sexta-feira, 25 de setembro de 2020

 

II Encontro de

Ficção Científica e Ensino de Ciências

(FIOCRUZ)

Dia 4

 

202009242359P5 — 21.993 D.V.

 

“Descobri que a ficção científica é mais esclarecedora do que a ciência para compreender como a tecnologia é vista por pessoas situadas fora da elite pedagógica.  Se a ciência proporciona o input técnico para a tecnologia; a ficção científica nos exibe o output humano.”

[Freeman Dyson]

 

Rolou hoje à noite a quarta sessão do II Encontro de Ficção Científica e Ensino de Ciências — simpósio online semanal patrocinado neste setembro de 2020, ano I da Covid-19, pela Fundação Oswaldo Cruz (FIOCRUZ), coordenado pela equipe da professora Anunciata Sawada e do tecnólogo Adílson Júnior.

Os apresentadores desta quinta-feira foram Lúcia de La Rocque e Luís Paulo Piassi.  A primeira é mestra em Biologia pela UERJ e em Letras pela UFRJ, doutora em Ciências pelo Instituto de Biofísica da UFRJ, professora e pesquisadora da FIOCRUZ (aposentada em 2018) e, sobretudo, líder informal, mas inconteste, da comunidade amante da ficção científica no interior dessa instituição e, portanto, uma espécie de fada madrinha da FC dentro da comunidade científica brasileira.  O segundo é graduado em Física, com mestrado em Ensino de Ciências e doutorado em Educação, as três formações pela USP; realiza estudos na área de comunicação e educação em ciências com foco na ficção científica e fantasia; e é líder do Projeto Banca da Ciência.

Desta vez, a mediação ficou por conta da própria Anunciata e a sessão se iniciou com rigorosa pontualidade carioca.

Dentre os mais de dois mil inscritos no site do II Encontro, em sua lotação máxima, havia cerca de trezentas e trinta pessoas assistindo esta quarta sessão online.  Ao longo de quase duas horas e meia de duração, pessoas entravam e saíam do evento a todo instante.  Ao fim, havia cento e cinquenta expectadores, 265 likes e nem um dislike (ao contrário das três sessões anteriores que tiveram sempre um dislike solitário).  Os números citados foram bastante parecidos com os da sessão anterior.

Embora no cartaz desta quarta sessão do II Encontro o nome da Lúcia aparecesse acima, Piassi foi o primeiro a apresentar.

Essa quarta sessão do II Encontro está disponível no YouTube:

https://www.youtube.com/watch?v=s9LdbLPIhfE.

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Assim que Anunciata apresentou o currículo de Luís Paulo Piassi, esse deu início à sua fala, “100 Anos de Isaac Asimov: Ciência, Ficção e Direitos Humanos”, aparentemente, da varanda de sua casa.

Piassi foi o primeiro e, até agora o único, apresentador a dispensar o uso do PowerPoint.  O fato de falar direto à plateia digital deu um toque de informalidade salutar à sua apresentação.  Vários ouvintes comentaram no chat que se sentiram como se estivessem à mesa de um barzinho com o professor.

Ele principiou destacando a importância de Asimov não só como escritor de ficção científica, mas também como divulgador da ciência.  Lembrou que o autor publicou mais títulos de divulgação do que de FC.  Em seguida, aproveitando o ensejo de que Asimov morreu de AIDS em 1992 (fato que a família do autor só divulgou quase uma década mais tarde), Piassi traçou um paralelo entre os impactos sociais da AIDS na década de 1980 e da Covid-19.

Logo no início da apresentação, Frederico[1], o cachorro do palestrante, latiu em protesto por ter sido excluído do evento, obrigando Piassi a apaziguá-lo em off e mantê-lo preso noutro aposento para tristeza de parte da plateia digital.

A cada obra de Asimov citada, o palestrante mostrava a capa do romance ou coletânea.  No caso da coletânea Eu, Robô, mostrou a capa da edição da Expressão e Cultura (1974) que eu tenho aqui em casa.  Aliás, a maioria dos títulos mostrados foram de edições que habitam minhas estantes ou calabouços.  De maneira geral, os livros do Piassi estão mais bem conservados do que os meus.  Inveja terrível.


Piassi enuncia as Três Leis da Robótica em sua forma mais extensa, tal como aparece em Eu, Robô.  Coteja brevemente os robôs asimovianos com a criatura de Frankenstein.  Em seguida, comenta com spoilers o conto de Asimov “Sonhos de Robô”, publicado na coletânea homônima e se refere a Susan Calvin como “uma robopsicóloga sisuda”.  Ao questionar a plateia se era justo destruir um robô que ousasse sonhar com a própria liberdade, como Elvex o faz nesse conto, Piassi me fez concluir que o mais injusto mesmo seria atribuir a uma criatura autoconsciente uma tarefa maçante, tediosa e indigna, que deveria, desde o início, ser delegada a um autômato.  É justamente aí que, tanto do ponto de vista da plausibilidade científica quanto no que tange aos direitos humanos, muitas narrativas do Bom Doutor dão para o torto.  Por que não delegar tarefas rotineiras e insípidas a meros autômatos?  De qualquer forma, com indagações desse tipo, Piassi conduziu a temática crucial de sua fala à questão dos direitos humanos, que era justamente aonde desejava chegar.

