segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Bagunça Literária em Sampa


Bagunça literária
no píer 1327 em sampa
 

201211242359P7 — 19.138 D.V.

“Nunca tantos se iludiram tanto por tão pouco.”
[Sobre a criação de Carla Cristina Pereira]
 

“Onde se pode encontrar todos os contos da Carla num livro só?” [Kyanja Lee]

 

Participei na tarde deste sábado da Bagunça Literária, superpromoção de vendas de livros organizada sob os auspícios das editoras Draco, Estronho e Tarja, no segundo piso do barzinho Píer 1327, aberto sob esse número de porta na Rua Joaquim Távora, na capital paulista.

Para começar, programei o despertador para às 04h00 e o bicho funcionou direitinho.  Já debaixo do chuveiro, meio sonâmbulo, antes de ligar a torneira, resolvi que havia acordado cedo depois e voltei para a cama quente, só para mais uns minutinhos de sono.  Conclusão: acordei assustado com a claridade da alvorada às 05h30, convicto de que já havia perdido meu ônibus que sairia da Novo Rio às 06h00.

Com ajuda da Cláudia, aprontei-me às pressas, engoli um copo de café com leite e desci para o ponto de táxi, improvisado aqui na esquina num posto de gasolina às 05h35.  Quando o motorista soube do destino e do horário do meu ônibus, falou apenas:

“— Tranquilo.”

Dito e feito.  Dez tensos minutos mais tarde, ele me deixou na área de desembarque da Novo Rio, mais perto da ponte rodoviária Rio-São Paulo.  Ainda houve tempo de trocar os e-tickets pelas passagens de ida e volta no guichê da Expresso Brasileiro, ligar para casa da fila de embarque e relaxar em minha poltrona já a bordo por deliciosos seis minutos, antes que o ônibus partisse para Sampa.

Leitura de bordo: A Connecticut Yankee in King Arthur’s Court (1889), de Samuel L. Clemens, mais conhecido como Mark Twain.  Ao terminar esse romance, concluí que ele inspirou muitas narrativas de viagens retrotemporais clássicas da ficção científica, inclusive, Lest Darkness Fall (1939), do L. Sprague de Camp.  Não há clichês históricos no texto do Twain, porque é justamente dali que vieram os paradigmas.  De repente, eu devia ter lido esse romance do Twain quarenta anos atrás.  Ler a influência décadas após os trabalhos influenciados pode distorcer nossas perspectivas...

Concluído o Yankee, comecei a ler a antologia Bestiário (Ornitorrinco, 2012), organizada por Ana Cristina Rodrigues e Ana Lúcia Merege.

*     *      *

 

Ao desembarcar no Terminal Rodoviário do Tietê encontrei com os amigos Carlos Orsi Martinho, Giseli Ramos e Ivo Heinz.  Dali, seguimos de metrô até a galeteria na Alameda Santos onde almoçaríamos.  Percorremos um trecho da linha amarela do metrô paulistano, construído pela iniciativa privada.  Quando saímos do metrô, passamos por uma gibiteria, onde encontramos meu velho amigo, Fábio Fernandes.  Quando comentei que estava achando o ambiente familiar, Ivo esclareceu que era a mesma gibiteria em que fizemos o lançamento paulistano da antologia Como Era Gostosa a Minha Alienígena! no primeiro semestre de 2003.  Daí, concluí que a galeteria em que almoçamos naquela ocasião também deve ter sido a mesma para a qual estávamos prestes a nos dirigir...  Será?

Após uns quinze minutos na gibiteria, que eu e Fábio aproveitamos para colocar nossos papos e fofocas em dia, rumamos para a tal galeteria.  À porta do restaurante, encontramos Edgard “Garapa” Refinetti.

Após uma entrada caprichada, com ênfase nos pães de queijo quentinhos e na pasta de galinha, degustei um galeto desossado acompanhado por creme de espinafre, única concessão aos hábitos alimentares saudáveis.  Tudo regado por três latas de coca-zero, pois declinei do vinho no almoço, em prol do que beberia à tarde, durante os lançamentos da Bagunça Literária.

