terça-feira, 29 de novembro de 2016

Prêmio Argos 2016Cápsula do Tempo
no Salão Carioca do Livro

201611262359P7 — 20.595 D.V.

“Prefiro levar agora meu kit Argos para montar.”
[Erick Sama, detentor do Prêmio Argos Especial 2016, ao receber seu troféu desmontado]

“Draco 4x0!”
[Brado dos autores e antologistas da Draco ao fim da cerimônia de entrega do Argos 2016]

Após várias desmarcações e confirmações, eis que chegou enfim o dia aguardado da cerimônia de entrega do prêmio Argos 2016, agraciado pelo Clube de Leitores de Ficção Científica aos melhores da literatura fantástica brasileira em quatro categorias diferentes.
Saí de casa cedo rumo ao aeroporto Santos Dumont para encontrar Erick Sama, que embarcou de Sampa para receber seu Argos Especial, concedido pelo conjunto da obra a indivíduos ou entidades que se dedicaram ao desenvolvimento e à divulgação dos gêneros da literatura fantástica em língua portuguesa.

Erick Sama turistando no VLT Carioca, rumo ao Argos!


Às 10h40 embarcávamos na parada Santos Dumont do VLT rumo à parada dos museus, junto à Praça Mauá.  Primeira experiência de VLT para mim e para o Erick.  Compramos o cartão bilhete-único para ele e o carregamos com passagens de ida e volta na máquina automática instalada na parada.  Para mim, o Riocard funcionou a contento.  Viagem tranquila e sem incidentes pelo centro do Rio nesta bela manhã ensolarada de primavera carioca, com direito a contemplar a Cinelândia, Rio Branco e Candelária de ângulos inteiramente novos.  Quinze minutos mais tarde, desembarcávamos na parada dos museus e caminhávamos por cerca de cem metros até o Armazém nº 2 do cais do porto, um dos dois armazéns que abriga a LER – Salão Carioca do Livro 2016.

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O Salão do Livro ocupa os armazéns 2 e 3 do cais do porto.  Espaço gigantesco, razoavelmente climatizado (necessidade inarredável nesta primavera quase verão), abrigando alguns estandes de vendas (mas, não tantos, nem de longe, quanto caberia ali), salas de leitura e declamação de poesias (muitas voltadas ao público infantil), restaurantes, quiosques e auditórios.  Na lateral dos armazéns voltada para a Baía da Guanabara, situam-se conjuntos de mesas, cadeiras, redes e uma penca de food trucks com as propostas gastronômicas mais diversas e os preços mais absurdos para quem se propõe a fornecer fast food.

Cerimônia de entrega do Argos 2016 no Salão Carioca do Livro.


Entramos pela lateral do Armazém nº 2 voltada para a Praça Mauá.  Como já havia me credenciado para o evento pela internet, o acesso nos foi facultado sem problemas, mas não recebemos crachás (que, também, não fizeram muita falta).  Dali, caminhamos a passos lentos e olhares admirados até o fundo do Armazém nº 3, onde se situa o auditório-teatro Machado de Assis, local em que se daria a cerimônia do Argos.  Esse novo espaço cultural carioca está muito legal.  Como chegamos uma hora e meia antes do horário marcado para o início do evento, regressamos do teatro ao Armazém nº 3 propriamente dito e sentamos num banco para bater papo.  Erick me contou sobre as experiências de sua última estada no Japão, onde se hospedou numa casa de família pelo sistema air-b&b, o que lhe permitiu maior imersão na cultura japonesa.
Aproveitei o ensejo e me esforcei para presentear o Erick com um exemplar autografado do meu Vita Vinum Est!: História do Vinho no Mundo Romano (Mauad X, 2016), mas ele fez questão de pagar pelo livro.
Pouco depois, apareceram os amigos Ricardo França e Eduardo Torres e o presidente do CLFC, Clinton Davisson.  Também encontrei ali Ronaldo Fernandes, meu velho amigo dos tempos da Astronomia no Observatório do Valongo.  Ele compareceu com a esposa Simone e a filhinha Letícia, essencialmente para entreter a pirralha e iniciá-la gradativamente nos prazeres da literatura numa ou várias das muitas rodas de leitura para crianças pequenas.  Nessa ocasião, não tive oportunidade de conhecê-las pessoalmente.
Por volta de meio-dia, trinta minutos antes do horário previsto para o início da cerimônia, dirigimo-nos para o Machado de Assis.  Como a atividade anterior ainda não havia acabado, a organização do teatro nos abrigou no camarim feminino, cuja climatização era mais efetiva do que as dos armazéns.

Eduardo Torres, Erick Sama, GL-R e Clinton Davisson no Camarim Feminino.

Ana Lúcia Merege, única mulher no Camarim Feminino.

Ricardo França, Luiz Felipe Vasques, Edu Torres e Daniel Ribas.

Aqui ficamos por um bom tempo...


Às 12h30, horário marcado para o começo da cerimônia, a declamação de poesias no Machado de Assis prosseguia firme e forte, mas não ligamos, pois parte do povo que combinara comparecer ao evento ainda não havia dado as caras.  De fato, minutos mais tarde, João Beraldo e Ana Lúcia Merege estabeleceram contato via WhatsApp e nós despachamos uma expedição de resgate para conduzi-los em segurança até o Machado de Assis.  Encontramos os dois numa mesa do Café dos Livros, restaurante anexo a um auditório no fim do Armazém nº 2.  Dali, avistamos Luiz Felipe Vasques e Daniel Russell Ribas que acabavam de chegar.  Quando todos nos reunimos no auditório do teatro, apareceram Bráulio Tavares, Cirilo Lemos e Gerson Avillez, além dos participantes do Cápsula do Tempo, Renata Aquino, Daniel Faleiro e Diogo Salles.

Plateia na Cerimônia de entrega do Argos 2016.

Plateia na Cerimônia de entrega do Argos 2016.

Plateia na Cerimônia de entrega do Argos 2016.

Plateia na Cerimônia de entrega do Argos 2016.



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Apesar do atraso e de termos sido obrigados a dividir o palco com a equipe de montagem de uma peça que seria apresentada após a cerimônia, o evento transcorreu sem maiores incidentes.[1]  O público presente de cerca de vinte e cinco pessoas foi bastante inferior ao das cerimônias de entrega anteriores, desenroladas na cúpula Carl Sagan do Planetário da Gávea.
Clinton Davisson abriu os trabalhos falando um pouco sobre a história do CLFC e da premiação.  Em seguida, convidou-me a subir ao palco para entregar o Argos Especial ao Erick Sama.  Em breves palavras, destaquei a participação fundamental do Erick e da Editora Draco na eclosão do boom atual de publicações de literatura fantástica nacional, levado avante por editoras de pequeno porte, e da manutenção desse ritmo ao longo dos últimos sete anos.  Em seu discurso de agradecimento, o agraciado exibiu um filmete sobre as publicações da editora e falou um pouco sobre o autêntico esforço de guerrilha necessário para publicar literatura fantástica no mercado brasileiro.

Presidente do CLFC, Clinton Davisson, abre os trabalhos.

Erick Sama recebe o Argos Especial.

Clinton, Erick e GL-R.

