segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Martinho in RiO
2011
Lançamento de O Livro dos Milagres


201112181130O1

I

Deu-se na noite dessa última sexta-feira no Luna Café, no aprazível bairro do Cosme Velho o lançamento carioca do texto de divulgação céptica O Livro dos Milagres (Vieira & Lent, 2011) do jornalista científico e autor de literatura fantástica Carlos Orsi Martinho, sob o nom de plume Carlos Orsi.  O subtítulo do livro, “a ciência por trás das curas pela fé, das relíquias sagradas e dos exorcismos” já esclarece quanto à proposta de desmistificar as alegações da fé, missão dura mas cada vez mais necessária nestes tempos de obscurantismo crescente em que mergulhamos nas primeiras décadas do século XXI.

Convite do lançamento carioca.

Rumei para o bar-restaurante direto do trabalho, de metrô, por imaginar que o trânsito da cidade ainda estivesse algo tumultuado em virtude da tempestade de verão que desabara horas antes.  Tomei o metrô na estação Estácio e saltei no Largo do Machado, pegando o ônibus da integração até a porta do estabelecimento.  Tão simples, seguro e rápido que acabei chegando ao Luna Café antes da Cláudia e do próprio autor.  Assim que ela chegou sentamos à mesa reservada para o lançamento.  Haveria um show de música ao vivo mais tarde, porém, segundo o informado, quem viesse para o lançamento não precisaria pagar o couvert.  Embora o convite falasse em bossa nova, pelos ensaios, parecia que ia rolar um rock pesado.

Travamos contato com dois outros amigos do Martinho: o ornitólogo Fernando Pacheco e o físico Daniel Bezerra.  Fernando nos explicou as diferenças entre bem-te-vis (Pitangus sulphuratus) e suiriris (Tyrannus melancholicus), pássaros da mesma família que os leigos costumam confundir um com o outro.  Contou-nos que o suiriri costuma exibir comportamento mais agressivo do que o bem-te-vi, embora seu primo, mais conhecido, acabe levando a fama pelos ataques a gaviões empreendidos pelo suiriri.

Fernando Pacheco, Carlos Orsi Martinho e Raphael Vidal.

Pouco mais tarde chegava o Martinho com seu editor, Raphael Vidal.  Esse último nos falou que residia no Morro da Conceição, na bucólica Rua do Jogo da Bola, onde por tantos anos cortei caminho do Observatório do Valongo até a Praça Mauá.  Para quem não conhece, a Jogo da Bola é uma ruazinha de cidade do interior engastada em pleno centro velho do Rio de Janeiro.  Um de seus acessos principais é justamente pela Ladeira Pedro Antônio, que conduz ao Valongo.

Fernando também nos contou sobre uma descoberta recente de que o bico do tucano atua como dissipador de calor.  Contamos para Martinho que há coisa de dez ou quinze anos famílias de tucano-de-bico-preto (Ramphastos vitellinus) começaram a nidificar e habitar o Jardim Botânico do Rio de Janeiro para alegria dos visitantes em geral e observadores de pássaros em particular.

Conversamos as idiossincrasias do mercado editorial brasileiro.  Vidal afirmou costuma levar pelo menos cinquenta exemplares para qualquer lançamento da Vieira & Lent, mesmo quando tem praticamente certeza de que não venderá mais do que cinco ou seis livros.  Porque, segundo ele, é sempre melhor e, sobretudo, menos constrangedor, sobrar do que faltar exemplares.

Raphael, Octavio Aragão e Ricardo França.

Os amigos Octavio Aragão e Ricardo França chegaram pouco mais tarde.  Como a casa trabalha com sistema de comandas, ninguém se apertou em pedir o que quis, quando quis.  Pedi um caldo verde e Cláudia um canelone de carne, ambos regados por um honesto Porca de Murça.

Conversei com Martinho sobre o trabalho dele para a Erotica Phantastica.  Octavio confirmou que está escrevendo seu conto para a Erotica.  Vidal interessou-se pelo projeto e eu lhe expliquei do que se tratava, falando que estava recebendo um bocado de submissões legais, embora algumas dessas sejam quase destituídas de elementos fantásticos ou excessivamente tímidas em suas abordagens da temática sexual.  Felizmente, com a abundância de submissões — mesmo excluindo os vampiros emos, as escravas sexuais élficas e os zumbis estupradores — creio que será possível reunir um punhado de contos bem escritos e originais que deverá agradar a gregos e baianos.

Também falei um pouco das outras antologias que estou organizando para a Draco, a Super-Heróis (um trabalho de parceria com o coantologista Luiz Felipe Vasques) e a Solarpunk, sobre a exploração de energias alternativas.

Como Ivo Heinz já fizera meses atrás, Ricardo França me admoestou pelo fato de eu lhe ter revelado um site com um número quase infinito de livros digitais para download, confessando que já baixou dezenas de gigabytes de livros sensacionais, sobretudo na área de não-ficção.

Quase provoquei uma jihad ao citar uma crítica literária da Faren Miller na Locus de setembro último, onde a estudiosa — ao destrinchar A Dance With Dragons, quinto romance da Song of Ice and Fire, de George R.R. Martin — compara a saga, em termos de escopo e profundidade, aos melhores trabalhos de Shakespeare.[1]  Ante o olhar indignado de Octavio, esgrimi o argumento de que Martin escreve muito melhor do que Tolkien.  Apenas a língua ferina de Martinho me salvou da genuína saraivada de tomates e ovos podres que já se desenhava em meu horizonte imediato, ao declarar:

— Mas, pera aí, vamos combinar, Tolkien nunca escreveu tão bem assim...

Já tendo lido os cinco romances das Crônicas de Gelo e Fogo, Daniel discorreu sobre as nuances psicológicas de vários personagens, com ênfase no íntegro mas bisonho Ed Stark e no canalha honrado, Tyrion “Meio-Homem” Lannister, um dos personagens mais complexos e consistentes da literatura fantástica.  Ao contrário de mim, que considero Stark um líder acometido por ingenuidade criminosa e Tyrion um sujeito admirável, Daniel tem Stark em alta conta e julga o anão um ignóbil.

Por volta das 22:00h, quando a conversa estava realmente boa, o conjunto de rock começou seu show.  Até que as músicas eram legais, tocaram, inclusive, clássicos dos Beatles.  Só que o volume era excessivo para quem fora até ali pelo bate-papo e não pelo repertório musical.  Daí, após uns poucos minutos de resistência heróica e diálogos aos gritos, organizamos nossa retirada.  Conforme o combinado, não precisamos pagar o couvert artístico.

Na volta para casa, à falta de um táxi vazio, acabamos tomando o bom e velho 569 que nos conduziu em segurança da porta do restaurante até em casa.



