sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Lançamento de Corrente,

Lançamento de Corrente, de Estevão Ribeiro



2010.10272359P4

“Do jeito que o horário de propaganda política
 anda cheio de baixarias horrorosas, o mundo real
 está dando de dez a zero na ficção de horror...”
[Frase ouvida na plateia durante a mesa-redonda]





Compareci hoje à noite na livraria Blooks, situada na galeria do Unibanco Artplex na Praia de Botafogo para o lançamento do thriller Corrente (Draco, 2010), de Estevão Ribeiro, com direito ao pós-lançamento do mash-up Memórias Desmortas de Brás Cubas (Tarja, 2010), de Pedro Vieira, uma vez que poucos puderam comparecer ao lançamento da véspera por causa do forte temporal que se abateu na Zona Sul da cidade na noite de ontem. Pré ou pós-lançado também foi a coletânea de quadrinhos bilíngue (português-inglês) Pequenos Heróis (Devir, 2010), com roteiros do Estevão, quadrinizados por vários desenhistas diferentes.


Minha presença no lançamento foi do tipo aparição-relâmpago. Como precisava buscar minha filha no curso PH lá em Ipanema às 20:20h, tive que sair do evento em plena mesa-redonda que, por sinal, estava bastante animada. Depois de minha partida, descobri pelos blogs e sites da vida que também apareceram por lá amigos que não cheguei a ver por lá, como Eduardo Torres, Carlos Eugênio Patati e André Vianco. Aliás, pelo sorriso do Edu com a taça de vinho na mão, junto com o Estevão, deduzo que a qualidade do tinto servido após a mesa-redonda foi das melhores... :-)

Cheguei direto do trabalho e desta vez, por incrível que pareça, consegui saltar bem em frente à Artplex Botafogo. Em plena galeria encontrei com a Mariana “Belly” Gouvin, que saía para comprar uma pipoca, mas não consegui papear com ela mais tarde.

Dentro da Blooks, encontrei Ana Cris e o autor. Como sabia que meu tempo era curto, tratei de comprar logo os dois livros do Estevão e o mash-up do Pedro Vieira. Com a mesa-redonda já prestes a começar, aproveitei que os autores se acomodaram em torno da mesa para coletar meus autógrafos. Enquanto Estevão autografava o Corrente, conversei brevemente com Tomaz Adour, antigo publisher e sócio da Papel & Virtual, editora pela qual publiquei a primeira edição da coletânea Outros Brasis em distantes idos de 1999. Lembramos do lançamento num pequeno restaurante do Horto que só deve ter funcionado coisa de dois meses, se tanto.

A mesa-redonda foi integrada por Ana Cristina Rodrigues, Estevão Ribeiro e Pedro Vieira, com apresentação e moderação a cargo de Anny Lucard. O tema da mesa foi a pergunta dirigida aos autores, “Do que você tem medo?”, assunto que, naturalmente, rendeu pano para manga, rendas e babados. No início dos trabalhos, ainda na fase da apresentação dos integrantes, Anny se mostrou um pouco nervosa. Porém, depois que a primeira fila da plateia lhe fez ver que estávamos entre amigos ali, ela se soltou e tudo correu bem.


Estevão Ribeiro, Miguel e Ana Cristina Rodrigues.


Autógrafos na Mesa-Redondaionar legenda

Pedro Vieira e Anny Lucard

 

A boa surpresa de minha breve estada na Blooks foi conhecer pessoalmente Pedro Vieira, o simpático autor do Memórias Desmortas de Brás Cubas. Aliás, não sei por que lapso inexplicável deixei de comprar esse mash-up na Fantasticon 2010. Porém, de qualquer forma, reparei minha falha não só comprando o livro como coligindo o autógrafo do leitor. Depois de ler e apreciar muito o Dom Casmurro e os Discos Voadores do Lúcio Manfredi, atacarei o Memórias Desmortas assim que concluir o excelente Casas de Vampiros (Tarja, 2010), onde Flávio Medeiros dá uma bela turbinada na temática surrada dos vampiros.



Infelizmente, no melhor da festa ou, quiçá, antes do melhor da festa começar, tive que bater em retirada para buscar a Ursulla em seu curso. À porta da livraria, ainda troquei duas ou três palavras com o Toinho Castro antes de correr para o ponto de táxi. Bebemorações pós-lançamentos terão que ficar para a próxima. Desta vez não deu tempo de sequer filar o vinho que a Blooks normalmente serve após a mesa-redonda. :-((( Bem, enfim, fica para a próxima...


Jardim Botânico, Rio de Janeiro, 27 de outubro de 2010 (quarta-feira).







Participantes (até eu sair...)


Ana Cristina Rodrigues
Anny Lucard
Estevão Ribeiro
Gerson Lodi-Ribeiro
Mariana “Belly” Gouvin
Rafael “Lupo” Monteiro
Toinho Castro
Tomaz Adour

quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Lançamento de Dom Casmurro e os Discos Voadores, de Lúcio Manfredi




2010.09282359P3

“Gerson, é a última chance de retirar o que disse
e nós fingimos que não ouvimos nada...”
[Lúcio Manfredi]





Deu-se hoje à noite na filial Ipanema da Livraria da Travessa o lançamento do romance de ficção alternativa Dom Casmurro e os Discos Voadores, de Lúcio Manfredi, que marca a estréia desse autor como romancista.

Na verdade, foi o lançamento conjunto de quatro romances mash-up ou ficção alternativa (dependendo da quantidade de apropriação e alteração sobre o texto do autor clássico original) dentro do selo Lua de Papel, da editora Leya.* Uma tendência recente, importada do mercado editorial anglo-saxão, a partir do êxito comercial do romance mash-up Orgulho, Preconceito e Zumbis, baseado no texto original de Jane Austen. Felizmente, autores e editoras brasileiras tiveram o bom senso de explorar os clássicos originais brasileiros, em vez de tentar seus congêneres estrangeiros.


Capa do romance.

[*] Respectivamente, Dom Casmurro e os Discos Voadores, de Machado de Assis & Lúcio Manfredi; Senhora, a Bruxa, de José de Alencar & Angélica Lopes; A Escrava Isaura e o Vampiro, de Bernardo Guimarães & Jovane Nunes; e O Alienista Caçador de Mutantes, de Machado de Assis & Natalia Klein.
Ao chegar na Travessa surpreendi o autor fumando um cigarro na calçada da livraria (Ah, o vício...) para relaxar.

— Pô, Lúcio! Você não devia estar autografando? E o seu público? — Reclamei.

— Relaxa, Gerson. Tá todo mundo lá dentro. Só tô aproveitando uma brecha aqui um pouquinho. — Replicou entre tragada e baforada.

Após comprar meu exemplar no caixa, encontrei com o Rafael Lupo Monteiro. Empolgado, Lupo contou que adquiriu os quatro romances lançados hoje. Lúcio logo se reuniu a nós, esclarecendo de bate-pronto a principal dúvida da noite: segundo ele, seu Dom Casmurro e os Discos Voadores é ficção alternativa e não um mash-up. Falou que acrescentou muita coisa sua, mantendo apenas cerca de 30% do texto original do Machado de Assis. Aproveitei para coligir meu autógrafo antes que os outros amigos e fãs chegassem à livraria.

Autor, Obra e eu.
Eduardo Torres chegou cerca de meia hora mais tarde e, após a primeira taça, elogiou o tinto servido no lançamento, que não conseguimos descobrir a procedência. Aliás, o serviço estava com o bom padrão de qualidade habitual da Travessa Ipanema, que eu anteriormente atribuía exclusivamente aos lançamentos da Rocco, uma vez que nosso amigo Max Mallmann sempre lançou seus romances ali. Além do patê de fígado com geleia, do musse de gorgonzola e do frango ao curry, como inovação, tivemos um delicioso caldinho de ervilha servido em copos de plástico do tamanho de cálices de licor.

Conversamos sobre as várias narrativas de Spartacus, do romance do Howard Fast, ao filme clássico homônimo (1960), com roteiro de Dalton Trumbo e direção de Stanley Kubrick, passando pela série estilosa e quadrinística Spartacus — Blood & Sand presentemente exibida na Globosat HD. Esse papo começou quando Edu nos contou que seu sobrinho, entusiasmado com a leitura de O Centésimo em Roma do Max Mallmann, pediu-lhe outro romance histórico ambientado na Roma Antiga. O tio lhe comprou o romance de Fast e, mais tarde, o DVD remasterizado do Spartacus de Trumbo & Kubrick, com direito a entrevistas antigas e recentes de atores, diretor e roteirista, análise de cenas de roteiro mantidas ou mudadas no filme que foi às telas de cinema.