Neste certame do Argos, pela primeira vez em cinco anos trabalhando com a mesma empresa para a confecção dos troféus, dois os quatro chegaram quebrados ou descolados de suas bases.  Embora não constituísse problema sério, do tipo que impactaria no êxito da cerimônia, o incidente gerou algumas piadinhas do tipo “convoco o vencedor para receber seu kit Argos para montar em casa”.  Ao todo, o Argos Especial do Erick e o Argos para a Melhor Ficção Curta vieram danificados.  Contudo, nada que algumas gotas de superbonder não possam curar.
Aproveitando a presença de Erick no palco e considerando o papel relevante que a Draco vem desempenhando no lançamento de dezenas de antologias nos últimos anos, Clinton o convidou para entregar o Argos 2016 na categoria Melhor Antologia ou Coletânea.  Como é tradição, o Argos se assemelha ao Oscar em dois aspectos importantes: 1) premia os melhores do ano anterior; e 2) o vencedor e a plateia só descobrem quem receberá o troféu na hora em que o envelope é aberto pelo convidado responsável pelo anúncio do vencedor.
Após certo esforço para ler os nomes dos trabalhos e antologistas concorrentes projetados contra a cortina negra do teatro, Erick abriu o envelope e anunciou os vencedores: Monstros Gigantes - Kaiju (Draco, 2015), organizada por Luiz Felipe Vasques e Daniel Russell Ribas.  Os antologistas subiram ao palco e proferiram seus discursos emocionados diante dos aplausos entusiásticos da plateia.  Fiquei satisfeito com o resultado, pois havia votado na Monstros Gigantes como melhor antologia.

Erick na entrega do Argos, categoria Melhor Antologia.

Luiz Felipe Vasques e Daniel Russell Ribas, antologistas da Monstros Gigantes.


Em seguida, Clinton convocou Bráulio Tavares para a entrega do Argos 2016 na categoria Melhor Ficção Curta.  Bráulio falou da importância passada do CLFC, nos tempos pré-internéticos de antanho em que frequentar as reuniões do clube constituía uma das formas mais baratas e confiáveis de se receber informações sobre livros e filmes do gênero.  Afirmou julgar o conto a melhor forma de expressão da ficção fantástica e que, como autor, considera-se, acima de tudo, um contista.  Em seguida, abriu o envelope e anunciou o trabalho vencedor: “Grande Caçador Branco”, de Luiz Felipe Vasques, publicado na mesma antologia que ele coorganizou com Daniel Ribas.  Assim, a Monstros Gigantes se sagrou, de certa forma, a grande campeã da tarde.

Felipe recebe o Argos 2016 na categoria Melhor Ficção Curta, por "Grande Caçador Branco".


Finalmente, Clinton convidou Eduardo Torres para entregar o Argos 2016 na categoria Melhor Romance.  Infelizmente, os trabalhos concorrentes que apareceram projetados na cortina sob o título dessa categoria foram os da categoria anterior.  O problema foi sanado por alguém da plateia que acessou o site do CLFC e passou o celular ao presidente, que então pôde ler os títulos corretos dos romances concorrentes e os nomes de seus respectivos autores.  Eduardo enfim abriu o envelope e anunciou a vitória de Império de Diamante (Draco, 2015), de João Marcelo Beraldo.  Algo surpreso e visivelmente emocionado, o autor subiu o palco para receber seu troféu (inteiro!) e proferiu umas poucas palavras de agradecimento.  Fiquei muito feliz com o resultado, pois acompanho a carreira de Beraldo desde os tempos em que éramos colaboradores na equipe de criação do universo ficcional da Hoplon Infotainment, responsável pelo MMOG Taikodom.

João M. Beraldo recebe o Argos 2016, categoria Melhor Romance, por Império de Diamante.

Clinton, Edu Torres, João Beraldo.


Ao término da parte formal da cerimônia, o presidente do CLFC me convocou ao palco e, após pedir um minuto de aplausos em homenagem a Max Mallmann, autor de literatura fantástica e roteirista de TV falecido há cerca de um mês, passou-me o microfone.  Chegara enfim o momento que eu mais temia na cerimônia.  A perda do Max emocionou e chocou um bocado todos aqueles que o tiveram por amigo nestas últimas duas décadas.  Pensei em ler uma versão resumida da crônica que escrevi sobre o assunto[2], mas acabei resolvendo falar de improviso e, não obstante os olhos marejados, logrei fazê-lo sem chorar.  Esqueci um ou dois tópicos que pretendi abordar, mas, tudo bem, faz parte.
Finda a cerimônia de premiação do Argos 2016, rumamos para o Café do Livro, restaurante já inspecionado por ocasião do resgate do Beraldo e da Ana Merege, cuja oferta de vinhos e espumantes revelou-se mais do que correta.
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Permaneci por cerca de duas horas no Café do Livro.  Ao longo da segunda parte dessa estada, fomos brindados com a mesa-redonda de Clinton Davisson, Bráulio Tavares e Heloísa Seixas.  Ausentes da cerimônia, apareceram no restaurante Miguel Carqueija e a jovem autora Renata Ventura, amiga de Felipe e Daniel.  Carqueija chegou lamentando que não houve tempo para assistir a entrega dos prêmios.  Já Renata, interagiu bem com os presentes em nossa mesa, mostrando-nos seu livro e folheando os nossos.

Nossa mesa no Café do Livro, Armazém 2 do Cais do Porto.

 Erick Sama, Ana Merege, Renata Ventura.

Antologistas premiados, sua cria e seu troféu (inteiro!).

Brindes e comemorações no Café do Livro.

Mesa-redonda de Clinton Davisson, Bráulio Tavares e Heloísa Seixas.

Cápsula do Tempo comparece ao Café do Livro para assistir mesa-redonda.

Tinto Guatambu 2015 faz sucesso.

Beraldo, Renata, Daniel e Cirilo Lemos com suas crias queridas.

Felipe, Edu Torres, Beraldo, Cirilo, Erick e Ana Merege.

Thaís Cavalcanti, Daniel Faleiro e Daniel Ribas.


Na conversa com Felipe e Daniel, as experiências literárias de minha persona Carla Cristina Pereira vieram à baila novamente.  Lembrei que àquela época remota de fins do segundo milênio, alguns autores com existência real comprovada, como é o caso de Roberval Barcellos, foram assumidos durante algum tempo como personae de outros autores.
Erick aproveitou para colocar à venda alguns dos romances e antologias finalistas do Argos 2016 e também a antologia Dinossauros (2016), que organizei para a Draco.  Nosso bate-papo animado foi regado por uma garrafa do espumante Faces, da vinícola Lídio Carraro, e duas do tinto Guatambu 2015, um corte delicioso de Tannat, Cabernet Sauvignon e Tempranillo.  O bom equilíbrio e a qualidade elevada desse tinto surpreenderam agradavelmente os presentes à mesa que lograram experimentá-lo.  Era tão bom e acessível que eu e Edu Torres adquirimos garrafas extras para trazer para nossas casas.  Durante o ágape, conversei, sobretudo, com Erick, Felipe, Eduardo e Daniel.  Falamos sobre os concorrentes do Argos deste ano e as perspectivas dos trabalhos que concorrerão no ano que vem.  Como não podia deixar de ser, comentamos também um bom punhado de livros e filmes sem qualquer relação com o Argos — ênfase especial para os trabalhos de Ted Chiang e o filme recém-estreado A Chegada, baseado na noveleta daquele autor, “The Story of Your Life”.  Presenteei o Felipe com um exemplar de Vita Vinum Est! e Edu declarou ter apreciado bastante a leitura desse livro.  Segundo ele, “o texto flui bem, nem parece um trabalho acadêmico”.