II

Nossa primeira opção para o almoço de sábado com Martinho era o Fiorino, na Tijuca.  Além de massas saborosas, o restaurante possui uma das melhores cartas de vinho da cidade e a preços relativamente razoáveis.  Contudo, quando regressamos de nossa caminhada matinal pelo Jardim Botânico, ouvimos um recado de nosso amigo ao celular, falando que Daniel havia descoberto que o Fiorino não abre para almoço nos sábados.  O próprio Daniel sugeriu a galeteria estilo gaúcho, La Nona, na Conde de Bonfim, lado ímpar, no quarteirão entre Itacuruçá e Visconde de Cabo Frio.

Com a mudança de planos, acabamos chegando à galeteria um pouco atrasados.  Presentes no local já estavam Martinho, Daniel Bezerra e a esposa Ana Carina Melo.  Em termos de galeteria seguindo as tradições gaúchas, o serviço e a comida eram corretos, mas perdem quando comparados aos daquela em que estivemos no último aniversário de nosso amigo Sylvio Gonçalves em abril último.  De todo modo, optamos pelo rodízio de galeto com os acompanhamentos tradicionais, regados por um Boscato Reserva Merlot 2007 a um preço pra lá de honesto.

A conversa girou em torno das deficiências das redes de ensino pública e privada brasileiras; das perspectivas do ateísmo em geral e do movimento céptico em particular ante o avanço preocupante dos cultos evangélicos fanáticos; das bolhas de especulação imobiliárias no Rio de Janeiro e em outros estados.  Martinho falou do lançamento de um prédio de apartamentos de luxo em Jundiaí por preços exorbitantes.  Também analisamos a tendência insofismável dos abastados de tentar impedir os menos favorecidos de ingressar nos logradouros, praias, bairros e regiões que consideram seus redutos exclusivos.

Cláudia, Daniel Bezerra e Martinho.

 Daniel nos falou de um projeto de divulgação do movimento céptico, procurando uma aliança entre ateus e indiferentes.

Analisamos alguns enredos de vampirismo científico e Martinho expôs um romance que tentou explicar de forma científica o temor que os vampiros teriam da cruz.  Todos lembramos do vampiro judeu de A Dança dos Vampiros do Roman Polanski.

Após quase cinco horas de repasto e papo excelente em ritmo de slow food — ao longo das quais desabou mais um dos temporais apavorantes, tão típicos do verão carioca — enfim fechamos a conta e caminhamos até a Praça Saenz Peña, onde Daniel se despediu e nós tomamos o metrô até a estação Botafogo.  Dali, Cláudia pegou o ônibus de integração para casa, enquanto eu e Martinho caminhamos até o Estação Gourmet, onde a nata da comunidade da FC carioca nos aguardava.



III

Ao chegarmos no Estação Gourmet, já se encontravam presentes, Ana Cristina Rodrigues, Max Mallmann, Jorge Pereira, Eduardo Daniel e uma jovem que só conhecia através do twitter, @spacewoman3.

Ao longo da noitada, juntaram-se aos bons os amigos Sylvio Gonçalves, Ricardo França e Estevão Ribeiro.

Como sempre, nosso povo optou por se sentar do lado do restaurante sujeito ao maravilhoso & viciante rodízio de pizzas e crepes.  Tentação tão implacável quanto os apelos sedutores de Vênus a Tannhäuser, à qual logrei milagrosamente resistir graças ao metabolismo digestivo vagaroso e, sobretudo, ao estômago forrado no rodízio de frango do La Nona.  De todo modo, escorei-me numa porção de carpaccio com molho pesto, reforçada com lascas de lasanha de presunto e rodelas de linguiça  calabresa, porque, afinal, ninguém é de ferro...  E, por falar em ferro, como água enferruja as tripas, para harmonizar o prato, uma garrafa de Malbec de fina cepa, o Cinco Sentidos, que eu ainda não conhecia mas que, por aquele preço, já me tornei freguês.

Galera no Estação Gourmet — Ana Cris, Sylvio Gonçalves, Estevão
Ribeiro, Ricardo França, Martinho, Jorge Pereira, Max Mallmann.

Das 19:30 até uma e pouco da matina, o papo rolou animadíssimo sobre história, cinema, ficção científica e gêneros correlatos, fofocas do fandom e muito mais.

A respeito dos detalhes sórdidos & deliciosos abordados em nossos papos, discussões e debates de ontem à noite, cumpre apresentar desculpas prévias aos ausentes pela omissão proposital das partes mais picantes e divertidas desta crônica em prol da preservação de minha paz de espírito, integridade física e outros poucos atributos que pretendo manter intactos.  Portanto, antes de prosseguir com a resenha dessa noitada animada, deixo-os com a promessa de publicação póstuma do meu Memórias Contundentes do Fandom Brasileiro de FC&F (Draco, 2112) e com a velha máxima surrada dos X-Files: “Government denies knowledge.”J

Já no início dos trabalhos, @spacewoman3 detalhou de forma veemente as falhas e virtudes do bestseller de fantasia angélica do Eduardo Spohr, A Batalha do Apocalipse.

No âmbito da análise intelectualizada da narrativa dos filmes de fantasia, certa participante influente do subfandom carioca confessou-se inteiramente fissurada pelos poderes hipnóticos da virilha do personagem interpretado por David Bowie em certo filme de fantasia cujo título me foge à memória.

Em seguida nos divertimos ao analisar a mais nova ressurgência de discussões inúteis sobre a literatura fantástica brasileira, presente tanto nas listas quanto nos comentários de alguns blogues e, aparentemente, motivada por uma chamada para a polêmica da brasilidade na FCB pelo blogue do Tibor Moricz.  Daí, nova autópsia & ladainha dos mesmos velhos temas já discutidos ad nauseam na rodada de debates anterior: antropofagias anacrônicas, patrulhas ideológicas diversas, explicações para a ausência de Borges e Lems brasileiros, qualidade das antologias temáticas nacionais e muito, muito mais.

Mesma galera de outro ângulo.

Em nova rodada do embate Tolkien vs. Martin, aftershock da discussão de ontem no Luna Café, Ana Cris, somando o insulto à injúria, coloca um ponto final no assunto ao declarar que J.R.R. Tolkien não era um escritor, mas sim um filólogo.  À guisa de último prego na tampa do caixão, lembrei que os textos de Tolkien exibem certos problemas no que concerne às cenas de ação.  Problemas felizmente superados com maestria nos filmes de Peter Jackson.

Outro tópico candente da noitada no Estação Gourmet foi a plêiade de idiossincrasias de autores e editores.  Dentre tantas questões, predominou a que tenta definir o que o editor pode ou não pode alterar, sem consultar o autor.  A título de ilustração, citei os diversos equívocos quanto aos títulos nobiliárquicos em Impérios do Brasil Alternativos.  Houve também o caso patológico de um autor cujo trabalho bem escrito acabou rejeitado numa antologia da Ano-Luz pelo fato de se recusar a reescrevê-lo para eliminar um personagem-penduricalho inteiramente desnecessário à história.