O bate-papo animado, antes, durante e depois deste almoço saboroso, versou sobre política municipal carioca e paulista, sobretudo com referência à falta de opções eleitorais para os eleitores das duas metrópoles nesse último pleito para prefeito.  Quase não falamos de FC&F e fandom, mas, além dos galetos, destrinchamos as séries de TV a cabo Dexter, Breaking Bad e as nacionais Mandrake (por causa dos dois longas-metragens exibidos neste mês na HBO) e (fdp).  Esta última aborda em treze episódios de menos de meia hora as aventuras e vicissitudes cotidianas de um juiz de futebol que se separa da esposa de quem ainda gosta; esforça-se para manter a convivência com o filho do casal; apita as pelejas futebolísticas com coragem e honestidade, mas nem sempre com competência; diverte-se com os amigos (quase todos do meio da arbitragem); e se digladia com a crítica esportiva.  Os episódios são marcados pela agilidade e bom humor, começando sempre com um sonho do protagonista, o árbitro Juarez Gomes da Silva, e terminando com alguém chamando-o de filho-da-puta, nos contextos mais diversos.

Almoço na galeteria: Fábio Fernandes, GL-R, Edgard Refinetti,
Ivo Heinz, Giseli Ramos e Carlos Orsi Martinho.
 
 
Ivo indagou se estávamos a par do racha recente na Terceira Onda da FCB pretensamente instigado pela publicação da matéria “Patéticas Figuras Literárias” num blogue de crítica literária, por alguém que assina sob o pseudônimo.  A matéria detona indiscriminadamente gregos e baianos sem citar nomes, mas caracterizando seus personagens bem o suficiente para que sejam facilmente reconhecíveis por fãs antenados com o povo da Terceira Onda.  Confesso que precisei de consultoria para identificar todos os envolvidos, com uma única exceção.  Respondi que havia ouvido falar do imbróglio.  Ivo ainda perguntou se a Terceira Onda corria o risco de implodir como movimento.  Respondi que também não é para tanto.  Afinal, muitos de nós da Segunda Onda se envolveram nas maiores discussões, bate-bocas e baixarias, sem que lográssemos implodir mais do que uns poucos egos mais sensíveis.  Martinho brindou ao fato de ter resolvido se afastar há muito dessas desavenças estéreis do fandom.  Fábio bateu no tampo de madeira da mesa.

Da galeteria, nós seis rumamos para uma galeria da Avenida Paulista para visitar uma megastore da Livraria Cultura, mais uma vez, tive impressão de reconhecer o estabelecimento e acabei descobrindo que foi ali que lancei meu primeiro livro solo brasileiro, a coletânea de história alternativa Outros Brasis (Mercuryo, 2006), universozinho ficcional pequeno esse, né?

No caminho para a Cultura, Gi Ramos me perguntou sobre como acabava a trilogia Protocolos de Etrúria que escrevi para o Projeto Taikodom.  Ela trabalhou conosco no departamento de universo ficcional do projeto e atuou como revisora técnica e de conteúdo em minha coletânea Taikodom: Crônicas (Devir, 2009) e nos dois primeiros volumes da trilogia.  No entanto, com a descontinuação da parte literária do projeto multimídia, Gi nunca chegou a receber o romance final para revisar.

Nessa galeria, despedimo-nos dos amigos Fábio e Garapa, que partiram para seus afazeres vesperais de sábado.  Uma vez na megastore, dividimos nossa atenção entre os livros importados e as prateleiras de literatura fantástica publicada em português, onde comprei uma coletânea parruda do Richard Matheson, O Incrível Homem que Encolheu, que inclui o romance curto homônimo, um clássico da ficção científica já transformado em filme em 1957, com roteiro do próprio Matheson.  Na cafeteria da Cultura, Martinho pagou um cappuccino para o Ivo para quitar uma aposta que firmaram a respeito de uma determinada particularidade biográfica de minha querida amiga fictícia, Carla Cristina Pereira.  Infelizmente, mais não posso contar...