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Quando a mesa-redonda do Bráulio e do Clinton começou, o pessoal do Cápsula do Tempo retornou ao Café do Livro e ocupou suas carreiras no auditório do estabelecimento para assisti-la, mas a maioria dos velhas guardas da comunidade carioca de literatura fantástica, acrescida pelo Erick Sama, continuou batendo papo em nossa mesa, pois, afinal de contas, depois de tantos anos de estrada, dinossauros que somos, já sabíamos mais ou menos o que seria dito ali.  Procuramos não nos exceder demasiado nos brindes e comemorações, para não atrapalhar o bom andamento da mesa-redonda.
Por volta das 16h00, reencontrei meu amigo Ronaldo Fernandes e, aí sim, ele me apresentou à esposa Simone e à filha de três anos, Letícia, com direito, inclusive, a sessão de fotos com a garotinha linda em meu colo.

Simone, Ronaldo, GL-R e Letícia.

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Meio atrasado, reencontrei o pessoal do Cápsula do Tempo numa das mesas instaladas na lateral do Armazém nº 3.  Na sessão mensal de hoje à tarde, analisamos duas noveletas do Ted Chiang, “História da Sua Vida” e “A Torre da Babilônia”[3], bem como o filme A Chegada, que a maioria de nós assistiu na tarde ou na noite de anteontem, dia da estreia nacional dessa produção.
No que concerne o filme, simplesmente adorei.  Ao contrário do que eu temia, não deturpou o cerne da trama delineada na noveleta, limitando-se a mudançazinhas pontuais aqui e ali, bem como à atualização e valorização do cenário político internacional, do início dos anos 1990 para a segunda década do século XXI.  Foi preciso manobrar toda a minha rotina de trabalho nessa última quinta-feira para poder assistir a estreia, mas valeu a pena.

Reunião do Cápsula do Tempo na lateral do Armazém 3:
Thaís Cavalcanti, Renata Aquino, Isabella Alvarez, Thaís Costa,
Stella Rosemberg e Ricardo França.

Reunião do Cápsula do Tempo na lateral do Armazém 3.

Reunião do Cápsula do Tempo na lateral do Armazém 3:
Daniel Faleiro, Mariana Rio, Renata Aquino e Diogo Salles.


Dedicamos muito mais tempo à discussão de “A História da Sua Vida” e A Chegada do que à de “A Torre da Babilônia”.  As discussões do livre arbítrio e da percepção do tempo não como uma experiência sequencial (como é a percepção humana), mas sim como um todo, em que passado, presente e futuro são igualmente conhecidos (como é a percepção dos alienígenas heptápodes) renderam panos para mangas.  Tais questões me intrigaram um bocado quando li a noveleta pela primeira vez em 2011 e me intrigaram ainda mais quando a reli na segunda-feira passada.  A dúvida passa pela cabeça de nove dentre cada dez leitores é se ela ou ele agiria da mesma maneira que a protagonista em relação à concepção de sua filha, se já soubesse tudo o que o futuro lhe reservava.  Após essa segunda leitura, passei a considerar essa noveleta de primeiro contato da humanidade com uma civilização alienígena em visita à Terra como a peça de ficção curta mais bem escrita e mais inteligente que já li.
Já no que diz respeito a “A Torre da Babilônia”, Chiang parte de uma premissa absurda: o universo é realmente regido e limitado pelos parâmetros da cosmologia suméria.  A partir dessa proposta, elabora a narrativa instigante do que acontece quando a construção da torre finalmente termina depois de muitas gerações de labuta e os humanos são capazes de tocar o topo do firmamento com as próprias mãos.  Alguns dos colegas não entenderam o fim da noveleta.  Procurei explicar esse clímax em termos de topologia de universos fechados.
Ao longo do debate, dei um pulo num food truck defronte à nossa mesa e comprei um sanduíche de grife, um tal “Triunfo”.  Na ocasião, soube-me nutritivo e saboroso.  No entanto, quando cheguei em casa há pouco, senti-me mal sob o efeito digestivo maléfico do podrão.
Ao discorrer sobre a excelência técnica, estilística e narrativa dos contos e noveletas do Ted Chiang, acabei confessando meu orgulho por meu conto “Xochiquetzal e a Esquadra da Vingança” ter ficado em segundo lugar na categoria Ficção Curta do Sidewise Awards, atrás somente do “Seventy-Two Letters” do Ted Chiang.
Enquanto o resto da mesa continuava a debater “A Torre da Babilônia” ou outros assuntos, encetei um papo com o Diogo Salles sobre alguns detalhes da construção do meu universo ficcional Três Brasis, sobretudo, no que diz respeito às narrativas incluídas no romance fix-up Aventuras do Vampiro de Palmares (Draco, 2014).  A questão foi levantada por Diogo, a partir do comentário dele sobre a originalidade de romances fantásticos brasileiros com fortes elementos africanos e/ou afro-brasileiros, como Esplendor (Draco, 2016) de Alexey Dodsworth; Império de Diamante do Beraldo e meu Aventuras.  Segundo ele, tais romances não teriam sido tão originais e efetivos se não fosse a pegada da cultura africana.  Diogo também indagou como um vampiro científico foi parar numa história alternativa ambientada no Brasil Colonial.  Expliquei do convite de Jean-Pierre Moumon para que eu escrevesse uma narrativa de vampiros, numa época (1994) em que eu estava cheio de Palmares e Nova Holanda na cabeça...  Deu no que deu e a noveleta resultante, “O Vampiro de Nova Holanda”, foi solenemente rejeitada pelo editor da Antarès.  Mesmo assim, não tenho queixas do histórico de desempenho de publicações e premiações desse trabalho.J

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Encerradas nossas discussões e análises sobre a obra do Chiang, voltei a me integrar a minha outra tribo, ao reencontrar Felipe, Daniel e Clinton.  Por volta das 19h00, cansado e satisfeito, senti que era hora de picar minha mula, regressando à base.  Mutante infatigável, Daniel permaneceu na lida, encontrando e papeando com velhos e novos conhecidos e adquirindo cada vez mais livros.  Simples mortais, eu, Felipe e Clinton, empreendemos uma retirada honrosa e ordeira, arrastando-nos até o outro lado da Praça Mauá, onde embarcamos num táxi rumo à Zona Sul.
Pelo caminho, destrinchamos os resultados deste Argos que nós três consideramos os mais justos dos últimos certames.  À altura da estação de metrô Botafogo, ativamos o assento ejetor de Mr. President, que embarcaria ali rumo a seu hotel em Copacabana.  Dali, nosso táxi prosseguiu até o Jardim Botânico.  Ao saltar, já me sentia bastante adernado por conta do maldito podrão de grife que consumi no food truck...
Jardim Botânico, Rio de Janeiro, 26 de novembro de 2016 (sábado).



