Argos 2025
no Acaso Cultural
“É sempre bom conferir o que consta no certificado, porque acidentes
acontecem...”
(GL-R, ao receber o primeiro certificado como representante de Carlos Relva).
“Desde os doze anos eu sonhava com esse prêmio.”
(Jean Gabriel Álamo, citado por Caio Bessa Lima).
“O legal do Argos é que você não tem concorrentes, tem amigos.”
(Alexey Dodsworth)
202512212359P1 – 23.907 D.V.
Compareci
neste domingo ao Acaso Cultural para assistir e participar da cerimônia de
entrega do Prêmio Argos neste certame de 2025.
Por conta de
uma fratura no dedo mínimo do pé direito, foi difícil me deslocar até Botafogo,
mas nada que a ajuda decidida de Cláudia e o uso da bengala e de uma bota ortopédica
high-tech não resolvessem.
Como a
cerimônia começaria às 16h00, considerando minhas limitações temporárias de
locomoção, saímos daqui de casa às 15h10, mesmo sabendo que o Acaso Cultural é
relativamente perto e que as condições de trânsito do Jardim Botânico e bairros
adjacentes costumam ser boas aos domingos.
Ida e volta de UBER.
***
Quando
chegamos à sala-auditório do evento (a mesma em que as mesas da RioNeon transcorreram
no mês passado), o palco, o estande de venda de livros, as cadeiras e os
sistemas de áudio e vídeo já estavam montados.
Naturalmente, os membros da comissão organizadora do Prêmio Argos,
Eduardo Torres e Luiz Felipe Vasques já se encontravam presentes, bem como
Pedro Sasse, o gestor da Acaso Cultural.
Além desses, já estavam presentes os amigos Alexey Dodsworth; Carlos
Hollanda; Flávio Mello; e o casal de confrades do Vórtice Rio, Jessica Tarine
& Daniel Balard.
Pouco depois
chegavam Bráulio Tavares e Octavio Aragão.
Os amigos Ricardo França e Rubens Angelo só apareceram mais tarde.
Ao longo do
evento, precisei repetir algumas vezes a explicação sobre a natureza da minha
contusão.[1]
Já nos
primeiros minutos de auditório, antes do começo da cerimônia, autografei cerca
de quinze ou vinte livros para Flávio Mello (tudo bem: confesso que perdi a
conta), dentre coletâneas de ficção curta – inclusive a vetusta Vampiro de
Nova Holanda (Editorial Caminho, 1998) que publiquei em Portugal no milênio
passado e Taikodom: Crônicas (Devir, 2009) – antologias (Dinossauros,
Vaporpunk e Dieselpunk, dentre outras) e vários e vários
romances, dentre os quais A Guardiã da Memória, Aventuras do Vampiro
de Palmares, Estranhos no Paraíso, Octopusgarden, Pecados
Terrestres e até mesmo o recente Novas do Purgatório (Cosmos, 2025),
cujo e-book concorria naquela tarde ao Argos na categoria Melhor Romance. Deu trabalho autografar aquela pilha de
livros, mas também deu um prazer enorme.
É gratificante (para não falar, emocionante) encontrar com um leitor que
aparece de repente com boa parte da produção que você lançou no mercado no
último quarto de século. Da cadeira ao
lado, Carlos Hollanda brincou que eu iria ficar com a mão cansada. Repliquei que esse é o tipo de cansado que
todo escritor quer sentir.😉 Meu muitíssimo obrigado, Flávio Mello!
Autógrafos em série para Flávio Mello.
Enquanto autografava, troquei
ideias com Alexey e Eduardo sobre a série de ficção científica Pluribus;
cenário pós-apocalíptico cum conquista alienígena (em termos audiovisuais,
o mais original dos últimos tempos) que se tornou sucesso de público e de
crítica, e cuja primeira temporada está prestes a se encerrar na Apple TV. Recomendo enfaticamente a todos os amantes do
gênero que se interessam não só por tiroteios e ação desenfreada, mas também por
questões filosóficas relacionadas à liberdade, felicidade e livre
arbítrio. Aproveitei o ensejo para
comentar sobre o romance de Neal Shusterman que estou lendo, All Better Now
(Simon & Schuster, 2025), que discute basicamente essas mesmas questões com
uma abordagem algo diferente, igualmente original, e cuja leitura também
recomendo com o máximo empenho. Sem
grandes spoilers: não se trata de invasão alienígena, mas de um novo
coronavírus cuja infecção deixa todos os sobreviventes permanentemente focados
e felizes.