Vez por outra, um Lúcio renitente era arrancado à própria revelia do nosso bate-papo ameno e forçado a se sentar à mesa de autógrafos para cumprir o ritual sagrado de autor. Das vezes em que presenciei tal violência, a única em que esse acedeu de bom grado foi para conversar sobre a capa de seu romance com uma fã mirim de uns sete ou oito anos de idade, faladeirinha e extrovertida que só ela...

Autor e sua mais jovem admiradora.

Pouco mais tarde, chegou Ana Cristina Rodrigues, que teceu elogios ao romance que iniciou toda a voga atual de “parcerias” entre autores mainstream mortos cujos textos já caíram sob domínio público e autores de literatura fantástica atuais, o Pride, Prejudice and Zombies, que leu no original. Segundo Ana, pelo menos esse romance seminal é de fato um mash-up e, em sua opinião, muito divertido. Comentei que o maior problema desse tipo de parceria é que, para que o leitor desfrute devidamente da sutileza do trabalho, em muitos casos, teria que primeiro ler ou reler o romance clássico original que inspirou o parceiro vivo a escrever o mash-up.

Max Mallmann foi o penúltimo a chegar, mas fez questão de reparar uma grande injustiça. Outro grupo de amigos & conhecidos do Lúcio trouxe um exemplar em hardcover do The Big Penis Book lá do outro lado da livraria e o colocou perto da mesa de autógrafos para chocar nosso amigo ou, quem sabe, entusiasmar algum dos outros três autores da mesa. Em desagravo, Max desencavou um hardcover análogo sobre vaginas e o posicionou do lado do livro anterior. Casamento perfeito!

Já que o papo versava sobre sexo, comentei alguns detalhes picantes sobre a série Spartacus — Blood & Sand. Talvez por causa da temática de gladiadores e de certa predisposição anterior ao assunto, meus amigos levaram os comentários para o lado da sacanagem. Ainda tentei me explicar, mas há situações em que quanto mais você explica, mas se complica. Ao perceber que estava numa delas, julguei melhor me calar a fim de preservar os poucos trapos de reputação que me restavam. :-)

Autor & sua Tropa de Choque.

Ainda conversei com ela sobre a proposta do Erick Sama da Draco para que nós dois organizemos os lançamentos da editora aqui no Rio na livraria Blooks. A ideia é fazer uma mesa-redonda para o lançamento da Imaginários 3 (onde também seriam vendidas as Imaginários 1 & 2) e outra para a Vaporpunk (onde também seria vendido o Xochiquetzal). Eu moderaria as duas mesas e a Ana participaria de pelo menos uma delas. Vamos ver como é que vai rolar.

Estevão Ribeiro chegou quase da hora de encerrar a fase oficial do evento. O pessoal estava planejando partir da Travessa para o bar Devassa mais próximo. Não pude esticar com os amigos, pois tive que buscar minha filha no curso pré-vestibular noturno que ela está fazendo às terças e quartas-feiras.

Jardim Botânico, Rio de Janeiro, 28 de setembro de 2010 (terça-feira).







Participantes:
Ana Cristina Rodrigues
Eduardo Torres
Estevão Ribeiro
Gerson Lodi-Ribeiro
Lúcio Manfredi
Max Mallmann
Rafael “Lupo” Monteiro

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Fantasticon 2010


Dia 2.
2010.08282359P7

“Garfield, corra por sua vida!”
[Ana Cris]


Embarquei hoje num ônibus da Expresso Brasileiro das 06:00h com chegada prevista à capital paulista por volta do meio-dia para participar dos dois últimos dias da Fantasticon 2010. Felizmente, conseguimos chegar no Terminal Tietê às 11:30h, meia hora antes do previsto.

Com relativo tempo livre, abri mão do táxi em prol do metrô, rumando da estação Tietê-Portuguesa até a estação Vila Mariana, distante meras três quadras da biblioteca municipal Viriato Correa, onde se dava a convenção. Como carregava mais de trinta livros no ombro, foram as três quadras mais longas da minha vida.

Prestes a entrar na biblioteca — mesma instituição onde ocorreram várias HorrorCons e RhodanCons na segunda metade da década de 1990 — encontrei o amigo paulistano Marcelo Galvão, que está publicando um conto na antologia Imaginários 3 (Draco, 2010), também lançada na convenção.

Uma vez dentro da biblioteca encontrei meus amigos Flávio “Garfield” Medeiros, Max Mallmann e Ana Cristina Rodrigues. Assim que cumprimentei os dois, rumei para o estande da Moonshadows para desovar os trinta livros que trouxera e conhecer pessoalmente a Michelle, com quem até então só falara via contatos por e-mail, Skype e telefone.

No estande da livraria encontrei o crítico e autor Antônio Luiz da Costa, a quem pedi que confirmasse se sua coletânea Eclipse ao Pôr do Sol (Draco 2010) seria lançada durante o evento. Ainda no estande encontrei com o autor e pesquisador curitibano Carlos Alberto Machado, que também afirmou estar lançando uma antologia organizada por André Carneiro, no qual ele teria um ou mais contos, a Proibido Ler de Gravata. Como já pretendia comprar outros livros, preocupado em ser traído pela memória, fiz uma listinha e entreguei na mão da Michelle para que fossem separados aos poucos, sem estresse.

Comprei ao todo sete livros neste sábado. Além da coletânea do Antônio Luiz e da antologia organizada pelo André Carneiro, adquiri o romance fix-up “mezzo-mainstream” Neon Azul (Draco 2010) do Eric Novello; o romance de FC juvenil Nômade (Ciranda de Letras, 2010) do Carlos Orsi Martinho; a Imaginários 3; o romance de horror Casas de Vampiro (Tarja, 2010) do Flávio Medeiros e o romance zumbifílico anglo-saxão Guerra Mundial Z (Rocco, 2010) de Max Brooks, a única tradução comprada neste sábado. Além disso, recebi do Sílvio um kit de participante em que constava um crachá e o romance de horror Fome (Tarja 2008) do Tibor Moricz.

Emerso da miríade de livros fantásticos da Moonshadows, cumprimentei os amigos Carlos Eugênio Patati, Bráulio Tavares e Silvio Alexandre, o organizador do evento. Bráulio comentou que, embora residamos no Rio, atualmente só nos encontramos em convenções paulistanas. De fato, acho que a última vez que estive com ele foi na Invisibilidades II, patrocinada pelo Instituto Cultural Itaú em 2008.

Bati um papo rápido com o Tibor Moricz e aproveitei para lhe pedir um autógrafo em seu romance Fome, melhor aquisição do kit de participante.

A primeira atividade do programa oficial que assisti foi a já tradicional mesa-redonda dos editores brasileiros de literatura fantástica, “O Mercado Editorial de Literatura Fantástica no Brasil”, com a participação de Douglas Quintas Reis (Devir); Adriano Piazzi (Aleph); Richard Diegues (Tarja); Ednei Procópio (Giz); Daniela Padilha (Difusão Cultural) e Erick Santos (Draco). Essa mesa-redonda não foi diferente de outras que assisti com editores do fantástico nacional, tanto nas falas dos diretores editoriais quanto nas perguntas dos leitores, autores e autores em potencial presentes na plateia. A novidade foi a participação do Erick da Draco, pois a editora tem menos de um ano de existência e essa é a primeira mesa desse tipo em que comparece. Os editores confirmaram para a plateia algo que muitos de nós já sabíamos, até mesmo pelo número recorde de lançamentos nesta convenção: o fantástico nacional está bombando! Erick aproveitou o ensejo para anunciar o futuro lançamento da antologia de história alternativa Dieselpunk, que organizarei para a Draco em 2011.


Mesa-Redonda dos Editores de Literatura Fantástica Brasileira.

Terminada a mesa-redonda, saí do auditório para bater papo com os amigos e dar mais uma olhada nos livros. Encontrei César R.T. Silva, meu ex-sócio dos tempos da editora Ano-Luz, que já não via há tempos. Também tirei algumas fotos, posei para outras e autografei os primeiros exemplares vendidos da antologia Vaporpunk (Draco, 2010) que organizei com o autor português Luís Filipe Silva para a editora. Modéstia do Erick Santos à parte, o livro está lindo, com capa bela e chamativa e acabamento interno primoroso, da primeira à última página. Junto com a Gostosa!, é meu “filho” mais bonito até hoje.