Presentes na Primavera Literária:
Ana Lúcia Merege
Bráulio Tavares
Clinton Davisson
Daniel Faleiro
Daniel Russell Ribas
Diogo Salles
Eduardo Torres
Erick Sama
Gerson Avillez
Gerson Lodi-Ribeiro
Heloísa Seixas
Isabella Alvarez
João Marcelo Beraldo
Letícia Fernandes
Luiza Palmeira
Luiz Felipe Vasques
Mariana Rio
Miguel Carqueija
Renata Aquino
Renata Ventura
Ricardo França
Ronaldo Fernandes
Simone Masruha Ribeiro
Stella Rosemberg
Thaís Cavalcanti
Thaís Costa



[1].  As cortinas permaneceram cerradas durante a cerimônia.  Clinton, os premiados e convidados permaneceram o tempo todo do lado das cortinas voltado para a plateia, enquanto a equipe de montagem trabalhava do outro lado.
[2].  A versão integral deverá ser publicada na próxima edição do fanzine Somnium, veículo oficial do CLFC.  Ao que parece, na mesma edição, sairá meu conto de fantasia e cenário alternativo, “A Moça da Mão Perfeita”, ambientado no universo ficcional criado para o conto “Para Agradar Amanda”, lançado na antologia Erótica Fantástica 1 (2012), que organizei para a Draco.
[3].  Ambos presentes na coletânea do autor, História da Sua Vida e Outros Contos (Intrínseca, 2016), recém-publicada no Brasil.

terça-feira, 22 de novembro de 2016

Primavera Literária do Rio de Janeiro
2016

201611192359P7  — 20.588 D.V.

“Dino rides again!”
[Luiz Felipe Vasques, ao assumir mais uma vez a guarda da volumosa bolsa de livros de Dino Freitas]

Ao contrário do que se deu em certames anteriores, este ano minha participação na Primavera Literária do Rio de Janeiro acabou se limitando à tarde deste sábado, dia 19 de novembro, dia da Bandeira.
Programei-me de antemão para comparecer ontem à tarde, após o trabalho.  No entanto, a chuva grossa, acompanhada por uma ventania fortíssima, fez alguns estandes voarem e derrubou uma palmeira nos jardins do Museu do Catete, local que abriga essa feira literária, levando os organizadores a fechar temporariamente o evento por motivos de segurança, em vista dos riscos de curto-circuito na fiação exposta das instalações da feira.  Avisado por Erick Sama e Luiz Felipe Vasques, mudei meus planos quando já estava prestes a sair do trabalho rumo à Primavera.
Hoje de manhã, o clima firmou e as previsões meteorológicas indicaram possibilidade de chuva zero com tanta certeza que nem levei guarda-chuva quando descemos para tomar o UBER que nos levaria até o Palácio do Catete.  O pai da Cláudia, Carlos Quevedo, acompanhou-nos durante o evento.
Após ingressarmos nos jardins do palácio pela entrada de uma rua lateral (a entrada principal está interditada), separei-me da Cláudia e de meu sogro, pois ambos estavam a passeio e eu nem tanto.
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O primeiro estande que visitei nesta tarde ensolarada de céu azul impecável foi o da Aquário, minieditora de Ana Cristina Rodrigues e Estevão Ribeiro.  Aproveitei o ensejo para conhecer pessoalmente as gêmeas do casal, Sofia e Guilhermina, e para adquirir o Grande, Gordo e Feliz (Aquário Editorial, 2016) do Estevão, que reúne todas ou quase todas as tirinhas dos Passarinhos até agora.  Em meio à conversa, meio tristonhos, recordamos que o livreto com a noveleta de horror Tomai e Bebei (Aquário Editorial, 2015) acabou sendo o último título publicado por nosso saudoso amigo Max Mallmann.
Dali segui para o estande da Draco, onde encontrei Luiz Akira e Ricardo França.  Embora não houvesse à venda exemplares da Dinossauros (Draco, 2016), antologia que organizei e cujo lançamento oficial se deu meses atrás na Bienal do Livro de São Paulo, havia das outras antologias que organizei para a editora: Vaporpunk (2010); Dieselpunk (2011) e Super-Heróis (2013).  Segundo o Akira, também havia Solarpunk (2012), mas esgotou antes de eu chegar.  Aliás, autografei vários exemplares da Vaporpunk e da Super-Heróis, que também se esgotaram durante a tarde.  No que concerne meus livros-solo, havia Aventuras do Vampiro de Palmares (2014); A Guardiã da Memória (2011); e Estranhos no Paraíso (2015).  Apenas o Vampiro se esgotou ao longo da tarde-noite.


GL-R e suas crias no estande da Draco.


Luiz Akira no estande da Draco.

Estande da Draco.


Pouco depois, chegava Luiz Felipe Vasques e Ana Lúcia Merege.  Conversamos os bastante sobre as expectativas quanto aos resultados do Prêmio Argos 2016, cuja cerimônia será realizada no Boulevard Olímpico, por ocasião da feira carioca do livro (LER).
O estande da Draco situa-se logo depois de uma ponte que cruza o lago artificial dos jardins e bem próximo da palmeira que caiu ontem, de forma que as pessoas paravam ali toda hora para fotografar a árvore despencada, atravessada no laguinho.  A palmeira falecida era tão grande que, houvesse caído na direção do estande, certamente o teria esmagado.

Palmeira despencada na véspera junto ao estande da Draco.

Cláudia e Carlos no banco da ponte junto ao estande da Draco.


Para alegria dos visitantes da Primavera, um casal de gansos enormes transitava para lá e para cá na vizinhança do nosso estande.  O macho emitia grasnidos estridentes, algo semelhantes ao som de uma trombeta.  Observei que as cristas ósseas que esses gansos exibem nas testas, acima dos bicos, atua como uma espécie de caixa de ressonância, semelhante à de algumas espécies de hadrossauros (dinossauros popularmente conhecidos, aliás, como “bicos-de-pato”).


Gansos grasnadores.




Grasnidos em si.


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Novamente em companhia da Cláudia e de meu sogro, visitei brevemente o estande da Mauad para verificar se meu livro Vita Vinum Est!: História do Vinho no Mundo Romano (MauadX, 2016) está à venda.  Estava e com 20% de desconto.
Visitei também o estande da Aleph, bastante lotado, surpreendendo-me com o desempenho dinâmico eletrizante de meu amigo Daniel Faleiro, membro do grupo de leitura Cápsula do Tempo (ex-segmento carioca do Vórtice Fantástico).  A editora está com um punhado de títulos interessantíssimos.  Infelizmente, para dinossauros da velha-guarda como eu, há pouca coisa que não tenha sido publicada por aqui vinte ou trinta anos atrás.  Daniel me indagou sobre o clássico Um Cântico para Leibowitz, de Walter Miller Jr. (meu exemplar foi publicado pela Melhoramentos em 1982 e lido em fevereiro daquele mesmo ano remoto do segundo milênio) recém-relançado pela Aleph e eu o recomendei com máximo empenho.

Daniel Faleiro em ação no estande da Aleph.


