terça-feira, 16 de julho de 2019


Casa Fantástica

na

FLIP 2019:


Dia 01 — 201907101325P4 — 21.551 D.V.

“Partiu, Paraty II, a Missão!”



Com nossas malas e bagagens de mão arrumadas de véspera, acordamos hoje às 04h00 para tomar o desjejum sem atropelos e nos deslocarmos até a rodoviária para viajar a Paraty, para assistir e participar das mesas-redondas, palestras e eventos que ocorrerão nos próximos dias sob os auspícios da Casa Fantástica, por ocasião da décima-sétima Feira Literária Internacional de Paraty, a FLIP 2019.

Durante o café da manhã, baixamos a edição digital de O Globo para ler durante a viagem de ônibus.

A fim de participar desse evento sem preocupações ou sentimento de culpa, solicitei a antecipação de cinco dias das minhas férias, aquelas mesmas que precisei adiar e que deverei remarcar tão logo a aposentadoria da Cláudia seja publicada no Diário Oficial da União.

Pedimos um UBER que nos pegou à porta de nosso prédio e nos conduziu à em segurança à Rodoviária Novo Rio pela madrugada escura e estrela deste inverno carioca, chegando lá em menos de quinze minutos.

Uma vez no terminal rodoviário, rumamos até o guichê da empresa Costa Verde, onde um funcionário da empresa retirou nossas passagens de ida e de volta para Paraty, que já havíamos adquirido coisa de quinze dias atrás pela internet.  Como havíamos chegado cedo, sentamo-nos próximos ao portão de embarque para aguardar o ônibus e nos dedicamos ao prazer da leitura por quarenta e cinco minutos prazerosos.  Leitura de espera: A Verdadeira História da Ficção Científica (Pensamento-Cultrix, 2018), do Adam Roberts, autor e estudioso do gênero que esgrime não sem certo brilhantismo e originalidade a tese heterodoxa, segundo a qual a gênese da ficção científica se teria dado no século XVI por causa da Reforma Protestante.  Como me encontro no capítulo um desse livro parrudo, ainda que um tanto céptico, resolvi conceder o benefício da dúvida sob condição resolutória à tese aparentemente estapafúrdia.

Durante essa espera, constatei que o aplicativo bloco de notas do meu celular está exibindo um defeito sui generis.  Cada nota se multiplicou alguns milhares de vezes e agora há cerca de trinta mil notas no aplicativo.  Num cálculo rápido, estimei que levaria pelo menos dez horas para deletá-las uma a uma.  Deve haver um método mais inteligente e prático de deletar tudo de uma vez, só que ainda não consegui descobri-lo.[1]

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Prevista para se iniciar às 07h00, a viagem começou com vinte minutos de atraso.  Em nossa parada às 08h50, lá pela altura de Itaguaí ou Coroa Grande, o motorista resolveu compensar, decretando que só permaneceríamos no restaurante de beira-de-estrada por quinze minutos.  Nessa parada, comemos pães-de-queijo e tomamos café preto.  O ônibus era climatizado e o ar-condicionado estava funcionando a contento.  Nem eu, nem Cláudia tiramos nossos casacos, pois o inverno no Rio de Janeiro chegou firme e forte nesta semana.  Dediquei o primeiro terço de nossa viagem à leitura da edição digital do jornal.  Então, atirei-me ao romance de ficção científica Blindsight (Tor Books, 2006), que consegui terminar meia hora antes de chegarmos a Paraty.  Uma narrativa tensa de primeiro contato entre humanos dotados de implantes bionanotecnológicos e uma espécie alienígena inteligente, porém desprovida de autoconsciência, em plena nuvem de Oort do Sistema Solar em fins do século XXI.  Instigante e original, mas com personagens com motivações para lá de mal explicadas.

Desembarcamos no terminal rodoviário de Paraty às 11h55, após quatro horas e trinta e cinco minutos de viagem, incluindo a parada técnica.

Recobramos nossas malas e nos dirigimos ao ponto de táxi da rodoviária.  A tarifa única sem taxímetro para o entorno do centro histórico continua sendo de vinte e cinco reais, como no ano passado.  Desta vez, nossa pousada não se localiza dentro desse centro histórico.  Em compensação, é bem melhor do que a do ano passado e as diárias foram mais baratas.

