quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Fim de Ano da Llyr na Casa da Leitura


Fim de ano da llyr
na
casa da Leitura
 

201212152359P6 — 19.153 D.V.

 

Noutro evento em petit committee, compareci hoje à tarde na Casa da Leitura em Laranjeiras para o evento de fim de ano da editora Llyr.

Apesar da plateia reduzida, talvez em virtude do sábado chuvoso, o evento — um misto de mesa-redonda e bate-papo — mostrou-se produtivo e divertido.

*     *      *

 

Ainda sob efeito dos excessos literários, etílicos e gastronômicos — não necessariamente nesta ordem — da noite passada aqui em casa, por ocasião da vinda do Flávio Medeiros ao Rio, almocei um risotinho de frango caseiro e parti para a empreitada da Llyr no bairro carioca das Laranjeiras.

Levei uma mochila carregada de livros.  Pois, mesmo sem muita esperança de concretizar vendas, por insistência de minha amiga, Ana Cristina Rodrigues, levei oito exemplares da antologia Como Era Gostosa a Minha Alienígena! (Ano-Luz, 2002) e da coletânea Histórias de Ficção Científica da Carla Cristina Pereira (Draco, 2012).  Minha perspectiva se revelou realista.  Ninguém se interessou pelos livrinhos.

Fui escalado para participar de uma mesa-redonda com os autores Estevão Ribeiro e Marcelo Amaral, com moderação da Ana Cris.  Como essa atividade estava prevista para começar às 16h00, cheguei coisa de meia hora antes, pegando o fim da oficina literária ministrada pela Ana para uma plateia seleta e interessada.  Os conselhos, sugestões e perguntas de costume pipocaram animadas sobre editais, preparo de originais, revisões, leitores betas e leituras críticas, expectativas, publicação paga e cuidados na relação de amor-ódio entre autores e editores.  Pelo teor e pertinências das perguntas da plateia, fiquei com a impressão de que havia mais de um autor iniciante do outro lado da mesa-redonda.  No quesito exemplos práticos, ao falar de autores que se metem na diagramação ou na confecção da capa, Ana citou o caso do próprio Marcelo Amaral, autor do romance de fantasia infantojuvenil Palladinum: Pesadelo Perpétuo (Llyr, 2011), como contraexemplo.  Marcelo não só elaborou a capa e as ilustrações internas do romance, como ainda insistiu em alterar a diagramação, pelo que entendi, com resultados positivos.

Estevão Ribeiro, Ana Cristina Rodrigues e Marcelo Amaral:
relação de amor-ódio entre autores e editores.
 
Ao longo da tarde, Ana Cris se dividiu entre os eventos da Llyr na Casa da Leitura e o acompanhamento online via tablet do processo seletivo de uma premiação literária que ela está coordenando na Fundação Biblioteca Nacional.  É que, não obstante os compromissos firmados, um dos jurados da categoria romance divulgou a lista de finalistas no Facebook.

No intervalo entre uma atividade e a outra, rolou umas torradas com coca-cola trazidas pelo Estevão de uma padaria próxima, com direito a chocotone à guisa de sobremesa.

A segunda parte do evento consistiu na mesa-redonda em si, presidida por nossa augusta editora Ana Cris, que falou dos projetos da Llyr para 2013, confirmando a publicação, dentre outros livros, do meu romance de ficção científica hard Quando Deus Morreu, que ela crê possuir uma pegada juvenil.  Espero que esteja certa.  Em minha defesa, declaro que o protagonista é um adolescente, Eduardo Torres, e a trama não possui, ao que eu me lembre cenas de sexo explícito.J

Em seguida, Ana passou a palavra ao Marcelo que falou sobre um segundo romance no universo ficcional Palladinum.

Na minha vez de falar, antes de abordar meus planos, atividades e lançamentos para 2013, falei um pouco do que fiz neste ano, com ênfase à organização de quatro antologias com submissões abertas (maratona exaustiva que me levou a analisar mais de quinhentos textos originais no total), na concretização do sonho de lançar minha coletânea Histórias de Ficção Científica de Carla Cristina Pereira (Draco, 2012) e da antologia Erótica Fantástica 1 (idem), além da conclusão do primeiro romance de uma trilogia que estou escrevendo no universo ficcional Ahapooka (A Guardiã da Memória).  Ao falar da coletânea carliana, tive que explicar o porquê de ter criado a persona feminina.  Neste ponto, Ana Cris puxou pela memória, lembrando as paixões que Carla despertou ao longo dos anos.  Daí, falei dos meus planos para 2013, com ênfase aos lançamentos de Quando Deus Morreu pela Llyr e As Aventuras do Vampiro de Palmares pela Draco.  Não cheguei a falar de minha pretensão de concluir o segundo romance da trilogia Mundo-Sem-Volta, até porque não sei se conseguirei fazê-lo.

Por último falou Estevão Ribeiro, cujos planos para o ano vindouro foram os mais extensos ou, pelo menos, os mais detalhados, com ênfase na graphic novel verniana Da Terra à Lua, para a qual escrevi o prefácio; da série Pequenos Heróis e de mais um volume das HQs de Os Passarinhos.

Marcelo Amaral, GL-R, Estevão & Ana Cris.
 
Findas nossas falas, abrimos para as perguntas da plateia que versaram, em sua maioria, sobre a aceitação de originais pelas editoras.

Após o evento na Casa da Leitura, o pessoal estava programando sair para comer alguma coisa e prosseguir com o bate-papo num ambiente menos formal.  No início, planejei ir, mas depois, julguei melhor regressar à base para recarregar as baterias.