A Vaporpunk inclui oito trabalhos, dentre conto, novela e noveletas: “Fazenda Relógio” [Octavio Aragão]; “Os Oito Nomes do Deus Sem Nome” [Yves Robert]; “Os Primeiros Aztecas na Lua” [Flávio Medeiros]; “Consciência de Ébano” [Gerson Lodi-Ribeiro]; “Unidade em Chamas” [Jorge Candeias]; “A Extinção das Espécies” [Carlos Orsi]; “O Dia da Besta” [Eric Novello]; e “O Sol é que Alegra o Dia...” [João Ventura].

Vaporpunk
Relatos Steampunk publicados sob as ordens de Suas Majestades.

Aproveitei uma relativa folga na programação para dar um pulo no Formule 1 da Paraíso, para fazer meu check-in. Como o hotel dista duas estações de metrô de Vila Mariana, fui num pé e voltei no outro. Na ida encontrei com o amigo de longa data Carlos Orsi Martinho. Ele afirmou que se planejou para passar o fim de semana na capital. No hotel, adquiri um cartão de acesso à Internet na recepção, mas não o café da manhã, pois, de todo mundo, suspeito que não terei tempo de desfrutar de desjejum amanhã.

Mal tomei posse do quarto 646, exíguo mas adequado, testei a conexão de Internet e regressei à Viriato Correa de metrô.

De volta à Fantasticon, conversei com o Martinho e aproveitei para pedir autógrafo ao livro dele e também no romance vampírico do Flávio Medeiros. Também conversei com o Erick “Draco” Santos e com a Ana Cris sobre a Vaporpunk, elogiando a qualidade do acabamento que já está se tornando uma marca registrada da Draco. Também teci elogios aos trabalhos dos sete outros autores que realmente se esmeraram para escrever trabalhos elaborados e maduros. Ana Cris aproveitou o ensejo para confirmar sua determinação em fazer seu doutorado em história alternativa. Torço para que mantenha o interesse.

Silvio Alexandre veio comentar conosco que as meninas da literatura vampiresca haviam montado um cenário elaborado no palco do auditório para a mesa-redonda “Vozes Femininas na Literatura de Vampiro”. Não resisti e entrei para tirar umas fotos.

Sílvio Alexandre, Mr. Fantasticon.

Outra figura ilustre que nos deu o ar de sua graça foi Alfredo Keppler, ex-presidente do Clube de Leitores de Ficção Científica que chegou a residir no Rio por uns tempos. Como Keppler anda sem tempo para leituras e só pretendia comprar um livro, recomendei-lhe que adquirisse um Vaporpunk e o autografei para ele. Também autografei exemplares para os membros egrégios do Conselho Steampunk, Cândido Ruiz, Carlos "Karl F." Felipe e José Roberto. Encontrei a autora paulistana Márcia Olivieri, mas, infelizmente, não pude conversar muito com ela.

Eric Novello, Ana Cristina Rodrigues, Max Mallmann, Erick Santos, Flávio Medeiros e eu.

Enquanto eu conversava com o Martinho, Michelle da Moonshadows teve uma crise de pressão baixa e desmaiou por instantes praticamente aos nossos pés. Eu e outras duas ou três pessoas a ajudamos a se pôr de pé e a pusemos sentada numa cadeira próxima. Uma jovem lhe ofereceu água e uma outra biscoitos salgados. Felizmente, não parece ter sido nada sério.

Aliás, minutos mais tarde Michelle afirmou que a Vaporpunk foi o livro mais vendido no estande da Moonshadows: até às 17:00h haviam evaporado mais de trinta exemplares da antologia. Um desempenho para lá de razoável, sobretudo se considerarmos que não se trata de um livro barato (R$ 49,90) e a concorrência das centenas de outros títulos ali vendidos.

1º Esboço da Capa da Vaporpunk.

Após coletar autógrafos dos autores da Vaporpunk presentes para o meu exemplar e o do Sílvio Alexandre, autografar o exemplar do Roberto Causo e pegar o autógrafo do Neon Azul com o Eric Novello, entrei no auditório para assistir a palestra “O Fantástico em Guimarães Rosa”, onde Bráulio Tavares deu um show ao comparar as sagas e estratégias narrativas de Rosa em Grandes Sertões Veredas com Tolkien na trilogia O Senhor dos Anéis. Com sua verve e erudição habitual Bráulio fez dessa participação o ponto alto da Fantasticon 2010. Tirando a mesa-redonda sobre chick-lits vampíricas, a palestra do Bráulio foi o evento que mais encheu o auditório da Viriato Correa.

Palestra de Bráulio Tavares.

Finda a palestra, sob comando de Ana Cris, saímos em comitiva, cerca de trinta pessoas, fora alguns desgarrados que chegaram mais tarde, como Erick Draco e Fernando Trevisan. Após várias idas e vindas ladeira acima Vila Mariana adentro, nossa líder declarou-se definitivamente perdida e amaldiçoou o autor paulistano Alexandre Heredia por nos ter prestado informações cartográficas urbanísticas de todo incorretas. Enfim, quando já começávamos a perder as esperanças, eis que tropeçamos numa espel... ahn, num botequim até então inteiramente às moscas. Comentei com Flávio e Martinho que aquele era um péssimo sinal, mas, ante a falta de opções, ancoramos ali mesmo, para melhor e para pior. O estabelecimento só ofereceu uma funcionária para atender nossa mesa gigantesca e os outros poucos clientes que ainda tentaram, por sua própria conta e risco, adentrar no local. Sentei com Ana Cris à minha direita, Flávio à esquerda, Martinho na frente. Max Mallmann sentou à direita da Ana e Rodolfo Londero à direita do Martinho. Quando chegou meia hora mais tarde, Erick Draco sentou-se à direita do Rodolfo. Erick foi de pronto considerado o homem mais bravo e corajoso da noite pelo fato de ter escapado indomitamente de um casamento para beber com os amigos. Nossa alimentação foi em sua maior parte light e saudável: queijo provolone à milanesa; batata frita; linguiças aperitivo; costelinhas suínas fritas com aipim; e manjubinhas fritas à milanesa. A maioria molhou o rega-bofe com cervejas diversas, enquanto eu, Flávio, Ana e Erick matamos três garrafas de Santa Helena Merlot, porque, afinal de contas, merlot é a casta tinta que desce redonda.

Como in vino veritas, diversas confissões se derramaram à mesa e, curiosamente, não apenas por aqueles que estavam bebendo vinho. O simpático Zero confessou já ter trabalhado como patinador de supermercado, informação rapidamente twittada por Erick para o ciberespaço. Falar sobre o romance A Guardiã da Memória que a Draco deverá lançar nos próximos meses, levou o papo para as síndromes de abstinências como fatores favoráveis ou contrários à criatividade literária, assunto que serviu de pretexto para que um jovem editor confessasse suas predileções zoofílicas felinas em tempos de necessidade, confissão esta que deixou Garfield extremamente preocupado, sobretudo após Ana ter bradado: “Garfield, corra por sua vida!”, ao que rebati, “Ou por sua honra!”

Confraternização na Espelunca.

Eu, Martinho e Flávio trocamos impressões sobre a conduta nem sempre ética de algumas editoras do gênero fantástico, aqui e lá de fora.

Graças aos bons préstimos do Rodolfo, grande pesquisador da FCB e abstêmio que só bebeu água durante toda noitada, logramos fechar a conta pela bagatela de quinhentos e poucos reais o que, dividido por mais de trinta, até que não deu grande coisa.

Heroicamente, Ana, Max, Flávio e outros ficaram para a esticada num outro estabelecimento qualquer. Mais castos e prudentes, eu, Martinho e Rodolfo embarcamos de metrô para nossos respectivos hotéis paulistanos.

Hotel Formule One [Paraíso], São Paulo, 28 de agosto de 2010 (sábado).


Dia 3.
2010.08292359P1

“Empregar personagens literários à guisa de figuras históricas constitui marca registrada da ficção alternativa e não da história alternativa.”
[Gerson Lodi-Ribeiro]



Fiz o check-out do Formule 1 às 10:30h e rumei para a biblioteca municipal Viriato Correa para o terceiro e último dia de Fantasticon 2010. Ao sair da estação Vila Mariana, encontrei o pesquisador Rodolfo Londero e seguimos papeando até a biblioteca.

Cheguei à biblioteca bem a tempo de iniciar minha palestra, “Histórias Alternativas Lusófonas”. Não tive tempo de ensaiar, mas foi melhor assim, porque o sistema de projeção de PowerPoint do estabelecimento não funcionou. Enquanto aguardava as tentativas de ativar o sistema, bati um papo com Erick Draco e com o editor decano da FC brasileira, Gumercindo Rocha Dorea, que comentou estar redigindo uma carta para mim com comentários de leituras recentes que fez de alguns dos meus textos ficcionais. Também troquei um breve abraço com André Vianco que estava capitaneando uma oficina literária num outro ambiente da Viriato Correa. Após várias tentativas infrutíferas, eu e Sílvio Alexandre desistimos da apresentação em PowerPoint e parti para o velho e confiável gogó mesmo, que esse não dá pau.