Ao citar a noveleta “O Homem Bicentenário” (1976) do Asimov, Piassi também menciona o filme homônimo de 1999, dirigido por Chris Columbus e estrelado por Robin Williams e Sam Neill.[2]




No que se refere ao textos de não ficção de Asimov, Piassi recomendou especialmente No Mundo da Ficção Científica (1981), um livro de ensaios pessoais do autor sobre FC, cuja tradução comete algumas escorregadelas hilárias.  Em termos de divulgação científica, meus favoritos pessoais ainda são O Universo (1966)[3] e Escolha a Catástrofe (1979)[4].

Enfim, Piassi concluiu com chave de ouro nesta época de eleições presidenciais norte-americanas, comparando os imperialismos democrata e republicano.  O primeiro seria exemplificado pelo universo ficcional de Jornada nas Estrelas e o último pela animação da Disney, Rei Leão.

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Entre a fala de Piassi e a de Lúcia La Rocque, cumpre mencionar, mesmo que en passant, os amigos e conhecidos presentes na plateia conectada que logrei identificar pelo canto do olho lá no chat do evento: os escritores de literatura fantástica Alexey Dodsworth e Ana Lúcia Merege.  O astrobiólogo Osame Kinouchi.  Os professores Alexander Meireles da Silva, do Fantasticursos e Naelton Araújo, do Planetário da Gávea.  A prata da casa da FIOCRUZ: Adílson Júnior, Anunciata Sawada, Sheila Assis e Telma Temoteo.  Meus correligionários do clube de leitura Vórtice Rio, Juliana Berlim e Ricardo França.

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Após a apresentação de seu currículo, Lúcia La Rocque abre a fala “Um Breve Passeio por Distopias de uma Terra em Transe” agradecendo Anunciata pela preparação de seu PowerPoint e nos brindando com a bela citação de Freeman Dyson, que tomo a liberdade de colocar em epígrafe nesta crônica.

Em seguida, a fada madrinha da FC na academia abordou as pandemias em geral e a Covid-19 em particular como distopias.  Distopias cum pandemias é um tópico que, do ponto de vista da análise histórica da ficção científica, não faria sentido se não citasse o papel de precursor do romance O Último Homem (1826)[5] de Mary Shelley na temática da pandemia que extingue a humanidade, uma análise que Lúcia estabelece com lucidez, brilhantismo e simplicidade.  Daí, rende-se ao ensejo irresistível de traçar um paralelo para lá de pertinente entre as duas obras de Shelley na literatura fantástica: Frankenstein e O Último Homem.




Após mencionar as narrativas distópicas expressas nos romances Admirável Mundo Novo (1932) de Aldous Huxley; 1984 (1949) de George Orwell e O Conto da Aia (1985) de Margaret Atwood, Lúcia compara outro romance distópico dessa autora, MaddAddam (2013)[6], com O Último Homem, frisando que, ao contrário desse último, MaddAddam constitui um bom exemplo da temática do Complexo de Frankenstein na literatura fantástica.



Após uma pincelada breve, mas pertinente, nos filmes de ficção científica que abordam a temática da pandemia, Lúcia encerra sua fala categoricamente com o poema “Congresso Internacional do Medo”, de Carlos Drummond de Andrade.

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Findas as palestras, a mediadora lança aos participantes as perguntas e comentários da plateia digital, colocadas no chat ao longo das apresentações.

Ante à questão se estaríamos vivendo uma distopia pandêmica, Lúcia responde que a classificação de um texto como distopia ou utopia depende um pouco das naturezas dos personagens e dos leitores.

Aproveitando o gancho da citação de Rei Leão por Piassi, Anunciata indaga se o clássico da Disney não seria, em verdade, um plágio do mangá e anime japonês Kimba.[7]  Pelo que se comentou, fiquei com a impressão nítida de que é plágio, sim.

Quando alguém da plateia indaga sobre a suposta misoginia presente na obra ficcional de Asimov, Piassi sagazmente escapa pela tangente.  Imagino se integrantes da plateia não estariam confundindo o comportamento do Bom Doutor (velhas histórias de assédios e traseiros femininos beliscados em elevadores)[8] com a ausência de relevância das personagens femininas na obra de Asimov.  Sobretudo, nas narrativas escritas antes de 1970.