Neste fim de semana de atividades intensas na seara da ficção científica carioca, quase não houve tempo para escrever crônicas sobre as experiências vividas.

Jardim Botânico, Rio de Janeiro, 15 de dezembro de 2012 (sábado).


Participantes:
       Ana Cristina Rodrigues

Estevão Ribeiro
Gerson Lodi-Ribeiro
Marcelo Amaral

domingo, 16 de dezembro de 2012

Flávio Garfield Medeiros in Rio




Flávio Medeiros in rio 2012

 

201212142359P6 — 19.152 D.V.

 “Muito obrigado, Edu!  Sem a força do seu fundo de pensão, minha vinda ao Rio não seria possível...
[Flávio Medeiros em discurso de agradecimento a Eduardo Torres]

 

Aproveitando a presença inopinada de nosso amigo Flávio Medeiros Jr. na Cidade Maravilhosa para participar da cerimônia de premiação do XII Concurso de Contos Petros, patrocinado pela Petrobras, marcamos um jantar em petit committee no restaurante Risata, com direito a uma esticada aqui em casa para degustar uns vinhos legais.

*     *      *

 

Na manhã de hoje, enquanto me preparava para sair ao trabalho, recebi um torpedo do Flávio Medeiros, dando conta de que estava na cidade e, portanto, em princípio, disponível para sair com os amigos à noite, pois regressaria para Belo Horizonte apenas no sábado de manhã.  Liguei de volta e combinamos um jantar às 20h00 no Risata, um restaurantezinho especializado em risotos muito simpático que abriu há três meses em frente ao nosso prédio.  Prometi que, depois do jantar no restaurante, daríamos um pulo aqui em casa para degustar uma ou duas garrafas de um vinho de fina estirpe.

A caminho do trabalho, liguei para tentar arrebanhar os amigos Ana Cristina Rodrigues, Eduardo Torres, Max Mallmann e Octavio Aragão para o evento.  Max confirmou de bate-pronto.  Edu ficou de dar uma resposta no meio da tarde e acabou confirmando também.  Octavio estava preso num daqueles compromissos familiares inadiáveis e Ana Cris andava às voltas com a organização de um concurso ou prêmio literário por conta da Fundação Biblioteca Nacional.  Sugeri que, se fosse o caso, bypassar o jantar e aparecer só para o vinho lá em casa, mas, ao frigir dos ovos, eles não puderam vir.

Deste lado do front, Cláudia deveria comparecer numa cerimônia em homenagem à Escola Naval pela câmara de deputados em pleno Palácio Tiradentes.  O horário previsto para o início da cerimônia era às 19h00 e sem hora para acabar.

Decidi chegar ao Risata às 19h45 para garantir a mesa, mas tal não foi preciso, pois, quando ingressei no estabelecimento, só havia um cliente lá dentro: meu amigo Max Mallmann.  Boa oportunidade para colocarmos nosso papo em dia.  Ele falou sobre algumas nuances dos roteiros e da produção do seriado global A Grande Família, comentamos o filme e o seriado Mulher Invisível, em função da recente premiação desse último no Emmy.  Max também me esclareceu certas dúvidas sobre o enredo do romance de continuação ao Centésimo em Roma que ele deve lançar no segundo semestre de 2013.  Falamos um pouco sobre as repercussões do lançamento paulistano de minha coletânea carliana Histórias de Ficção Científica de Carla Cristina Pereira.
 
GL-R, Eduardo Torres, Flávio Medeiros e Max Mallmann no Risata.

Preso num engarrafamento em Botafogo, nosso convidado de honra Flávio Medeiros chegou por volta das 20h30 com uma mala repleta de livros.  Ato contínuo, explicou-nos o motivo de sua vinda-relâmpago ao Rio.  Sagrou-se finalista num concurso literário, o XII Concurso de Contos Petros, patrocinado pela Fundação Petrobras de Seguridade Social (Petros), o fundo de pensão dos funcionários da Petrobras.  Como finalista, teve suas despesas de passagem aérea, alimentação e hospedagem bancadas pelo Petros, com direito, inclusive, a acompanhantes e extensivo ao fim de semana completo na Cidade Maravilhosa — benesses que, infelizmente, não aproveitou, pois sua esposa, Luciana, não pôde vir com ele.  Coisa de meia hora mais tarde, chegou Eduardo Torres, que havia ficado igualmente retido no engarrafamento supramencionado.  Como engenheiro da Petrobras, nosso amigo Edu não logrou esconder sua preocupação com os gastos milionários de seu fundo de pensão.  Para amenizar o clima, Flávio agradeceu efusivamente pela oportunidade de vir ao Rio, rever os amigos e, melhor ainda, ser publicado, tudo às custas de Eduardo e outros milhares de pensionistas e, quem sabe (pois o futuro é incerto), futuros pensionistas.  Frisamos o lado positivo do patrocínio ao mecenas involuntário: se o Petros possui tantos recursos assim para esbanjar — algo como a caixa-forte abarrotada do Tio Patinhas, em que é preciso torrar alguns milhões de reais porque simplesmente não cabe mais numerário lá dentro... — é sinal de que sua aposentadoria está assegurada.  Claro que sempre há o lado negativo, nosso amigo matutou, lembrando que não foi o primeiro ou sequer o quinto concurso de contos, mas o décimo-segundo...
 
Flávio presenteia seu mecenas involuntário com um exemplar da antologia.
 