Inicialmente, pedi desculpas por não poder fazer a apresentação que planejara, anunciando que teríamos uma palestra alternativa sobre história alternativa em estilo bem steampunk mesmo.

Após umas breves definições iniciais, falei dos precursores do gênero, da relevância dos temas luso-brasileiros e das perspectivas alvissareiras para a história alternativa nacional. Em seguida apresentei um panorama geral dos trabalhos publicados profissionalmente no âmbito das histórias alternativas brasileiras, com certa ênfase nas preferências brasileiras em potencial (Impérios do Brasil Alternativos e Amazônias Alternativas) e então cumpri a promessa de campanha de abordar o subgênero steampunk, falando das duas antologias, a Steampunk da Tarja e a nossa Vaporpunk, com direito a comentários sobre os contos e noveletas mais notáveis. Finalmente, anunciei o lançamento para 2011 da antologia Dieselpunk, uma espécie de steampunk lato sensu.


Encerrada minha fala, passei a palavra à plateia. Ana Cris discordou de que o conto “Uma Vida Possível Atrás das Barricadas” de Jacques Barcia na antologia da Tarja constituísse história alternativa e acabei concordando com ela. Rodolfo Londero indagou se um conto sobre a sobrevivência de Graciliano Ramos ao cárcere constituiria história alternativa, o que me levou a falar um pouco da subvertente das histórias alternativas de cunho pessoal. Bráulio Tavares comparou as H.A. pessoais aos estudos de micro-história atualmente em voga na academia. Após concluir que eu havia classificado seu conto “Flor do Estrume” como ficção alternativa, Antônio Luiz indagou se a noveleta “A Extinção das Espécies” de Carlos Orsi constituiria história alternativa mesmo propondo aparentemente um universo com leis físicas diferentes daquelas que regem nosso próprio universo. Chamado para dirimir a questão, o autor esclareceu que realmente propôs sua teoria da força vital baseado em leis naturais diferentes, o que descaracterizaria a noveleta como história alternativa, de um ponto de vista purista. Roberto Causo perguntou sobre histórias alternativas inspiradas em teorias científicas e visões de mundo diferentes da nossa. Embora a plateia de cerca de trinta pessoas parecesse disposta a discutir questões relacionadas às histórias alternativas por mais tempo, em virtude da programação esticada, Sílvio foi obrigado a encerrar a sessão.

Fora do auditório, regressei ao estande da Moonshadows para comprar um último livro, a coletânea Anjos, Mutantes e Dragões (Devir, 2010) do Ivanir Calado. Também peguei um autógrafo do Antônio Luiz em sua coletânea Eclipse ao Pôr do Sol, adquirida na véspera.

Ali mesmo, Cândido Ruiz — que à véspera já chamara minha atenção para a existência de fotos dos autores e organizadores ao fim da Vaporpunk — comentou comigo quando eu estava conversando com o Bráulio, que só depois de algum tempo lembrara da origem da terceira estrofe da música “Highwayman” do Jimmy Webb que inseri na abertura de minha noveleta “Consciência de Ébano”. Ele se surpreendeu com o fato de que a letra da música se encaixa com perfeição ao enredo. Expliquei que, realmente, trata-se de uma homenagem ao compositor e que, sim, a letra das três primeiras estrofes correspondem, respectivamente, às histórias, “Capitão Diabo das Geraes”; “Morcego do Mar”; e “Consciência de Ébano”. De bate-pronto, Cândido arrematou:


— Mas, espera aí! E a quarta estrofe? Aquela que ele está na nave espacial...

Com meu melhor sorriso enigmático de autor experiente nos lábios, confessei sem graça:

— Essa quarta história eu ainda não escrevi...

Uma salva de palmas para a perspicácia do Cândido: primeiro leitor da intuir a inspiração desse trio de trabalhos da linha histórica alternativa dos Três Brasis.


Do estande de vendas fomos almoçar numa pastelaria próxima. Uma comitiva menor desta vez, composta por eu, Carlos Orsi, Flávio Medeiros, Antônio Luiz, Erick Draco e sua esposa Janaína, Ana Cris, Max Mallmann, Carlos Patati, Rodolfo Londero e outros. Desde logo, Patati me avisou que os pastéis ali eram enormes. Devidamente alertado, limitei-me a um pastel quatro queijos que cumpriu as honras de lauto almoço. Fingindo ignorar o alerta, Erick pediu dois pastéis e, pior, conseguiu trucidá-los antes que eu terminasse o meu. Durante o almoço, discutimos certas imposturas intelectuais, inclusive da parte de cientistas. Rodolfo contou-nos algumas particularidades de seu estado natal, o Amapá. Segundo ele, a região daria pano para manga em termos de enredos de história alternativa.

Eu, Antônio Luiz, Martinho, Rodolfo, Erick e Janaína demos boas gargalhadas com a postura de alguns críticos em relação à obra de meu pseudônimo Carla Cristina Pereira. Martinho confessou que chegara a suspeitar certa feita de que éramos a mesma pessoa por causa da similaridade de estilos, mas que depois teria arquivado a ideia por implausível. Ante a curiosidade de Rodolfo, confirmei que minha inspiração realmente foi o caso de James Tiptree, Jr., pseudônimo masculino da autora de FC norte-americana Alice Sheldon. Confessei que inicialmente criara Carla em 1995 apenas para escrever artigos e ensaios em fanzines. Contudo, com o advento das antologias temáticas em ambos os lados do Atlântico no fim da década de 1990, não resisti à possibilidade de publicar dois trabalhos por livro, graças ao emprego de meu alter ego feminino...

Carlos Orsi Martinho, Carlos Eugênio Patati e Sérgio Pereira Couto na pastelaria.

De volta à Viriato Correa, fechei minha conta com a Michelle da Moonshadows, que me pagou em cash as Phantasticas e as Gostosas que eu lhe entregara na véspera. Mesmo abatidos os oito livros que eu comprei com a livraria, deu uma graninha legal!

Despedidas efetuadas, caminhei com o Carlos Orsi Martinho até a estação Vila Mariana e dali tomamos o metrô até o terminal rodoviário Tietê, onde ele comprou uma passagem para Jundiaí e eu embarquei no ônibus da Expresso Brasileiro rumo ao Rio de Janeiro. Leitura de viagem: Anjos, Mutantes e Dragões do Ivanir Calado. Sensacional.

De novidades da Fantasticon 2010, a alegria de ter conhecido fãs e autores novos, a satisfação com o sucesso de vendas da Vaporpunk e com a desova de mais alguns exemplares das antologias antigas da Ano-Luz e o alívio de ter proferido mais uma palestra razoavelmente interessante e bem-sucedida sobre histórias alternativas lusófonas. E, claro, prazer por ter trazido para casa mais uma dezena de bons livros, um dos quais, inclusive, ajudei a concretizar. Acabou que só consegui assistir ou participar de três atividades oficiais, a mesa-redonda dos editores, a palestra do Bráulio e a minha própria. Em compensação, pude bater papo e trocar bastante calor com a galera, conhecer melhor a nova geração da FCB e compartilhar de umas poucas fofocas do fandom. Ou seja, o que há de melhor na vida da comunidade da FC brasileira.

Para o ano tem mais!

Jardim Botânico, Rio de Janeiro, 29 de agosto de 2010 (domingo).



Participantes:
Adriano Piazzi (Aleph)
Alexandre Heredia
Alfredo Keppler
Ana Carolina Silveira.
Ana Cristina Rodrigues
André Vianco
Aurisson
Bráulio Tavares
Cândido Ruiz (Conselho Steampunk)
Carlos Alberto Machado
Carlos Eugênio Patati
Carlos "Karl F." Felipe (Conselho Steampunk)
Carlos Orsi Martinho
César R.T. Silva
Cláudio Villa
Daniela Padilha (Difusão Cultural)
Douglas MCT
Douglas Quintas Reis (Devir)
Edgard "Garapa" Refinetti
Ednei Procópio (Giz)
Eric Novello
Erick “Draco” Santos & Janaína dos Santos.
Fernando Trevisan
Flávio “Garfield” Medeiros
Gerson Lodi-Ribeiro
Giampaollo Celli
Giulia Moon
Gumercindo Rocha Dorea.
Hugo Vera
Leandro Reis
Marcelo Galvão
Marcia Olivieri
Martha Argel
Max Mallmann
Michelle (Moonshadows)
Nazarethe Fonseca
Richard Diegues
Roberto de Sousa Causo
Rodolfo Londero
Sérgio Pereira Couto
Sílvio Alexandre
Tibor Moricz

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Ana Carolina in Rio 2010

2010.08091350P2  — 18.294 D.V.