Da Cultura, após breve passagem por uma farmácia, fomos até a Paulista.  Como estava chovendo, rachamos um táxi até o Píer 1327 e chegamos lá cerca de meia hora antes da abertura dos trabalhos.  Já estavam no segundo pavimento arrumando seu estande os editores da Tarja, Richard Diegues e Gianpaolo Celli.  O grande lançamento da Tarja nesta tarde foi o volume verde (o quarto) da série de antologias eróticas, Fantástica Literatura Queer.

Mal eu, Martinho, Gi e Ivo nos aboletamos numa mesa e eis que aparece nosso amigo Anderson Santos, a quem rápida e espertamente cedemos a cabeceira, na esperança vã de que ele, magnânimo, resolvesse pagar a conta inteira.J  Também surgiu logo depois o jovem autor Lucas Zavagli, sobrinho do Ivo Heinz, que está estreando profissionalmente com o conto “O Príncipe dos Rios”, na Queer Verde.

Anderson Santos, Lucas Zavagli e o Tio Ivo, orgulhoso.
 
Atendendo a um apelo romântico da esposa Renata, Martinho viu-se obrigado a se ausentar pouco depois, ainda antes do começo da Bagunça Literária propriamente dita.

 
Hugo Vera, Renato Azevedo e GL-R com antologia Space-Opera 1.

GL-R e Anderson Costa em Grande Parceria Queer: Linguiça & Mandioca.
 
Cada um de nós pediu um prato aperitivo.  Como as porções eram extremamente bem servidas, nossa mesa tornou-se logo o reduto da diretoria, onde os amigos se sentiram à vontade para vir jogar conversa fora conosco e beliscar uma linguiça ou mandioca frita.  Assim, minha linguiça artesanal, avantajada e com cobertura de provolone e orégano adquiriu sua fama merecida, bem como a notória mandioca frita com bacon do Anderson, a ponte de safena do Ivo e as bruschettas da Gi.  Tudo delicioso e numa quantidade muito maior do que poderíamos em sã consciência degustar sozinhos, por mais que houvéssemos tentado.  Eu e Gi Ramos dividimos irmãmente uma garrafa de Finca Finchmann Cabernet Sauvignon.  Eu banquei o irmão grande, ela a irmã pequena.J

Gi Ramos, GL-R e Ivo com exemplares de Histórias de FC de Carla Cristina Pereira.

Sessão de autógrafos: "... e com um beijo da Carla..."
Modéstia à parte, outro lançamento que causou sensação foi o de minha Histórias de Ficção Científica de Carla Cristina Pereira (Draco, 2012), coletânea em que, graças ao entusiasmo do amigo e editor Erick Sama, finalmente concretizei um sonho antigo de reunir todos os trabalhos que escrevi sob esse pseudônimo num único volume.  Além dos cinco trabalhos de ficção curta[1], inclui um ensaio biográfico, “Os Anos em que Fui Carla”, em que tento explicar as motivações que me levaram a criar essa que foi, ao longo de quinze anos, minha personagem mais verossímil.
 
Valentina Silva Ferreira, autora de A Morte é uma Serial Killer.

Outro lançamento de impacto, agora da Estronho, foi o romance de estreia da autora madeirense Valentina Silva Ferreira, A Morte é uma Serial Killer.  Ao que parece, a autora veio pela primeira vez ao país por conta do lançamento.  Valentina publicou vários contos em antologias temáticas brasileiras, dentre os quais, o divertido “Sexo com Água, uma Mutação Tentadora” que acabou de aparecer na Erótica Fantástica 1 (Draco, 2012).

Junto à nossa mesa, contamos com as presenças insignes dos autores Sid Castro e Tibor Moricz.  Conversamos sobre vários assuntos candentes, dentre eles as submissões aos novos volumes da Erótica Fantástica.
 