A referência histórica aos impérios coloniais portugueses e brasileiros acabou trazendo à baila a questão crucial das divergências entre as nomenclaturas das práticas eróticas entre o português europeu e o português brasileiros.  Em virtude da abundância de submissões de autores portugueses à antologia Erotica Phantastica, com o auxílio involuntário de meu bom amigo Jorge Candeias, via referências do Facebook, logrei obter traduções para os termos “minete” (cunilíngua) e “broche” (felação).  Por mais que a decisão editorial possa causar ojeriza aos autores da literatura erótica fantástica portuguesa, cumpre traduzir certas expressões apimentadas do vernáculo lusitano para o português brasileiro a fim de evitar a estranheza do leitor desavisado.

Comentamos os temores juvenis externados por alguns autores inexperientes de que os editores lhes roube suas ideias geniais.  A solução definitiva para esse tipo de paranoia é registrar o trabalho no EDA da Biblioteca Nacional antes de submeter o trabalho à editora, certo?  O problema é que o autor inexperiente em geral também não sabe disso...J

Já para o fim da noite, a questão polêmica que incendiou a imaginação inebriada de alguns presentes foi a levantada por Ana Cris sobre a relativa abundância de periguetes no fandom da FC&F brasileira.  Em seguida, com o auxílio de dois autores presentes, ela exibiu uma breve análise científica descritiva dos espécimes mais vistosos dessa fauna sob os olhares lascivo-nostálgicos de certo autor, decerto lembrando-se de suas aventuras recentes — reais e/ou literárias — nas últimas convenções do fandom.

Mais uma vez, permanecemos no Estação Gourmet até sermos praticamente expulsos de lá por funcionárias sonolentas prestes a cerrar as portas.  Já nas despedidas, um Max Mallmann emocionado falou que precisávamos nos reunir mais vezes e acabou me ajudando a parar um táxi para voltar para casa, enquanto ele próprio e a maioria de nossos amigos foi esticar a noitada num barzinho.

Assim se deu a vinda de nosso amigo Carlos Orsi Martinho à mui leal cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro que, de certa maneira, acabou se confundindo com nossa comemoração de fim de ano.

Jardim Botânico, Rio de Janeiro, 18 de dezembro de 2011 (domingo).




Participantes:
Ana Carina Melo (2)
Ana Cristina Rodrigues (3)
Carlos Orsi Martinho (1) (2) (3)
Cláudia Quevedo Lodi (1) (2)
Daniel Bezerra (1) (2)
Eduardo Daniel (3)
Estevão Ribeiro (3)
Fernando Pacheco (1)
Gerson Lodi-Ribeiro (1) (2) (3)
Jorge Pereira (3)
Max Mallmann (3)
Octavio Aragão (1)
Raphael Vidal (1)
Ricardo França (1) (3)
Sylvio Gonçalves (3)
@spacewoman3 (3)


(1)     Luna Café
(2)     Galeteria La Nona
(3)     Estação Gourmet



[1].  “A recent New York Times review of Dance compared this to the combination of scope and detail in some of the great 19th century novels, but (at the risk of sounding pretentious) I’ll stand with those reviewers of past Ice and Fire novels who look further back, beyond Tolkien, Dickens, Hugo, and all the rest of them — to William Shakespeare.  Like the Bard, Martin humanizes and individualizes such archetypes as Hero, Fool, Lovers, King, and Queen, using whatever tools it takes, from low comedy to the bleakest tragedy and pretty much everything in-between.  He also has the same knack of taking quasi-historic backgrounds and finding echoes of contemporary issues, while managing to avoid any sense of a blatant message.  In some ways, of course, drama still trumps the novel format: in future centuries, literate types are a lot more likely to go around quoting from Hamlet’s ‘‘To Be’’ soliloquy than recalling either dialog or private musings from these books.  Nonetheless, the prose in A Dance with Dragons is masterful at setting scenes, as well as expressing and invoking emotions – from the blunt force of an offhand ‘‘fuck’’ to the most impassioned exchange of words.

domingo, 4 de dezembro de 2011

LaNÇAMENTO CaRIOCA
Da
DIESELPUNK
E
Para tudo se acabar na 4ª feira


201112011359O5

Deu-se hoje na livraria Blooks, espaço tradicional da literatura fantástica carioca, o lançamento conjunto da antologia Dieselpunk (Draco, 2011) e da graphic novel intempoliana Para Tudo se Acabar na 4ª Feira (Draco, 2011), com roteiro de Octavio Aragão e desenhos de Manoel Ricardo.

Cheguei à livraria uma hora antes do horário marcado (19:00h), ávido para passar ao comando do garçom da livraria as duas bag-in-box, oito litros ao todo: cinco de tinto (Cabernet Sauvignon) e três de branco (Chardonnay + Malvasia + Trebbiano).  Imagino que tenha sido o lançamento com oferta mais abundante de vinho da literatura fantástica brasileira.

Para matar o tempo, saí para tomar um chocolate gelado numa lanchonete próxima.  Na fila do caixa encontrei Luiz Felipe Vasques.  Sentados numa das mesas situadas entre a livraria e a lanchonete, trocamos ideias sobre o material submetido à antologia Super-Heróis, que estamos organizando a quatro mãos.  Com a chegada do fã velha-guarda Alexandre César, o assunto mudou para os grandes atores de filmes de ficção científica, horror e fantasia.  Com a chegada da Cláudia, minutos mais tarde, de Octavio Aragão & Família, adentramos na Blooks.

Antes do início da sessão de autógrafos, travei contato com o blogueiro e roteirista Gabriel Guimarães de França, com quem falei da atual Dieselpunk e, sobretudo, das futuras Solarpunk e Super-Heróis.  Animado, Gabriel prometeu escrever uma matéria sobre o lançamento em seu blogue, Quadrinhos Pra Quem Gosta.

Octavio Aragão e eu: Autores em ação!

Mais uma vez, os lançamentos cariocas combinados da Draco na Blooks bombaram.  Estimo que 70% dos presentes lá estiveram por causa da graphic novel.  Octavio convidou bastante gente, tanto amigos quanto colegas de trabalho e muitos desses e daqueles nos honraram com suas presenças.  Da minha parte, não convidei ninguém, mas por um motivo nobre: como entrei num ritmo de lançar pelo menos uma antologia e um romance ao ano, ao contrário do que se deu no lançamento carioca do A Guardiã da Memória em junho último, desta vez resolvi dar um “descanso” à família e aos amigos extrafandom.  Afinal, sou apenas o antologista e autor de uma noveleta da Dieselpunk e não seu autor solo.