“A melhor capa da ficção científica brasileira!”
[Romeu Martins]




Ana Carolina, Rafael "Lupo Monteiro", Mariana "Belly" Gouvin

Deu-se na noite de sábado passado (07/08) mais uma das confraternizações semiperiódicas da ficção científica carioca, desta feita sob pretexto da breve estada da jovem escritora mineira Ana Carolina Silveira aqui no Rio, hospedada na casa da Ana Cris e do Estevão Ribeiro.

Ana Cris marcou o evento para às 19:00h no Espaço Gourmet, mas só consegui chegar lá cerca de uma hora mais tarde. Além das duas Anas, Cris e Carol, já estavam lá os amigos Max Mallmann e Rafael “Lupo” Monteiro.

Apresentações e cumprimentos, um dos primeiros comentários da noite foi a boa repercussão da capa da antologia de história alternativa que organizei com o Luís Filipe Silva para a Draco, a Vaporpunk, que será lançada na Fantasticon 2010, no fim do mês lá em Sampa. A divulgação da capa no meio da semana passada suscitou uma saraivada de comentários, em sua maioria favoráveis, não faltando formadores de opinião que, a exemplo de Romeu Martins e Tibor Moricz, afirmaram se tratar da melhor capa de livro da ficção científica brasileira até hoje. O importante é que a capa atraia atenção suficiente para fazer o leitor em potencial tirar o livro da estante ou stand para examiná-lo nas próprias mãos. Creio que a capa cumprirá esse objetivo.

Aliás, outro papo de início de noite foi descobrir quem iria à Fantasticon. Eu e Ana Cris e Carol confirmamos presença. Falarei sobre “Histórias Alternativas Lusófonas” no domingo, dia 29 de agosto, entre 11:00 e 12:00h. Eu e Ana colocamos pilha no Max para convencê-lo a comparecer.

Mineira de Viçosa, atualmente radicada em Belo Horizonte, Carol confirmou conhecer nosso amigo Flávio “Garfield” Medeiros pessoalmente.

Como o almoço de sábado aqui em casa havia sido tão lauto como de costume, limitei-me a porções de carpaccio e queijo gorgonzola, se bem que repeti o prato duas vezes.

Tomamos um Maximo Boschi Cabernet Sauvignon 2000 que, contrariando as expectativas pessimistas, estava não apenas íntegro e potável, mas saboroso, o que é de se admirar, em se tratando de um tinto gaúcho com uma década de armazenamento. Lembro que no ano passado ou retrasado, tomamos um Maximo Boschi Merlot 2001 ali e ele também estava excelente, de forma que a qualidade desse Cabernet não constituiu surpresa total. Nem é preciso dizer que persuadi minha afilhada a abandonar a tulipa de chope incontinenti em favor daquela gostosura. Tampouco precisa ser dito que aquela primeira garrafa se esvaiu em pouquíssimo tempo, obrigando-nos a pedir uma segunda, idêntica e tão boa quanto a primeira.

Tanto o atual presidente do Clube de Leitores de Ficção Científica, Eduardo Torres, quanto Mariana “Belly” Gouvin haviam confirmado presença. Fiz fé no Edu, pois quando fala que irá, não costuma faltar. Já na Belly não apostei minhas fichas, porque ela é meio furona, de vez em quando diz que vai, mas não dá as caras. No entanto, desta vez deu zebra: justo a Belly foi a próxima a chegar, bem a tempo de experimentar da segunda garrafa do Maximo Boschi. Edu em si só chegou por volta das 21:30h, só degustando uma última taça daquela segunda garrafa. Entusiasmado, resolveu pedir uma terceira em sua comanda. Infelizmente, o estoque de Maximo Boschi da casa se esgotara, forçando Mr. President a optar por um belo exemplar de tinto português da região do Douro.

Belly ficou orgulhosa e satisfeita com o exemplar autografado do Centésimo em Roma com que Max lhe presenteou. Ao longo da noitada, ela teve que defender com unhas e dentes a posse do romance contra as garras ávidas dos demais convivas.

Anunciei a aceitação da versão definitiva de minha monografia Vinho no Mundo Romano pelo Programa de Estudos Culturais e Sociais da Universidade Cândido Mendes e a consequente conclusão de meu MBA em Vinho & Cultura.

Aliás, ainda na sessão de anúncios públicos e correlatos, comentei sobre o concurso público para Fiscal de Rendas do Município do Rio de Janeiro, com edital publicado, início das provas em 24 de setembro próximo e salário inicial de R$ 11.400,00. O tema causou algum frisson na mesa, mas não muito.

As duas grandes discussões da noite foram, pela ordem, nossas escolhas de candidato na próxima eleição presidencial e o mal causado pelas religiões.

Com a iconoclastia típica da juventude, Belly e Carol insistiram em afirmar que vão votar no pândego do Plínio Arruda — atitude que me lembrou uma brincadeira com a campanha presidencial norte-americana de duas ou três eleições atrás: “Cthulhu for President: Why vote for a lesser evil?” (o site ainda está no ar: www.cthulhu.org). Houve gente boa em nossa mesa que, suspeito, pretende votar na Dilma, mas tem vergonha de admitir... Repeti que fui obrigado a trocar a Marina Silva pelo José Serra por pura falta de melhor opção, quando descobri que a candidata do PV é criacionista.




A questão do criacionismo da Marina e de boa parte da bancada evangélica do Congresso trouxe à baila o segundo grande tema da noite, as tragédias que a religião organizada proporciona para as sociedades modernas. Edu e Belly trocaram ideias a respeito na extremidade oposta da mesa, enquanto o recém-chegado Estevão Ribeiro nos mostrava o pôster safadinho Bola-Gata que elaborou para o caderno esportivo do jornal onde trabalha. Aliás, o papo do Edu com a Belly deve ter sido cabeça, pois culminou em doses de whisky e na adoção dela como afilhada de Mr. President, o que faz dela a “Primeira Afilhada” da FC Carioca.

Max (versão Mirror, Mirror), Ana Cris, Gerson, Carol & Lupo.

Houve uma hora em que as três meninas se asilaram no banheiro feminino e lá permaneceram de ti-ti-ti por coisa de vinte minutos, para gáudio par ala masculina da mesa, que passou a tecer considerações de caráter sociológico sobre o comportamento gregário das fêmeas da espécie em toaletes de restaurantes, cinemas e shoppings.

Claro que a indefectível rodada de Cointreau não podia faltar à guisa de saideira. Como Belly e Carol se mostraram curiosas, orientei-as habilmente a experimentar do cálice da Ana Cris.

Quando enfim fomos obrigados a deixar o estabelecimento por volta de uma da matina, pois os garçons já haviam virado as cadeiras sobre as outras mesas e demonstravam certa impaciência, por assim dizer, pelo fato de sermos os últimos clientes, Eduardo se despediu de nós e rumou para casa a pé, uma vez que mora a dois ou três quarteirões de distância. Todos os demais se dirigiram aos bares do início da Voluntários da Pátria para retomar de onde haviam parado. Acompanhei-os até lá, pois não havia táxi em frente ao Espaço Gourmet. Como Belly estava meio alegrinha, resolvi testar seu coeficiente etílico, simulando uma tentativa de lhe surrupiar seu Centésimo em Roma. Pelo visto, ela estava inteiramente sóbria, pois ameaçou me bater e a reação não me pareceu em absoluto simulada.


Pós-saideira (cadeiras viradas ao fundo)

Uma vez na V.P. logrei agarrar um táxi e regressar ao lar já em pleno domingo do Dia dos Pais.

Jardim Botânico, Rio de Janeiro, 09 de agosto de 2010 (segunda-feira).

Participantes:
Ana Carolina Silveira
Ana Cristina Rodrigues
Eduardo Torres
Estevão Ribeiro
Gerson Lodi-Ribeiro
Mariana Gouvin
Max Mallmann
Rafael “Lupo” Monteiro

domingo, 23 de maio de 2010

Bate-papo Spaceblooks 3: Steampunk!



2010.05210943P6 — 18.214 D.V.

“Todo Jetson tem dentro de si um Flintstone.”
[Fausto Fawcett]



Estivemos ontem à noite na livraria Blooks para a Spaceblooks III, terceira e última das mesas-redondas temáticas informais, com a missão de papear sobre o subgênero steampunk, com a participação do autor e quadrinista Alexandre Lancaster; do escritor, músico e artista multimídia Fausto Fawcett e deste vosso escriba.