Chegando à Pousada Paisagem, fizemos o check-in com o funcionário Flávio, que nos conduziu ao quarto 221, situado no segundo piso do prédio anexo da pousada.  Verificamos o sinal de WiFi e demais comodidades de nossa habitação temporária, e colocamos nossos celulares e tablets para recarregar.  Liguei meu notebook pela primeira vez desde o fim de abril e ele exibiu certa resistência, ansioso por atualizar todos os seus pacotes de dados e programas antes de se dignar a permitir que eu iniciasse esta crônica, mas acabou se reconfigurando a ponto de me facultar a abertura do arquivo em que escrevo o texto presente.

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Saímos a pé da pousada, caminhando por um calçadão paralelo à margem do rio Perequê-Açú por cerca de oitocentos metros, até uma ponte que, uma vez cruzada, deixou-nos no fim da Rua do Comércio, onde se situa a Casa Fantástica.  Esse calçadão possui uma ciclovia segregada da pista para pedestres.

Caminhamos devagar por essa via de seixos rolados por uns quatro ou cinco quarteirões, até alcançar o número 90, sede da literatura fantástica brasileira na FLIP 2019.  No caminho, já de olho nos restaurantes em que poderíamos almoçar, cruzamos a Rua do Rozário, onde se situava a Casa Fantástica do ano passado.  Enfim, após uns duzentos metros de avanço vagaroso, encontramos a Casa Fantástica 2019.

Lá encontramos a Priscilla Lhacer, publisher da editora Presságio e organizadora da Casa Fantástica, o Raphael Fernandes, sócio e braço forte de Erick Santos Cardoso na Draco, e o Mário Bentes, publisher da editora Lendari.

Conhecemos as instalações da Casa Fantástica deste ano e conversamos um pouco com os amigos sobre nossas jornadas para Paraty e sobre a crise do comércio de livros no país.  Aproveitei o ensejo para deixar uns poucos exemplares de minha coletânea Histórias de Ficção Científica de Carla Cristina Pereira (Draco, 2012) e de meus romances A Guardiã da Memória (Draco, 2011) e Octopusgarden (Draco, 2017) no estande da editora, com o Raphael.  Quanto aos três exemplares que eu trouxe da antologia Fractais Tropicais (SESI-SP, 2018)[2], organizada pelo Nelson de Oliveira, finalista do Prêmio Argos 2019, nem serão postos à venda, pois Priscilla, Raphael e Mário já os compraram.

A verdade é que, por causa do volume ocupado na mala pelos três troféus do Prêmio Argos (categorias Melhor Romance, Melhor Conto e Melhor Antologia/Coletânea), não restou muito espaço para trazer livros à Casa Fantástica deste ano.  Uma pena, porque faturei uma graninha boa com as vendas do ano passado.  Enfim, tudo e mais um pouco pela causa.

Mais leves com a desova dos livros, despedimo-nos dos amigos por hoje e fomos à caça de um restaurante, pois já estávamos verdes de fome.

Voltamos pela Rua do Comércio até a Rozário, onde dobramos à direita, em direção à praia, em busca do restaurante Banana da Terra, especializado em frutos do mar.  Tentamos jantar nesse estabelecimento bem avaliado no ano passado, mas a casa estava lotada.  Para nossa surpresa, o Banana da Terra fechou às portas.  Desalentados, regressamos pela Rozário, mas dobramos à direita antes de chegar à Comércio.  Desembocamos na Praça da Matriz e dali seguimos até o restaurante Prosa, que Cláudia havia pesquisado no TripAdvisor.

Um funcionário do Prosa veio nos buscar literalmente no meio da rua, detalhando as iguarias do cardápio e nos convencendo a experimentá-las; a tarefa não foi das mais difíceis, considerando no estado de fome terminal.

Sentados numa mesa no fundo do restaurante, ilhota de penumbra aconchegante em meio a esta tarde ensolarada de inverno, pedimos casquinhas de siri de entrada e pratos executivos como principal: medalhão de filé mignon com fettuccini para mim e filé de peixe com purê de batata baroa para a Cláudia, repasto regado à água com gás e uma garrafa do vinho verde rosé QPA.  Foi a primeira vez que degustamos um vinho verde vinificado como rosé.  Para minha surpresa, embora não curta os verdes, Cláudia apreciou esse vinho fresco e fácil de beber.