Novidade: Esgotou mais uma vez...

Mais uma vez, os livros remetidos pela editora não foram suficientes para atender a demanda.  Os trinta exemplares da Para Tudo se Acabar na 4ª Feira se esgotaram em menos de uma hora.  Infelizmente, o desenhista Manoel Ricardo não pôde estar presente para curtir esse sucesso.

Embora a Blooks tenha recebido menos exemplares da Dieselpunk do que da graphic novel, a antologia demorou mais a acabar, mas também esgotou bem antes do fim do evento.

Fila extensa na mesa de autógrafos.

Em plena fila de autógrafos, indignado com o fato de a graphic novel já ter esgotado, Carlos Patati ligou para o editor Erick Sama, da Draco, para lhe pagar, segundo suas próprias palavras, uma “bronca fraternal” pela quantidade humilde de exemplares enviadas para o lançamento.  O editor pediu o endereço do quadrinista premiado e se comprometeu a lhe enviar um exemplar, creio que a título gratuito.
Patati na Fila de Autógrafos: — Mas, como já acabou!???


Este lançamento geminado serviu para reunir velhos dinossauros do subfandom carioca, alguns deles atualmente bissextos, numa autêntica ressurreição dos mortos-vivos: Alexandre César, Bráulio Tavares e Rubenildo Python de Barros.  Esse último eu já não via desde o lançamento da antologia comemorativa do Clube de Leitores de Ficção Científica em fins de 2005.  Rubenildo confessou sua paixão atual pelos livros digitais.

Bráulio, Rubenildo e eu: Dinosaurs Rule!
Ana Cristina Rodrigues, Daniel Ribas, Josué de Oliveira e Luiz Felipe Vasques.
 
Também estiveram presentes os autores Carlos Eugênio Patati, Ana Cristina Rodrigues e Pedro Vieira; bem como, diversos professores da Escola de Comunicação da UFRJ, capitaneados pelo botafoguense roxo Amaury Fernandes; além de vários membros eméritos do subfandom, como Rafael Lupo Monteiro, Daniel Ribas e Josué de Oliveira.

Para sanar a dificuldade de Daniel Ribas em sua pugna epopeica para obter um exemplar da antologia Como Era Gostosa a Minha Alienígena! (Ano-Luz, 2002), ofertei-lhe um exemplar, aproveitando o ensejo para autografá-lo pelo meu conto e pelos contos de meus alter egos Daniel Alvarez e Carla Cristina Pereira.

Preso numa festa em casa de parentes, Max Mallmann me ligou afirmando que iria direto para a Estação Gourmet, nosso tradicional ponto de encontro pós-lançamentos literários.  Ingênuo, encarregou-me de comprar um exemplar de cada livro, mal sabendo que já haviam se esgotado há tempos.

Enquanto aguardávamos o encerramento dos trabalhos formais, tive oportunidade de conversar com Rafael Lupo Monteiro sobre a submissão dele à antologia Erotica Phantastica, uma das três que estou presentemente organizando para a Draco.

Mesa do Estação Gourmet 1.

Enfim, encerrados os trabalhos, por volta das 21:00h, eu, Cláudia, Ana Cris, Lupo, Josué de Oliveira e Alexandre César saímos da Blooks e caminhamos pela Praia de Botafogo até a Mena Barreto, onde se situa a Estação Gourmet.  Mais tarde juntaram-se à nossa mesa Bráulio Tavares e seu filho, Toínho Castro e namorada.  Desta vez, excepcionalmente, optamos pelo apetitoso rodízio de pizzas.  Bem mais tarde, chegaram Max Mallmann e Estevão Ribeiro.  O papo rolou animado por mais de três horas, versando sobre os clássicos da história alternativa, submissões recebidas, rejeitadas e aceitas em antologias passadas, presentes e futuras, participações em podcasts, com ênfase a sessão do próximo sábado do PodEspecular sobre a história e o futuro do Clube de Leitores de Ficção Científica e outras inconfidências que, infelizmente, não será possível transcrever aqui.J

Mesa do Estação Gourmet 2.

Saímos do estabelecimento cansados mas felizes por volta da meia-noite.  Fomos os primeiros a levantar da mesa e o papo continuou fervendo, imagino, até o restaurante cerrar as portas, como das vezes anteriores.

Jardim Botânico, Rio de Janeiro, 1º de dezembro de 2011 (quinta-feira).




Participantes:
Alexandre César
Amaury Fernandes
Ana Cristina Rodrigues
Bráulio Tavares
Carlos Eugênio Patati
Cláudia Quevedo Lodi
Daniel Ribas
Elisa Ventura
Estevão Ribeiro
Gabriel Guimarães de França
Gerson Lodi-Ribeiro
Josué de Oliveira
Luciana Carvalho
Luiz Felipe Vasques
Max Mallmann
Octavio Aragão
Pedro Vieira
Rafael Lupo Monteiro
Rubenildo Python de Barros
Toínho Castro

terça-feira, 15 de novembro de 2011

Antologia SUPER-HERÓIS
Guidelines



O.k., nem todo mundo curte os filmes e quadrinhos de super-heróis.  Porém, se você gosta de escrever literatura fantástica e não se inclui nessa minoria, gostaríamos de convidá-lo a submeter um conto para apreciação na antologia que estamos organizando para a Editora Draco, cujo título provisório (imaginativo) é Super-Heróis.

Nossa proposta é organizar uma antologia de contos bem escritos que abordem as aventuras de super-heróis de forma criativa, original e preferencialmente com tempero lusófono.  Tanto faz se seu herói é humano ou alienígena, se possui superpoderes ou não, se é um bom sujeito ou nem tanto — embora, em princípio, prefiramos que nossos autores deixem os vilões do tipo sociopata mascarado para uma eventual Super-Heróis II: Supervilões.  Tampouco importa se você mostrará a gênese do seu herói ou se ele cairá de paraquedas no meio de uma grande aventura.  O importante é que seu(s) protagonistas sejam psicologicamente bem delineados e que suas aventuras / desventuras constituam uma leitura instigante e divertida.

Fanfiction?  No que se pese ser difícil reinventar a roda, no quesito originalidade, não desejamos receber fanfictions.  Nada contra trabalhos escritos por fãs para homenagear seus heróis favoritos no âmbito amador dos blogues e e-zines.  Contudo, no âmbito profissional, a história é outra.  Daí, no intuito de evitar a possibilidade de nos tornarmos (autores, antologistas e editores, não necessariamente neste ordem) réus em processos judiciais movidos pelos detentores legítimos dos direitos autorais sobre super-heróis criados por terceiros, incentivamos com empenho os autores que pretendem participar deste projeto a criar seus próprios heróis em vez de “tomar emprestado” personagens da Marvel, DC ou outras empresas.  Para evitar riscos desse gênero, rejeitaremos pronta e inapelavelmente sem apreciação do mérito literário qualquer trabalho que nos pareça fanfiction.