A Spaceblooks foi um ciclo de três mesas-redondas que se realizou em três quintas-feiras seguidas de maio (dias 06, 13 e 20), concebidas por Octavio Aragão e Toinho Castro, os dois curadores responsáveis pela organização do evento.

Antes de chegar à Blooks, dei um pulo no Botafogo Praia Shopping vindo do trabalho à procura de um caixa eletrônico e acabei encontrando com a Ana Cristina Rodrigues, hiperconectada como sempre, em companhia de seu notebook, aboletada numa poltrona da filial da Starbucks.

Uma vez abastecido do vil metal (que de vil não tem nada), seguimos juntos até a galeria do Artplex Unibanco, onde a livraria Blooks está instalada. Quando chegamos, já estavam presentes os outros dois membros da mesa-redonda. Lancaster ficou batendo papo conosco e Fausto Fawcett se reuniu a nós quando nos aproximamos das cadeiras onde nos sentaríamos.

Ausência notada nas duas Spaceblooks anteriores, o Presidente do Clube de Leitores de Ficção Científica (CLFC) Eduardo Torres brindou-nos com sua presença, chegando direto do aeroporto Santos Dumont para assistir nossa mesa-redonda.

Pouco antes do começo da parte oficial do evento, passei às mãos do Octavio em avant-première o prefácio da antologia Vaporpunk!, cujo subtítulo deverá ser “relatos steampunks publicados sob as ordens de Suas Majestades”. Péssima ideia, pois foi difícil convencê-lo a não ler o texto ali mesmo na livraria. Como discutíamos sobre as diversas definições de steampunk, aproveitei para lhe passar também uma cópia surrada de um ensaio de história alternativa sobre o subgênero que escrevi lá por idos do remoto ano de 1997, publicado no saudoso fanzine Megalon.

Antes do começo do bate-papo, autografei um exemplar do Xochiquetzal, uma Princesa Asteca entre os Incas para o Rafael Lupo Monteiro e comentei com ele que, infelizmente, a Draco não havia mandado exemplares do romance para o evento. Mais tarde, já no fim do evento, descobri o quanto havia sido injusto: o Erick Sama de fato havia mandado os livros para a Blooks.

Cláudia chegou pouco antes do início, quando já estávamos sentados na mesa conversando os três sobre dietas e regimes. Fausto emagreceu um bocado desde janeiro de 2009, quando estivemos juntos numa mesa-redonda sobre cyberpunk na Campus Party lá em Sampa. Está parecendo bem mais jovem do que um ano e meio atrás.
Convidados da Spaceblooks 3

Como já havia feito na segunda Spaceblooks, Octavio apresentou os três participantes da mesa e em seguida me passou a palavra. Enunciei brevemente o que o cânone considera steampunk, com direito a citações de St. Peter (Nicholls) em favor de O Homem-Elefante e O Jovem Sherlock Holmes, para em seguida me confessar um herege e apresentar minha própria visão subgênero menos restritiva que a ortodoxia pregada na Encyclopedia of Science Fiction, a Bíblia do gênero. Tendo procurado seguir minha própria exegese do subgênero, tanto no âmbito da antologia que estou organizando quanto fora dela.

Em seguida, Fausto Fawcett falou sobre as interseções entre as narrativas da ciência e tecnologia do passado e a tecnologia real do presente e do futuro próximo. Lutando para se entender com seu microfone, Lancaster falou sobre as edisonades norte-americanas escritas no século XIX e sua influência na FCB escrita no subgênero pulp no século XXI.

Encerrada a primeira fala dos três convidados, iniciamos um bate-bola sobre futurismo, criatividade, ficção científica, história alternativa e até mesmo um pouco de steampunk.

Assumindo o papel de moderador, o curador Octavio interveio para solicitar que eu e Lancaster falássemos um pouco de nossa produção dentro do subgênero steampunk. Lancaster falou um pouco da HQs que está produzindo e passou exemplares da mesma pela plateia. Do meu lado, falei da antologia Vaporpunk! que estou organizando com o Luís Filipe Silva para a Draco. Estimulado por uma pergunta da Ana Cris sobre a existência de duas antologias dentro do mesmo subgênero em menos de um ano, explanei en passant sobre as diferenças de critérios e estratégias editoriais que me levaram a abrir mão da coordenação da antologia Steampunk da Tarja em prol da montagem de uma segunda antologia, com trabalhos maiores, escritos por autores de ambas as margens do Atlântico com os quais eu já atuara anteriormente, com bons resultados. Falei da ênfase no enfoque temático lusófono que, inclusive, motivou o título da obra.

Ante a citação por Lancaster da Lei de Sturgeon, segundo a qual, “90% de toda a ficção científica é lixo, mas 90% de qualquer forma de expressão artística também é lixo.”, brinquei a sério, afirmando que 90% de qualquer coisa era lixo, inclusive, nós próprios e tudo aquilo que pensamos.

Pincelamos um monte de assuntos distintos. Falamos sobre evolução humana e nosso passado de macacos carnívoros assassinos; sobre a recepção hostil que autores da terceira onda da FCB sofreram da parte de alguns dinossauros da geração anterior; sobre avanços tecnológicos precoces; a influência dos romances de Charles Dickens sobre os autores norte-americanos de steampunk; sobre a oposição entre prazeres físicos de um lado e prazeres intelectuais do outro, subdividindo esses últimos em prazeres intelectuais mais fáceis e mais difíceis.
Plateia participativa 1

Variável ao longo do evento entre vinte e trinta pessoas, a plateia participou ativamente com perguntas e comentários. Alguns jovens sentados nas duas primeiras filas de cadeiras tomavam notas e, em pelo menos um caso, esboçavam desenhos ou caricaturas. Dessa meia dúzia de três ou quatro, só um ou dois se dispôs a fazer perguntas ou comentários em voz alta.

Embora steampunk não seja exatamente a sua praia, Fausto Fawcett encantou a plateia com sua verve e argúcia habituais. O sujeito tem uma presença de palco admirável. Até seus comentários mais gerais foram pertinentes em atingir o âmago das questões.

Fausto Fawcett

No quesito humor, creio que nosso bate-papo não decepcionou o público presente. Além das tiradas inteligentes do Fausto, como a citação que abre esta crônica, eu e Lancaster também demos nossos pitacos. Após ouvir Lancaster falar mal do Will Smith umas três ou quatro vezes nos mais diversos contextos, quase no fim do evento não resisti e lhe perguntei se nutria alguma mágoa ou questão pessoal com o ator. Com um sorriso envergonhado, Lancaster negou peremptoriamente.

Carlos Patati nos lançou a pergunta da noite ao questionar se julgávamos haver diferença de qualidade entre trabalhos de história alternativa propriamente dita e a ficção alternativa do tipo escrito por Kim Newman em Anno Dracula e Octavio Aragão em A Mão que Cria. Como fã número 1 da obra-prima de Newman, respondi que, não obstante as afirmações dos patrulheiros ideológicos de plantão na história alternativa anglo-saxã, eu não via diferença de qualidade alguma. História alternativa é uma coisa e ficção alternativa é outra. Porém, se bem escritas, ambas constituem diversão garantida.
Plateia participativa 2

Ao término da parte formal de nosso bate-papo informal, Toinho Castro agradeceu a participação dos convidados e do público presente nesta e nas duas outras Spaceblooks e prometeu que a livraria proporcionará outros ciclos de eventos desse tipo.

Em meio à confraternização entre convidados, organizadores e público, foram servidas rodadas de vinho, água e refrigerantes, enquanto colocávamos em dia as últimas fofocas do fandom. Infelizmente, a maioria picante demais para que possamos transcrever aqui. Ou, quem sabe, felizmente. Pois só assim evito processos de calúnia e difamação.

Octavio aproveitou o ensejo para adquirir seu exemplar do Xochiquetzal ali na Blooks e me intimou a autografá-lo, obrigação que cumpri com prazer.

Infelizmente, desta vez não pude acompanhar meus amigos fiéis nas bebemorações de praxe que normalmente se sucedem aos nossos eventos de caráter cultural. Defecção inesperada pela qual fui severamente criticado por meus pares. Nem é preciso dizer que pretendo me redimir na próxima.

That’s all, guys! Mas da próxima vez tem mais...

Jardim Botânico, Rio de Janeiro, 21 de maio de 2010 (sexta-feira).