Do Prosa, seguimos para a grande tenda de livros da Travessa, montada em frente ao restaurante, onde namoramos um monte de títulos apetitosos, mas, com a casa repleta de volumes e já comprometidos com a filosofia do livro digital, só compramos mesmos dois títulos para nossa filha Ursulla.


Vinho Verde Rosé: novidade saborosa!

Rua de seixos rolados no Centro Histórico de Paraty.


Ponte sobre o rio Perequê-Açú I.

Ponte sobre o rio Perequê-Açú II.


Almoço no Dia 1 no Prosa na Praça.

Anoitecer na ponte sobre o Perequê-Açú.






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Dali seguimos até a sorveteria Pistache, na esquina de Rozário com Comércio.  Sorvetes self-service deliciosos!  Escolhi os sabores pistache e chocolate com laranja, enquanto a Cláudia pegou limão, jabuticaba e chocolate 70%.  Havia um rapaz que se afirmou aficionado por ficção científica na Pistache, mas julguei melhor não puxar papo naquele instante.

Da sorveteria, começamos a voltar para a pousada, sem pressa, parando num ponto turístico ali, uma loja acolá, olhando vez por outra cardápios e preços, à procura de lugares para comer nos próximos dias.  Afinal de contas, a melhor ocasião para fazer esse tipo de pesquisa preliminar é quando estamos com os estômagos satisfeitos.

Por volta das 18h30, já noite cerrada, pegamos o mesmo calçadão da ida para enfim regressar à pousada e ao descanso merecido.

Pousada Paisagem, Paraty, 10 de julho de 2019 (quarta-feira).





Dia 02 — 201907110740P5 — 21.552 D.V.


“Em termos de plausibilidade científica, os cenários otimistas das narrativas solarpunks fazem todo o sentido do mundo.  Porque, do jeito como a civilização humana vem caminhando, não há como imaginar a continuidade da vida humana na Terra daqui a cinquenta ou cem anos sem assumir que algo irá melhorar bem antes disso.”



Acordamos hoje às 06h00 e, como o desjejum na pousada só abriria às 08h00, baixei a edição digital do jornal e comecei a lê-lo em jejum.  Esses hotéis e pousadas que só iniciam seus serviços de café da manhã lá pelas tantas baratinam um bocado a rotina matinal deste povinho que tem mania de acordar cedo…

Na dúvida entre dar uma última ensaiada na minha fala de abertura que apresentarei às 10h00 ou ler o jornal para relaxar, acabei optando pela segunda alternativa.

Ah, o café da manhã!  Um mês hospedado numa pousada aprazível como esta e eu não voltaria para o Rio andando, mas sim rolando.  Ovos mexidos com salsichas.  Fatias de lombo canadense e mozzarella dentro de um pão quentinho.  Café preto e suco de laranja.  Tudo do bom e do melhor.  Depois de saborear isto tudo, repetir e “trepetir” o que estava mais gostoso.

Após esse lauto desjejum, voltamos ao quarto e ainda tive tempo de concluir a leitura do jornal antes de caminharmos até a Casa Fantástica.

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Desta vez levamos apenas vinte minutos para ir a pé da pousada até a Casa Fantástica.  Dez minutos no calçadão que beira o Perequê-Açú e outros dez para caminhar pela Rua do Comércio, da ponte até o número 90.  Quando passamos pela Casa Folha, próximo à Igreja da Matriz, no início da Comércio, deparamo-nos com uma fila imensa, que se estendia por cerca de cem metros, até a Igreja do Rozário, para assistir não sei bem que atração prestes a rolar naquela casa.

Porém, como o nosso barato é literatura fantástica, não paramos para conferir o oba-oba e chegamos lá na Casa Fantástica, cerca de meia hora antes do evento, com um tempinho para colocar os pensamentos no lugar e conversar com os amigos presentes.

Minha fala de abertura, como todas as palestras e mesas que virão depois, aconteceu sob um telheiro acolhedor instalado aos fundos da edificação histórica que sedia a Casa Fantástica desta FLIP 2019.

Para minha alegria e surpresa, apesar de estarmos na manhã do primeiro dia de Casa Fantástica, quando comecei minha fala com meros cinco minutos de atraso, já havia cerca de vinte pessoas na plateia e ao fim do evento, chegamos a ter um público presente superior a trinta pessoas.  Semanas atrás, Priscilla já havia alertado que a nova Casa Fantástica não disporia de projetor e telão para exibir apresentações em PowerPoint.  Tudo bem.  Mesmo assim, levei meu tablet e planejei uma espécie de “PowerPoint de pobre”: eu consultaria a apresentação que preparei, just in case, e, sempre que pertinente, mostraria à plateia capas de livros e cartazes de filmes citados.