Tamanho: Desejamos apreciar trabalhos entre 3.000 e 12.000 palavras.  Isto não significa que submissões fora deste intervalo serão sumariamente rejeitadas.  Se o conto analisado possuir qualidade literária e se enquadrar na temática proposta, essa qualidade será considerada em nossa apreciação, mesmo que o texto seja menor ou maior do que o limite proposto.  No entanto, a bem da sinceridade, deixamos claro que apreciaremos com maior simpatia trabalhos dentro do intervalo referido.

Filosofia de trabalho: Analogamente, gostaríamos de receber trabalhos criativos e originais cujos enredos mostrassem heróis ou super-heróis inseridos direta ou indiretamente na cultura brasileira e/ou portuguesa, mostrando o impacto social da existência e das proezas desses personagens e de seus superpoderes nessa cultura.  Não se trata de uma exigência estrita.  Trabalhos que nada tenham a ver com o Brasil ou com Portugal serão apreciados com a atenção devida e poderão ser eventualmente aceitos.  Porém, cumpre frisar nossa predileção por contos lusófonos de corpo (i.e, escritos por autores portugueses e brasileiros) e espírito (enredo, personagens, ambientação lusófonos).

Deadline: 31 de março de 2012.

Data de lançamento (provável): Fantasticon 2012.

Eis aqui a oportunidade ímpar do autor lusófono de literatura fantástica criar seu próprio super-herói e imortalizá-lo nas páginas impressas da Super-Heróis.

As submissões devem ser enviadas apenas em versão eletrônica, formato rich text file (.RTF), para os e-mails lfvasques@gmail.com e glodir@unisys.com.br, com cópia de segurança para o e-mail ericksama@gmail.com.  Confirmaremos a recepção de todos os trabalhos recebidos.

Dúvidas?  Não hesite em contatar os seus antologistas de plantão.

Gostaria de discutir sua trama ou linha de enredo conosco?  Não se acanhe.  A casa é sua!  Estamos aqui para isto.

Aguardamos ansiosamente a submissão do seu trabalho.



Luiz Felipe Vasques & Gerson Lodi-Ribeiro (antologistas)

Erick Sama (editor).

Setembro de 2011.

terça-feira, 16 de agosto de 2011

Relatos Fragmentários
Da
Fantasticon 2011


               201108121534P6 — 18.662 D.V.



     “Graças a essa palestra, descobri o nome da minha fantasia sexual: xenofilia!”
    [jovem presente na plateia, no fim de minha palestra sobre sexo com alienígenas]


Hoje foi nosso primeiro e único dia de participação na Fantasticon 2011, pois no domingo, dia do encerramento, embarcaremos cedo para o Rio por conta do Dia dos Pais.

Saímos do hotel às 11:30h e tomamos o metrô da estação Paraíso até a estação Vila Mariana, de onde caminhamos a pé para a Biblioteca Municipal Viriato Corrêa, sede da Fantasticon 2011.  Ainda no metrô, liguei o celular e mandei um torpedo para o Erick Sama, para confirmar a presença dele no almoço conosco.

A primeira pessoa com que encontramos à porta da Viriato Corrêa foi o editor da Tarja, Richard Dieguez, em companhia da filhinha de ano e meio.  Ao ingressar na biblioteca procuramos logo o Sílvio Alexandre para confirmar nossa chegada, receber o kit de participante e guardar nossas pastas no almoxarifado da instituição.

Enquanto batíamos um papo com Estevão Ribeiro, que também veio do Rio para a Fantasticon, Erick apareceu para nos dar carona até a panquequeria onde havíamos combinado almoçar.  Conosco também seguiram a autora carioca Ana Lúcia Merege e Janaina Chervezan, esposa do Erick.  O Casal 20 da Draco revelou ainda estar sob efeito do jet lag devido ao regresso anteontem de sua estada de quase um mês no Japão.  Assim que saltamos do carro, enquanto aguardávamos o manobrista da panquequeria, pus minhas mãos ávidas em meu exemplar da Dieselpunk.  Livrão!  A maior antologia das cinco que já organizei, superando até mesmo a Como Era Gostosa a Minha Alienígena! (Ano-Luz, 2002).

Mal chegamos ao restaurante e aparece nosso amigo mineiro, Flávio “Garfield” Medeiros, diretamente de Belo Horizonte.  Pouco mais tarde chegariam Edgar “Garapa” Refinetti; o casal Hugo & Renata Vera; Larissa Caruso; e Marcelo Galvão.

O almoço transcorreu animado com altos papos sobre lançamentos presentes e futuro do mercado editorial do fantástico brasileiro.  Pedi mais uma vez perdão ao Flávio por não ter incluído sua bela noveleta de história alternativa na antologia Dieselpunk (Draco, 2011), que seria lançada durante a Fantasticon.  Foi triste rejeitar uma história tão boa, mais interessante e mais bem escrita do que alguns trabalhos aceitos para a antologia, tão somente pelo fato de não se enquadrar inteiramente na temática proposta.  De todo modo, ainda pretendo publicar esse trabalho de alta qualidade em algum projeto futuro.

Por falar em projetos futuros, Flávio falou de seu projeto de montar um romance fix-up com noveletas escritas em seu U.F. de ficção alternativa que propõe a sobrevivência da civilização asteca como vassala do Império Britânico, linha alternativa que já gerou noveletas publicadas nas antologias Steampunk (Tarja, 2009) e Vaporpunk (Draco, 2010).  Flávio me convidou a prefaciar esse romance, convite aceito com imediato entusiasmo.

Almoço na Panquequeria.

Aliás, elogiamos o romance do Flávio, Casas de Vampiros (Tarja, 2010), que adota uma abordagem original para a temática dos vampiros e oferece uma explicação científica para a origem desses monstros.  Estranhamos que o livro tenha recebido tão pouca divulgação e esteja sendo tão pouco comentado.

Sondei o Hugo Vera sob a possibilidade de participar da antologia Space-Opera II, mas ele e Erick afirmaram que, para segunda investida sobre o tema, pretendem renovar a tripulação da nave estelar.  À guisa de prêmio de consolação, acenaram com o convite para prefaciar a antologia, convite aceito com imediata resignação.

Pedi um fettuchini à parisiense e Cláudia um salmão com legumes.  Contamos para os amigos o episódio das barrigas das sardinhas pelo qual passamos durante um jantar com figuras ilustres da ficção científica portuguesa, em nossa estada em Lisboa em julho de 1997.

Durante o almoço em si, debatemos as qualidades intrínsecas e as falhas de consistência dos romances Crônicas de Gelo e Fogo, do George R.R. Martin e da série baseada no primeiro romance.  Além disso, discutimos a qualidade literária dos textos de Cirilo Lemos, autor de “Auto do Extermínio” na Dieselpunk.