Flávio conquistou o segundo lugar no XII Petros com o conto “Conto de Fadas”, uma atualização satírica da velha historinha “A Princesa e o Sapo”.  A escolha final — após uma comissão ter escolhido os trinta trabalhos finalistas — ficou a cargo do escritor, jornalista e tradutor, Carlos Heitor Cony.  Embora o concurso seja voltado para contos mainstream, o trabalho do Flávio em particular se enquadraria sem dificuldade numa antologia de fantasia.  É a terceira premiação de nosso amigo em 2012.  As outras duas foram o segundo lugar no Concurso Hydra com o conto de ficção alternativa “Por um Fio” e o Prêmio Argos na categoria ficção curta, com a bela noveleta de ficção científica, “Pendão da Esperança”.[1]

Com os quatro já presentes, pedimos o cardápio.  Eu, Flávio e Max escolhemos picanha (a minha, acompanhada por batata rösti), Edu, quiçá já preocupado com despesas futuras, limitou-se a um risoto.  Como iríamos tomar vinho lá em casa após o jantar no Risata, eu, Edu e Flávio nos limitamos a taças de branco argentino, para acompanhar o couvert, e tinto, para regar os pratos principais, ao passo que Max manteve-se fiel às suas Boemias.

Durante o jantar conversamos sobre as idiossincrasias do subfandom carioca e os últimos embates e novidades das redes sociais e listas de discussão.  Flávio lamentou não ter a oportunidade de conhecer pessoalmente o legendário Miguel Carqueija.

Ao fim do ágape, Cláudia chegou do Palácio Tiradentes e se sentou conosco, degustando os últimos fiapos de batata rösti do meu prato, pois não havia jantado.  Quitada a conta, atravessamos a rua, transferindo a bagunça aqui pra casa.  Para acompanhar os vinhos, servimos mousse de salame hamburguês, pasta de grão-de-bico, pão sírio e queijo provolone.  Abrimos o serviço com um tinto italiano, o Sponsà Veronese 2009, da Tenuta Sant’Antonio.  Cláudia preferiu um espumante, o Chardonnay Brut da Panizzon.  À medida que a noite avançava, liquidado o italiano, para homenagear tanto o Flávio, autor galardoado, quanto o Edu, mecenas da ficção curta, passamos ao ícone chileno, Clos Apalta 2008, da Casa Lapostolle, devidamente decantado de modo a revelar todo o seu potencial.  Enfim, quando a noite se transformou em madrugada, fechamos com chave de ouro com o excelente Sordo Barolo 2005, um tanto jovem, é certo, mas não é sempre que o Flávio vem ao Rio, então, valeu o pretexto.J

Flávio mostrou seu diploma do XII Petros e presenteou com exemplares autografados da antologia comemorativa que, este ano, homenageou o autor Marcelo Rubens Paiva.  Além das despesas pagas, ele recebeu cinquenta exemplares e uma bela bolsa do XII Petros.  Eduardo mostrou-se mais uma vez preocupado e até temeroso com o teor desta crônica.  Aproveitei o ensejo para presentear Flávio com um exemplar autografado da minha coletânea carliana.

Flávio Medeiros: premiado & diplomado mais uma vez!

Nosso convidado de honra aqui em casa.


Conforme os teores alcoólicos se elevaram em nossas bravas correntes sanguíneas, nossas línguas foram se soltando.  Daí, não me espantei tanto com os elogios rasgados do Flávio à ousadia erótica em algumas cenas de meu romance de ficção científica A Guardiã da Memória (Draco, 2011).  Confessei-me ligeiramente preocupado com a associação automática do meu nome a textos com carga erótica explosiva.  O fato é que tenho recebido ultimamente, junto com convites para participar de antologias de ficção curta, alguns toques para maneirar porque os antologistas pretendem veicular seus livros junto à rede escolar e, embora os adolescentes reprimidos de plantão pudessem até adorar o tipo de texto erótico que costumo escrever, as professoras responsáveis pela seleção de material de leitura dificilmente o aprovaria.

Bate-papo animado: colocando as fofocas em dia.
 
Brinde dos quatro heróis etílico-literários!
 
Nosso convidado de honra falou-nos de suas experiências memoráveis em Las Vegas e logrou apagar pelo menos parte de nossos preconceitos contra a meca norte-americana do jogo e da diversão.  Como jamais apreciamos a jogatina, a ponto de, vinte anos atrás, termos sobrevivido virgens e incólumes às pretensas tentações dos Cassinos de Montecarlo e Estoril, Las Vegas nunca pontuou como um de nossos sonhos de consumo turístico.  Só que Garfield nos contou sobre uma porrada de Circos de Soleil existentes na cidade, dos restaurantes cinco estrelas a preços módicos e das excursões de helicóptero ao Grand Canyon a preços mais acessíveis do que um mísero sobrevoo na Zona Sul do Rio.  Daí, para sonharmos com uma outra excursão, partindo de Las Vegas para a Cratera do Meteoro foi um pulo...  Sem dúvida, nosso amigo nos fez rever nossos conceitos!

Bate-papo animado: in vino veritas!
 
Lá pelas tantas, Flávio trouxe à baila a questão de meu boicote ao Concurso Hydra, assumido publicamente na primeira semana da Fantasticon 2012.  Expliquei que, apesar de considerar Orson Scott Card um autor extremamente talentoso de ficção científica e fantasia, bem como uma pessoa humana afável (pelo menos foi a impressão que tive quando o conheci pessoalmente no interior de São Paulo no fim da década de 1980), discordo frontalmente de sua postura política homofóbica.  Diante dessa discordância, não faz sentido participar de um certame literário patrocinado por aquele autor.