Numa passada posterior pelo estande da Aleph, agora em companhia dos amigos Ricardo França e Dino Freitas, encontrei Stella Rosemberg, também do Cápsula do Tempo, e conversamos um bocado sobre leituras e atividades literárias.  Encontrei outra amiga desse clube de leitura especializado em literatura fantástica, Renata Aquino, no estande da Draco.  Conversamos um bocado sobre as narrativas de Ted Chiang, melhor escritor de ficção curta da literatura fantástica, cuja coletânea Sua História e Outros Contos (Intrínseca, 2016) será finalmente lançada no Brasil nos próximos dias e que contém a noveleta “Story of Your Life”, trabalho que inspirou o filme de ficção científica A Chegada.  A película estreará nos cinemas na próxima quinta-feira.  Há planos para assistir o filme antes de analisar essa noveleta em nossa próxima reunião, junto com a noveleta “Tower of Babylon”, presente na mesma coletânea.
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Como na Primavera de 2015, desta vez meu amigo Nuno Caminada apareceu novamente no estande da Draco para bater um papo comigo.  Na conversa com Nuno e em muitas outras entabuladas ao longo dessa tarde e no início da noite, o tema dominante foi a crise econômica, política e moral que se abateu sobre o país, sobretudo, suas repercussões fluminenses mais recentes: as prisões dos ex-governadores Sergio Cabral Filho e Anthony Garotinho.
Outro amigo que compareceu lá na Draco foi Adilson Júnior, que conheci por ocasião de uma mesa-redonda de que participei em fins do ano passado.  Após indagar se meu Aventuras do Vampiro de Palmares era uma expansão da noveleta “Capitão Diabo das Geraes”, Adilson adquiriu um exemplar desse romance fix-up.
Dino Freitas e Flávio Abal se sagraram como os dois recordistas de aquisições literárias da tarde.  Mesmo sem sua indefectível mala vermelha de rodinhas, Dino demonstrou uma voracidade aquisitiva surpreendente, que o forçou a numerosas rearrumações frenéticas no conteúdo de sua volumosa bolsa de feira.  Como uma coisa leva à outra, o recordista tarado não descartou a ideia — sugerida por mim à guisa de piada — de comparecer amanhã com um carrinho de feira.  Abal não ficou muito atrás do campeão, logrando, inclusive, descobrir num de seus raids um exemplar do meu Vita Vinum Est! lá no estande da Mauad.
Já minha amiga Ana Lúcia Merege adquiriu seu exemplar de meu livro de vinho na minha mão e com desconto ainda maior do que o do estande da Mauad.  Como sempre, Ana mostrou-se incansável ao ajudar o Akira em seus esforços de venda hercúleos no estande da Draco.  Aliás, este ano, Akira me ensinou um método para bloquear as malditas ligações de telemarketing pelo site do PROCON.  Infelizmente, esse importante recurso humanitário ainda não se encontra disponível no PROCON-RJ, pois, além de roubado, falido, fodido e mal pago, o Estado do Rio de Janeiro parece ser um dos poucos que não aprovou leis neste sentido.
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Visitei também o estande da editora Vermelho Marinho, onde encontrei os amigos Thomaz Adour e Bruno Anselmi Matangrano.  Aproveitei a oportunidade para adquirir com desconto a coletânea do Bruno, Contos para uma Noite Fria (Llyr Editorial, 2014), a antologia O Outro Lado do Crime: Casos Sobrenaturais (idem, 2016), que ele coorganizou com Debora Gimenes para aquele selo, e a novela clássica de Morgan Robertson, Futilidade ou o Naufrágio do Titan (Vermelho Marinho, 2014).  Publicado em fins do século XIX, esse último trabalho conta a história do naufrágio do Titan em sua viagem inaugural, um transatlântico, considerado como inafundável, bastante semelhante ao Titanic, que de fato naufragou em 1912.  Mais do que qualquer outro fator, é a coincidência dessa antecipação notável que transformou a novela num clássico.  É a primeira vez que esse trabalho é publicado em nosso idioma.
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Lá pelas tantas, eu, Felipe, França, Ana Merege e outros amigos deixamos o estande da Draco sob os cuidados mais do que competentes do Luiz Akira a fim de tomar um café e comer algo na praça de alimentação da Primavera.  Eu e o França acabamos caindo na tentação irresistível dos doces portugueses.  Caí ante o assédio moral da bomba de chocolate, enquanto ele optou pela mil-folhas.  Os demais tomaram expressos com bolos ou algo do gênero.  Fiquei de olho vivo e faro fino numa barraquinha que estava fazendo uns crepes salgados com uma cara ótima e um aroma inebriante, mas, por conta do papo animado, acabei não encetando a aproximação final.
Neste bate-papo, travei contato com Maurício, que atuou como ilustrador na saudosa edição brasileira da Isaac Asimov Magazine de Ficção Científica.  Conversamos um bocado sobre incursões a sebos literários e autores da primeira onda, como Jerônymo Monteiro, André Carneiro, Rubem Teixeira Scavone e Fausto Cunha.  Descrevi-lhe o enredo básico da noveleta “Última Estrela” (1976), o trabalho de Cunha de que mais gosto, onde o leitor é brindado com a concretização de uma fantasia masculina clássica: após uma sessão de sexo animada com sua cientista-chefe, o comandante de uma nave de pesquisas humana desperta de madrugada e se percebe recebendo sexo oral.  Na manhã seguinte descobre que a amante humana não teve nada a ver com a felação.  A dose de prazer misterioso fora concedida por uma capelliana, fêmea humanoide de um metro de altura, nativa do planeta explorado pelos humanos.
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O ponto alto dessa tarde divertida memorável em que absolutamente tudo deu certo foi sem dúvida os bate-papos sobre história, política, ciência, literatura e até mesmo ficção científica com os amigos Felipe, França, Abal, Dino e com um físico estudioso de psicanálise, Fernando, que conheci hoje.  Cláudia e o pai já haviam partido há tempos, mas eu prossegui com minhas andanças e bate-papos até depois do anoitecer.  Quando dei por mim, já passavam das 20h00.
Meia hora mais tarde, parti com Felipe e Abal rumo à estação de metrô do Catete para voltar para casa.  Estou com vontade de regressar à Primavera 2016 amanhã cedo, mas creio não dará tempo, pois eu e Cláudia devemos almoçar com um casal de amigos no Piraquê.  Enfim, vontade é coisa que dá e passa.
Jardim Botânico, Rio de Janeiro, 19 de novembro de 2016 (sábado).


Presentes na Primavera Literária:
Adílson Júnior
Ana Cristina Rodrigues
Ana Lúcia Merege
Bruno Anselmi Matangrano
Carlos Peres Quevedo
Christiane Caminada
Cláudia Quevedo Lodi
Daniel Faleiro
Dino Freitas
Estevão Ribeiro
Fernando
Flávio Abal
Gerson Lodi-Ribeiro
Luiz Akira
Luiz Felipe Vasques
Maurício
Nuno Caminada
Renata Aquino
Ricardo França
Stella Rosemberg

Thomaz Adour

terça-feira, 8 de novembro de 2016

Max Mallmann
(1968-2016)

201611051450P7 — 20.574 D.V.

“Veni cum papa!”
(Desiderius Dolens, protagonista de O Centésimo em Roma.)