Hugo Vera, GL-R, Ivo, Sid Castro, Anderson Costa e Tibor Moricz.

A certo momento, fui obrigado a interromper o bate-papo agradável para adquirir uns poucos livrinhos.  Afinal de contas, os descontos da Bagunça Literária estavam irresistíveis.  Portanto, além dos volumes amarelo e verde da Fantástica Literatura Queer, comprei o romance Metanfetaedro (Tarja, 2012), da Alliah; A Morte é uma Serial Killer (Estronho, 2012), da Valentina; a antologia lusitana ficção retrofuturista organizada pelo Rogério Ribeiro, Fantasporto (Tarja, 2012); e a antologia de fantasia histórica da Estronho, História Fantástica do Brasil — Guerra dos Farrapos, organizada pelo M.D. Amado.  Tudo isto pela pechincha ridícula de R$ 124...

Então, coligi os autógrafos dos autores presentes.  Peguei o da Valentina no romance dela e os de Lucas Zavagli e Amanda Marchioreto na Queer Verde.  Nessa antologia e também na Queer Amarela, fiz questão de coletar também os autógrafos dos antologistas Cristina Lasaitis e Rober Pinheiro.  Ambos me convidaram para submeter um conto para um dos próximos volumes do projeto.  Tentarei escrever algo legal, porém, falei-lhes que esperava, como contrapartida, que eles escrevessem algo para uma dos próximos volumes da Erótica Fantástica.
 

GL-R, Amanda Marchioreto e Ghad Arddhu e nossos exemplares autografados da Queer Verde.
 
Rober Pinheiro e Roberta Nunes.

Estande da Tarja: Camila Fernandes, Cristina Lasaitis, Gianpaolo Celli, Verena Peres e Richard Diegues.
 
Estande da Estronho: MD Amado & Celly Borges.


Conversei um pouco com o casal Alícia Azevedo & Henrique de Lima, da editora Ornitorrinco e lhes contei que meu conto “Terra Brasilis”, publicado na antologia 2013: Ano Um, que ela e Daniel Borba organizaram, tem causado uma sensação surpreendente entre meus antigos colegas de farda.  Bom, talvez eu não devesse me surpreender tanto.  Afinal, quase todos os personagens são militares da Marinha do Brasil e boa parte da ação se passa a bordo de belonaves da MB ou em tanques anfíbios do Corpo de Fuzileiros Navais.

Henrique de Lima, GL-R, Alícia Azevedo e ???.

Conversei um bocado com meu editor favorito, Erick Sama, com quem dividi outra garrafa de Finca Finchmann, tomando a liberdade de lhe sugerir que experimentasse a magnífica linguiça artesanal com provolone e orégano.  Creio que ele não se arrependeu.  Aliás, chamei o Erick para testemunha juramentada no caso dos biscoitos lusitanos que Valentina trouxe para Ana Cris Rodrigues.  É que Valentina se esqueceu de trazer os biscoitos legendários para a Bagunça Literária e, portanto, julguei melhor me resguardar de futuras acusações de gulodice desenfreada, pois, desta vez — excepcionalmente — sou inteiramente inocente...  Eu juro!

Estande da Draco: Erick Sama e Raphael Fernandes.


A Grande Linguiça de Erick Sama.
 

Área de Vendas.
 
Enquanto bebíamos nosso vinho, eu e Erick conversamos com os amigos Raphael Fernandes, Ghad Arddhu e Átila Oliveira.  Devo confessar que alguns dos assuntos não foram do tipo publicável.J

Ao fim do certame, acompanhei Erick até seu dracomóvel para receber meu engradado de Histórias de Ficção Científica de Carla Cristina Pereira e acabei ganhando uma carona.  Inicialmente, meu amigo me levaria até a estação de metrô mais próxima, de onde eu seguiria até o Terminal Rodoviário Tietê.  Porém, como a primeira estação pela qual passamos já estava com as portas cerradas e o papo estava bom, num arroubo de generosidade que já se tornou tradicional, Erick acabou me levando até a rodoviária.

