de todas. Rolou uma química muito positiva entre as
quatro participantes, a fotógrafa Nathalie Gingold e as escritoras Camila Fernandes,
Cristina Lasaitis e Carol Chiovatto. O
quarteto parecia jogar por música, numa sinergia de dar gosto, de repente,
advinda do fato de serem amigas e mais ou menos compartilharem das mesmas opiniões
sobre as falhas na abordagem de personagens femininas na narrativa fantástica. A mesa centrou suas baterias energéticas
contra a clicherização das personagens femininas na literatura e no cinema (mas
não só). Camila reclamou que as
personagens femininas aparecem geralmente mais sexualizadas do que os masculinos. Falou-se um bocado de personagens que eram sem
graça ou até feias nos textos fantásticos, como a Hermione do universo
ficcional Harry Potter, que se
tornaram beldades quando transpostas para as telas. Quando Cristina comentou que o termo adotado
para robôs humanoides é “androide”, independentemente do gênero da inteligência
artificial em questão, lembrei-me das ginoides da noveleta “A Mulher
Imperfeita”, do Daniel Dutra, publicada na Erótica
Fantástica 1.
Cristina Lasaitis, Nathalie Gingold, Camila Fernandes e Carol Chiovatto:
"Mulheres & Fantasia: uma Combinação Explosiva.
Quando a mesa pediu exemplos de robôs ou androides com caracteres
sexuais masculinos que, sem constituírem meros objetos de prazer, estabelecem
vínculos sexoafetivos com parceiras orgânicas, mencionei o mentor artificial da
viajante do tempo no romance Millennium,
do John Varley, mais tarde transformado em filme. Lembro que no romance rolava uma relação
S&M em que o androide assumia o papel dominante. No filme não houve nada disso, talvez para
não impedir o acesso do público infantojuvenil.
Já na fase das perguntas da plateia, meu amigo Silvio Alexandre me
jogou na fogueira ao lembrar que havia um autor presente que escrevera durante
mais de uma década (mentira, foram só nove anos) sob pseudônimo feminino,
conquistando vários prêmios literários e, pior, partindo vários corações. Acuado, aceitei o microfone e narrei minhas
motivações para criar Carla Cristina Pereira, minha personagem mais verossímil,
tão convincente que logrou persuadir boa parte do fandom de sua existência
física durante quase uma década. Ao
longo desse tempo, ela amealhou mais prêmios literários do que eu, dentre
esses, o Simetria 2000 com “Longa Viagem para Casa”, a premiação no concurso
patrocinado pelo site Na Toca do Hobbit com “Estigma da Morte Anunciada” e,
sobretudo, a classificação como finalista do Sidewise Awards 2000 pela versão
em inglês de “Xochiquetzal e a Esquadra da Vingança”. Aos interessados em mais detalhes, escrevi uma
crônica metaliterária breve sobre a lucubração dessa autora, “Os anos em que
fui Carla”, que pode ser baixado no endereço:
http://www.4shared.com/office/lax02Gsf/Os_anos_em_que_fui_Carla.htm
http://www.4shared.com/office/lax02Gsf/Os_anos_em_que_fui_Carla.htm
Encerrada a mesa-redonda, enquanto esperávamos alguns amigos para
jantar num pezinho-sujo simpático das redondezas, conversei com o André
Cordenonsi e o Duda Falcão sobre comédias francesas com temática homoerótica, indo
desde O Closet (2001) até o clássico Meu Marido de Batom (1986). Curiosamente, as duas comédias foram
estreladas por Gérard Depardieu. Ou, não
tão curiosamente assim, considerando que o Obelix protagonizou boa parte dos
filmes franceses de sucesso nas últimas décadas.
Um papo que rolou na caminhada da Viriato Correa até o tal pezinho-sujo,
foi o da perspectiva (agora concreta, visto haver patrocinador) da realização
de uma Fantasticon Rio 2013, a se dar em janeiro próximo em algum lugar do
espaço sideral na Barra da Tijuca.
Espero que aconteça na segunda quinzena de janeiro para que eu possa
participar. O Sílvio Alexandre carioca oficial
será a Ana Cristina Rodrigues. Convenção
de literatura fantástica na Cidade Maravilhosa, em pleno verão, é tudo de bom!
Tivemos nosso já tradicional jantar de encerramento (lembrando que
semana que vem tem mais!) naquele mesmo pé-sujo de sempre. Imagino que os funcionários do
estabelecimento devem estranhar um bocado o assédio anual desse bando de gente
esquisita, que só fala de livros e filmes de que eles nunca ouviram falar, mas
que eleva significativamente a receita do mês de setembro durante o único fim
de semana do ano em que aparece por lá.
Como o forte da casa são os espetinhos de carne, pedi um de costela
suína e o outro de linguiça calabresa, regadas a coca-zero e capivodka de
morango (fraquinha), pois, com Ana Cris ainda combalida, fiquei sem parceiro
para dividir um Santa Helena Cabernet Sauvignon ausente do cardápio, mas
presente numa prateleira próxima.
Pezinho-Sujo simpático - Tomada 1.
O bate-papo do jantar rolou animado, como é hábito nas
confraternizações pós-Fantasticon.