Priscilla Lhacer deu as boas-vindas ao público presente nesta manhã ensolarada de quinta-feira e em seguida me passou a palavra.  Apresentei-me como escritor e antologista de ficção científica em geral e história alternativa em particular, explanando uma definição brevíssima do subgênero da H.A. e exemplificando, por mera travessura, com o cenário da vitória paraguaia na Guerra da Tríplice Aliança.

Usei uma versão atualizada e turbinada da apresentação em PowerPoint Ficção Climática & Solarpunk, que mostrei no SESC-Santos em 2017.  Em termos de número de telas, essa nova versão é cerca de dez por cento maior do que a original.  Na introdução, falei da importância da ficção ecológica num país e num mundo onde tantos negam a realidade científica do aquecimento global antropogênico.  Na apresentação propriamente dita, expus os conceitos de ecoficção, ficção climática e ficção científica climática, bem como seu subgênero literário, o solarpunk.  Ilustrei o conteúdo com exemplos literários e cinematográficos de ficções climáticas.  Nas narrativas literárias, citei trabalhos de ficção especulativa e mainstream.  Em seguida, falei dos enredos clássicos de ficção climática, das antologias temáticas que reúnem a melhor ficção curta do subgênero, e então passei para os enredos recentes, com ênfase a trabalhos de Kim Stanley Robinson, Ursula K. Le Guin, Robert Silverberg, Paolo Bacigalupi, Margaret Atwood, Gregory Benford, Charlie Jane Anders e outras feras da ficção científica anglo-saxã.  Daí, apresentei o solarpunk como movimento cultural e subgênero literário, não resistindo à tentação de citar a coletânea City (1951), de meu autor predileto, Clifford D. Simak, como uma narrativa solarpunk avant la lettre e, então, enfim, detalhar a gênese e as narrativas da antologia Solarpunk: Histórias ecológicas e fantásticas em um mundo sustentável.  Na fase das perguntas e manifestações, a plateia participou ativamente, a ponto de nossa mestre-de-cerimônias, Priscilla, ter precisado interromper para dar início à mesa-redonda que se seguiria à abertura da Casa Fantástica.

Fiquei muito satisfeito e orgulhoso com o resultado dessa fala de abertura.  Bastante satisfeito e só um tiquinho orgulhoso.  Pois orgulho em demasia é soberba e em excesso vira arrogância.😊

Entre o fim da minha fala e o começo da mesa-redonda, Sabine Mendes Moura comentou comigo que havia lido meu romance curto de história alternativa, Xochiquetzal: uma Princesa Asteca entre os Incas (Draco, 2009) ontem e que gostou muito.

Chegada à Casa Fantástica.

Priscilla Lhacer na Abertura da Casa Fantástica.

Palestra de Abertura: Ficção Climática & Solarpunk.




Filmete da Abertura: "Ecoficção".




Filmete da Abertura: "Bem-vindos ao Antropoceno!".



Filmete da Abertura: "Solarpunk".

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A primeira mesa-redonda da Casa Fantástica, “Young Adult: “O que leem os jovens adultos de hoje?”, foi mediada pela própria Priscilla Lhacer, com a participação dos autores Felipe Sali e Thiago Lee.  Do ponto de vista de alguém que já curtiu mais infantojuvenis outrora do que hoje em dia, a parte mais importante dessa mesa para mim foi quando Felipe detalhou a mecânica de escrever no Wattpad.
Mesa "Young Adult": Felipe Sali e Thiago Lee.


Ao fim dessa primeira mesa, regressamos à pousada para descansar, pois, com os estômagos forrados pelo lauto café da manhã, ainda não nos sentíamos dispostos para o almoço.  Colocamos algumas coisas em dia e então retornamos à Casa Fantástica bem a tempo de assistirmos a segunda mesa-redonda, “Mitologia: as raízes do fantástico na literatura”, com mediação de Lucas Rafael Ferraz e participação dos autores Rosana Rios e Antonio Luiz M.C. Costa e do professor de história, Diego Amaro.