A viagem de regresso para o Rio num ônibus-leito da Expresso Brasileiro se deu sem maiores percalços.  Parti às 23h50, a poltrona reclinável era mais confortável do que nas viagens anteriores, de forma que consegui dormir relativamente bem.  Seis horas mais tarde, às 05h45, aportei na Cidade Maravilhosa e, menos de dez minutos a bordo de um táxi célere, retornei à casa antes mesmo da edição dominical de O Globo subir para o apartamento.

Além de uma bela oportunidade de rever vários amigos queridos, eis-me de volta ao lar com mais um livro lançado, a quinta coletânea de minha carreira.  Já pus a moçoila na estante!  No que se refere ao êxito da empreitada Bagunça Literária, do ponto de vista das vendas, tenho a impressão de que as três editoras que patrocinaram o evento não tiveram do que se queixar.



Jardim Botânico, Rio de Janeiro, 24 de novembro de 2012 (sábado).

 


Participantes:

Alexandre Heredia
Alfer Medeiros
Alícia Azevedo
Amanda Marchioreto
Anderson C. Santos
Átila Oliveira
Camila Fernandes
Cândido Ruiz
Carlos Orsi Martinho
Carol Chiovatto
Celly Borges
Cristina Lasaitis
Dana Guedes
Edgard “Garapa” Refinetti
Erick Sama
Fábio Fernandes
Gerson Lodi-Ribeiro
Ghad Arddhu
Gianpaolo Celli
Giseli Ramos
Henrique de Lima
Hugo Vera
Ivo Heinz
Lucas Zavagli
M.D. Amado
Raphael Fernandes
Renato A. Azevedo
Richard Diegues
Rober Pinheiro
Roberta Nunes
Sid Castro
Tibor Moricz
Valentina Silva Ferreira
Verena Peres
Verônica Freitas






[1].  Os cinco trabalhos são:
                “Se Cortez Houvesse Vencido a Peleja de Cozumel” (1998);
                “Estigma da Morte Anunciada” (2001);
                “Xochiquetzal e a Esquadra da Vingança” (1999);
                “Uma Certa Capitã Rodriguez” (2000); e
                “Clandestina Candente de Cosa” (2002).

sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Noite Abstêmia no Estação Gourmet


Noite abstêmia no estação gourmet

 

201211232359P3 — 19.137 D.V.

 
“War is hell.”
[William T. Sherman]

 

Deu-se hoje à noite mais uma das bebemorações periódicas do grupo de amigos da comunidade de literatura fantástica carioca e afins, congregada como de costume no espaço gastronômico da Estação Gourmet, sob pretexto de colocar as conversas em dia.

Do meu ponto de vista, a parte das bebemorações não rolou, pois já havia jantado com a Cláudia em casa, mas a parte de colocar o papo em dia foi muito boa.

*     *      *

 

Quando cheguei ao restaurante já estavam lá Ana Cristina Rodrigues, Jorge Pereira, Max Mallmann, Carlos Eugênio Patati e Luiz Felipe Vasques.

Para começar, mostrei aos amigos o livro Nós, Ciborgues, que Fátima Regis lançou na semana passada na Blooks.  Aproveitei o ensejo e mostrei também o romance de Samuel L. Clemens (mais conhecido como Mark Twain), A Connecticut Yankee in the King Arthur’s Court, que estou lendo agora.  Todos os presentes confirmaram também não terem lido o romance.  Senti alívio: a lacuna de ignorância literária não era só minha…J  Em contrapartida, Ana Cris mostrou-nos o livro O Cair da Noite, de Isaac Asimov, novela que ela traduziu para o português.  Esse livro chega ao mercado com um acabamento caprichado, capa dura e ilustração retrô, prefácio de Marcello Simão Branco e o escambau. Uma aquisição que vale a pena considerar, mesmo para quem já possui a noveleta numa coletânea ou antologia qualquer.
 