A partir do questionamento de uma integrante da plateia, Piassi compara as Três Leis da Robótica com a Declaração dos Direitos Humanos e discute brevemente o que é humano.  Aliás, em suas três instâncias, duas literárias e uma cinematográfica, O Homem Bicentenário se esforça um bocado para esboçar uma resposta provisória a essa exata questão.

 



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Dois grandes especialistas no ensino das ciências com o emprego da ficção científica nos brindaram esta noite com duas palestras excelentes, daquelas que deixam a plateia triste quando o espetáculo acaba, com o espírito repleto com um gostinho de quero-mais.

Enfim, concluída esta quarta e penúltima sessão do II Encontro de Ficção Científica e Ensino de Ciências, já começa a bater uma ponta de saudades.  Espero que haja um III Encontro em 2021.

Jardim Botânico, Rio de Janeiro, 24 de setembro de 2020 (quinta-feira).

 


Participantes:

Adílson Júnior.

Alexander Meireles da Silva (Fantasticursos).

Alexey Dodsworth.

Ana Lúcia Merege.

Anunciata Sawada (coordenadora e moderadora).

Gerson Lodi-Ribeiro.

Juliana Berlim.

Lúcia de La Rocque (apresentadora).

Luís Paulo Piassi (apresentador).

Naelton Araújo (Planetário da Gávea).

Osami Kinouchi.

Ricardo França.

Sheila Assis.

Telma Temoteo.

 



[1].  Segundo Piassi, uma homenagem a Fred Mercury que, como ele destacou, também morreu de AIDS.

[2].  Esse filme se baseou não só na noveleta como no romance O Homem Positrônico (1992), escrito por Robert Silverberg e Isaac Asimov.  Em verdade, com a anuência de Asimov, Silverberg reescreveu a noveleta original, expandindo-a sob a forma de romance.  A maior diferença entre esses dois textos é a grande ênfase na psicologia interna do protagonista Andrew Martin, sobretudo em sua mudança gradativa, da mentalidade robótica padronizada até o humano artificial criativo e genial.  Em suma, o romance narra essencialmente a mesma história que a noveleta, só que mais bem contada.


[3].  História da Astronomia em um único volume.  Abrangente e completo.  Abordagem histórica impecável, desde a Antiguidade Clássica até 1966 EC.  Uma obra que me influenciou bastante a almejar cursar Astronomia.

[4].  Exposição de todas as catástrofes, de todos os tipos possíveis, que se podem abater sobre a humanidade.  O livro se divide em cinco partes, conforme o autor classifica as catástrofes em graus de um a cinco, das mais gerais, inevitáveis e remotas até as mais específicas, em princípio evitáveis e mais próximas: 1) primeiro grau - destruição do Universo; 2) segundo  grau - destruição do Sistema Solar; 3) terceiro grau - destruição da Terra; 4) quarto grau - extinção da humanidade; e 5) quinto grau - desaparecimento da civilização atual.

[5].  Nanorresenha extraída do meu bunker de dados: O Último Homem (Landmark, 2010) – Romance precursor das temáticas da pandemia que aniquila a humanidade e do último humano sobre a Terra.  Enredo ambientado numa Europa do fim do século XXI (sobretudo na Grã-Bretanha) incrivelmente semelhante à Europa da terceira década do século XIX, época em que o romance foi escrito, exceto pelos fatos de haver transporte aéreo (através de dirigíveis) e de a Grã-Bretanha ter se transformado numa república.  É possível que essa seja uma terceira temática precursora, ao menos no âmbito da literatura fantástica.  Em seu todo, esta narrativa romântica é pesada demais, maçante demais e, demasiadamente longa para o tamanho do enredo que a autora se propõe contar.  O que talvez explique porque não obteve tanto êxito literário e comercial quanto FRANKENSTEIN.  O romance se divide em três tomos, grosso modo, de mesmo tamanho.  A temática da pandemia só é introduzida ao fim do segundo tomo.  O primeiro tomo trata, em essência, da juventude e da educação do protagonista, bem como das experiências românticas dele e de seus amigos e companheiras.  O segundo tomo trata das aventuras militares na Grécia do cunhado do protagonista, observadas do ponto de vista deste último.  Enfim, o terceiro tomo trata da chegada da peste à Europa e suas consequências fatais: a extinção da civilização humana (Edição bilíngue português-inglês).

[6].  MaddAddam também é o nome da trilogia homônima dessa autora canadense, cujos romances são: Oryx e Crake (2003); Ano do Dilúvio (2009); e MaddAddam (2013).  Há edições em português para os dois primeiros romances.

[7].  Como não fazia a menor ideia o que se tratava, recorri à Wikipédia para poupar esse trabalho aos poucos leitores tão ignorantes quanto este que lhes escreve: “Jungle Taitei, mais conhecido no Ocidente como Kimba, o Leão Branco é um mangá de Osamu Tezuka, mais tarde transformado em anime, que trata das relações entre o homem e a natureza através da história do leão branco Kimba enquanto ele tenta governar a selva”.