Ao ingressarmos na Casa Fantástica fomos avassalados por um aroma delicioso emanando da cozinha, o que nos fez perceber que não estávamos com tão pouca fome assim.  Entramos na cozinha e descobrimos a origem do aroma inebriante: uma fornada de croissants quentinhos acabando de sair do forno.  Compramos um de queijo e presunto para mim e um de frango para a Cláudia, com duas garrafas de água com gás para lubrificar as tripas.

A mesa de Mitologia bombou.  Estimo que houvesse um público presente de pelo menos cinquenta pessoas.  Quando cheguei, tive que permanecer de pé por alguns minutos até que uma jovem caridosa me cedeu o lugar.  Mesmo assim, meu assento era numa das últimas filas e por vezes precisei me esforçar um pouco para ouvir o que os participantes diziam.  Mas, valeu a pena!  Rosana e Antonio deram um verdadeiro banho de erudição ao discorrerem sobre as raízes mitológicas da literatura, remetendo os ouvintes à origem da escrita e da própria civilização na Suméria de seis ou sete milênios atrás.  Falou-se de tudo um pouco e sempre muito bem, desde as culturas matriarcais do mesolítico, até o machismo inerente ao mito de Héracles, das mudanças paulatinas no enfoque narrativo das deusas da mitologia greco-romana, até a origem da lenda urbana da loura do banheiro, que remonta ao Império do Brasil da segunda metade do século XIX.  Há muito tempo não assistia uma mesa tão instrutiva e interessante.  Show de bola!
Mesa "Mitologia": Lucas Rafael Ferraz, Antonio Luiz M.C. Costa, Rosana Rios, Diego Amaro.

Rosana Rios e GL-R no estande da Draco.


Ao fim dessa segunda mesa, quando já nos preparávamos para regressar à pousada, enquanto encomendávamos dois croissants e duas empanadas à cozinheira da Casa Fantástica, encontrei minha amiga Kyanja Lee e começamos a conversar sobre ficção científica.  Kyanja me apresentou às irmãs gaúchas, Evelyn e Ceres Postali.  Conversamos sobre o quadro atual da literatura fantástica nacional, em que o horror e a fantasia atraem mais leitores do que a ficção científica, ao contrário do que ocorria três ou quatro décadas atrás.  As duas irmãs acabaram adquirindo dois exemplares de meu romance de ficção científica A Guardiã da Memória (Draco, 2011), agraciado com o Argos 2012 na categoria Melhor Romance.

Antes de partir, ainda consegui bater um papo com a Rosana Rios, elogiei a mesa excelente e logrei tirar algumas fotos com ela.

Já na Rua do Comércio, caminhando em direção à ponte, encontramos com minha amiga, Maria José Gouveia, do curso de italiano a quem descrevi brevemente a variedade dos chapéus estou usando nesta Casa Fantástica da FLIP 2019.

De volta à Paisagem, pedimos duas taças de vinho na recepção, para não precisarmos degustar nossos tintos em copos de vidro como ontem à noite.

Depois que conclui o trabalho nesta crônica, assistimos o Em Pauta na GloboNews e os dois últimos episódios da primeira temporada de Big Little Lies.

Como pousada, a Paisagem constitui um problema: é muito aconchegante e confortável.  Mas, também é um pouco distante da Casa Fantástica.  Daí, quando voltamos para cá pela segunda ou terceira vez do dia ao longo da tarde, bate uma preguicinha gostosa que solapa nossa vontade de regressar ao bochicho outra vez.  Desta forma, infelizmente, perdemos as mesas vespertinas: “Clubes de Assinatura: Como a curadoria recorrente está mudando o mercado editorial” (17h00) e “Agenciamento Literário: como trabalha um agente literário?” (19h30).

Pousada Paisagem, Paraty, 11 de julho de 2019 (quinta-feira).





Dia 03 — 201907120640P6 — 21.553 D.V.


“— Quem você pensa que é para me falar assim?

“— Eu sou um monstro!”

(Cena do filme Jovem Frankenstein, de Mel Brooks)



Desjejum satisfatório, ainda que tardio, na Paisagem nesta sexta-feira de manhã.  Mais ou menos as mesmas escolhas gastronômicas apetitosas, mas não muito saudáveis, de ontem.  Antes da refeição matinal, ainda no quarto 221, baixamos e iniciamos a leitura da edição digital do jornal.