Ana Cristina Rodrigues, Max Mallmann e Jorge Pereira.

Carlos Eugênio Patati, Luiz Felipe Vasques e GL-R.


Para gáudio da Ana Cris, a narrativa do ianque Hank Morgan em Camelot e adjacências levou-nos à temática das fantasias medievais em geral e das fantasias arturianas em particular.  Confirmei-lhe que Twain realmente situa sua narrativa de história alternativa ou história oculta (como sói acontecer nesses casos, só será possível proferir o veredicto final ao fim da leitura) avant de letre no século VI, o que prova que ele estava razoavelmente bem informado para a época em que escreveu uma narrativa de viagem temporal não-tecnológica na penúltima década do século XIX, antecedendo em alguns anos a publicação de A Máquina do Tempo, de H.G. Wells.  Tenho impressão de que Twain logrou estabelecer um diálogo frutífero com outros romances medievais escritos naquele século, mas precisaria lê-los ou, em alguns casos, relê-los, para confirmar esse ponto.

Das fantasias arturianas, passamos aos romances históricos medievais propriamente ditos, com ênfase óbvia no Ivanhoé, de Sir Walter Scott, autor que chega a ser citado explicitamente em A Connecticut Yankee...  Dos romances históricos à história real da Idade Média e dali à Idade Moderna foi um pulo.  Falamos sobre questões dinásticas do ducado da Borgonha (ante o vastos conhecimentos de minha amiga, limitei-me a ouvir e aprender) e dos reinos da península ibérica, com atenção especial à sagacidade matrimonial de el-Rei Dom Manuel o Venturoso ao decidir desposar a princesa espanhola inicialmente destinada a seu filho e herdeiro no trono português.  Pois, em circunstâncias ligeiramente diversas, a estratégia do velho monarca poderia ter resultado numa Unificação Ibérica sob égide lusitana, em vez de espanhola.  Um belo exemplo histórico de uma estratégia brilhante que não deu certo...

Max, Jorge e Felipe esmiuçaram o triste caso de Macarrão no julgamento do ex-goleiro Bruno, indiciado por sequestro, cárcere privado e homicídio da ex-namorada.  Quando alguém comentou que Macarrão teria se afirmado humilhado pelos companheiros de prisão, o trio maldoso tripudiou sobre prováveis sevícias infligidas na prisão: “com aquela tatuagem, ‘Bruno e Maca, amor eterno’, o que é que ele queria?”  As agruras de Macarrão no Caso Bruno.  Também se cogitou uma variante da popular meinha com troca de juras de amor em tatuagens em vez de favores sexuais.  Ao que parece, Macarrão resolveu desistir de se imolar em prol do ex-amigo de infância e botou a boca no trombone.  Vamos ver no que vai dar...

Ana Cris comentou que não poderá comparecer à Bagunça Literária que se desenrolará lá em Sampa no próximo sábado.  Com essa ausência inopinada, minha amiga me delegou a missão de trazer de volta para o Rio uma data de biscoitos que lhe será trazida pela autora portuguesa Valentina Silva Ferreira.  Valentina já publicou diversos trabalhos deste lado do Atlântico, dentre os quais destaco — por razões óbvias — o conto “Sexo de Água, uma Mutação Tentadora”, lançado na antologia Erótica Fantástica 1, que organizei para a Draco este ano.

Não sei por que cargas d’água a conversa derivou para o alcoolismo de Ulysses S. Grant, comandante-em-chefe das forças da União na segunda metade da Guerra Civil Americana.  Destrinchamos a estratégia de Grant, o Açougueiro, e Sherman, o Flagelo de Atlanta, bem como os papéis desses generais no propósito do presidente Abraham Lincoln de aniquilar definitivamente a sociedade escravista do Velho Sul.