Poucos minutos
mais tarde, Eduardo e Felipe deram início à cerimônia do Argos 2025. O evento foi transmitido ao vivo no YouTube e
pode ser assistido a qualquer hora pelo link:
https://www.youtube.com/watch?v=EMJF1JN-tP8
***
Após as
palavras iniciais de apresentação do Pedro Sasse, como rezam as tradições milenares
das cerimônias de entrega do Argos, os comissários Edu e Felipe começaram os
trabalhos falando umas poucas palavras rituais sobre o Clube de Leitores de
Ficção Científica (CLFC) em si e sobre o Prêmio Argos em particular.
Após esse
preâmbulo cabalístico inicial, sem mais delongas, anunciaram os resultados da
categoria Melhor Antologia ou Coletânea.
Em quinto
lugar, ficou a coletânea de minicontos, microcontos e haicais de Carlos Relva, Cristalina
como as Lágrimas (edição do autor).
Munido de minha briosa muleta de madeira de lei adquirida a preço módico
na ABBR, dirigi-me à borda do palco (não ousei escalá-lo) e li as breves
palavras de agradecimento do autor, meu bom amigo e confrade no clube de
leitura Vórtice Rio.
Em quarto
lugar, a ficou a antologia No Limiar: Contos de Sci-fi Folclórica,
organizada por Lu Evans (edição da organizadora).
Em terceiro
lugar, a antologia Além do Véu da Verdade, organizada por João M.
Beraldo, com contos ambientados no universo Véu
da Verdade, criado pelo organizador.
Outra edição bancada pelo organizador.
Em segundo
lugar, a antologia 2057 (Verter), organizada por Carlos Hollanda e
Rafael Senra. Carlos compareceu para
receber o certificado e fazer um breve, pero entusiasmado discurso de
agradecimento.
O vencedor do
certame foi a Revista Literatura Fantástica Vol. 20, organizada e
editada por Jean Gabriel Álamo, em mais uma edição do organizador. O representante nomeado Caio Bessa Lima
recebeu o certificado e o troféu em nome da Álamo Produções. Caio fez um belo discurso e descreveu
brevemente os esforços do empreendimento capitaneado pelo Jean Álamo.
Nessa
categoria em que só um dos cinco finalistas não foi edição do autor ou
organizador, minhas lealdades estiveram divididas entre três desses cinco. Acabou que gostei do resultado. Afinal, como Alexey bem disse ao receber um
dos certificados em nome de nosso amigo comum Fábio Fernandes, “o legal do
Argos é que você não tem concorrentes, você tem amigos”.
***
A segunda
categoria a ter seus resultados anunciados foi “Melhor Conto”, por vezes
referida nesta e noutras premiações como “Melhor Ficção Curta”, uma vez que
inclui contos e noveletas.
O quinto
lugar foi do conto “Mensagem Instantânea” do Fábio Fernandes, publicado na
antologia Além do Véu da Verdade, do João Beraldo.[2]
Em quarto
lugar ficou o conto “Alexandra, a Grande”, de Carlos Relva, publicado na Cristalina
como as Lágrimas. Mais uma vez, li
as palavras de agradecimento do amigo e confrade.
Em terceiro
lugar, “Um Vínculo Inquebrável”, de Renan Bernardo, na antologia Além do Véu
da Verdade. A autora Lis Vilas Boas
recebeu o certificado em nome do autor.
Em segundo
lugar, outro conto publicado em Além do Véu da Verdade. Dessa vez, “Pulsão de Morte”, de Alexey
Dodsworth, que regressou ao palco para receber seu certificado. Em seu discurso, Alexey agradeceu ao João
Beraldo pelo convite para participar da antologia.
O vencedor na
categoria Melhor Conto foi “Pista Norte”, de Ursulla Mackenzie, publicado na
antologia Cidades Inversas (edição da organizadora), organizada por Lu
Evans. A vencedora encarregou o próprio
Comissário Eduardo Torres para receber o certificado e o troféu.
Classificado
em terceiro lugar da categoria anterior, a antologia Além do Véu da Verdade
conseguiu emplacar três finalistas na Melhor Conto: segundo, terceiro e quinto
lugares, respectivamente. Posso estar
enganado, mas creio que uma goleada desse gênero não ocorria desde o arquirremoto
Argos 2003, ocasião em que, nessa mesma categoria, três contos da antologia Como
Era Gostosa a Minha Alienígena! (Ano-Luz, 2002), abiscoitaram os três
primeiros lugares.
***
Enfim,
chegamos à categoria Melhor Romance.
O quinto
colocado foi O Torneio de Sombras: As Aventuras de January Purcell vol. 1
(AVEC), de Fábio Fernandes. Mais uma
vez, Alexey recebeu o certificado em nome do nosso amigo Fábio.
A versão
e-book do meu romance de ficção científica teológica Novas do Purgatório
(edição do autor) ficou na quarta colocação.