Antologia de História Alternativa.


De volta à Viriato Corrêa, eu, Cláudia e Janaína estabelecemos um perímetro defensivo sobre a última vaga do estacionamento, enquanto Erick trazia seu carro às pressas para ocupá-la.  Operação concluída com êxito.  Enquanto cumpríamos essa nobre missão, estabelecemos contato com tropas aliadas, ali representadas pelos autores da Dieselpunk, Tibor Moricz (“Grande G”) e Carlos Orsi Martinho (“A Fúria do Escorpião Azul”), esse último, acompanhado pela bela e inteligente esposa Renata Corte.  Os dois autores estenderam mãos igualmente ávidas para receber seus exemplares da antologia das mãos do publisher da Draco.

Nobre missão de segurar a vaga...


Enfim adentramos no saguão principal da biblioteca, então apinhado de fãs, autores, editores das mais diversas manifestações do fantástico lusófono.  Tentamos comprar livros nos estandes da Moonshadows, mas estava impraticável.  Terei que contatar a sempre simpática Michelle para encomendar o que quero por e-mail.  Só logrei adquirir o Livro dos Gatos do Estevão Ribeiro e, mesmo assim, apenas graças aos bons préstimos de minha amiga Ana Cristina Rodrigues, esposa do autor.  A maior lástima foi ter deixado para trás os romances do grande autor português de ficção científica João Barreiros e da autora paulistana de fantasia Camila Fernandes.

Autógrafo de Xochiquetzal, para Gi Ramos.

Único livro que consegui comprar na Fantasticon! :-(

Após dezenas de e-mails trocados nos últimos meses, por conta da submissão de contos à Dieselpunk, logrei conhecer pessoalmente Sid Castro, autor da noveleta “Cobra de Fogo” selecionada para a antologia.

Também conheci pessoalmente a autora Alícia Azevedo, que está organizando, junto com Daniel Borba, a antologia 2013: Ano Um, para a qual devo submeter um conto de FC pós-apocalíptica em breve.

Outra grata surpresa foi reencontrar com meus grandes amigos e antigos parceiros da equipe da gerência de universo ficcional do Taikodom, Roctavio de Castro e Giseli Ramos.  Tive oportunidade de papear bastante com os dois.  Não tanto quanto queria, mas o suficiente para matar parte das saudades dos tempos em que trabalhávamos juntos.

Trio da antiga equipe do U.F. Taikodom: Giseli Ramos, Roctavio de Castro e eu.

Também conversei com os velhos amigos e ex-sócios dos tempos de Ano-Luz, Marcello Simão Branco e César R.T. Silva.  Marcello perguntou pelos filhos e se surpreendeu que Erich agora trabalha como assistente de câmera na Rede Globo.  É, o tempo passa...

Em meio aos bate-papos animados com Alfredo Suppia, Carlos Alberto Machado[1], Roctavio de Castro e a sessão de autógrafos da antologia Space-Opera (Draco, 2011)[2], acabei não logrando assistir a palestra “Literatura Fantástica: a Experiência Mexicana”, proferida por Miguel Ángel Fernandez, único convidado internacional da Fantasticon 2011.  A fala de Fernandez recebeu tradução simultânea da autora brasileira de fantasia vampírica, Martha Argel.  O palestrante mexicano também é o organizador de Visiones Periféricas, antologia de ficção científica premiada em seu país.

Autógrafos Space-Opera 1: com Sílvio Alexandre, Senhor Fantástico.

Autógrafos Space-Opera 2: com Flávio Medeiros e Antonio Luiz da Costa.

Aliás, o comparecimento a uma convenção de fantástico brasileiro do porte da Fantasticon — que vem se tornando mais robusta a cada ano que se passa — constitui uma maratona que mistura doses iguais de prazer e tortura.  Pois é impossível, sobretudo quando só é possível comparecer num único dia, estar em todos os lugares ao mesmo tempo: assistir a todas as palestras e mesas-redondas, conversar com todos os amigos, autores, editores e fãs, comprar todos os livros interessantes.  Cumpre fazer uma série de escolhas de Sofia, entre um bate-papo revelador com um grande amigo que você não vê há anos e assistir uma palestra de um autor brilhante que fala ali pela primeira vez.  Ao fim do dia, você sai da Viriato Corrêa exausto, feliz, culpado & insatisfeito, não necessariamente nesta ordem.J

Cláudia & Eu.

Pelo menos consegui assistir a concorrida mesa-redonda “História, Matéria-Prima da Literatura Fantástica”, compartilhada com o auditório repleto pelos escritores Ana Cristina Rodrigues, Christopher Kastensmidt, Max Mallmann e Roberto de Sousa Causo.  Kastensmidt é um autor norte-americano radicado em Porto Alegre.  A mesa-redonda tratou da presença crescente da história alternativa, da fantasia histórica e do steampunk na literatura fantástica brasileira.  Max Mallmann discorreu sobre o trabalho de pesquisa que propiciou seu belo romance histórico ambientado em Roma Antiga, Centésimo em Roma, abordando, inclusive, o emprego impagável de um Homo floresiensis como personagem.

Mesa-Redonda História na Literatura Fantástica:
Max Mallmann, Ana Cristina Rodrigues, Christopher Kastensmidt e Roberto de Sousa Causo.


Ao término da mesa-redonda, fui contatado por Clarissa, membro da equipe da biblioteca, para que lhe passasse o pen-drive com o arquivo em PowerPoint com minha palestra “Alien Sex — Guia de Sexo Terrestre para a Alienígena Solteira”.  Para minha alegria, ao contrário do que se deu no ano passado, desta feita o sistema de datashow da Viriato Corrêa funcionou direitinho.  Telão ativado, proferi minha fala de uma das extremidades do auditório, de pé e microfone sem fio em punho.

Romance de FC Erótica: Sexo com Alienígenas.