Comentei com Max que estamos presentemente assistindo uma espécie de maratona do seriado da Rede Globo, A Grande Família, em que ele atua como roteirista.  Andamos gravando uns sete ou oito episódios seguidos e só agora encontramos tempo para assisti-los.  Uma das atrações mais legais da temporada atual é um personagem gay cujo pai era amigo de infância do Lineu e que acabou se tornando sócio da Nenê.  Outro aspecto interessante é a inserção gradativa dos personagens do universo digital da internet, redes sociais, Facebook e outros que tais.  Quando começamos a assistir um episódio novo de A Grande Família, aqui em casa sempre apostamos se o roteiro tem ou não participação do Max Mallmann.  Sem falsa modéstia, cumpre confessar que acertamos em cerca de 90% das vezes.

Estevão Ribeiro chegou direto da redação quando eu já estava em plena sobremesa (torta suíça), após um copo de mate diet e uma coca zero.  Mesmo assim, cavamos tempo hábil para que ele detalhasse o desenvolvimento do projeto de sua graphic novel verniana Da Terra à Lua e me falasse um pouco sobre o êxito de vendas de seu livro Os Passarinhos e Outros Bichos.

Aliás, Ana e Estevão contaram que esse último foi até Itaguaí pelo O Dia, para uma matéria sobre o projeto do submarino nuclear brasileiro, que acabou não sendo publicada...

Eduardo foi outro que chegou mais tarde, numa hora em que todos já apostavam em novo forfeit, embora ele tenha chegado antes do Estevão.

A saída, lamentei um pouco do excesso de trabalho este ano na Prefeitura, mas, enfim, nada que seja novidade ou que valha a pena comentar.  O importante é que, na despedida, ao saber que lançarei a coletânea Histórias de Ficção Científica de Carla Cristina Pereira no próximo sábado na Bagunça Literária, o pessoal cobrou um lançamento carioca.  De repente, combino com o Erick Sama um evento conjunto com a Erótica Fantástica 1 lá na Blooks...

Eu, Eduardo e Jorge saímos juntos do Estação Gourmet e tomamos táxis em frente ao estabelecimento.

No todo um bom encontro, pois eu estava realmente precisando colocar a conversa em dia com meus amigos da ficção científica carioca para desopilar um pouco.

Jardim Botânico, Rio de Janeiro, 23 de novembro de 2012 (quinta-feira).

 


Participantes:
Ana Cristina Rodrigues
Carlos Eugênio Patati
Eduardo Torres
Estevão Ribeiro
Gerson Lodi-Ribeiro
Jorge Pereira
Luiz Felipe Vasques
Max Mallmann

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Nós, Ciborgues de Fátima Regis


Lançamento de nós, ciborgues

 

201211132359P3  — 19.127 D.V.

 

Saí direto do trabalho debaixo de uma chuva fina e persistente para o lançamento do livro Nós, Ciborgues (Champagnat, 2012) de minha amiga e afilhada Fátima Regis, na livraria Blooks, situada na galeria Unibanco Artplex, na Praia de Botafogo.  Apesar de ter saído da Cidade Nova com certeza antecedência, graças a um engarrafamento no caminho até a Lapa, cheguei quase uma hora atrasado.  Em compensação, concluí a leitura do romance O Alienado (Draco, 2012) do Cirilo S. Lemos durante a jornada.

Posando de marido orgulhoso, Sylvio Gonçalves fez as honras da casa de filmadora em punho.  Enquanto a esposa autografava, Sylvio fotografava e filmava.

Aproveitei o evento para colocar o papo em dia com os amigos Marcelo Couto e Carlos Patati, além de ter conversado durante praticamente todo o evento com Luísa Gonçalves, a filha de sete anos de nossos afilhados.

*     *      *

Fátima Regis, autora de Nós, Ciborgues.

 

Ao me dirigir à mesa de autógrafos reencontrei a cunhada da Fátima (esposa de seu irmão) que eu já não via desde o casamento de nossos amigos, dezoito ou vinte anos atrás.  Aproveitei para tirar fotos com a autora e bater papo com Luísa, precoce e inteligente em seus sete anos como só a filha de Sylvio e Fátima pode ser.