[8].  Não me estenderei demasiado nessa polêmica candente.  Aos interessados, sugiro a leitura dos artigos abaixo:

·          Jay Gabler: “What to Make of Isaac Asimov, Sci-Fi Giant and Dirty Old Man?”: https://lithub.com/what-to-make-of-isaac-asimov-sci-fi-giant-and-dirty-old-man/

·          Jim C. Hines: “Don’t Look Away: Fighting Sexual Harassment in the Scifi/Fantasy Community”: https://io9.gizmodo.com/dont-look-away-fighting-sexual-harassment-in-the-scifi-1785704207

·          David Futrelle: “Isaac Asimov: Prolific author, even more prolific sexual assaulter”: https://wehuntedthemammoth.com/2020/01/08/isaac-asimov-prolific-author-even-more-prolific-sexual-assaulter/

·          [Skeptics]: “Was Isaac Asimov notorious for groping women?”: https://skeptics.stackexchange.com/questions/35028/was-isaac-asimov-notorious-for-groping-women

·           [Wikipedia]: Isaac Asimov: https://en.wikipedia.org/wiki/Isaac_Asimov#Behavior_towards_women

segunda-feira, 21 de setembro de 2020

 

Estranho numa

Terra Estranha

no Vórtice Rio

 

202009210830P2 — 21.990 D.V.

 

“Ler ficção científica é ler Simak.  O leitor que não gosta dos contos de Simak não gosta de ficção científica.”

[Robert A. Heinlein em discurso proferido na cerimônia de premiação de Clifford D. Simak como Grand Master Nebula em 1977]

 

Realizamos anteontem à tarde nossa quinta reunião do Vórtice Rio sob a égide da Covid-19.[1]  Iniciei o evento com pontualidade carioca às 15h00.  Como o bate-papo estava animado, convocamos três outras etapas (pois a sessão do Zoom gratuito dura apenas meia hora, com uma tolerância adicional de dez minutos) e o encontro durou quase até as dezoito horas.

Desta vez todos os outros cinco participantes conseguiram se conectar em questão de cinco ou dez minutos.  Compareceram à reunião, por ordem de chegada (ao que eu me lembre): Ricardo França; Adílson Júnior; Luiz Felipe Vasques; Juliana Berlim; e Daniel Russell Ribas.  Além disso, contamos com a presença de um consultor especialmente convidado, Daniel Braga, responsável pelo canal do YouTube, O Canto do Gárgula, que compareceu na quarta e última etapa do evento para indicar narrativas de horror literário que analisaremos no mês que vem.

O romance escolhido para setembro foi Estranho numa Terra Estranha (1961), de Robert A. Heinlein.  Alguns de nós leram a edição da Artenova (1973), traduzida por José Sanz.  Outros leram a edição da Aleph (2017), com tradução de Edmo Suassuna.  Em 1976, li esse romance na edição da Artenova, que conservo comigo até hoje.  Quarenta e quatro anos mais tarde, reli na edição da Aleph, para essa discussão do Vórtice.



          

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Abrimos a reunião debatendo se Robert A. Heinlein seria um liberal anarquista, adepto do amor livre, capaz de escrever Estranho numa Terra Estranha (1961)[2], romance cult, que se tornou uma espécie de Bíblia da contracultura norte-americana da década de 1960 em geral e do movimento hippie em particular; ou um autor militarista e conservador, capaz de escrever Tropas Estelares (1959), publicado apenas dois anos antes.  Ou, quem sabe, Heinlein não era bem uma coisa e nem outra, mas só um escritor danado de bom?  Esse enigma é parcialmente respondido no material não ficcional incluído ao fim da edição da Aleph, onde a longa gênese de Estranho numa Terra Estranha é detalhada.  O manuscrito teria sido concluído mais de uma década antes de sua publicação original.  Heinlein não o publicou ao longo da década de 1950 porque não havia clima político e cultural para a crítica e o público leitor aceitarem o romance.

Só para provocar meus amigos, declarei que a melhor frase jamais proferida por Heinlein foi ouvida no discurso em que ele homenageou Clifford D. Simak quando esse autor recebeu a premiação Grand Master Nebula, concedida pela Science Fiction and Fantasy Writers of América (SFWA) em 1977.  O próprio Heinlein fora o primeiro escritor a ser agraciado com essa honraria em 1975.  Jack Williamson foi o segundo e Clifford D. Simak, o terceiro.  Como alguns dos mais novos só conheciam o Simak de ouvirem falar, recomendei a leitura de seu romance Way Station (1963) e do fix-up City (1952), além de sugerir a série de dezesseis volumes, catorze dos quais já publicados, The Complete Short Fiction of Clifford D. Simak, e lhes ofereci para fornecer duas crônicas pessoais não publicadas que escrevi sobre os contos e noveletas dessas catorze coletâneas já publicadas.