De volta ao quarto, conectei o celular e o tablet ao notebook para transferir o arquivo em epub do romance Echopraxia, do Peter Watts, continuação do Blindsight, cuja leitura concluí na viagem de ida para cá.

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Caminhamos da pousada até a Casa Fantástica e lá chegamos às 10h00, bem no início da mesa-redonda “Criaturas Fantásticas: Criando monstros, bestas-feras e outros bichos”, com mediação do autor Diego Guerra e participação dos autores Jana P. Bianchi, Claudia Dugim e Fernando Vugman.  A mesa abordou a questão do monstro na história humana e na literatura fantástica.  Fernando falou das origens históricas dos mitos e narrativas sobre monstros.  Discutiu-se o monstro no romance seminal Frankenstein, concluindo-se que  o verdadeiro monstro era Victor, pois a criatura, conquanto tenha praticado homicídios, começou sua vida como vítima de um abandono monstruoso.  Falou-se sobre os monstros clássicos: lobisomens, vampiros, zumbis e suas representações na literatura e no cinema.  Jana Bianchi contou-nos sobre o lobisomem em sua novela, Lobo de Rua (Dame Blanche, 2016) e Paola Siviero, abduzida da plateia para a mesa pelo mediatador Diego, falou-nos sobre os monstros de seu romance O Auto da Maga Josefa (Dame Blanche, 2018), finalista ao Prêmio Argos 2019.[3]  Na fase das perguntas, um rapaz da plateia indagou se um monstro ainda podia ser considerado como tal quando despertava desejo sexual em personagens humanos.  Resisti à tentação de comentar meu conto erótico “Para Agradar Amanda” que trata da relação sexoafetiva de um humano básico com uma lobisomem, mas não à tentação de falar sobre relações sexuais entre humanos e parceiros terrígenas e alienígenas em geral, uma das minhas temáticas favoritas na literatura fantástica.


Mesa "Criaturas Fantásticas": Diego Guerra, Fernando Vugman.

Mesa "Criaturas Fantásticas": Fernando, Jana P. Bianchi, Claudia Dugin.


Mesa "Criaturas Fantásticas": Paola Siviero.

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Ao fim dessa primeira mesa-redonda, regressamos brevemente à pousada e dali seguimos até o supermercado Carlão, próximo à rodoviária de Paraty, onde adquirimos alguns itens essenciais à sobrevivência da vida inteligente tal como a conhecemos: Activia, frutas, água com gás, uma garrafa do tinto Porca de Murça e outra de um espumante da Salton.  Também paramos numa farmácia para comprar silicone e desodorante.

De volta ao nosso lado do rio e à pousada, deixamos nossas compras e regressamos ao centro histórico de Paraty.  Separamo-nos na Rua da Lapa.  Cláudia seguiu para a mesa-redonda “Tecnologia na Educação” na Casa Santa Rita de Cássia e eu para a Casa Fantástica.

Cheguei às 14h00, bem a tempo de assistir o começo da mesa “O Medo como Inspiração: Horror e mistério na literatura nacional”, com mediação do escritor e acadêmico Oscar Nestarez e participação dos autores Carol Mancini e Hedjan Costa, do cineasta e autor Marcos Brito, do editor e roteirista de HQ Raphael Fernandes, e do livreiro e editor Cid Vale Ferreira.  Desta vez só consegui me sentar lá atrás.  Não que essa mesa estivesse mais concorrida do que a matinal, só que não consegui chegar nos cinco minutos antes regulamentares.  Os seis componentes da mesa – mediador e participantes – cultistas praticantes do horror literário em suas diversas manifestações, falaram das motivações e terrores noturnos que os atraíram para o gênero.  Também se falou, e muito, dos horrores da vida real, o que não deixa de ser um clichê em palestras e mesas sobre o horror literário.  Brito falou em como transformar temores pessoais em narrativas ficcionais.  Na fase das perguntas, os participantes explicaram o que um autor de horror inédito precisa fazer para ser publicado.


Mesa "Medo como Inspiração": Marcos Brito, Oscar Nestarez, Carol Mancini.

Mesa "Medo como Inspiração": Carol, Raphael Fernandes,  Hedjan Costa.


Mesa "Medo como Inspiração": Cid Vale Ferreira, Marcos Brito.