Casal anfitrião.
 
Vítimas do pelotão de fuzilamento em ordem de abate.
 
Em meio à degustação do Barolo, Flávio perpetrou a confissão da noite, declarando não possui o sentido do olfato para todo e qualquer efeito prático.  Daí, o assunto derivou para os alegados aromas sutis dos vinhos e, então, para os kits de aromas enológicos.  Foi o bastante para que minha cara-metade buscasse nosso kit e nós cinco passássemos a brincar de experimentar e tentar adivinhar os aromas dos diversos frascos do kit.  Há um ditado no mundo enológico que afirma que “degustação às cegas constitui uma lição de humildade”.  Pois bem: Eduardo foi o único a conseguir adivinhar um único aroma dos quatro ou cinco experimentados.  A exceção óbvia foi a essência de amêndoas, que nós cinco logramos acertar.

Nosso evento terminou sob protesto por volta das 02h00 de sábado.  Um encontro memorável sob dezenas de aspectos.  Pena que muito do que falamos não possa constar de uma crônica pública como esta.  A lamentar de verdade, apenas as ausências da Luciana, da Ana Cris e do Octavio.

Jardim Botânico, Rio de Janeiro, 14 de dezembro de 2012 (sexta-feira).


Participantes:


       Cláudia Quevedo Lodi
Eduardo Torres
Flávio Medeiros
Gerson Lodi-Ribeiro
Max Mallmann



[1]. O primeiro lugar do XII Petros foi para o conto enxuto e pungente “A Gaiola”, de Éber Veríssimo Rocha.

segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Bagunça Literária em Sampa


Bagunça literária
no píer 1327 em sampa
 

201211242359P7 — 19.138 D.V.

“Nunca tantos se iludiram tanto por tão pouco.”
[Sobre a criação de Carla Cristina Pereira]
 

“Onde se pode encontrar todos os contos da Carla num livro só?” [Kyanja Lee]

 

Participei na tarde deste sábado da Bagunça Literária, superpromoção de vendas de livros organizada sob os auspícios das editoras Draco, Estronho e Tarja, no segundo piso do barzinho Píer 1327, aberto sob esse número de porta na Rua Joaquim Távora, na capital paulista.

Para começar, programei o despertador para às 04h00 e o bicho funcionou direitinho.  Já debaixo do chuveiro, meio sonâmbulo, antes de ligar a torneira, resolvi que havia acordado cedo depois e voltei para a cama quente, só para mais uns minutinhos de sono.  Conclusão: acordei assustado com a claridade da alvorada às 05h30, convicto de que já havia perdido meu ônibus que sairia da Novo Rio às 06h00.

Com ajuda da Cláudia, aprontei-me às pressas, engoli um copo de café com leite e desci para o ponto de táxi, improvisado aqui na esquina num posto de gasolina às 05h35.  Quando o motorista soube do destino e do horário do meu ônibus, falou apenas:

“— Tranquilo.”

Dito e feito.  Dez tensos minutos mais tarde, ele me deixou na área de desembarque da Novo Rio, mais perto da ponte rodoviária Rio-São Paulo.  Ainda houve tempo de trocar os e-tickets pelas passagens de ida e volta no guichê da Expresso Brasileiro, ligar para casa da fila de embarque e relaxar em minha poltrona já a bordo por deliciosos seis minutos, antes que o ônibus partisse para Sampa.

Leitura de bordo: A Connecticut Yankee in King Arthur’s Court (1889), de Samuel L. Clemens, mais conhecido como Mark Twain.  Ao terminar esse romance, concluí que ele inspirou muitas narrativas de viagens retrotemporais clássicas da ficção científica, inclusive, Lest Darkness Fall (1939), do L. Sprague de Camp.  Não há clichês históricos no texto do Twain, porque é justamente dali que vieram os paradigmas.  De repente, eu devia ter lido esse romance do Twain quarenta anos atrás.  Ler a influência décadas após os trabalhos influenciados pode distorcer nossas perspectivas...

Concluído o Yankee, comecei a ler a antologia Bestiário (Ornitorrinco, 2012), organizada por Ana Cristina Rodrigues e Ana Lúcia Merege.

*     *      *

 

Ao desembarcar no Terminal Rodoviário do Tietê encontrei com os amigos Carlos Orsi Martinho, Giseli Ramos e Ivo Heinz.  Dali, seguimos de metrô até a galeteria na Alameda Santos onde almoçaríamos.  Percorremos um trecho da linha amarela do metrô paulistano, construído pela iniciativa privada.  Quando saímos do metrô, passamos por uma gibiteria, onde encontramos meu velho amigo, Fábio Fernandes.  Quando comentei que estava achando o ambiente familiar, Ivo esclareceu que era a mesma gibiteria em que fizemos o lançamento paulistano da antologia Como Era Gostosa a Minha Alienígena! no primeiro semestre de 2003.  Daí, concluí que a galeteria em que almoçamos naquela ocasião também deve ter sido a mesma para a qual estávamos prestes a nos dirigir...  Será?

Após uns quinze minutos na gibiteria, que eu e Fábio aproveitamos para colocar nossos papos e fofocas em dia, rumamos para a tal galeteria.  À porta do restaurante, encontramos Edgard “Garapa” Refinetti.

Após uma entrada caprichada, com ênfase nos pães de queijo quentinhos e na pasta de galinha, degustei um galeto desossado acompanhado por creme de espinafre, única concessão aos hábitos alimentares saudáveis.  Tudo regado por três latas de coca-zero, pois declinei do vinho no almoço, em prol do que beberia à tarde, durante os lançamentos da Bagunça Literária.