Porém, voltando ao Heinlein, debatemos se Estranho numa Terra Estranha seria ficção científica genuína, fantasia científica, ou simplesmente fantasia, conforme alegado na capa da edição brasileira publicada pela Artenova.  Advoguei o argumento de que a natureza dos poderes paranormais ou psiônicos do protagonista Valentine Michael Smith — um órfão humano criado por marcianos — parecia mais mágica do que científica.  Sobretudo, se levarmos em conta a tese heinleiniana, segundo a qual humanos poderiam adquirir tais poderes com facilidade, bastando para tanto, aprenderem o idioma marciano.  Meus amigos lembraram de Louise Banks, protagonista do filme A Chegada (2016) de Denis Villeneuve, inspirado na novela História da Sua Vida (2002) do Ted Chiang, que aprende a visualizar passado, presente e futuro como uma coisa só, ao aprender a pensar no idioma de uma civilização alienígena que visitava a Terra.  Rebati que aprender a enxergar o fluxo espaçotemporal de uma outra maneira ao aprender a pensar de forma diversa, graças a um idioma alienígena não é o mesmo que ser capaz de ler pensamentos alheios, mover objetos à distância, ou se teletransportar.  Além disso, Heinlein propõe a existência de vida após a morte no bom e velho estilo judaico-cristão, com anjos, inclusive, o que, por si só, talvez já caracterize o romance como fantasia.

Tal discussão nos conduziu a outra, mais geral: O que é ficção científica, afinal?  Com o consequente cotejo das mais diversas definições da FC.  Lembrei um caso hilário de um sócio paulistano do Clube de Leitores de Ficção Científica da década de 1980, que insistia que Branca de Neve e os Sete Anões era FC porque a protagonista ficava em “suspensão animada” (SIC).  Piedosos, outros sócios esclareceram ao incauto que: 1) era “animação suspensa”; 2) “suspensão animada” talvez fosse uma tecnologia automotiva avançada, que andava sendo experimentada na Fórmula 1; e 3) o fato de exibir uns poucos tropos típicos da ficção científica não faz, por si só, que a narrativa se torne FC.

Um dos participantes da reunião de anteontem, não lembro qual, comentou que, em novembro 2016, o SyFy Channel anunciou que produziria uma adaptação do Estranho numa Terra Estranha.  De lá para cá, ao que me consta, não há novidades nesse front.

Também discutimos discordâncias entre as traduções de Sanz e Suassuna.  Por exemplo, quando o personagem Jubal Harshaw, alter ego de Heinlein, desejava convocar uma das suas três ou quatro secretárias, empregava sempre o mesmo bordão:

— Front!

Na tradução da Artenova, José Sanz empregou:

— Seguinte!

Ao passo que Edmo Suassuna usou:

— À frente!

Já na edição portuguesa da Europa-América (1982), a tradutora Luisa Rodrigues adotou a solução fastidiosa, porém tecnicamente correta, conquanto descompromissada com a proposta semântica do autor, ao converter a exclamação em pergunta:

— Quem é que está de serviço?

 

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Além da discussão do romance de setembro, conversamos um bocado sobre os bastidores do II Encontro de Ficção Científica e Ensino de Ciências, simpósio semanal, organizado pela professora Anunciata Sawada e pelo Adílson Júnior sob os auspícios da FIOCRUZ, que tem ido ao ar pelo YouTube todas as quintas-feiras às 19h00.

Bastidores por bastidores, Juliana comentou que a apresentação do Dia 1 do II Encontro, que apresentei junto com Rômulo Ferreira, já estava com mais de duas mil e duzentas visualizações.  Além disso, esclareceu os motivos do atraso da apresentação que ela própria participou no Dia 3 do Encontro.  Comentamos e elogiamos a premiação do Projeto Clube de Leitores Neuromancers — tema da apresentação dela — na categoria Ensino Médio do Prêmio Paulo Freire 2019.  Ela nunca nos falara dessa premiação e só soubemos do fato quando a moderadora do Dia 3 leu o currículo dela para nós...

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Na última etapa deste encontro mensal, pudemos contar com a presença egrégia de Daniel Braga, responsável pelo canal O Canto do Gárgula, dedicado à literatura de horror.  Daniel compareceu atendendo ao pedido do Luiz Felipe Vasques, para sugerir livros para lermos para a reunião do mês que vem, uma vez que outubro é originalmente o mês consagrado ao horror literário no Vórtice Rio.  Dentre as várias sugestões pertinentes, selecionamos a noveleta O Balé das Aves Mortas (Skript, 2019) de Larissa Prado e Quarto 502 (Selo Covil, 2016) de M. Sardini.  Duas autoras brasileiras, portanto.  Até porque, como diz o Ancelmo Gois, “Halloween é o cacete!”  Embora tenhamos ficado balançados pelo fix-up Território Lovecraft do Matt Ruff, resolvemos deixar esse título, também descrito pelo Daniel, para uma próxima oportunidade.