Finda a primeira mesa vespertina, bati um bom papo com Cláudia Dugim, autora do conto “Gente é Tão Bom”[4], sobre narrativas de literatura fantástica em geral e sobre um conto intrigante que ela escreveu, “O Desejo de Ser Como um Rio”.  Fiquei tão curioso que, chegando à nossa pousada, entrei na Amazon Brasil e comprei a coletânea em e-book O Desejo de Ser Como um Rio e Outras Histórias.[5]

Também cumprimentei minha amiga Ana Lúcia Merege que acabara de chegar à Casa Fantástica.

Mais tarde, travei conhecimento com o autor e publisher da Luva, Vitto Graziano, carioca residente no Méier, bairro em que nasci, que me falou, dentre várias coisas divertidas, algumas impublicáveis, da concepção de um romance “round-robin”, Rio Vermelho (Luva Editora, 2018), escrito por nada menos do que vinte e três autores, dentre os quais, Fábio Fernandes, Oscar Nestarez e Hedjan Costa.  Comprei-o de imediato.  Curiosíssimo para ler.

Cláudia me reencontrou na Casa Fantástica para almoçarmos.  Conseguimos enfim almoçar no Celeiro, um restaurante simpático bem próximo à sede da literatura fantástica brasileira na FLIP 2019.  Nossa mesa foi posta em plenos seixos rolados, bem no meio da Rua do Comércio, com direito a cachorro metendo o nariz na comida de nossos pratos e tudo o mais.  Mas, enfim, relaxa que é FLIP time, baby!  Pedi carne assada com molho negro (antigo molho Madeira) com purê de mandioquinha (vulga batata baroa), enquanto Cláudia degustou um risoto de filé mignon com shitake.  Se a comida não era farta, estava gostosa e os preços pareceram convidativos, ao menos pelos padrões de FLIP.

Do Celeiro, seguimos pela Rua Santa Rita até a igreja homônima, famosa por só possuir uma torre e por se situar junto à cadeia colonial da cidadezinha.  Como eu havia esquecido meu casaco na pousada e, às 17h30, já fazia um frio danado em Paraty (de minha perspectiva de carioca, é lógico), regressamos à Paisagem e por aqui ficamos.  Perdi as mesas-redondas “Misticismo e Literatura: O encontro da arte com o oculto” (17h00) e “O Futuro das Editoras Independentes” (19h30).

À noite no quarto, pedimos misto-quente e queijo-quente de lanche noturno, regado à Porca de Murça.  Mais tarde, li os outros dois contos da coletânea da Cláudia Dugim.  Em seguida, comecei a leitura da novela Lobo de Rua, da Jana Bianchi.

Pousada Paisagem, Paraty, 27 de julho de 2019 (sexta-feira).





Dia 04 — 201907130830P7 — 21.554 D.V.

“And the Argos goes to…”

[Priscilla Lhacer ao anunciar o vencedor na categoria Melhor Romance]



Acordamos hoje um pouco mais tarde.  Porém, mesmo assim, lá pelas 07h00 eu já havia concluído a leitura da edição digital do jornal.  Nesta manhã, havia os iogurtes Activia para quebrar nosso jejum ainda no quarto, antes de descermos para o lauto café da manhã no restaurantezinho à varanda da pousada.

O desjejum de hábito.  Ovos mexidos com fatias de lombo canadense.  Minirrabanadas, café preto e suco de laranja.  Hoje observamos vários passarinhos no gramado em torno da piscina da pousada, inclusive, uma saíra e um sabiá-laranjeira.

Às 08h30 já estávamos de volta ao 221 e eu comecei a planejar alguns detalhes da cerimônia de entrega do Prêmio Argos.  Relacionei os representantes dos finalistas que não poderão comparecer.  Até hoje de manhã, dos nove finalistas, apenas três compareceriam, enquanto seis nomearam representantes.  Contudo, hoje cedo li uma mensagem privada pelo FB do finalista na categoria Melhor Antologia, Nelson de Oliveira, antologista da Fractais Tropicais, avisando que sua carona e hospedagem haviam furado e que ele não poderia comparecer.  Pedi-lhe que designasse um representante com urgência e ele indicou Cláudia Dugim, já designada como representante de Ricardo Labuto Gondim, finalista na categoria Melhor Romance, com Corrosão (Caligari, 2018), e do Marcelo Galvão, finalista na categoria Melhor Conto, com “Sombras no Coração”.  Assim, Cláudia representará finalistas nas três categorias do Argos.