O bate-papo animado, antes, durante e depois deste almoço saboroso, versou sobre política municipal carioca e paulista, sobretudo com referência à falta de opções eleitorais para os eleitores das duas metrópoles nesse último pleito para prefeito.  Quase não falamos de FC&F e fandom, mas, além dos galetos, destrinchamos as séries de TV a cabo Dexter, Breaking Bad e as nacionais Mandrake (por causa dos dois longas-metragens exibidos neste mês na HBO) e (fdp).  Esta última aborda em treze episódios de menos de meia hora as aventuras e vicissitudes cotidianas de um juiz de futebol que se separa da esposa de quem ainda gosta; esforça-se para manter a convivência com o filho do casal; apita as pelejas futebolísticas com coragem e honestidade, mas nem sempre com competência; diverte-se com os amigos (quase todos do meio da arbitragem); e se digladia com a crítica esportiva.  Os episódios são marcados pela agilidade e bom humor, começando sempre com um sonho do protagonista, o árbitro Juarez Gomes da Silva, e terminando com alguém chamando-o de filho-da-puta, nos contextos mais diversos.

Almoço na galeteria: Fábio Fernandes, GL-R, Edgard Refinetti,
Ivo Heinz, Giseli Ramos e Carlos Orsi Martinho.
 
 
Ivo indagou se estávamos a par do racha recente na Terceira Onda da FCB pretensamente instigado pela publicação da matéria “Patéticas Figuras Literárias” num blogue de crítica literária, por alguém que assina sob o pseudônimo.  A matéria detona indiscriminadamente gregos e baianos sem citar nomes, mas caracterizando seus personagens bem o suficiente para que sejam facilmente reconhecíveis por fãs antenados com o povo da Terceira Onda.  Confesso que precisei de consultoria para identificar todos os envolvidos, com uma única exceção.  Respondi que havia ouvido falar do imbróglio.  Ivo ainda perguntou se a Terceira Onda corria o risco de implodir como movimento.  Respondi que também não é para tanto.  Afinal, muitos de nós da Segunda Onda se envolveram nas maiores discussões, bate-bocas e baixarias, sem que lográssemos implodir mais do que uns poucos egos mais sensíveis.  Martinho brindou ao fato de ter resolvido se afastar há muito dessas desavenças estéreis do fandom.  Fábio bateu no tampo de madeira da mesa.

Da galeteria, nós seis rumamos para uma galeria da Avenida Paulista para visitar uma megastore da Livraria Cultura, mais uma vez, tive impressão de reconhecer o estabelecimento e acabei descobrindo que foi ali que lancei meu primeiro livro solo brasileiro, a coletânea de história alternativa Outros Brasis (Mercuryo, 2006), universozinho ficcional pequeno esse, né?

No caminho para a Cultura, Gi Ramos me perguntou sobre como acabava a trilogia Protocolos de Etrúria que escrevi para o Projeto Taikodom.  Ela trabalhou conosco no departamento de universo ficcional do projeto e atuou como revisora técnica e de conteúdo em minha coletânea Taikodom: Crônicas (Devir, 2009) e nos dois primeiros volumes da trilogia.  No entanto, com a descontinuação da parte literária do projeto multimídia, Gi nunca chegou a receber o romance final para revisar.

Nessa galeria, despedimo-nos dos amigos Fábio e Garapa, que partiram para seus afazeres vesperais de sábado.  Uma vez na megastore, dividimos nossa atenção entre os livros importados e as prateleiras de literatura fantástica publicada em português, onde comprei uma coletânea parruda do Richard Matheson, O Incrível Homem que Encolheu, que inclui o romance curto homônimo, um clássico da ficção científica já transformado em filme em 1957, com roteiro do próprio Matheson.  Na cafeteria da Cultura, Martinho pagou um cappuccino para o Ivo para quitar uma aposta que firmaram a respeito de uma determinada particularidade biográfica de minha querida amiga fictícia, Carla Cristina Pereira.  Infelizmente, mais não posso contar...

Da Cultura, após breve passagem por uma farmácia, fomos até a Paulista.  Como estava chovendo, rachamos um táxi até o Píer 1327 e chegamos lá cerca de meia hora antes da abertura dos trabalhos.  Já estavam no segundo pavimento arrumando seu estande os editores da Tarja, Richard Diegues e Gianpaolo Celli.  O grande lançamento da Tarja nesta tarde foi o volume verde (o quarto) da série de antologias eróticas, Fantástica Literatura Queer.

Mal eu, Martinho, Gi e Ivo nos aboletamos numa mesa e eis que aparece nosso amigo Anderson Santos, a quem rápida e espertamente cedemos a cabeceira, na esperança vã de que ele, magnânimo, resolvesse pagar a conta inteira.J  Também surgiu logo depois o jovem autor Lucas Zavagli, sobrinho do Ivo Heinz, que está estreando profissionalmente com o conto “O Príncipe dos Rios”, na Queer Verde.

Anderson Santos, Lucas Zavagli e o Tio Ivo, orgulhoso.
 
Atendendo a um apelo romântico da esposa Renata, Martinho viu-se obrigado a se ausentar pouco depois, ainda antes do começo da Bagunça Literária propriamente dita.

 
Hugo Vera, Renato Azevedo e GL-R com antologia Space-Opera 1.

GL-R e Anderson Costa em Grande Parceria Queer: Linguiça & Mandioca.
 