Conheci Max Mallmann na tarde de 08 de novembro de 1997, sábado, primeiro dia da quinta e última InteriorCon, convenção de literatura fantástica organizada por Roberto de Sousa Causo em Sumaré, cidadezinha do interior de São Paulo.
No primeiro papo, Max me presenteou com um exemplar autografado do seu Mundo Bizarro, romance fix-up de ficção científica disfarçado de fantasia, que havia publicado no ano anterior.  Àquela época, o autor assinava seus trabalhos como Max Mallmann Souto-Pereira.
Após o jantar num restaurante local com a presença de Bruce Sterling, convidado internacional da InteriorCon, regressei à escola onde se dava o evento e encontrei o escritor André Carneiro proferindo a palestra que constituía sua participação principal na convenção.  Extenuado naquele dia de agenda cheia, desde a viagem de carro do Rio de Janeiro até o interior de São Paulo, resolvi abrir mão da palestra do decano, última atividade oficial da noite, saindo para aguardar seu término do lado de fora da escola.  Ali encontrei, em situação idêntica e disposição de espírito similar, o novo amigo gaúcho Max Mallmann.  Sábia decisão.  Pois, a partir daquele segundo bate-papo — onde pudemos conversar sobre processos de criação literária e a liberdade do autor para escrever sobre as narrativas que deseja contar — estabelecemos nossa amizade.
Finda a palestra, eu e Max coletamos os amigos Carlos Orsi Martinho, Marcelo Simão Branco e Leonardo Nahoum, para ir até um barzinho.  Conduzidos por nosso “guia nativo” William Mündel, encontramos um sítio adequado para bater papo até cerca de três da manhã.  Max nos contou então de seus sonhos de escrever e publicar seus livros por uma grande editora e se tornar roteirista da Rede Globo.  Sonhos que lograria concretizar ao longo da década seguinte.
Na manhã de domingo, a primeira atividade oficial da InteriorCon foi a palestra “Ficção Científica e História”, proferida por Max Mallmann.  Apesar do título, os temas abordados foram o mercado editorial para a literatura fantástica no Rio Grande do Sul e a mecânica do seu processo criativo.  Por insistência dos presentes, falou um pouco sobre suas próprias obras.  Além de Mundo Bizarro, à época ele já havia escrito o romance de ficção científica Confissão do Minotauro, publicado uma década antes, quando Max possuía apenas dezenove anos.[1]  Depois do almoço, ele ainda participaria de um painel denominado “Contato Imediato com o Fandom”, em companhia dos escritores Daniel Fresnot, Guilherme Kujawski, Sergio Kulpas e Ataíde Tartari.

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Menos de dois anos mais tarde, contratado pela Rede Globo, Max se mudaria para a cidade do Rio de Janeiro em companhia da esposa, a escritora e poeta, Adriana Lunardi.  Ingressou-se de forma harmônica à comunidade carioca de FC&F, a ponto de se tornar o representante oficial do CLFC-RJ na década de 2000.
Em novembro de 2000, dava-se o lançamento de sua novela de fantasia Síndrome de Quimera, primeiro livro dos quatro que publicaria pela prestigiosa editora Rocco.  Alguns poucos já conheciam a primeira metade dessa novela que acabou abiscoitando o Prêmio Argos 2001 na categoria Melhor Ficção Longa, além de ter sido indicada como finalista do Prêmio Jabuti na categoria Melhor Romance, feito até então inédito para um texto de literatura fantástica.  Pois, já em 1998, Max havia submetido aquela metade inicial ao crivo da Oficina Literária Virtual, esforço que desenvolvemos com a participação de outros autores do fantástico lusófono, como João Barreiros; Roberto Causo; Hidemberg Alves da Frota; António de Macedo; Lúcio Manfredi; Carlos Orsi Martinho; Simone Saueressig; Luís Filipe Silva; dentre outros.  Mesmo ignorantes quanto ao fim da história, muitos de nós então intuímos estarmos diante de uma obra instigante e aguardávamos ansiosos pela publicação da mesma.
Max tornou-se merecidamente o centro das atenções na reunião mensal do CLFC-RJ, em novembro de 2000 na pizzaria Parmê do Largo do Machado, ao falar da Síndrome de Quimera.  Quatro dias antes do seu lançamento oficial na livraria Argumento do Leblon, a novela virou o assunto principal daquela tarde-noite regada por vinho, chope e pizzas.