Com auxílio desse tema genuinamente palpitante, logrei obter uma boa interação com a plateia de cerca de cinquenta ou sessenta pessoas.  Preparei uma apresentação recheada de brincadeiras que caíram no gosto do público presente.  Os autores abordados foram dos clássicos André Carneiro, Dinah Silveira de Queiroz, Fausto Cunha, Fritz Leiber, Harlan Ellison, Larry Niven, Philip José Farmer, Robert Silverberg e Ursula K. Le Guin, até os modernos Adriana Simon, David Brin, Eleanor Arnason, Fábio Fernandes, Gardner Dozois, Gerson Lodi-Ribeiro, Harry Harrison, James Tiptree, Jr., Michael Bishop, Octavia Butler e Robert Sawyer.  Os tipos de envolvimento entre humanos e extra-humanos foram do platonismo mais casto até o explícito X-Rated com paradas em todas as estações intermediárias.  Os parceiros extra-humanos foram ora alienígenas propriamente ditos, ora terrígenas, isto é, criaturas racionais que evoluíram na biosfera terrestre.  As mídias abordadas foram sobretudo a literária e a audiovisual, com pinceladas ocasionais nas HQs.  Os tópicos prediletos do público foram as brincadeiras com Kirk & Spock; os híbridos resultantes dos acasalamentos de tigres e leões; as consequências da concretização da paixão entre Lois Lane e o Super-Homem pelas ópticas de Larry Niven e Fábio Fernandes; o magnífico romance de ficção científica antropológica Ring of Swords, da Eleanor Arnason; e as belas trilogias Xenogenesis, da Octavia E. Butler e The Neanderthal Parallax, do Robert J. Sawyer.  Apesar das preocupações cronométricas do Sílvio Alexandre, ainda houve tempo para anunciar as antologias Erotica Phantastica (para a qual incitei os autores a escrever e submeter seus contos para apreciação) e Solarpunk.

Alien Sex: "Eles Herdarão a Terra", de Dinah Silveira de Queiroz.

Alien Sex: "Última Estrela", de Fausto Cunha.

Alien Sex: "Man of Steel, Woman of Kleenex", de Larry Niven &
"Paixão Segundo S.H.", de Fábio Fernandes.

Alien Sex: Plateia divertida.

 Ao fim da palestra fui brindado com o comentário entusiasmado de uma ouvinte:

— Beleza!  Graças ao que ele falou, descobri o nome da minha fantasia sexual: xenofilia.  Vivo sonhando com ETs fortões e sensuais me agarrando...

Por outro lado, não houve tempo para perguntas da plateia, pois eu estava escalado para dar autógrafos individuais.  Portanto, finda a palestra, fui conduzido ao salão de eventos da biblioteca e me sentei ao lado do autor Marcelo Paschoalin e, entre um autógrafo e outro, papeamos sobre agruras & aventuras de se escrever uma antologia de literatura fantástica no Brasil.  Autografei Xochiquetzal: uma Princesa Asteca entre os Incas para Giseli Ramos, Guardiã da Memória para Roctavio de Castro, além de alguns Vaporpunk e uma pá de Dieselpunk, dentre os quais um exemplar para o autor Josué de Oliveira, que tive oportunidade de conhecer pessoalmente nesta Fantasticon.

Autógrafo para Flávio Medeiros sob olhar de Rafael "Lupo".

Após as sessões individuais de autógrafos, os organizadores da Fantasticon julgaram por bem encerrar os trabalhos neste que foi o segundo dia de convenção na temporada de 2011.

Apesar das experiências pouco agradáveis do ano passado, nossa vasta comitiva acabou trombando com aquele mesmo restaurante fraquinho, fraquinho em que comemos e bebemos na noite de sábado da Fantasticon 2010, estabelecimento que passava bem longe da minha ideia de fechar com chave de ouro esta experiência paulistana memorável centrada na melhor convenção de arte fantástica que já tive oportunidade de comparecer.

Quando chegamos ao tal boteco, já haviam por lá cerca de doze ou quinze participantes da Fantasticon.  Conosco vieram mais uns dez e, pouco mais tarde, chegaram mais cerca de vinte pessoas.  Senti que a situação fugia do controle quando percebi que, independentemente do número de mesas e cadeiras que os garçons colocavam na calçada, cada vez mais distantes do estabelecimento propriamente dito, havia cada vez mais pessoas de pé à espera de um lugar.  Ao notar que não conseguiria sentar junto com meus amigos mais chegados e, se duvidar, nem sequer junto com a Cláudia, lancei a proposta de procurar outro estabelecimento ou, miseravelmente, outra mesa, instalada no interior do boteco.  A segunda ideia soou mais exequível ao casal Carlos Orsi & Renata Martinho, ao Flávio Medeiros, ao Roctavio de Castro e à Giseli Ramos.  Portanto, migramos para quatro mesas juntadas no interior do estabelecimento, onde recebemos a adesão posterior do pesquisador de ficção científica cinematográfica Alfredo Suppia e do antologista mexicano Miguel Ángel Fernandez.  Ao longo da noitada, recebemos aparições esporádicas de Erick Sama, Janaína Chervezan, Ana Cris, Estevão Ribeiro e Max Mallmann em nossa cadeira do amigo querido visitante, deixada vaga para receber os amigos que preferiram permanecer a longa mesa original.

Birosca 1: eu, Ana Cris, Roctavio de Castro, Alfredo Suppia e Miguel Ángel Fernandez.

Birosca 2: Fernandez, Cláudia Lodi, Gi Ramos, Flávio, Renata & Carlos Martinho,
Erick Sama & Janaína Chervezan, eu, Max Mallmann, Roctavio e Alfredo.


Em meio a espetinhos de queijo coalho, churrasquinhos, linguiças apimentadas, corações de frango, capivodkas, cocas zero e muita cerveja, tivemos uma das confraternizações mais animadas dos últimos tempos.

Nos aftershocks da minha palestra lá na birosca, para alegrar Ana Cris, que se lamentava por ter perdido minha palestra por ter sido escalada para autografar livros no mesmo horário, contei-lhe a cena tórrida de abertura do romance erótico Blown, do Philip José Farmer.  Carlos Orsi Martinho lembrou que os dois romances pornográficos (The Image of the Beast e Blown) foram publicados pela Playboy Books.  Também recordou que Farmer escreveu um terceiro romance naquele mesmo universo ficcional, só que despido(!) de elementos eróticos.

Roctavio elogiou mais uma vez a monografia Vinho no Mundo Romano que escrevi para a pós-graduação em Vinho & Cultura na Universidade Cândido Mendes.  Comentou que o texto está tão bom que nem parece uma monografia acadêmica...J

Aproveitando o mote de Fernandez ter me pedido para explicar as diferenças entre steampunk e dieselpunk, descrevi para ele, o Roctavio e o Suppia, o enredo da novela “Unidade em Chamas”, de Jorge Candeias, publicada na Vaporpunk (Draco, 2010), com ênfase na questão patriótica e racial desse trabalho que considero um clássico da história alternativa lusófona.

Alfredo Suppia nos falou dos planos futuros para seu periódico acadêmico digital, Zanzalá, e da possibilidade de trazer a convenção anual de 2015 da Science Fiction Research Association para o Brasil.  Preferencialmente para São Paulo ou Rio de Janeiro.

Quando Max Mallmann visitou nossa mesa contei para os amigos sobre a ocasião, no dia seguinte do lançamento de seu Centésimo em Roma, disparei SMS para os amigos da Praia das Conchas, em Cabo Frio, em plena Região dos Lagos, Rio de Janeiro, para comentar que já estava degustando o romance em companhia de um copo de capivodka geladinha.  Nem é preciso falar da quantidade de réplicas iradas & invejosas que torpedearam meu celular nos minutos e horas seguintes...