Por volta das 18h00, enfim encerramos a quarta e última etapa desse que foi, em minha opinião, o encontro mais divertido desta nossa fase digital.

Jardim Botânico, Rio de Janeiro, 21 de setembro de 2020 (segunda-feira).

 


Participantes:

Adílson Júnior.

Daniel Russell Ribas.

Gerson Lodi-Ribeiro.

Juliana Berlim.

Luiz Felipe Vasques.

Ricardo França.

Daniel Braga, de O Canto do Gárgula (consultor especialmente convidado).

 



[1].  Em nosso primeiro encontro digital (maio), destrinchamos os romances Encontro com Rama (1973) de Arthur C. Clarke e Os Testamentos (Rocco, 2019) de Margaret Atwood.  No segundo (junho), analisamos a novela O Auto da Maga Josefa (Dame Blanche, 2018) de Paola Siviero.  No terceiro (julho), foi a vez do romance seminal, Frankenstein (1818) de Mary Shelley.  No penúltimo encontro (agosto), debatemos o romance bestseller Ártemis (Arqueiro, 2019) de Andy Weir.

[2].  Nanorresenha extraída do meu bunker de dados: Estranho numa Terra Estranha – Humano criado por marcianos inicia revolução social numa Terra cuja ética fora há muito degradada.  Sátira e alegoria deliciosas, bem ao estilo do autor.  Cultbook de uma geração.  Isto posto, o alter ego de Heinlein, Jubal Harshaw, é o falastrão mais pretensioso jamais criado pela ficção científica literária.

domingo, 20 de setembro de 2020

 

II Encontro de

Ficção Científica e Ensino de Ciências

(FIOCRUZ)

Dia 3

 

202009172359P5 — 21.986 D.V.

 

“A história acontece quando o escritor a escreve ou quando os leitores a leem?”

[Cirilo S. Lemos]

 

Hoje ocorreu a terceira sessão do II Encontro de Ficção Científica e Ensino de Ciências, um simpósio online patrocinado pela Fundação Oswaldo Cruz (FIOCRUZ), coordenado pela equipe da professora Anunciata Sawada e do tecnólogo Adílson Júnior.

As apresentadoras de hoje foram Erika Mac Knight e Juliana Berlim.  A primeira é graduada em Ciências Sociais e Comunicação Social, blogueira e mestranda em Bioquímica Médica.  A segunda é escritora de literatura fantástica e professora do Colégio Pedro II, com mestrado em Língua Portuguesa.

Como moderadoras, em lugar do Adílson Júnior, tivemos as professoras Sheila Assis e Telma Temoteo.

Ao contrário das duas sessões anteriores, que começaram com pontualidade carioca, essa atrasou cerca de vinte minutos.

Dentre os mais de dois mil inscritos no site do II Encontro, em sua lotação máxima, havia cerca de trezentas e sessenta pessoas assistindo essa terceira sessão online.  Ao longo de coisa de duas horas de duração, pessoas entravam e saíam do evento a todo instante.  Ao fim, havia cento e quarenta expectadores, 270 likes e um único dislike.

A apresentação está disponibilizada no YouTube (https://www.youtube.com/watch?v=QOHW--N7Swo).

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Após Sheila Assis nos brindar com o currículo de Erika Mac Knight, essa iniciou sua apresentação “Representação da Mulher Cientista em Filmes de Ficção Científica”.  Como o próprio título indica Erika adotou um enfoque eminentemente cinematográfico.  Para tanto, valeu-se de sua especialização na área dos estudos de ficção científica, destacada no próprio título da palestra digital.

Erika abriu com os seis estereótipos da cientista nos filmes de FC, conforme apresentados pela pesquisadora Eva Flicker no ensaio “Between Brains and Breasts: Women Scientist in Fiction Film”: 1) cientista solteirona; 2) cientista masculinizada; 3) cientista ingênua; 4) cientista vilã; 5) cientista assistente (ou filha); e 6) cientista solitária.  Em seguida, exemplificou com personagens presentes em filmes de ficção científica conhecidos do grande público.

Daí, passou ao papel dos personagens femininos em geral, citando o ensaio de Susan George, “Science Fiction Film: Nineteenth and Twentieth Centuries”, publicado em Women in Science Fiction & Fantasy, uma antologia de ensaios organizada por Robin Anne Reid.

Erika mencionou a presença de personagens vampes ou femmes fatales nos filmes de FC, exemplificando com Barbarella (1968), dirigido por Roger Vadim e protagonizado por Jane Fonda, inspirado na HQ de ficção científica homônima do Jean Claude Forest.