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Em plena cerimônia de entrega do Prêmio Argos 2003, no SESC-Tijuca, Max Mallmann foi ungido e então aclamado por unanimidade como representante oficial do CLFC no Rio de Janeiro.  Compareceu ao evento de pé quebrado, bota ortopédica e par de muletas, após ter sido vítima da violência urbana carioca: uma dupla de trombadinhas lhe aplicou uma trombadona na Rua Barão da Torre, em Ipanema.  Max caiu de mau jeito e acabou quebrando o pé.  O pior foi que, apesar de existir elevador do SESC, o coitado foi obrigado a subir vários lances de escada até a Casa Rosa, sítio onde se desenrolou a cerimônia do Argos.  Naquela ocasião, Max nos mostrou um exemplar de seu novo romance, Zigurate, então prestes a ser lançado pela Rocco.  Considerei-o à época um candidato fortíssimo ao Argos 2004 na categoria Melhor Romance.  Infelizmente, a premiação foi descontinuada pela nova diretoria do CLFC e o romance não recebeu o reconhecimento merecido dos sócios da agremiação.
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Ao longo destas duas décadas de amizade e convivência, Max sempre prestigiou os amigos e a comunidade de FC&F carioca e brasileira com sua presença, seu senso de humor irônico e sua índole afável e conciliadora.  Houvesse o costume de batizarmos as verves da ironia como se fossem gládios famosos, aquela brandida com precisão cirúrgica por Max, com sua lâmina afiada e sua extremidade aguçada, tal como a espada de Arya Stark, devia ser chamada “Agulha”.
Max constituiu presença constante em convenções como as Fantasticons paulistanas e as Odisseias de Porto Alegre, bem como nos eventos oficiais do CLFC-RJ e das reuniões mais informais da comunidade carioca de literatura fantástica nos restaurantes e barzinhos da cidade ou, ainda, nos queijos & vinhos e demais bebemorações de caráter etílico que se desenrolavam nas residências dos amigos.  Sempre bem-humorado, invariavelmente divertido e acessível, sempre disposto e capaz de alegrar os amigos com suas tiradas espirituosas, suas colocações sutis e seus comentários mordazes sobre política, costumes, literatura e outros bichos mais.
Por tudo isto, mais do que por qualquer outra coisa, Max Mallmann fará falta e deixará saudades entre seus amigos cariocas e brasileiros, que granjeou tanto na comunidade literária quanto na de roteiristas do Rio de Janeiro.
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Na reunião carioca de agosto de 2008, no Manuel & Joaquim do Largo do Machado, Max nos apresentou ao roteiro do seriado Ilha de Ferro, recém-submetido à Rede Globo.  Então atuante, no núcleo de roteiristas do humorístico semanal A Grande Família, Max foi convidado a submeter um roteiro para uma nova minissérie ou seriado, junto com outros roteiristas da Globo.  Dos vinte e cinco roteiros gerados a partir daquele processo de seleção, dez passaram pelo primeiro crivo, dentre eles o do nosso amigo.  Ilha de Ferro fala das peripécias de um grupo de profissionais que trabalha numa das plataformas off-shore da Petrobras.  Ambiente que, até onde eu saiba, jamais foi explorado numa narrativa mais extensa do que um longa-metragem.  O ex-presidente do CLFC, Eduardo Torres, que é engenheiro químico da Petrobras, atuou como consultor e colocou o autor em contato com outros engenheiros que já haviam trabalhado em plataformas.  Após ficar de molho por quase uma década, o projeto recebeu enfim o sinal verde da direção da Globo.  Por ironia do destino, essa aprovação se deu numa época em que Max já havia sido diagnosticado com uma forma rara de câncer muscular.  Infelizmente, embora tenha escrito os roteiros dos episódios da primeira temporada, o autor não viveria para concretizar o sonho de ver um produto solo com sua assinatura nas telas da emissora.
Como roteirista da Globo desde 1999, Max integrou o time de redatores de Malhação (1999-2001), da novela Coração de Estudante (2002) e das séries Carga Pesada (2004) e Grande Família (2005-2014), sendo, portanto, corresponsável pela criação dessa que constituiu uma das séries mais divertidas e saudosas da teledramaturgia brasileira.  Quando me encontrava com o Max num barzinho ou num queijos & vinhos, quase sempre conversávamos sobre as nuances dos enredos dos episódios da Grande Família, série de que eu era e ainda me considero um grande fã.
No que concerne à Ilha de Ferro, as notícias não poderiam ser mais alvissareiras.  Segundo a crítica televisiva Patrícia Kogut, em nota de sua coluna em 21 de setembro último:
“A série Ilha de Ferro, da Globo, terá 12 episódios.  Max Mallmann e Adriana Lunardi criam a trama, sobre petroleiros numa plataforma fictícia de produção de petróleo.  Os personagens viverão a tensão de trabalhar num local perigoso, com risco de explosões, e também conflitos de poder e histórias de amor.”
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Em 15 de abril de 2010, Max lançou O Centésimo em Roma, romance histórico instigante e original que considero seu melhor livro.  O evento se deu na livraria Travessa da Visconde de Pirajá e o autor inovou ao utilizar, no lugar de autógrafos, carimbos com ditos sacanas espirituosos em latim.
O intervalo de sete anos entre a publicação de Zigurate e esse romance deveu-se provavelmente ao trabalho de pesquisa caudaloso que o autor empreendeu, lendo e digerindo quase uma centena de livros sobre Roma Antiga ao se preparar para a empreitada.
Não julgo O Centésimo em Roma e sua continuação As Mil Mortes de César, lançado quatro anos mais tarde, apenas romances históricos brilhantes, mas, simplesmente, os dois melhores romances históricos já escritos no Brasil e, possivelmente, os dois romances históricos mais bem escritos e mais divertidos dentre os ambientados em Roma Antiga.
Max estava escrevendo um terceiro romance nesse mesmo universo ficcional protagonizado por Desiderius Dolens, o Carniceiro de Bonna.  A escrita ainda estava no início quando a morte intempestiva bateu à sua porta.
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Em outubro de 2015, Max surpreendeu seus amigos mais próximos quando nos convidou para seu jantar de aniversário no bar Belmonte do Jardim Botânico.  Porque, ao chegar ao local, deparamo-nos com sua calva reluzente, arauta de notícias funestas.  Havia contraído uma forma rara de câncer nos tecidos musculares, mais especificamente no músculo da coxa.  Embora a moléstia já houvesse produzido metástase, a equipe de oncologistas que acompanhava o tratamento mostrava-se otimista.
A notícia nos pegou de surpresa e todos à mesa se sentiram bastante abalados diante das perspectivas ruins.  Uma exceção notável foi o próprio aniversariante, que se exibiu confiante e otimista.
Dois meses mais tarde, por ocasião da cerimônia de entrega do Prêmio Argos 2015 na cúpula do Planetário da Gávea e no banquete comemorativo que se seguiu, Max comunicava aos amigos que o tratamento à base de quimioterapia fora bem-sucedido e que os médicos haviam declarado que ele se encontrava oficialmente no período de remissão.  Poucos sabiam, mas Max exercia o papel de mecenas anônimo dessa premiação.
Cerca de vinte dias atrás, recebi um telefonema insólito de um amigo comum, informando que Patrícia Mallmann, irmã caçula do Max, estava planejando uma festa-surpresa para comemorar o aniversário dele no hospital Copa D’Or.
— Ué, mas o Max está internado?
— Está, sim.  Mas, não é nada sério.  Foi submetido a uma pequena intervenção cirúrgica, mas passa bem.  Já saiu da UTI e está no quarto.  A Patrícia falou que seria legal comemorar o aniversário com ele.
— É mesmo?  Então, tá.
Naquela tarde ensolarada de terça-feira, 18 de outubro, saí do trabalho mais cedo e, meio acabrunhado, tomei o metrô na direção Copacabana.  Pelo visto, o câncer voltara.
Ao entrar no quarto do hospital, deparei-me com um Max Mallmann fisicamente debilitado, mas falante e bem-humorado, não obstante por vezes precisar usar uma máscara de oxigênio para conversar conosco.  Presenteei-o com um exemplar do meu Vita Vinum Est: História do Vinho no Mundo Romano, livro que ele me incentivou a escrever, ao afirmar diversas vezes que o utilizaria como subsídio para ambientar as narrativas de Desiderius Dolens.  Além da Adriana e da Patrícia, estiveram presentes a mãe de Max e outra irmã que eu ainda não conhecia, Roberta Mallmann, ambas vindas do Rio Grande do Sul para o aniversário.  Do pessoal da FC&F carioca, compareceram Ana Cristina Rodrigues, Eduardo Torres, Luiz Felipe Vasques e eu.  Muitos amigos da Globo também estiveram presentes.  Ao todo, calculo que éramos quase trinta pessoas.  Para controlar essa autêntica multidão, em termos de ambiente hospitalar, Adriana pediu que permanecêssemos no quarto apenas três de cada vez.  Apesar do bom humor e da fleugma do Max, havia certo clima de despedida no ar.  Descemos os quatro no mesmo elevador e sentamos numa mesa do Cafeína aberto no térreo do hospital para rememorar nossa amizade com o Max.  À época, não sabíamos que ele já estava com um pulmão inoperante e o outro funcionando com apenas metade da capacidade.
Mesmo assim, quando recebi uma mensagem de WhatsApp ontem às oito da manhã para avisar do falecimento do nosso amigo, no primeiro instante precisei me esforçar um bocado para acreditar.  Infelizmente, era verdade: Max Mallmann faleceu aos 48 anos, em pleno auge da carreira como escritor e roteirista, na madrugada de ontem, sexta-feira, dia 04 de novembro de 2016.
Ontem à noite, triste e saudoso, afoguei meu desânimo numa garrafa de Clos Apalta 2008, o mesmo tinto chileno magnífico que bebi com o Max, Edu Torres e Flávio Medeiros num dos últimos eventos em que reunimos os amigos aqui em casa.
Mais concorrido do que a família pretendia, o velório se deu nesta manhã, na Ordem do Carmo.  Estiveram presentes a família, com exceção de Renata Mallmann, irmã mais nova que Max, e mais velha que Roberta e Patrícia, residente nos EUA (ela conversou conosco e com muitos outros presentes à cerimônia via Skype), e muitos, muitos amigos dos milhares que esse sujeito amável, inteligente e simpático congregou ao longo da vida.  Na maioria daqueles que compareceram para lhe prestar a última homenagem, notava-se certo sentimento de revolta e perplexidade: por que um cara tão bacana quanto o Max teve que morrer tão jovem quando há tanta gente ruim vendendo saúde por aí?
Por volta das 13h00, quando os funcionários do cemitério já estavam prestes a levar o féretro para o crematório, A mãe do Max pediu uma salva de palmas para o filho.  Os presentes aplaudiram por quase dois minutos emocionantes.  Como nova última homenagem, Patrícia pediu nova salva de palmas para o irmão e nós aplaudimos por noventa segundos seguidos.
Enfim, o féretro que permanecera fechado durante todo o breve velório foi levado pelos funcionários e nós nos despedimos, tristes e chorosos.