Cada um de nós pediu um prato aperitivo.  Como as porções eram extremamente bem servidas, nossa mesa tornou-se logo o reduto da diretoria, onde os amigos se sentiram à vontade para vir jogar conversa fora conosco e beliscar uma linguiça ou mandioca frita.  Assim, minha linguiça artesanal, avantajada e com cobertura de provolone e orégano adquiriu sua fama merecida, bem como a notória mandioca frita com bacon do Anderson, a ponte de safena do Ivo e as bruschettas da Gi.  Tudo delicioso e numa quantidade muito maior do que poderíamos em sã consciência degustar sozinhos, por mais que houvéssemos tentado.  Eu e Gi Ramos dividimos irmãmente uma garrafa de Finca Finchmann Cabernet Sauvignon.  Eu banquei o irmão grande, ela a irmã pequena.J

Gi Ramos, GL-R e Ivo com exemplares de Histórias de FC de Carla Cristina Pereira.

Sessão de autógrafos: "... e com um beijo da Carla..."
Modéstia à parte, outro lançamento que causou sensação foi o de minha Histórias de Ficção Científica de Carla Cristina Pereira (Draco, 2012), coletânea em que, graças ao entusiasmo do amigo e editor Erick Sama, finalmente concretizei um sonho antigo de reunir todos os trabalhos que escrevi sob esse pseudônimo num único volume.  Além dos cinco trabalhos de ficção curta[1], inclui um ensaio biográfico, “Os Anos em que Fui Carla”, em que tento explicar as motivações que me levaram a criar essa que foi, ao longo de quinze anos, minha personagem mais verossímil.
 
Valentina Silva Ferreira, autora de A Morte é uma Serial Killer.

Outro lançamento de impacto, agora da Estronho, foi o romance de estreia da autora madeirense Valentina Silva Ferreira, A Morte é uma Serial Killer.  Ao que parece, a autora veio pela primeira vez ao país por conta do lançamento.  Valentina publicou vários contos em antologias temáticas brasileiras, dentre os quais, o divertido “Sexo com Água, uma Mutação Tentadora” que acabou de aparecer na Erótica Fantástica 1 (Draco, 2012).

Junto à nossa mesa, contamos com as presenças insignes dos autores Sid Castro e Tibor Moricz.  Conversamos sobre vários assuntos candentes, dentre eles as submissões aos novos volumes da Erótica Fantástica.
 
Hugo Vera, GL-R, Ivo, Sid Castro, Anderson Costa e Tibor Moricz.

A certo momento, fui obrigado a interromper o bate-papo agradável para adquirir uns poucos livrinhos.  Afinal de contas, os descontos da Bagunça Literária estavam irresistíveis.  Portanto, além dos volumes amarelo e verde da Fantástica Literatura Queer, comprei o romance Metanfetaedro (Tarja, 2012), da Alliah; A Morte é uma Serial Killer (Estronho, 2012), da Valentina; a antologia lusitana ficção retrofuturista organizada pelo Rogério Ribeiro, Fantasporto (Tarja, 2012); e a antologia de fantasia histórica da Estronho, História Fantástica do Brasil — Guerra dos Farrapos, organizada pelo M.D. Amado.  Tudo isto pela pechincha ridícula de R$ 124...

Então, coligi os autógrafos dos autores presentes.  Peguei o da Valentina no romance dela e os de Lucas Zavagli e Amanda Marchioreto na Queer Verde.  Nessa antologia e também na Queer Amarela, fiz questão de coletar também os autógrafos dos antologistas Cristina Lasaitis e Rober Pinheiro.  Ambos me convidaram para submeter um conto para um dos próximos volumes do projeto.  Tentarei escrever algo legal, porém, falei-lhes que esperava, como contrapartida, que eles escrevessem algo para uma dos próximos volumes da Erótica Fantástica.
 

GL-R, Amanda Marchioreto e Ghad Arddhu e nossos exemplares autografados da Queer Verde.
 
Rober Pinheiro e Roberta Nunes.

Estande da Tarja: Camila Fernandes, Cristina Lasaitis, Gianpaolo Celli, Verena Peres e Richard Diegues.
 
Estande da Estronho: MD Amado & Celly Borges.


Conversei um pouco com o casal Alícia Azevedo & Henrique de Lima, da editora Ornitorrinco e lhes contei que meu conto “Terra Brasilis”, publicado na antologia 2013: Ano Um, que ela e Daniel Borba organizaram, tem causado uma sensação surpreendente entre meus antigos colegas de farda.  Bom, talvez eu não devesse me surpreender tanto.  Afinal, quase todos os personagens são militares da Marinha do Brasil e boa parte da ação se passa a bordo de belonaves da MB ou em tanques anfíbios do Corpo de Fuzileiros Navais.

Henrique de Lima, GL-R, Alícia Azevedo e ???.

Conversei um bocado com meu editor favorito, Erick Sama, com quem dividi outra garrafa de Finca Finchmann, tomando a liberdade de lhe sugerir que experimentasse a magnífica linguiça artesanal com provolone e orégano.  Creio que ele não se arrependeu.  Aliás, chamei o Erick para testemunha juramentada no caso dos biscoitos lusitanos que Valentina trouxe para Ana Cris Rodrigues.  É que Valentina se esqueceu de trazer os biscoitos legendários para a Bagunça Literária e, portanto, julguei melhor me resguardar de futuras acusações de gulodice desenfreada, pois, desta vez — excepcionalmente — sou inteiramente inocente...  Eu juro!

Estande da Draco: Erick Sama e Raphael Fernandes.