Não me senti muito decepcionado, porque não alimentei grandes esperanças
de vencer. Não só por ser um e-book
autopublicado competindo contra livros físicos lançados por editoras de renome,
mas, sobretudo, por filosofia de vida: o pessimista não se decepciona, suas
surpresas são sempre alegrias. Em meu
discurso de agradecimento, revelei estar emocionado por estar recebendo um certificado
de finalista pela primeira vez com uma edição do autor.
O terceiro
lugar foi para o romance Sentinela (Malê), de Juliane Vicente, que já
havia sido finalista nos certames de 2021 e 2023, nas categorias Melhor
Antologia e Melhor Conto, respectivamente.
Em segundo
lugar, o romance Kerigma: A Conclusão de Pantokrátor (AVEC) de Ricardo
Labuto Gondim. Presente ao evento,
Gondim recebeu seu certificado e agradeceu ao publisher da AVEC, Arthur
Vecchi, por ter não só publicado o Kerigma, mas também republicado o
romance Pantokrátor original.
O grande
vencedor na categoria Melhor Romance foi Garras (Rocco), de Lis Vilas Boas,
a história de um casamento arranjado entre uma bruxa e um lobisomem. Em seu discurso de agradecimento, Lis se
confessou surpresa, pois não acreditou que venceria com seu romance de estreia.
***
Finda a
cerimônia de entrega do Argos 2025, aproveitei o ensejo para conversar com
alguns amigos que ainda não havia falado como Ricardo França e Rubens Angelo,
para comprar meu exemplar de Garras e pegar meu autógrafo com Lis Vilas
Boas.
Cláudia sugeriu
tirar fotos minhas com Rubens Angelo, que também se encontrava contundido. O caso dele foi bem mais heroico do que o
meu. Minha mulher amada comentou que a
nave estelar que nós dois tripulávamos realizou uma aterragem forçada. Enfim...
Rubens me
apresentou à jovem autora Maira M. Moura.
Foi um prazer conhecê-la. Pois, poucas
semanas atrás li o conto dela, “As torres de cápsulas Mirai”, um dos incluídos
na antologia comemorativa Voltas ao Redor do Sol – 40 Anos (CLFC, 2025),
organizada pelo próprio Rubens, que me convidou para prefaciar o livro. Maira nos brinda com uma narrativa de viagem
no tempo enxuta e minimalista, mas também intrigante e original, preparada com
pitadas generosas do subgênero New Weird.
Foi um dos três contos de que mais gostei na antologia. Aliás, nessa antologia emplaquei um conto
ambientado na linha histórica alternativa Três
Brasis, “Para um Brasil Melhor”, onde mostro o que aconteceu ao
filho-da-noite Dentes Compridos após o clímax da novela “Azul Cobalto e o
Enigma”.
Eu e Cláudia
ainda conversamos por cerca de meia hora com alguns amigos, mas, em virtude da
minha condição física, declinamos do convite para esticar o evento num barzinho
próximo e pedimos nosso UBER para casa.
Enfim, tudo
correu bem nesta primeira saída da toca após meu acidente doméstico. O pé contundido me incomodou menos do que eu esperava.
Jardim Botânico, Rio de Janeiro, 21 de dezembro de 2025 (domingo).
Participantes:
Alexey
Dodsworth.
Bráulio
Tavares.
Caio Bessa
Lima.
Carlos Hollanda.
Cláudia
Quevedo Lodi.
Daniel
Balard.
Eduardo
Torres (Comissão do Argos).
Flávio
Mello.
Gerson
Lodi-Ribeiro.
Jessica
Tarine.
Lis Vilas Boas.
Luiz Felipe
Vasques (Comissão do Argos).
Maira M.
Moura.
Octavio
Aragão.
Pedro Sasse
(organizador).
Ricardo
França.
Ricardo
Labuto Gondim.
Rubens
Angelo.
[1]. Aos
interessados em acidentes domésticos prosaicos e questões médicas deles
advindas: na noite de domingo, dia 07 de dezembro, cismei de subir num
banquinho em nosso quarto para resetar o sistema de TV a cabo do aposento. Apesar de tudo o que ensinamos aos filhos
sobre o assunto, não considerei os riscos óbvios envolvidos. Afinal, eu quase conseguia alcançar a tomada
do dispositivo sem o banco e só precisaria de três ou quatro segundos em cima dele
para desligar e tornar a ligar a caixinha da NET. Ocorre que o banco traiçoeiro só precisou de
um décimo de segundo para cambalhotar sob meus pés. Meros milissegundos mais tarde, quando dei
por mim, já estava estatelado no chão com uma dor de ver estrelinhas piscando
latejando na lateral do pé direito.
Enfim, precisarei pagar por minha burrice como algumas semanas de
imobilidade, de castigo em casa. Pensando
bem, podia ter sido pior.
[2]. Tive um conto
publicado nessa mesma coletânea, “Mergulho em Pitfall”. Infelizmente, não foi eleito como finalista.








