segunda-feira, 22 de dezembro de 2025

 

Argos 2025

no Acaso Cultural

 

“É sempre bom conferir o que consta no certificado, porque acidentes acontecem...”

(GL-R, ao receber o primeiro certificado como representante de Carlos Relva).

 

“Desde os doze anos eu sonhava com esse prêmio.”

(Jean Gabriel Álamo, citado por Caio Bessa Lima).

 

“O legal do Argos é que você não tem concorrentes, tem amigos.”

(Alexey Dodsworth)

 

202512212359P1 – 23.907 D.V.

 

Compareci neste domingo ao Acaso Cultural para assistir e participar da cerimônia de entrega do Prêmio Argos neste certame de 2025.

Por conta de uma fratura no dedo mínimo do pé direito, foi difícil me deslocar até Botafogo, mas nada que a ajuda decidida de Cláudia e o uso da bengala e de uma bota ortopédica high-tech não resolvessem.

Como a cerimônia começaria às 16h00, considerando minhas limitações temporárias de locomoção, saímos daqui de casa às 15h10, mesmo sabendo que o Acaso Cultural é relativamente perto e que as condições de trânsito do Jardim Botânico e bairros adjacentes costumam ser boas aos domingos.  Ida e volta de UBER.

***

 

Quando chegamos à sala-auditório do evento (a mesma em que as mesas da RioNeon transcorreram no mês passado), o palco, o estande de venda de livros, as cadeiras e os sistemas de áudio e vídeo já estavam montados.  Naturalmente, os membros da comissão organizadora do Prêmio Argos, Eduardo Torres e Luiz Felipe Vasques já se encontravam presentes, bem como Pedro Sasse, o gestor da Acaso Cultural.  Além desses, já estavam presentes os amigos Alexey Dodsworth; Carlos Hollanda; Flávio Mello; e o casal de confrades do Vórtice Rio, Jessica Tarine & Daniel Balard.

Pouco depois chegavam Bráulio Tavares e Octavio Aragão.  Os amigos Ricardo França e Rubens Angelo só apareceram mais tarde.

Ao longo do evento, precisei repetir algumas vezes a explicação sobre a natureza da minha contusão.[1]

Já nos primeiros minutos de auditório, antes do começo da cerimônia, autografei cerca de quinze ou vinte livros para Flávio Mello (tudo bem: confesso que perdi a conta), dentre coletâneas de ficção curta – inclusive a vetusta Vampiro de Nova Holanda (Editorial Caminho, 1998) que publiquei em Portugal no milênio passado e Taikodom: Crônicas (Devir, 2009) – antologias (Dinossauros, Vaporpunk e Dieselpunk, dentre outras) e vários e vários romances, dentre os quais A Guardiã da Memória, Aventuras do Vampiro de Palmares, Estranhos no Paraíso, Octopusgarden, Pecados Terrestres e até mesmo o recente Novas do Purgatório (Cosmos, 2025), cujo e-book concorria naquela tarde ao Argos na categoria Melhor Romance.  Deu trabalho autografar aquela pilha de livros, mas também deu um prazer enorme.  É gratificante (para não falar, emocionante) encontrar com um leitor que aparece de repente com boa parte da produção que você lançou no mercado no último quarto de século.  Da cadeira ao lado, Carlos Hollanda brincou que eu iria ficar com a mão cansada.  Repliquei que esse é o tipo de cansado que todo escritor quer sentir.😉  Meu muitíssimo obrigado, Flávio Mello!

 

Autógrafos em série para Flávio Mello.

 

Enquanto autografava, troquei ideias com Alexey e Eduardo sobre a série de ficção científica Pluribus; cenário pós-apocalíptico cum conquista alienígena (em termos audiovisuais, o mais original dos últimos tempos) que se tornou sucesso de público e de crítica, e cuja primeira temporada está prestes a se encerrar na Apple TV.  Recomendo enfaticamente a todos os amantes do gênero que se interessam não só por tiroteios e ação desenfreada, mas também por questões filosóficas relacionadas à liberdade, felicidade e livre arbítrio.  Aproveitei o ensejo para comentar sobre o romance de Neal Shusterman que estou lendo, All Better Now (Simon & Schuster, 2025), que discute basicamente essas mesmas questões com uma abordagem algo diferente, igualmente original, e cuja leitura também recomendo com o máximo empenho.  Sem grandes spoilers: não se trata de invasão alienígena, mas de um novo coronavírus cuja infecção deixa todos os sobreviventes permanentemente focados e felizes.

Poucos minutos mais tarde, Eduardo e Felipe deram início à cerimônia do Argos 2025.  O evento foi transmitido ao vivo no YouTube e pode ser assistido a qualquer hora pelo link:

https://www.youtube.com/watch?v=EMJF1JN-tP8

***

 

Após as palavras iniciais de apresentação do Pedro Sasse, como rezam as tradições milenares das cerimônias de entrega do Argos, os comissários Edu e Felipe começaram os trabalhos falando umas poucas palavras rituais sobre o Clube de Leitores de Ficção Científica (CLFC) em si e sobre o Prêmio Argos em particular.

