Aventuras do Vampiro de Palmares no Vórtice Fantástico
201507252359P7 — 20.106 D.V.
“The way the future
was.”
[Frederik
Pohl]
Compareci hoje à tarde na Biblioteca Parque Estadual, em frente ao
Campo de Santana, no centro do Rio, para a sessão mensal do núcleo carioca do
Vórtice Fantástico. A iniciativa
literária Vórtice Fantástico tem como proposta se reunir mensalmente para
discutir um livro lido pelos participantes, na tradição veneranda dos clubes de
leitura existentes há muito no Brasil e no exterior. A diferença é que o Vórtice é um clube de
leitura de literatura fantástica, ao que eu saiba, a primeira iniciativa desse
tipo a contemplar o gênero por estas plagas.
Proposta por Raquel Moritz de Blumenau e Bruna Miranda de São Paulo no
início do ano, a iniciativa do Vórtice Fantástico já se espalhou por catorze
cidades brasileiras. Dentre elas, o Rio
de Janeiro. Os participantes elegeram este mês de julho
como mês do autor brasileiro. Cada
núcleo regional escolheu um livro para ler e discutir. O núcleo carioca escolheu meu romance Aventuras do Vampiro de Palmares (Draco,
2014).
Ao saber dessa escolha pouco menos de um mês atrás, pela Renata Aquino,
via Facebook, entrei em contato para agradecer e ela me perguntou se eu
gostaria de participar. Aceitei o
convite mais que depressa, bastante honrado e também um pouco surpreso com a
escolha do grupo.
* *
*
Fui para o centro de metrô, saltei na estação Presidente Vargas e
acabei chegando à Biblioteca Parque Estadual com uns vinte minutos de antecedência. Assim que entrei reconheci a fisionomia da
Renata, sentada junto com outros quatro participantes do núcleo carioca do
Vórtice: Daniel Faleiro, Stella Rosemberg, Eliseu Ferreira e Alberth Moreira. Enquanto aguardávamos a hora combinada
(15h00) para passarmos ao espaço de convivência, onde nos reuniríamos, Renata,
Stella e Daniel me explicaram que aquela era a segunda reunião do núcleo, a
primeira, no último sábado de junho, discutiu o romance clássico Neuromancer, do William Gibson. Em contrapartida, contei alguns fatos sobre
os primórdios do Clube de Leitores de Ficção Científica, o que para eles já faz
parte da história da implantação desse gênero literário no Brasil.
Às 15h00 em ponto chegou Thaís Cavalcante, a coordenadora do núcleo carioca. Guardamos nossas bolsas e sacolas no
guarda-volumes e então passamos ao espaço de convivência. Sentamos num dos sofás semicirculares
existentes no local.
Depois de agradecer a escolha do romance e me declarar honrado por ter
sido o autor brasileiro selecionado pelo núcleo carioca, como é do meu feitio
tagarela, falei um bocado sobre a gênese do universo ficcional Três Brasis, onde estão inseridas as
cinco narrativas que compõem o romance Aventuras
do Vampiro de Palmares. Contei que
três delas já haviam sido publicadas anteriormente e que todas foram escritas
para funcionar como narrativas completas.
Também confessei a existência de duas aventuras do Dentes Compridos que
não constam do romance, bem como quatro narrativas ambientadas neste U.F. em
que o protagonista do Aventuras...
não aparece. Falei um pouco sobre as
motivações para escrever história alternativa em geral e as narrativas dessa
linha histórica alternativa em particular.
Para mim, de longe o melhor da festa foi a saraivada de perguntas para
lá de pertinentes com as quais os seis participantes me brindaram, deixando bem
claro que haviam lido e apreciado o romance.
Alberth comentou ter apreciado os mitos de criação do Povo Verdadeiro
delineado na primeira parte do livro, “Crepúsculo Matutino”. Eliseu afirmou ter gostado bastante da cena
do confronto do protagonista com a princesa banta e o espadachim gascão na
segunda parte, “O Vampiro de Nova Holanda”.
Nessa mesma parte, Stella e Renata parecem ter gostado mais da
personagem de Amalamale, a princesa sem medo.
Daniel declarou ter gostado de ler um romance de literatura fantástica
ambientado no Brasil. Já Thaís
considerou o confronto de Dentes Compridos com uma releitura da Jack o
Estripador, à luz da ficção científica e da história alternativa, descrito na
quinta e última parte, “Assessor para Assuntos Fúnebres” como o lance mais
legal do romance.
Bate-papo sobre o Aventuras do Vampiro de Palmares no Vórtice Fantástico.
Nosso bate-papo nessa tarde chuvosa de inverno não se limitou ao Aventuras do Vampiro de Palmares. Falamos sobre a paixão pelos livros em geral
e pela literatura fantástica em particular.