Participantes:
Alexandre Lancaster
Ana Cristina Rodrigues
Carlos Eugênio Patati
Cláudia Quevedo Lodi
Eduardo Torres
Fausto Fawcett
Gerson Lodi-Ribeiro
Luiz Filipe Vasquez
Marcelo Carvalho Couto
Max Mallmann
Octavio Aragão
Rafael Lupo Monteiro
Ricardo França
Toinho Castro

domingo, 16 de maio de 2010

Bate-papo Spaceblooks 2: Fantástico na Internet



2010.05150736P6 — 18.208 D.V.

“Ana, será que você deixaria eu concluir meu pensamento.”
[Fábio Fernandes]



Deu-se na noite da última quinta-feira, 13/05, na livraria Blooks a Spaceblooks II, uma mesa-redonda informal, ou bate-papo temático, sobre literatura fantástica em mídia virtual, com a participação dos escritores Fábio Fernandes, Ana Cristina Rodrigues e Saint-Clair Stockler. A iniciativa Spaceblooks consiste num ciclo de três mesas-redondas semanais, sempre às quintas-feiras, idealizadas por Octavio Aragão e Toínho Castro, os dois curadores responsáveis pela organização do evento.


Toínho Castro e Octavio Aragão — Curadores da Spaceblooks

 
Infelizmente, não pude estar presente na Spaceblooks I, onde Bráulio Tavares e outros participantes egrégios dividiram a mesa-redonda para debater e papear — brilhantemente, segundo ouvi falar — sobre science fiction at large.

Para compensar, saindo direto do trabalho, acabei chegando meia hora adiantado para a Spaceblooks II. A livraria Blooks situa-se na galeria do Unibanco Artplex, estabelecimento onde se deu alguns meses atrás o lançamento das célebres tirinhas Os Passarinhos, de Estevão Ribeiro.

Mal cheguei e encontrei os três futuros bate-papeadores: meu amigo Fábio Fernandes, que veio de Sampa especialmente para o evento; minha querida afilhada Ana Cris; e Saint-Clair Stockler. Também presentes antes do início do bate-papo estavam os assíduos Ricardo França e Rafael Lupo, que, segundo soube, já haviam comparecido na Spaceblooks anterior, e também o Bráulio Tavares e o Marcelo Carvalho Couto, um sócio antigo do CLFC-Rio que eu já não via há uns bons quinze anos, desde os tempos do saudoso Grupo de Interesse em Vídeo capitaneado por Sylvio Gonçalves em plena antediluviana década de 1980 no Rio de Janeiro do segundo milênio, onde assistíamos clássicos em preto e branco e séries norte-americanas inéditas em fitas VHS (sugiro aos mais novos uma “googlada” para descobrirem do que se trata). Aliás, ainda lembro das pizzas deliciosas que a mãe do Marcelo nos servia no intervalo entre a exibição de um vídeo e outro. Bons tempos...

Cumpridos os quinze minutos de tolerância regulamentar, a mesa-redonda se iniciou com pontualidade carioca às 19:15h, com nosso mestre de cerimônias Octavio — com seu new look careca — apresentando os três convidados.


O Curador, Saint-Clair Stockler, Fábio Fernandes e Ana Cristina Rodrigues


Ana Cris abriu o bate-papo falando de suas múltiplas atividades nas diversas comunidades virtuais, dentre elas a comu Ficção Científica do Orkut, a oficina literária virtual Fábrica dos Sonhos e seus projetos editoriais que estão migrando da virtualidade para o bom e velho papel impresso, dentre as quais a antologia temática Gastronomia Phantastica.

Ana passou o microfone ao Fábio que, a bem da eficiência, apenas citou que seu currículo constava de seus blogs e de diversos links em outros sítios internéticos, passando então a nos apresentar com a verve que lhe é peculiar um breve histórico do desenvolvimento da literatura fantástica brasileira no âmbito virtual — narrativa ágil que, vez por outra, se entremeou com o fantástico lusófono impresso. Fábio também nos falou um pouco dos contatos recentes que estabeleceu com autores e editores anglo-saxões do gênero e das publicações resultantes desses contatos.

Em seguida, Saint-Clair Stockler falou sobre suas atividades literárias nos âmbitos impresso e virtual, abordando, inclusive, seu processo criativo e sua parceria com o autor paulistano Tibor Moricz, que resultou, dentre outros frutos, nas antologias Imaginários I & II (Draco, 2009) e na Brinquedos Mortais, ainda em fase de elaboração.

Ao longo do bate-papo inicial do trio de autores, chegaram Carlos Eugênio Patati, Cláudia Quevedo Lodi e Max Mallmann, autor do romance histórico recentemente publicado O Centésimo em Roma (Rocco, 2010), indubitavelmente, um dos maiores tours-de-force literários dos últimos tempos.

Encerrado o bate-papo inicial, passamos à interação direta entre escritores e plateia. Muitos dos cerca de trinta presentes participaram ativamente com perguntas, comentários e opiniões que incrementaram o ambiente interativo e informal que a dupla de curadores almejara. Tão informal que Ana não se furtou de interromper a fala de Fábio em seguidas ocasiões. Das primeiras três ou quatro vezes, nosso amigo limitou-se a lançar um olhar enviesado à interlocutora. A partir da vez seguinte, estrilou e, a partir de então, começaram a se estranhar, a ponto de me fazerem lembrar as discussões entre meus pais nos almoços de domingo: assim como Ana e Fábio, meus pais se amam, mas há décadas insistem em que um nunca deixa o outro falar...

Ao longo dessa animada fase de perguntas, respostas & comentários, foram abordadas várias questões interessantes, desde a relevância do romance Os Dias da Peste de Fábio Fernandes no panorama do fantástico lusófono, até as novidades anglo-saxãs nos subgêneros da new space opera e do new weird, passando pela presença brasileira em congressos internacionais de ficção científica e pela sobrevivência e extinção dos dinossauros da FC brasileira.



Plateia participativa do Spaceblooks II

 
Por volta das 21:00h, com o encerramento da parte formal do bate-papo informal, autores e plateia levantaram-se de suas respectivas cadeiras para prosseguir com a interação de pé, enquanto um garçom simpático servia vinho, água e refrigerantes. Aproveitei o ensejo para retomar o papo com o Marcelo Couto, que me contou novidades sobre diversas séries televisivas de FC e correlatas. Enquanto isto, sentado numa mesa à entrada da livraria, Fábio autografava exemplares de Os Dias da Peste para fãs recém-conquistados ao longo da mesa-redonda.

Quando a Blooks e a própria galeria do Artplex já ameaçavam cerrar as portas, partimos em expedição a pé para bebemorar o êxito do evento no Espaço Gourmet, point tradicional da FC&F carioca. Já à saída da Blooks, para gáudio de meu ego autoral, Toínho Castro me confidenciou que teria sido a leitura da coletânea de história alternativa Outros Brasis (Mercuryo, 2006) que o inspirara, em última análise, à criação da iniciativa Spaceblooks.

A maioria dos presentes migrou da livraria para a bebemoração. No entanto, sofremos algumas defecções graves, como as de Patati, do Marcelo, do Ricardo França, que abandonou nossa comitiva no meio do caminhada, guinando rumo à estação Botafogo do Metrô, e do próprio curador Octavio Aragão, que fez forfait, alegando compromissos domésticos inadiáveis relacionados à última mamadeira noturna do filho caçula.

Durante nossa caminhada de cerca de quinze minutos da Blooks até o Espaço Gourmet, sentimo-nos um pouco preocupados, pois nosso amigo Fábio ficara duzentos ou trezentos metros para trás. Tranquilizamo-nos ao perceber que seguia devidamente escoltado por jovens fãs e, de fato, ele acabou chegando em segurança no aconchego de nosso plácido covil.

Uma vez em nosso reduto, sentamo-nos numa mesa que facultava a opção aos rodízios de pizzas e crepes. Postei-me num ponto privilegiado da mesa, com Bráulio, Ana Cris e Toínho à minha frente, Fábio à minha esquerda e Cláudia à minha direita. Eu & Cláudia optamos pela comida a quilo em detrimento dos rodízios, mas não abrimos mão de um bom tinto brasileiro, um Cabernet Sauvignon que, não obstante a longeva safra de 2001, ainda estava nos trinques.



Bráulio Tavares & Ana Cris no Espaço Gourmet


 
Conversamos sobre dezenas de livros, filmes e séries televisivas dentro e, sobretudo, fora do gênero fantástico. Bráulio nos entreteve com a descrição vívida dos roteiros que escreveu para uma série de programas de entrevistas elaborados por uma produtora sediada em Recife.