A Grande Linguiça de Erick Sama.
 

Área de Vendas.
 
Enquanto bebíamos nosso vinho, eu e Erick conversamos com os amigos Raphael Fernandes, Ghad Arddhu e Átila Oliveira.  Devo confessar que alguns dos assuntos não foram do tipo publicável.J

Ao fim do certame, acompanhei Erick até seu dracomóvel para receber meu engradado de Histórias de Ficção Científica de Carla Cristina Pereira e acabei ganhando uma carona.  Inicialmente, meu amigo me levaria até a estação de metrô mais próxima, de onde eu seguiria até o Terminal Rodoviário Tietê.  Porém, como a primeira estação pela qual passamos já estava com as portas cerradas e o papo estava bom, num arroubo de generosidade que já se tornou tradicional, Erick acabou me levando até a rodoviária.

A viagem de regresso para o Rio num ônibus-leito da Expresso Brasileiro se deu sem maiores percalços.  Parti às 23h50, a poltrona reclinável era mais confortável do que nas viagens anteriores, de forma que consegui dormir relativamente bem.  Seis horas mais tarde, às 05h45, aportei na Cidade Maravilhosa e, menos de dez minutos a bordo de um táxi célere, retornei à casa antes mesmo da edição dominical de O Globo subir para o apartamento.

Além de uma bela oportunidade de rever vários amigos queridos, eis-me de volta ao lar com mais um livro lançado, a quinta coletânea de minha carreira.  Já pus a moçoila na estante!  No que se refere ao êxito da empreitada Bagunça Literária, do ponto de vista das vendas, tenho a impressão de que as três editoras que patrocinaram o evento não tiveram do que se queixar.



Jardim Botânico, Rio de Janeiro, 24 de novembro de 2012 (sábado).

 


Participantes:

Alexandre Heredia
Alfer Medeiros
Alícia Azevedo
Amanda Marchioreto
Anderson C. Santos
Átila Oliveira
Camila Fernandes
Cândido Ruiz
Carlos Orsi Martinho
Carol Chiovatto
Celly Borges
Cristina Lasaitis
Dana Guedes
Edgard “Garapa” Refinetti
Erick Sama
Fábio Fernandes
Gerson Lodi-Ribeiro
Ghad Arddhu
Gianpaolo Celli
Giseli Ramos
Henrique de Lima
Hugo Vera
Ivo Heinz
Lucas Zavagli
M.D. Amado
Raphael Fernandes
Renato A. Azevedo
Richard Diegues
Rober Pinheiro
Roberta Nunes
Sid Castro
Tibor Moricz
Valentina Silva Ferreira
Verena Peres
Verônica Freitas






[1].  Os cinco trabalhos são:
                “Se Cortez Houvesse Vencido a Peleja de Cozumel” (1998);
                “Estigma da Morte Anunciada” (2001);
                “Xochiquetzal e a Esquadra da Vingança” (1999);
                “Uma Certa Capitã Rodriguez” (2000); e
                “Clandestina Candente de Cosa” (2002).

sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Noite Abstêmia no Estação Gourmet


Noite abstêmia no estação gourmet

 

201211232359P3 — 19.137 D.V.

 
“War is hell.”
[William T. Sherman]

 

Deu-se hoje à noite mais uma das bebemorações periódicas do grupo de amigos da comunidade de literatura fantástica carioca e afins, congregada como de costume no espaço gastronômico da Estação Gourmet, sob pretexto de colocar as conversas em dia.

Do meu ponto de vista, a parte das bebemorações não rolou, pois já havia jantado com a Cláudia em casa, mas a parte de colocar o papo em dia foi muito boa.

*     *      *

 

Quando cheguei ao restaurante já estavam lá Ana Cristina Rodrigues, Jorge Pereira, Max Mallmann, Carlos Eugênio Patati e Luiz Felipe Vasques.

Para começar, mostrei aos amigos o livro Nós, Ciborgues, que Fátima Regis lançou na semana passada na Blooks.  Aproveitei o ensejo e mostrei também o romance de Samuel L. Clemens (mais conhecido como Mark Twain), A Connecticut Yankee in the King Arthur’s Court, que estou lendo agora.  Todos os presentes confirmaram também não terem lido o romance.  Senti alívio: a lacuna de ignorância literária não era só minha…J  Em contrapartida, Ana Cris mostrou-nos o livro O Cair da Noite, de Isaac Asimov, novela que ela traduziu para o português.  Esse livro chega ao mercado com um acabamento caprichado, capa dura e ilustração retrô, prefácio de Marcello Simão Branco e o escambau. Uma aquisição que vale a pena considerar, mesmo para quem já possui a noveleta numa coletânea ou antologia qualquer.
 
Ana Cristina Rodrigues, Max Mallmann e Jorge Pereira.

Carlos Eugênio Patati, Luiz Felipe Vasques e GL-R.


Para gáudio da Ana Cris, a narrativa do ianque Hank Morgan em Camelot e adjacências levou-nos à temática das fantasias medievais em geral e das fantasias arturianas em particular.  Confirmei-lhe que Twain realmente situa sua narrativa de história alternativa ou história oculta (como sói acontecer nesses casos, só será possível proferir o veredicto final ao fim da leitura) avant de letre no século VI, o que prova que ele estava razoavelmente bem informado para a época em que escreveu uma narrativa de viagem temporal não-tecnológica na penúltima década do século XIX, antecedendo em alguns anos a publicação de A Máquina do Tempo, de H.G. Wells.  Tenho impressão de que Twain logrou estabelecer um diálogo frutífero com outros romances medievais escritos naquele século, mas precisaria lê-los ou, em alguns casos, relê-los, para confirmar esse ponto.