Comentei que embora o gênero viva um boom no país atualmente tanto em
termos de publicação de traduções de autores estrangeiros quanto do lançamento
de autores nacionais, a ficção científica em si tem sido encarada atualmente
como uma espécie de prima pobre da literatura fantástica lusófona. Falamos também sobre as motivações do autor
brasileiro para ambientar (ou não) suas narrativas no país.
Thaís me perguntou sobre meus autores favoritos, dando margem para que
eu falasse um bocado de Clifford D. Simak, Eleanor Arnason, Harry Turtledove e,
em menor escala, Philip José Farmer, Poul Anderson e Frederik Pohl. Também conversamos bastante sobre os romances
da Ursula K. Le Guin, sobretudo A Mão
Esquerda da Escuridão; Os
Despossuídos; O Planeta do Exílio;
e A Cidade das Ilusões. Após comentar que prefere ler as narrativas
dos autores anglo-saxões em seu idioma original, Stella criticou a tradução do
título do The Dispossessed como Os Despossuídos. Confessei que esse romance foi o principal
fator que me incentivou a querer saber mais sobre o anarquismo.[1]
Também conversamos sobre as estratégias de sobrevivência na carreira de
autor lusófono de literatura fantástica.
Thaís indagou se eu havia me sentido triste com o fim do Projeto
Taikodom, questão que motivou a descrição detalhada sobre minha participação naquela
empreitada. Comentei também sobre meu
projeto literário atual ao qual tenho me dedicado em termos de leituras e
escritas nos últimos quatro meses.
Falei um pouco sobre a diferença entre narrativas sérias de história
alternativa e aquilo que se convencionou chamar AH-Lite, mencionando o exemplo hilariante da trilogia Aquiliad de S.P. Somtow. Também conversamos sobre as diferenças entre
as histórias alternativas e as ficções alternativas, citando o romance Anno Dracula de Kim Newman como exemplo
emblemático.
Ao fim da reunião, tiramos algumas dezenas de fotos para registrar o
evento. Em seguida, sorteei dois
exemplares da antologia Como Era Gostosa
a Minha Alienígena! (Ano-Luz, 2002); um exemplar de meu romance de ficção
científica erótica A Guardiã da Memória
(Draco, 2011) e um exemplar da antologia Super-Heróis
(Draco, 2013), que organizei com Luiz Felipe Vasquez.
Os membros do núcleo carioca do Vórtice Fantástico me convidaram para
participar das reuniões. Honrado e
satisfeito, aceitei prontamente, pois desde os tempos saudosos das reuniões
mensais do segmento carioca do CLFC que não participava de uma discussão tão animada
e proveitosa sobre ficção científica e literatura fantástica. No último sábado de agosto discutiremos o
romance O Planeta dos Macacos (1963),
de Pierre Boulle, possivelmente comparando-o com as versões cinematográficas de
Franklin Schaffner (1968) e Tim Burton (2001).
Como li esse livro há quase quatro décadas numa edição portuguesa,
julguei melhor encomendar a edição brasileira lançada no século XXI para a
releitura.
Sorteados da tarde.
Participantes - Thaís, Alberth, Stella, Renata, Eliseu, Daniel e GL-R.
Saindo da biblioteca, caminhamos os sete até a Central do Brasil. Stella e eu embarcamos no metrô, enquanto os
demais seguiram de ônibus para os seus respectivos bairros.
Em resumo: uma experiência marcante conhecer pessoas novas interessadas
em ficção científica e literatura fantástica como um todo. Sempre sonhei com clubes de leitura
exclusivamente dedicados ao nosso gênero.
Agora eles existem e o núcleo de um deles está atuante na minha cidade.
Jardim Botânico, Rio de Janeiro, 25 de julho de 2015 (sábado).
Participantes:
Alberth
Moreira
Daniel
Faleiro
Eliseu
Ferreira
Gerson
Lodi-Ribeiro
Renata
Aquino
Stella
Rosemberg
Thaís Cavalcante
[1]. Em termos bem resumidos, o
romance consiste numa utopia pragmática em que a anarquia posta em prática a
nível planetário. Considerado por muitos
como a melhor obra de Le Guin. O
protagonista é um físico da sociedade anárquica que vai lecionar em mundo de
economia capitalista do mesmo sistema estelar.
Ótimo encontro, muito bem relatado nesta crônica. Nesse dia aprofundei um prazer que era um tanto tímido, de ler autores nacionais. Não é só necessário, o prazer de ler autores que colocam os seus personagens em ambientes ou em cultura que também é a sua, torá na experiência completa.
ResponderExcluirÓtima crônica! Pena que não fui nesse encontro, mas li seu livro e adorei. Bjs Andreia www.mardevariedade.com
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