Se durante o almoço, Flávio “Garfield” Medeiros já havia confessado sua fraqueza por ovos de Páscoa, nessa confraternização pós-Fantasticon, revelou ser um viciado em memorabilia de ficção científica, horror e fantasia.  Falou que durante sua lua de mel em Nova York, chegou a sofrer ameaça de anulação de casamento em virtude da insistência em trazer para o Brasil um boneco do Darth Vader em tamanho natural.  Felizmente, a situação se resolveu quando nosso herói se apaixonou por um Yoda capaz de falar cerca de quinhentas frases em inglês.  Após hesitar durante toda a estada na metrópole norte-americana, no dia do regresso, ele despertou decidido e, numa atitude macho-mineira, virou-se para a esposa e afirmou:

— Eu vou comprar o Yoda!

Ao que a mulher amada replicou:

— É.  Eu também gostei do Yoda.

E os três pombinhos foram felizes para sempre.

*     *     *

Outro lance impagável do Garfield nesta noite memorável foi sua súbita e abrupta conversão no mais novo torcedor fanático do Botafogo.

Falei que estávamos numa birosca, é fato.  Mas tratava-se de uma birosca chique.  Tanto é que havia uma televisão de plasma enorme bem atrás de nossa mesa.  No telão passava ao vivo a grande peleja futebolística Botafogo x América Mineiro, um dos lanterninhas do Brasileirão.  Flávio afirmou que torceria pelo América, segundo time do coração de todo mineiro.  Além do mais, pontificou, o Botafogo possui uniforme bastante parecido com o do Atlético Mineiro, arquirrival do Cruzeiro, time pelo qual nosso amigo mineiro morre de paixão.  Pelo visto, Garfield é pé-quente, pois, com pouco mais de dez minutos de jogo, o América abriu 2 x 0 no placar.  Alarmado, decidi cooptar os poderes de Garfield para uma causa nobre:

— Amigo, Garfield, lembra daquele projeto de antologia?  Aquele que eu te falei que sua noveleta de história alternativa já estava praticamente incluída?

— Claro, Véio!

— Pois é.  A combinação só continua valendo se o Botafogo ganhar essa partida...

— Pô, mas assim não vale!  Teu time já está perdendo de 2 x 0...

— Pois é.  E de quem é a culpa?

Garfield engoliu em seco.  Pensou e pensou.  Concentrou-se, conjurando seus poderes para o bem.  Começou a torcer para o Botafogo.  No início, timidamente.  Depois foi se empolgado.  Minutos mais tarde, estava aos brados:

— Fogo!

— É Fogão. — Cláudia esclareceu, divertida.

— Fogão!

Ainda no primeiro tempo, o Botafogo diminuiu para 2 x 1.

Na etapa final, o Fogão veio com tudo.  Meteu três gols no América!  Depois de gritar o tempo inteiro, Garfield estava rouco, mas seus olhos brilhavam de contentamento.  Placar final: Botafogo 4 x 2 América Mineiro.

Impressionado, o gerente do barzinho murmurou ao meu ouvido:

— Puxa, esse amigo de vocês é botafoguense fanático, heim?

— Não é que ele seja botafoguense. — Expliquei. — Mas, você não sabe do que um escritor é capaz para ver seu texto publicado...

Ante o ar céptico do gerente, arrematei:

— Isto mesmo!  Até isto que você está pensando!

Ao que Max Mallmann confirmou:

— É.  Dependendo da tiragem...

*     *     *



Após a noitada memorável, despedimo-nos pesarosos dos amigos, pelo fato de que para nós a Fantasticon 2011 acabava ali, amanhã cedo embarcaremos para o Rio por conta do Dia dos Pais.  Abraços, beijos e juras de amor e amizade eterna trocados, dividimos um táxi com o casal Carlos Orsi e Renata Corte Martinho, já que eles estão hospedados no Mercure, cerca de cinquenta metros do Formule 1.  Aproveitamos e papeamos sobre o que andamos fazendo em nossas vidas profissionais e nós os lembramos de que eles não aparecem no Rio há tempos.

Ao que eu saiba, esta Fantasticon 2011 teve uma presença recorde de cariocas nativos ou radicados: eu & Cláudia, Ana Cris & Estevão, Ricardo França, Rafael Lupo, Max Mallmann e Ana Merege, fora aqueles que meus neurônios esgotados falharam em registrar.

Formule 1 Paraíso, São Paulo, 13 de agosto de 2011 (sábado).


Participantes:
Adriano Siqueira
Alexandre Heredia
Alícia Azevedo
Alfredo Suppia (Zanzalá)
Aliah
Ana Carolina Silveira
Ana Cristina Rodrigues
Ana Lúcia Merege
Antonio Luiz da Costa
Bruna Caroline
Camila Fernandes
Cândido Ruiz (Conselho Steampunk)
Carlos Alberto Machado
Carlos Orsi Martinho
Carol Chiovatto
César R.T. Silva (Anuário)
Christopher Kastensmidt
Cláudia Quevedo Lodi
Cláudio Villa
Cristina Lasaitis
Douglas MCT
Edgar “Garapa” Refinetti
Erick Sama (Draco)
Eric Novello
Estevão Ribeiro
Flávio “Garfield” Medeiros
Gerson Lodi-Ribeiro
Ghad Arddhu
Gianpaollo Celli (Tarja)
Giseli Ramos
Giulia Moon
Gumercindo Rocha Dorea
Hugo Vera
Janaína Chervezan (Draco)
José Roberto Vieira
Josué de Oliveira
Larissa Caruso
Lucas Rocha
Marcello Simão Branco (Anuário)
Marcelo D. Amado
Marcelo Galvão
Marcelo Paschoalin
Márcia Olivieri
Martha Argel
Max Mallmann
Michele (Moonshadows)
Miguel Ángel Fernández (MÉXICO)
Nelson de Oliveira
Rafael Lupo Monteiro
Renata Corte Martinho
Renata Vera
Ricardo França
Richard Dieguez (Tarja)
Rober Pinheiro
Roberto de Souza Causo
Roctavio de Castro
Sergio Roberto Lins da Costa
Sid Castro
Sílvio Alexandre
Tibor Moricz




[1].  Falei com o Carlos sobre a novela “Pinocchio” do Walter Jon Williams que li na antologia The Starry Rift, organizada pelo Jonathan Strahan.  Carlos Machado está interessado em FC que retratem a sala de aula do futuro.  Daí, eu lhe ter recomendado essa novela.
[2].  Onde tive a rara oportunidade de reencontrei Sergio Lins da Costa, um velho amigo do CLFC paulistano que eu já não via há muitos anos.