Após esse preâmbulo cabalístico inicial, sem mais delongas, anunciaram os resultados da categoria Melhor Antologia ou Coletânea.

Em quinto lugar, ficou a coletânea de minicontos, microcontos e haicais de Carlos Relva, Cristalina como as Lágrimas (edição do autor).  Munido de minha briosa muleta de madeira de lei adquirida a preço módico na ABBR, dirigi-me à borda do palco (não ousei escalá-lo) e li as breves palavras de agradecimento do autor, meu bom amigo e confrade no clube de leitura Vórtice Rio.

Em quarto lugar, a ficou a antologia No Limiar: Contos de Sci-fi Folclórica, organizada por Lu Evans (edição da organizadora).

Em terceiro lugar, a antologia Além do Véu da Verdade, organizada por João M. Beraldo, com contos ambientados no universo Véu da Verdade, criado pelo organizador.  Outra edição bancada pelo organizador.

Em segundo lugar, a antologia 2057 (Verter), organizada por Carlos Hollanda e Rafael Senra.  Carlos compareceu para receber o certificado e fazer um breve, pero entusiasmado discurso de agradecimento.


 Carlos Hollanda: medalha de prata pela antologia 2057.

 

O vencedor do certame foi a Revista Literatura Fantástica Vol. 20, organizada e editada por Jean Gabriel Álamo, em mais uma edição do organizador.  O representante nomeado Caio Bessa Lima recebeu o certificado e o troféu em nome da Álamo Produções.  Caio fez um belo discurso e descreveu brevemente os esforços do empreendimento capitaneado pelo Jean Álamo.

 


Caio Bessa Lima, enviado especial da Álamo Produções, recebe o ARGOS.

 

Nessa categoria em que só um dos cinco finalistas não foi edição do autor ou organizador, minhas lealdades estiveram divididas entre três desses cinco.  Acabou que gostei do resultado.  Afinal, como Alexey bem disse ao receber um dos certificados em nome de nosso amigo comum Fábio Fernandes, “o legal do Argos é que você não tem concorrentes, você tem amigos”.

***

 

A segunda categoria a ter seus resultados anunciados foi “Melhor Conto”, por vezes referida nesta e noutras premiações como “Melhor Ficção Curta”, uma vez que inclui contos e noveletas.

O quinto lugar foi do conto “Mensagem Instantânea” do Fábio Fernandes, publicado na antologia Além do Véu da Verdade, do João Beraldo.[2]

Em quarto lugar ficou o conto “Alexandra, a Grande”, de Carlos Relva, publicado na Cristalina como as Lágrimas.  Mais uma vez, li as palavras de agradecimento do amigo e confrade.

Em terceiro lugar, “Um Vínculo Inquebrável”, de Renan Bernardo, na antologia Além do Véu da Verdade.  A autora Lis Vilas Boas recebeu o certificado em nome do autor.

Em segundo lugar, outro conto publicado em Além do Véu da Verdade.  Dessa vez, “Pulsão de Morte”, de Alexey Dodsworth, que regressou ao palco para receber seu certificado.  Em seu discurso, Alexey agradeceu ao João Beraldo pelo convite para participar da antologia.

O vencedor na categoria Melhor Conto foi “Pista Norte”, de Ursulla Mackenzie, publicado na antologia Cidades Inversas (edição da organizadora), organizada por Lu Evans.  A vencedora encarregou o próprio Comissário Eduardo Torres para receber o certificado e o troféu.

Classificado em terceiro lugar da categoria anterior, a antologia Além do Véu da Verdade conseguiu emplacar três finalistas na Melhor Conto: segundo, terceiro e quinto lugares, respectivamente.  Posso estar enganado, mas creio que uma goleada desse gênero não ocorria desde o arquirremoto Argos 2003, ocasião em que, nessa mesma categoria, três contos da antologia Como Era Gostosa a Minha Alienígena! (Ano-Luz, 2002), abiscoitaram os três primeiros lugares.

***

 

Enfim, chegamos à categoria Melhor Romance.

O quinto colocado foi O Torneio de Sombras: As Aventuras de January Purcell vol. 1 (AVEC), de Fábio Fernandes.  Mais uma vez, Alexey recebeu o certificado em nome do nosso amigo Fábio.

A versão e-book do meu romance de ficção científica teológica Novas do Purgatório (edição do autor) ficou na quarta colocação.  Não me senti muito decepcionado, porque não alimentei grandes esperanças de vencer.  Não só por ser um e-book autopublicado competindo contra livros físicos lançados por editoras de renome, mas, sobretudo, por filosofia de vida: o pessimista não se decepciona, suas surpresas são sempre alegrias.  Em meu discurso de agradecimento, revelei estar emocionado por estar recebendo um certificado de finalista pela primeira vez com uma edição do autor.