Comparou-se a vida nas cidades grandes em relação às médias e pequenas. Falamos de preferências quanto à pelagem
corporal feminina e masculina, assunto trazido à baila pelo trabalho de
Nathalie com nus naturais (i.e., não retocados) e pelo ensaio fotográfico da Erótica Fantástica 1, que tanto Ana Cris
quanto Cristina Lasaitis consideraram de bom gosto. Encerramos a noitada com outra grande
tradição do nosso meio, a revelação de algumas fofocas escabrosas do fandom
carioca e paulistano, com ênfase especial aos membros ausentes.
Pezinho-Sujo simpático - Tomada 2.
Quitamos a conta baratinha, despedimo-nos dos amigos, saímos do pé-sujo
a pé e caminhamos, eu, Ana, Max e Andrea Alves rumo à estação de metrô de Vila
Mariana. Eu e Ana embarcamos ali em
direção à estação Tietê, enquanto Max acompanhou Andrea até o ponto de ônibus,
pois só regressaria para o Rio amanhã.
Na rodoviária, Ana embarcou num ônibus-leito da Viação 1001 que partiu
às 23:30h com destino a Niterói, ao passo que eu parti às 23:59h num leito da
Expresso do Sul rumo ao Rio de Janeiro.
Semana que vem tem mais.
Terminal Rodoviário Tietê, São Paulo, 16 de setembro de
2012 (domingo).
Postscriptum:
Dotado de propulsão relativística, esse ônibus-leito da Expresso do Sul
estabeleceu um novo recorde, pois chegou à Rodoviária Novo Rio às 05:00h, mesmo
considerando a parada de meia hora no meio da madrugada. Dormi bem a viagem inteira. Bem mal.
Participantes:
Amanda Reznor
Ana Cristina Rodrigues
Anderson Santos
André de Leones
Andre Zanki Cordenonsi
Andrea Alves
Antonio Luiz M.C. Costa
Camila Fernandes
Carlos Alberto Machado
Carol Chiovatto
Cesar Alcázar
Cesar R.T. Silva
Christopher Kastensmidt
Cláudio Brites
Cristina Lasaitis
Douglas MCT
Duda Falcão
Dynion Golau
Ednei Procópio
Eric Novello
Erick Sama
Estevão Ribeiro
Felipe Castilho
Finisia Fideli
Gerson
Lodi-Ribeiro
Giampaollo Celli
Giseli Ramos
Giulia Moon
Gumercindo Rocha Dorea
Janaina Chervezan
José Roberto Vieira (Zero)
João Batista Melo
Kyanja Lee
Luiz Brás
Marcello Simão Branco
Marcelo Amaral
Marcelo Rodrigo Pereira (Mushi)
Márcia Olivieri
Martha Argel
Max Mallmann
Nathalie Gingold
Roberta Nunes
Roberto de Sousa Causo
Sergio Lins da Costa
Sid Castro
Sílvio Alexandre
Simone O. Marques
Tiago Castro
Amanda Reznor
Ana Cristina Rodrigues
Anderson Santos
André de Leones
Andre Zanki Cordenonsi
Andrea Alves
Antonio Luiz M.C. Costa
Camila Fernandes
Carlos Alberto Machado
Carol Chiovatto
Cesar Alcázar
Cesar R.T. Silva
Christopher Kastensmidt
Cláudio Brites
Cristina Lasaitis
Douglas MCT
Duda Falcão
Dynion Golau
Ednei Procópio
Eric Novello
Erick Sama
Estevão Ribeiro
Felipe Castilho
Finisia Fideli
Giampaollo Celli
Giseli Ramos
Giulia Moon
Gumercindo Rocha Dorea
Janaina Chervezan
José Roberto Vieira (Zero)
João Batista Melo
Kyanja Lee
Luiz Brás
Marcello Simão Branco
Marcelo Amaral
Marcelo Rodrigo Pereira (Mushi)
Márcia Olivieri
Martha Argel
Max Mallmann
Nathalie Gingold
Roberta Nunes
Roberto de Sousa Causo
Sergio Lins da Costa
Sid Castro
Sílvio Alexandre
Simone O. Marques
Tiago Castro
Barzinho pé-sujo é tudo de bom, ainda mais quando podemos rever amogos queridos.
ResponderExcluirVou compartilhar sua Crônica, mesmo que eu só tenha acompanhado a mesa "Mulheres & Fantasia: uma Combinação Explosiva.", cujas participantes são mais do que minhas amigas.
Olha minha pequena lá na foto!
Um super beijo.
Valeu, Roberta!
ExcluirSaudades daquele pé-sujo, que já testemunhou cenas e ouviu papos antológicos, e também do pastel. Mas falta ainda o almoço na panquecaria. Estarei lá no fim-de-semana para corrigir isso.
ResponderExcluirMuito obrigado pelas belas palavra sobre o meu trabalho! Esse é o valor que busco na minha vida profissional!
ResponderExcluirE claro, também aprendo demais ao ler textos tão bem trabalhados. Ou seja, é uma troca de ganha-ganha!
Grande abraço e até mais!
Obrigado, Eduardo!
ExcluirSeu trabalho realmente é de alta qualidade.