A apresentadora analisou em detalhes seis filmes de ficção científica.  Para exemplificar a heroína durona, abordou Ellen Ripley, a protagonista de Alien: o Oitavo Passageiro (1979), de Ridley Scott, e suas sequências.  A cientista competente por excelência é Lindsey Brigman em O Segredo do Abismo (1989), do James Cameron.  Em seguida, falou de outra cientista ultracompetente,  Eleanor Arroway, astrofísica especializada em SETI (Search for Extra-Terrestrial Intelligence), que protagonizou Contato (1997), dirigido por Robert Zemeckis e baseado no romance homônimo (198?) do Carl Sagan.[1]  Os três exemplos de cientistas em filmes de FC do século XXI citadas por Erika foram: a bióloga Elsa Kast, que criou vida e inteligência numa trama embebida no Complexo de Frankenstein em Splice, a Nova Espécie (2009); a engenheira biomédica Ryan Stone, que se tornou náufraga espacial em Gravidade (2013); e a bióloga Lena, que explorou um ambiente alienígena incrustado na Terra em Aniquilação (2018), filme inspirado no romance homônimo (2014)[2] de Jeff Vandermeer, primeiro volume da trilogia Comando do Sul.

 

                                 
               

Em sua conclusão, Erika afirmou que na maioria dos enredos analisados e em muitos outros estudados por ela, quase sempre, a cientista ainda precisa ser salva pelo herói.  Colocou, com pertinência, que as cientistas são em geral discriminadas nas tramas de FC cinematográfica.  Exatamente como muitas cientistas se queixam de que ocorre no mundo real das comunidades científicas brasileira e internacional.

Erika Mac Knight fez uma apresentação a um só tempo instrutiva e divertida, escapando do enfoque literário predominante para o cinematográfico.

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Antes da primeira palestra começar e no intervalo entre a primeira e a segunda, observei a presença de vários amigos e conhecidos em nossa plateia virtual, dentre os quais destaco: o coorganizador Adílson Júnior; o escritor e roteirista de FC Alexey Dodsworth; a autora de fantasia Ana Lúcia Merege; a própria coordenadora do II Encontro, Anunciata Sawada; Rômulo Ferreira, que apresentou a primeira sessão deste Encontro junto comigo; a escritora gaúcha Nikelen Witter; e o escritor e professor Octavio Aragão, que coapresentou a sessão da semana passada.

Mais uma vez, a lista de presença só foi disponibilizada lá pelo meio da segunda palestra.  No meio dessa segunda apresentação, o YouTube congelou em meu micro, obrigando-me a reinicializar PC e WiFi.  Dez minutos mais tarde, estava de volta à segunda palestra, só que voltei atrás, abrindo mão da experiência ao vivo, para não perder parte da apresentação da minha amiga e colega Juliana Berlim.

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No papel de moderadora, a professora Telma Temoteo leu o currículo da Juliana, antes de lhe passar a palavra, para que apresentasse “Clube de Leitura Neuromancers: Relato de Experiência Pedagógica com o Gênero Ficção Científica no Colégio Pedro II”.

Ao contrário da apresentação anterior, a de Juliana teve um enfoque inteiramente literário.  Nem poderia ser doutro modo, visto se tratar de seu depoimento como mentora e organizadora de um clube de leitura de obras de literatura fantástica no âmbito do campus de uma das unidades cariocas do Colégio Pedro II.

 


 

Juliana explicou a inspiração para o nome do clube de leitura no romance Neuromancer (1984), do William Gibson.  O C.L. Neuromancers iniciou suas atividades em 2017, com a leitura e posterior análise de Admirável Mundo Novo (1932)[3], de Aldous Huxley.  Outras narrativas notáveis destrinchadas pelos alunos com a orientação da Juliana foram Androides Sonham com Ovelhas Elétricas? (1968) de Philip K. Dick; 1984 (1949)[4], de George Orwell, eleito como um dos textos favoritos pelos alunos; O Conto da Aia (1985)[5], de Margaret Atwood; e Corrosão (2018), do autor brasileiro Ricardo Gondim, que, inclusive, compareceu à análise de seu romance.

Segundo Juliana, o objetivo primordial do C.L. Neuromancers é desenvolver o prazer da leitura e a justificativa do projeto se sustenta no tripé da proposta pedagógica do Pedro II: ensino, pesquisa e extensão.  O projeto do Clube de Leitura Neuromancers foi agraciado com o Prêmio Paulo Freire 2019 na categoria Ensino Médio.

Durante sua apresentação, Juliana citou o questionamento recente, singelo e brilhante do autor brasileiro Cirilo Lemos no Facebook, que tomo a liberdade abusada de transcrever no começo desta crônica.

O funcionamento do clube de leitura foi detalhado por Juliana, desde a escolha do livro, passando pela leitura mediada e orientada pela professora e concluído com a apresentação pública do romance trabalhado para a comunidade escolar como um todo.