 GL-R recebe o certificado por Novas do Purgatório.

 

O terceiro lugar foi para o romance Sentinela (Malê), de Juliane Vicente, que já havia sido finalista nos certames de 2021 e 2023, nas categorias Melhor Antologia e Melhor Conto, respectivamente.

Em segundo lugar, o romance Kerigma: A Conclusão de Pantokrátor (AVEC) de Ricardo Labuto Gondim.  Presente ao evento, Gondim recebeu seu certificado e agradeceu ao publisher da AVEC, Arthur Vecchi, por ter não só publicado o Kerigma, mas também republicado o romance Pantokrátor original.


Ricardo Gondim recebe o certificado por Kerigma: a Conclusão de Pantokrátor.

 

O grande vencedor na categoria Melhor Romance foi Garras (Rocco), de Lis Vilas Boas, a história de um casamento arranjado entre uma bruxa e um lobisomem.  Em seu discurso de agradecimento, Lis se confessou surpresa, pois não acreditou que venceria com seu romance de estreia.


Lis Vilas Boas vence com Garras.

***

Finda a cerimônia de entrega do Argos 2025, aproveitei o ensejo para conversar com alguns amigos que ainda não havia falado como Ricardo França e Rubens Angelo, para comprar meu exemplar de Garras e pegar meu autógrafo com Lis Vilas Boas.



Autógrafo de Garras com Lis Vilas Boas.

 

Cláudia sugeriu tirar fotos minhas com Rubens Angelo, que também se encontrava contundido.  O caso dele foi bem mais heroico do que o meu.  Minha mulher amada comentou que a nave estelar que nós dois tripulávamos realizou uma aterragem forçada.  Enfim...



Rubens Angelo e GL-R nas Quebradas da FCB...



Galera do Vórtice Rio: Ricardo, Felipe, GL-R, Jessica & Daniel.

 

Rubens me apresentou à jovem autora Maira M. Moura.  Foi um prazer conhecê-la.  Pois, poucas semanas atrás li o conto dela, “As torres de cápsulas Mirai”, um dos incluídos na antologia comemorativa Voltas ao Redor do Sol – 40 Anos (CLFC, 2025), organizada pelo próprio Rubens, que me convidou para prefaciar o livro.  Maira nos brinda com uma narrativa de viagem no tempo enxuta e minimalista, mas também intrigante e original, preparada com pitadas generosas do subgênero New Weird.  Foi um dos três contos de que mais gostei na antologia.  Aliás, nessa antologia emplaquei um conto ambientado na linha histórica alternativa Três Brasis, “Para um Brasil Melhor”, onde mostro o que aconteceu ao filho-da-noite Dentes Compridos após o clímax da novela “Azul Cobalto e o Enigma”.

Eu e Cláudia ainda conversamos por cerca de meia hora com alguns amigos, mas, em virtude da minha condição física, declinamos do convite para esticar o evento num barzinho próximo e pedimos nosso UBER para casa.

Enfim, tudo correu bem nesta primeira saída da toca após meu acidente doméstico.  O pé contundido me incomodou menos do que eu esperava.

Jardim Botânico, Rio de Janeiro, 21 de dezembro de 2025 (domingo).

 


Participantes:

Alexey Dodsworth.

Bráulio Tavares.

Caio Bessa Lima.

Carlos Hollanda.

Cláudia Quevedo Lodi.

Daniel Balard.

Eduardo Torres (Comissão do Argos).

Flávio Mello.

Gerson Lodi-Ribeiro.

Jessica Tarine.

Lis Vilas Boas.

Luiz Felipe Vasques (Comissão do Argos).

Maira M. Moura.

Octavio Aragão.

Pedro Sasse (organizador).

Ricardo França.

Ricardo Labuto Gondim.

Rubens Angelo.



[1].  Aos interessados em acidentes domésticos prosaicos e questões médicas deles advindas: na noite de domingo, dia 07 de dezembro, cismei de subir num banquinho em nosso quarto para resetar o sistema de TV a cabo do aposento.  Apesar de tudo o que ensinamos aos filhos sobre o assunto, não considerei os riscos óbvios envolvidos.  Afinal, eu quase conseguia alcançar a tomada do dispositivo sem o banco e só precisaria de três ou quatro segundos em cima dele para desligar e tornar a ligar a caixinha da NET.  Ocorre que o banco traiçoeiro só precisou de um décimo de segundo para cambalhotar sob meus pés.  Meros milissegundos mais tarde, quando dei por mim, já estava estatelado no chão com uma dor de ver estrelinhas piscando latejando na lateral do pé direito.  Enfim, precisarei pagar por minha burrice como algumas semanas de imobilidade, de castigo em casa.  Pensando bem, podia ter sido pior.

[2].  Tive um conto publicado nessa mesma coletânea, “Mergulho em Pitfall”.  Infelizmente, não foi eleito como finalista.

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