Das fantasias arturianas, passamos aos romances históricos medievais propriamente ditos, com ênfase óbvia no Ivanhoé, de Sir Walter Scott, autor que chega a ser citado explicitamente em A Connecticut Yankee...  Dos romances históricos à história real da Idade Média e dali à Idade Moderna foi um pulo.  Falamos sobre questões dinásticas do ducado da Borgonha (ante o vastos conhecimentos de minha amiga, limitei-me a ouvir e aprender) e dos reinos da península ibérica, com atenção especial à sagacidade matrimonial de el-Rei Dom Manuel o Venturoso ao decidir desposar a princesa espanhola inicialmente destinada a seu filho e herdeiro no trono português.  Pois, em circunstâncias ligeiramente diversas, a estratégia do velho monarca poderia ter resultado numa Unificação Ibérica sob égide lusitana, em vez de espanhola.  Um belo exemplo histórico de uma estratégia brilhante que não deu certo...

Max, Jorge e Felipe esmiuçaram o triste caso de Macarrão no julgamento do ex-goleiro Bruno, indiciado por sequestro, cárcere privado e homicídio da ex-namorada.  Quando alguém comentou que Macarrão teria se afirmado humilhado pelos companheiros de prisão, o trio maldoso tripudiou sobre prováveis sevícias infligidas na prisão: “com aquela tatuagem, ‘Bruno e Maca, amor eterno’, o que é que ele queria?”  As agruras de Macarrão no Caso Bruno.  Também se cogitou uma variante da popular meinha com troca de juras de amor em tatuagens em vez de favores sexuais.  Ao que parece, Macarrão resolveu desistir de se imolar em prol do ex-amigo de infância e botou a boca no trombone.  Vamos ver no que vai dar...

Ana Cris comentou que não poderá comparecer à Bagunça Literária que se desenrolará lá em Sampa no próximo sábado.  Com essa ausência inopinada, minha amiga me delegou a missão de trazer de volta para o Rio uma data de biscoitos que lhe será trazida pela autora portuguesa Valentina Silva Ferreira.  Valentina já publicou diversos trabalhos deste lado do Atlântico, dentre os quais destaco — por razões óbvias — o conto “Sexo de Água, uma Mutação Tentadora”, lançado na antologia Erótica Fantástica 1, que organizei para a Draco este ano.

Não sei por que cargas d’água a conversa derivou para o alcoolismo de Ulysses S. Grant, comandante-em-chefe das forças da União na segunda metade da Guerra Civil Americana.  Destrinchamos a estratégia de Grant, o Açougueiro, e Sherman, o Flagelo de Atlanta, bem como os papéis desses generais no propósito do presidente Abraham Lincoln de aniquilar definitivamente a sociedade escravista do Velho Sul.

Comentei com Max que estamos presentemente assistindo uma espécie de maratona do seriado da Rede Globo, A Grande Família, em que ele atua como roteirista.  Andamos gravando uns sete ou oito episódios seguidos e só agora encontramos tempo para assisti-los.  Uma das atrações mais legais da temporada atual é um personagem gay cujo pai era amigo de infância do Lineu e que acabou se tornando sócio da Nenê.  Outro aspecto interessante é a inserção gradativa dos personagens do universo digital da internet, redes sociais, Facebook e outros que tais.  Quando começamos a assistir um episódio novo de A Grande Família, aqui em casa sempre apostamos se o roteiro tem ou não participação do Max Mallmann.  Sem falsa modéstia, cumpre confessar que acertamos em cerca de 90% das vezes.

Estevão Ribeiro chegou direto da redação quando eu já estava em plena sobremesa (torta suíça), após um copo de mate diet e uma coca zero.  Mesmo assim, cavamos tempo hábil para que ele detalhasse o desenvolvimento do projeto de sua graphic novel verniana Da Terra à Lua e me falasse um pouco sobre o êxito de vendas de seu livro Os Passarinhos e Outros Bichos.

Aliás, Ana e Estevão contaram que esse último foi até Itaguaí pelo O Dia, para uma matéria sobre o projeto do submarino nuclear brasileiro, que acabou não sendo publicada...

Eduardo foi outro que chegou mais tarde, numa hora em que todos já apostavam em novo forfeit, embora ele tenha chegado antes do Estevão.

A saída, lamentei um pouco do excesso de trabalho este ano na Prefeitura, mas, enfim, nada que seja novidade ou que valha a pena comentar.  O importante é que, na despedida, ao saber que lançarei a coletânea Histórias de Ficção Científica de Carla Cristina Pereira no próximo sábado na Bagunça Literária, o pessoal cobrou um lançamento carioca.  De repente, combino com o Erick Sama um evento conjunto com a Erótica Fantástica 1 lá na Blooks...

Eu, Eduardo e Jorge saímos juntos do Estação Gourmet e tomamos táxis em frente ao estabelecimento.

No todo um bom encontro, pois eu estava realmente precisando colocar a conversa em dia com meus amigos da ficção científica carioca para desopilar um pouco.

Jardim Botânico, Rio de Janeiro, 23 de novembro de 2012 (quinta-feira).

 


Participantes:
Ana Cristina Rodrigues
Carlos Eugênio Patati
Eduardo Torres
Estevão Ribeiro
Gerson Lodi-Ribeiro
Jorge Pereira
Luiz Felipe Vasques
Max Mallmann