Junto aos refrigerantes servidos por conta da Blooks, havia um Concha y Toro Reservado Cabernet Sauvignon e um branco que, sem óculos, não logrei identificar.  No meio para o fim do lançamento, Sylvio determinou a substituição do tinto padrão por um Casillero del Diablo Syrah, escolha correta que caiu em meu palato e trato gustativo como uma (l)uva, com perdão do trocadilho.

Marcelo Couto, Sylvio Gonçalves e GL-R.
 
Conversei com Sylvio e Marcelo sobre séries televisivas, com ênfase na animação de ficção científica Futurama e em minha recente paixão pela série criminal Dexter, sobre um serial killer especializado em matar outros serial killers...

Patati e a filhinha de seis anos Sofia chegaram um pouco mais tarde.  Não sei se ela e Luísa já se conheciam, mas, pelo jeito que brincavam, pareciam velhas amigas.  Ah, a infância...J

Nós, Ciborgues é a versão em livro da tese de doutorado que Fátima defendeu em meados de 2002.  Um texto acadêmico de ficção científica extremamente interessante, com insights significativos sobre a presença e a influência da tecnologia em nossos corpos.  Um trabalho com que travei contato já por ocasião da defesa da tese mais de uma década atrás.  Lastimo que tenha demorado tanto tempo para ser publicado, no que se pese que o texto tornou-se ainda mais atual e mais pertinente nestes dez anos.

De repente, Sofia apareceu aos prantos.  No início, imaginamos que ela houvesse se machucado nas corredias Blooks adentro.  Mas, não.  Chorando, a pequena nos alertou que o lábio inferior de Patati estava com um tremor, segundo ela, sintoma claro de hipoglicemia.  Devidamente avisados, ao constatar que nosso amigo de fato parecia meio zonzo, sentamos com ele naquele pufe circular da livraria e lhe ministramos dois valentes copos de refrigerante não dietético.  Medicação ingerida, Patati recobrou o vigor em questão de instantes.  Todos ficaram impressionados e comovidos com a ação rápida e precisa de Sofia em defesa de seu pai.

Contrariando nossas tradições, ao fim do lançamento não nos dirigimos ao Estação Gourmet, mas sim a um restaurante bem mais próximo, situado numa transversal à Praia de Botafogo, um estabelecimento simpático pelo qual eu já havia passado diversas vezes, mas que nunca havia entrado.  Além de Sylvio, Fátima e Luísa, foram comigo ao restaurante Marcelo e dois amigos do casal: Luiz e um outro, fã de HQ, cujo nome não me recordo.

Já acometido de certa pirose (maladia popularmente conhecida por “azia”), em virtude da ingestão de cinco ou seis taças de vinho de estômago vazio, uma vez aboletado no restaurante, limitei-me aos bolinhos de bacalhau regados com coca-zero.  Os outros convivas também degustaram batatas fritas e salada.  Durante boa parte da refeição, eu e Luiz nos aliamos para enfrentar Luísa no jogo da forca.  Nem é preciso falar que fomos fragorosamente massacrados na maioria das rodadas...

Quando enfim pagamos a conta e saímos do restaurante já passava da meia-noite e a chuvinha fina ainda não havia passado.

Mais um lançamento relacionado à literatura fantástica que começou na livraria Blooks, ponto tradicional para esse tipo de atividade bibliorrecreativa, terminando num restaurante próximo, para alegria dos que comungaram do momento de triunfo autoral dessa autora querida.

 

Jardim Botânico, Rio de Janeiro, 13 de novembro de 2012 (terça-feira).

 


Participantes:
 
Carlos Eugênio Patati
Elisa Ventura
Fátima Regis
Gerson Lodi-Ribeiro
Luísa Gonçalves
Luiz
Marcelo Carvalho Couto
Sofia
Sylvio Gonçalves