Juliana concluiu sua apresentação com uma sessão de fotos recheada de histórias pessoais e insights do desenvolvimento acadêmico, mas não só, dos alunos.  Esse fecho enriqueceu a palestra com um toque afetivo e pessoal.  Aliás, quando paro para pensar nesse projeto, em todo o trabalho desenvolvido pela Juliana em prol da formação desses alunos, o primeiro termo que me vem à cabeça é “corrente de afeto”.

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Após a palestra da Juliana, as duas protagonistas puderam enfim interagir com sua plateia virtual sob a mediação de Telma e Sheila.  O início dessa interação foi marcado por dificuldades técnicas, sobretudo o retorno sonoro.

Erika aproveitou uma pergunta da plateia para aprofundar a questão do protagonismo feminino na versão cinematográfica de Aniquilação.

Uma questão relevante que veio à baila foi como estimular o interesse dos jovens e, sobretudo, das jovens, pela ciência.

Ao ser questionada sobre a recomendação da leitura do romance Laranja Mecânica (1962)[6], de Anthony Burgess, pelos alunos integrantes do Clube de Leitura Neuromancers, em relação à possibilidade de despertar impulsos de violência entre esses jovens (Ah, o velho receio do excesso de correção política), Juliana explicou que o alunato não conseguiu superar as dificuldades com o jargão da gangue e, por isto, o livro acabou não sendo selecionado.

 


 

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Este Dia 3 do II Encontro foi diferente em quase tudo das duas sessões anteriores.  Em minha opinião, essas diferenças foram para melhor.  Aguardo com ansiedade o que assistirei nas duas próximas quintas-feiras.

Jardim Botânico, Rio de Janeiro, 17 de setembro de 2020 (quinta-feira).

 


Participantes:

Adílson Júnior.

Alexey Dodsworth.

Ana Lúcia Merege.

Anunciata Sawada (coordenadora).

Erika Mac Knight (apresentadora).

Francisco Rômulo Monte Ferreira.

Gerson Lodi-Ribeiro.

Juliana Berlim (apresentadora).

Nikelen Witter.

Octavio Aragão.

Sheila Assis (moderadora).

Telma Temoteo (moderadora).

 



[1].  Nanorresenha do meu bunker de dados: “Mensagem alienígena é decodificada.  A partir da interpretação do seu teor, um veículo é construído e o contato é realizado em enredo cientificamente perfeito.  Descrições técnicas soberbas e colocação de um primeiro contato que consegue fugir de todos os clichês do gênero.  Excelente!  Sagan inspirou sua protagonista, Eleanor Arroway, na pesquisadora SETI legendária, mas real, Jill Tarter.”  Mais detalhes em: https://en.wikipedia.org/wiki/Jill_Tarter.

[2].  Outra nanorresenha: “Primeiro romance da trilogia Comando Sul.  Narrativa de mais uma expedição encetada à Área X, para estudar o fenômeno anômalo que se abateu sobre uma região extensa (aparentemente no sul dos EUA), provocando mutações extensas na fauna e na flora, e resistindo a todos os métodos de análise humanos aplicados para investiga-lo ao longo das décadas.  Dentro desse cenário, bióloga da décima segunda ou enésima quarta expedição começa enfim a desvendar parte do mistério que se abateu sobre a Área X.”

[3].  Nanorresenha: “Mais do que um simples romance de FC, o texto de Huxley é um manifesto filosófico de alerta aos perigos das aplicações sociais da manipulação genética e do condicionamento cultural.  O trabalho impressiona pela implicações profundas na sociedade atual, ainda mais quando lembramos que o original foi escrito quase uma década antes da Segunda Guerra.”

[4].  Nanorresenha: “Crítica pungente ao totalitarismo em todas as suas formas.  Num futuro não muito remoto, o Estado controla não só as expressões sociais e culturais, como o próprio pensamento e vontade humanos.  Essa edição da Easton Press abre com o prefácio de James Gunn.”

[5].  Nanorresenha: “Futuro próximo onde a sociedade norte-americana renega a ciência e cria uma cultura que segue os preceitos bíblicos literalmente. Na República de Gilead, o conhecimento está restrito a uma pequena parcela da população e o único valor que as mulheres possuem é o poder de gerar filhos e de servir aos homens.  A narrativa é apresentada do ponto de vista de uma Aia, mulher fértil designada para morar na mansão de um Comandante e sua Esposa com fins meramente procriativos.”

[6].  Outra nanorresenha do bunker: “Clássico da ficção científica britânica.  Near future distópico.  Alex, líder de uma gangue de adolescentes cruéis é preso e então selecionado para um tratamento radical de extirpação das tendências violentas inatas do ser humano para transformá-lo de psicopata em cidadão socialmente produtivo.”  A edição que tenho aqui em casa é a da Aleph (2014), com tradução brilhante de Fábio Fernandes.