*     *      *

Vários amigos insistiram em afirmar que Max Mallmann se foi no auge de sua vida e carreira.  Não creio.  Pois, não fosse essa partida intempestiva, com sua capacidade e talento, ele decerto galgaria píncaros mais elevados.  O fato é que deixará muitas saudades e uma comunidade carioca de literatura fantástica menos inteligente, menos bem-humorada e menos alegre.  Como diria Billy Joel, “só os bons morrem jovens”.

Jardim Botânico, Rio de Janeiro, 05 de novembro de 2016 (sábado).


2000 - Churrasco Natalino do CLFC-RJ na Stylus.


2003 - Queijos & Vinhos com Libby Ginway.



2005 - Queijos & Vinhos.



2006 - Planejando a Dominação Global no Belmonte da Lapa.


2008 - ITAÚ Invisibilidades II: Mesa FC Pós-Moderna.


2008 - Confraternização no Manuel & Joaquim.


2009 - Reunião no Cabidinho.


2009 - Reunião no Estação Gourmet.


2010 - Bazinga! (sabre de luz por cortesia de Clinton Davison).


2010 - Lançamento de O Centésimo em Roma na Travessa de Ipanema.


2010 - Comemoração do Centésimo no Estação Gourmet.


2010 - Jantar na Fantasticon.


2010 - Queijos & Vinhos Natalino.



2011 - Reunião no Estação Gourmet.


2011 - Mesa-Redonda na Fantasticon.


2012 - Queijos & Vinhos com Flávio Medeiros.


2012 - Lançamento da coletânea da "Carla Cristina" na Blooks.


2013 - Lançamento da antologia Espada & Magia na Travessa de Ipanema.


2013 - Odisseia Fantástica, almoço no Bistrô do Museu.


2013 - Odisseia Fantástica: Leitura de O Centésimo em Roma.


2014 - Reunião no Estação Gourmet com Raul Avelar.


2014 - Mesa-redonda na Odisseia Fantástica.


2015 - Aniversário do Max no Belmonte, Jardim Botânico.


2015 - Jantar do Argos no Espaço Culinare (ex-Estação Gourmet).



2015 - Argos: Cerimônia de Premiação.
















Microrresenhas dos Livros de Max Mallmann:

1) Confissão do Minotauro (Instituto Estadual do Livro, 1987).
ð Romance de ficção científica.  Observador histórico com tendências suicidas embarca numa imensa fortaleza espacial dos Mundos Periféricos, entidade interestelar sob a égide humana, prestes a ser atacada pelos respiradores de amônia da Confederação Phin.  A fortaleza espacial é tripulada por milhões de indivíduos pertencentes a diversas espécies inteligentes respiradoras de oxigênio e governada por um megacomputador neurótico com dupla personalidade.  Max Mallmann juvenil apresenta uma FC hard inteligente e relativamente adulta.

2) Mundo Bizarro (Mercado Aberto, 1996).
ð Ficção científica com roupagem de fantasia.  Aventuras políticas, militares, amorosas e diplomáticas de Krysio V, novo monarca do Reino de Gavorya, no planeta Ruydia, auxiliado em suas maquinações maquiavélicas por Zé Carlos, um humano da Terra que caiu em Ruydia após cruzar uma fenda dimensional com seu automóvel.  O romance é antes um fix-up de duas noveletas e uma novela.  Divertido e de leitura compulsiva.

3) Síndrome de Quimera (Rocco, 2000).
ð Novela de fantasia.  Homem com cascavel enrodilhada no coração associa-se com um amigo, que é capaz de retirar o cérebro quando estressado, a fim de abrir café-livraria em Porto Alegre, reunindo como clientela outras criaturas exóticas e anomalias genéticas.  O enredo se complica quando aparecem Falena, uma jovem de olhos luminescentes e o pai do protagonista, um rato gigante de 300 kg que costuma se alimentar de carne humana.

4) Zigurate (Rocco, 2003).
ð Romance de ficção científica.  Em seus últimos meses de vida, doutoranda francesa portadora de moléstia incurável tropeça, em meio à pesquisa de sua tese, na existência de um casal de imortais que compartilha a Terra com a humanidade desde antes do alvorecer da história.  Desesperada para desvendar o mistério antes de morrer, ela parte de Paris para Edimburgo em busca do homem imortal.  Paralelamente, depois que um gênio do marketing eleitoral norte-americano morre no Rio, após receber felação de uma puta local, o assistente dele se vê envolvido com a mulher imortal, que trabalha na agência encarregada da campanha política de um candidato, dublê de deputado federal e traficante de armas, primeiro ao Senado e depois à Presidência.  Quase toda a ação se concentra no Rio de Janeiro e em torno da mulher imortal, ao passo que quase todas as revelações sobre a origem obscura dos imortais se concentram em Paris e Edimburgo, em torno da pesquisadora moribunda.

5) O Centésimo em Roma (Rocco, 2010).
ð Tour-de-force de Max Mallmann.  Melhor romance histórico já escrito no Brasil.  Um dos melhores romances históricos jamais ambientados em Roma.  Centurião Desiderius Dolens, vulgo Carniceiro de Bonna, regressa à Roma vindo da Germânia no fatídico ano dos quatro imperadores (68 A.D.) e recebe o comando de uma guarnição das coortes urbanicianas, posto aquém de suas ambições de ascender ao patriciato.  Divertido e original.

5) As Mil Mortes de César (Rocco, 2014).
ð Continuação de O Centésimo em Roma.  Quase tão bom quanto o romance anterior.  Desiderius Dolens prossegue em suas aventuras, envolvendo-se cada vez mais profunda e inexoravelmente na guerra civil entre os candidatos ao posto de imperador, Vitélio e Vespasiano.  Mallmann magistral.

7) Tomai e Bebei (Aquário Editorial, 2015).
ð Noveleta de horror.  Em fins do século XIX, padre beberrão do interior se depara com um crime bizarro após a chegada de um bispo misterioso e seu criado anão numa noite de tempestade.  Max Mallmann torna o clichê surrado numa narrativa palatável com clima de horror clássico.





[1].  Embora Max tenha mais tarde tentado renegar esse filho primogênito, atribuindo suas pretensas falhas aos arroubos criativos juvenis (em seu autógrafo, pontificou “Para Gerson, com vergonha de minhas tosquices de juventude.  Um abraço do Max”), não creio que haja motivos para se envergonhar desse romance de ficção científica hard elaborado com estilo inteligente e maduro, sobretudo, quando se considera a idade do autor à época de sua escrita e publicação.