Já na fase de despedidas, em meio aos elogios extremados que prestei ao romance O Centésimo em Roma, lembrei ao Max que os antigos romanos eram particularmente avessos à prática do sexo oral, tanto do fellatio quanto do cunnilingus, não obstante as nomenclaturas latinas dessas práticas. Afinal, apesar da relativa ousadia e liberalidade dos afrescos eróticos descobertos em Pompeia e Herculano, o fato é que os romanos aceitavam até mesmo a zoofilia com menos ojeriza do que o sexo oral.


Fábio no Espaço Gourmet


 
Bem, acho que por ora é só, mas semana que vem tem mais: na próxima quinta-feira, dia 20 de maio, na Spaceblooks III, Fausto Fawcett, Alexandre Lancaster e eu dividiremos a mesa-redonda para falar de steampunk, onde abordaremos o caso das duas antologias que eram para ser uma e outras questões picantes do subgênero.



Jardim Botânico, Rio de Janeiro, 15 de maio de 2010 (sábado).



Participantes:
Ana Cristina Rodrigues
Bráulio Tavares
Carlos Eugênio Patati
Cláudia Quevedo Lodi
Estevão Ribeiro
Fábio Fernandes
Gerson Lodi-Ribeiro
Marcelo Carvalho Couto
Max Mallmann
Octavio Aragão
Rafael Lupo Monteiro
Ricardo França
Saint-Clair Stockler
Toinho Castro

domingo, 18 de abril de 2010

Lançamento d'O Centésimo em Roma
de Max Malmann




2010.04171845P6



Compareci nessa última quinta-feira no lançamento carioca do romance histórico O Centésimo em Roma de Max Mallmann na Livraria da Travessa da Visconde de Pirajá. Aguardei o evento com tanto entusiasmo que acabei comparecendo lá na livraria com um mês inteirinho de antecedência. Isto mesmo! Em mais uma de minhas hilárias e embaraçosas confusões — hilárias para os outros, embaraçosas para mim — acabei me atrapalhando ao julgar que o lançamento se daria em 15 de março e não em 15 de abril...

Como bom gato escaldado, dessa vez tomei o devido cuidado de checar os e-mails do autor nas listas de discussão para confirmar o evento. Quando cheguei na Travessa às 20:10h (o evento começara às 19:30h), Max já estava com a casa cheia. Havia um bocado de gente dentro da livraria e uma fila de cerca de quinze pessoas na mesa de autógrafos. Encontrei Eduardo Torres e Sylvio Gonçalves junto à caixa registradora. Sylvio comprava seu exemplar. Edu já comprava três, um para si próprio e outros dois para dar de presente. Entramos na fila folheando o romance, maravilhados com a robustez do volume — mais de quatrocentas páginas — a qualidade da capa e dos detalhes gráficos e de acabamento.

De copo de whisky na mão, Edu decantava a qualidade do Johnny Walker Green Label que degustava. Quando perguntei pelo vinho, explicou que também havia e do bom.

Ali da fila, vislumbramos Ana Cristina sentada numa poltrona de papo com o Luiz Filipe Vasquez. Edu esclareceu que ela havia quebrado o pé num acidente doméstico. De fato: mais tarde verifiquei que ela portava pé direito imobilizado e um par de muletas facilmente manejadas como armas.

Trata-se do quinto romance de Max e o terceiro em seguida que ele publica pela Rocco, os dois anteriores foram Síndrome de Quimera (2000) e Zigurate (2003). O intervalo maior entre o penúltimo romance e o atual deveu-se ao caudaloso trabalho de pesquisa que o autor empreendeu, lendo e digerindo quase uma centena de livros sobre Roma Antiga para se preparar para a empreitada. Consta que nossa amiga historiadora Ana Cris teria atuado como leitora crítica informal antes de Max entregar os originais do trabalho à editora.  Quando ainda residia em Porto Alegre, Max publicou o romance de ficção científica Confissão do Minotauro (Instituto Estadual do Livro, 1989) e o romance de fantasia Mundo Bizarro (Mercado Aberto, 1996).

Ainda na fila de autógrafos, fomos surpreendidos pela presença de Roberval Barcellos, que andava sumido há tempos. O autor de história alternativa prestigiou o lançamento trazendo inclusive a esposa que, segundo ele, tornou-se fã do Max após a leitura de Síndrome de Quimera. Conversa vai, conversa vem, descobrimos que Roberval teria tido uma noveleta de história alternativa aceita para publicação numa antologia de ficção científica política que, segundo consta, estaria sendo organizada por um importante hierarca da FCB para uma editora especializada no gênero.

Quando estávamos na fila deparamo-nos momentaneamente com Lucio Manfredi, só que acabamos não tendo tempo de conversar com ele, nem naquele instante e nem mais tarde.

Só quando chegamos à mesa do autor é que constatei ter esquecido minha câmera digital. Fui obrigado a pedir ao Sylvio que tirasse fotos com meu LG Cookie, traquitana que, como todos sabem, não é lá essas coisas. Max providenciou carimbos com ditos sacanas-espirituosos em latim. Meu exemplar fez jus a quatro carimbos.


Max autografando incessantemente!

Tão logo coletei meu autógrafo, lancei um olhar triunfal ao fim da fila quilométrica, vislumbrando a cabeça precocemente grisalha de Octavio Aragão que me havia dito num telefonema pela manhã que provavelmente não compareceria. Pelo visto, conseguiu se desvencilhar dos compromissos domésticos para prestigiar o lançamento do Max. Regressei à fila para bater papo com o Octavio. Ele me contou que o prefácio que o Fábio Barreto escreveu para minha noveleta “São os Deuses Crononautas”, a ser publicada na antologia Intempol 10, ficou excelente. Segundo ele, o prefácio que a Libby Ginway escreveu para a noveleta do Carlos Orsi Martinho na mesma antologia também ficou do balacobaco. Pelo visto, o relançamento da Intempol vai bombar. Periga ser o evento do ano na ficção científica brasileira.

Regressei às cercanias da mesa de autógrafos para conversar com a Ana Cris e saber detalhes do seu acidente doméstico. Estevão Ribeiro só chegaria ao fim do evento. Ambos compraram uma pilha respeitável de exemplares. Além do Luiz Filipe, Rafael “Lupo” Monteiro também prestava serviço de escolta a nossa líder semi-imobilizada. Excepcionalmente, Lupo não se fez acompanhar de sua noiva.  Patati foi outro que só chegou no finzinho, mas, pelo menos, ao contrário do que aconteceu com o Lúcio, consegui bater um papinho com ele.

Indignada com o pretenso sacrilégio de Octavio “Deus” Aragão ter assentado seu divino traseiro na mesa do autor, Ana Cris manifestou vontade extremada de aplicar uma severa muletada na divindade. De imediato, eu e Luiz Filipe posicionamos a poltrona dela de forma que ela pudesse exercer seu desígnio punitivo.

O assunto da noite foi sem dúvida a quantidade de pesquisa que Max se obrigou a executar para escrever o Centésimo. Ana declarou que tal empenho deveria ser divulgado para servir de exemplo a certos autores da nova geração da FCB que consideram a preguiça intelectual parte integrante do ofício literário.

Na categoria fofoca da FCB, comentou-se animadamente sobre os últimos arranca-rabos do Orkut e do subfandom paulistano, alguns dos quais já antecipados há tempos por nossos consultores contratados à da Confraria dos Canalhas Anônimos.

Octavio trouxe à pauta de discussão sua atividade de curadoria num ciclo de mesas-redondas semanais que se darão numa livraria situada na galeria do complexo cultural do Unibanco Artplex. Deverei assistir a segunda mesa, capitaneada por Fábio Fernandes, Ana Cristina Rodrigues e Saint-Clair Stockler. Também participarei da terceira, sobre steampunk, em companhia de Fausto Fawcett e Alexandre Lancaster. Aliás, essa será a segunda vez que participo de uma mesa-redonda com o Fawcett. A primeira foi na Campus Party de 2009, lá em Sampa e versou sobre cyberpunk.

Apesar das tratativas iniciais para sairmos da Travessa para bebemorar o êxito do lançamento na Devassa praticamente em frente, em virtude do avançado da hora, julguei por bem declinar da combinação, despedir-me dos amigos e tomar um táxi de volta para casa.

Autor, seu fã e o Centésimo.


Jardim Botânico, Rio de Janeiro, 17 de abril de 2010 (sábado).


Participantes:


Ana Cristina Rodrigues
Carlos Eugênio Patati
Eduardo Torres
Estevão Ribeiro
Gerson Lodi-Ribeiro
Lúcio Manfredi
Luiz Filipe Vasquez
Max Mallmann
Octavio Aragão
Rafael Lupo Monteiro
Roberval Barcellos
Sylvio Gonçalves