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Envolto com os preparativos da cerimônia de entrega do Argos, acabei perdendo a mesa-redonda matinal, “Literatura Juvenil: Como formar leitores (fantásticos) no século XXI”.

Saímos daqui da pousada por volta de quinze para o meio-dia.  Resolvemos adotar um caminho alternativo, cruzando a ponte de pedestres próxima à nossa base, em vez de seguir pelo calçadão do rio até a Rua do Comércio.  Ganhamos um bom tempo, pois, embora tivéssemos que cruzar uma via desprovida de calçada, chegamos ao quarteirão da Comércio que abriga a Casa Fantástica sem precisar enfrentar o furdunço que tomou conta daquela via histórica neste sábado.

Visitamos a cadeia colonial (transformada numa casa de cultura durante a FLIP) e o cais antes de nos dirigirmos à Casa Fantástica.  Pelo caminho, como ninguém é de ferro, fizemos uma parada técnica junto à sorveteria Pistache para tomar um sorvetinho esperto.  Nesse percurso, descobrimos o restaurante Banana da Terra, que agora se situa em um sítio mais nobre da Rua do Rozário, em relação ao seu endereço do ano passado.  É isto ou então simplesmente me enganei quanto à localização de que me lembrava do ano passado, hipótese que, considerando meu Alzheimer avançado, não é de todo improvável.

Uma vez na Casa Fantástica, encontramos nosso amigo Ricardo França, que chegou à FLIP 2019 numa viagem de bate-e-volta, devendo regressar hoje à noite para o Rio.  Conversamos um pouco com o França, até que ele saísse para almoçar com a Ana Merege e a Cláudia Dugim.  Aproveitei o ensejo para convidar a Ana Merege para entregar o Argos na categoria Melhor Conto.

Também revi minha amiga Ana Rusche e ainda o Paulo Vinicius, do Ficções Humanas, com quem bati bons papos e tirei fotos para postar no Instagram, com apoio dos ensinamentos providenciais do Raphael Fernandes.

Enfim, às 14h00 se iniciou a mesa-redonda “Crítica Literária x Influenciadores: Conflito ou convergência?”, com mediação da Clara Madrigano e participação de Filipe Laredo, publisher da Empíreo; do professor e escritor João Peçanha; do influenciador digital Paulo Vinicius; e da escritora e crítica Ana Rusche.  Se fosse necessário definir essa mesa numa única palavra, essa seria “pedaçuda”.  Como não é esse o caso, falarei um pouquinho sobre a mesa mais “tretada” da Casa Fantástica 2019.  O estímulo para propor essa mesa foi a treta surgida em fins de 2018, quando um autor emergente enviou um livro recém-lançado para ser resenhado por uma influenciadora digital – referida pela mesa simplesmente como “italiana”[6] – e, escandalizado com o preço cobrado pela profissional, em vez de simplesmente declinar da proposta, resolveu colocar a boca no trombone, divulgando a tabela de preços da moça.  Daí, a discussão se iniciou e seguiu firme, indo desde a pretensa rivalidade, até a possível convergência entre a crítica especializada dos cadernos literários dos jornais e revistas especializadas e os ditos influenciadores digitais.  Paulo Vinicius afirmou que cobra pelas resenhas, mas que deixa a critério do autor se as publica ou não.  Filipe Laredo comentou sua experiência como publisher em relação aos blogueiros e influenciadores.  Na fase das perguntas e manifestações, a plateia participou intensamente, levantando diversas questões quanto à ética de se pagar por essas críticas, sendo brilhantemente ripostadas pelos integrantes da mesa.





Finda essa mesa, antes de sair para o almoço, fechei algumas questões sobre a cerimônia do Argos com a Priscilla Lhacer e a convidei para entregar os diplomas na categoria Melhor Romance.

Saindo da Casa Fantástica, enfrentamos o engarrafamento de pedestres na Rua do Comércio até chegar ao restaurante Dolce Vita, onde já havíamos almoçado no sábado da FLIP 2018.  Hoje pedimos gnocchi ao molho de tomate com mozzarella de búfala e manjericão, regado por uma garrafa do tinto Porca de Murça e outra de água com gás.

Do restaurante, regressamos à Paisagem para pegar os troféus e certificados do Argos.  Com isto, perdi a mesa-redonda “História em Quadrinhos: Ascensão da nona arte no Brasil”.  Ah, o dever.  Sempre há que se cumprir com o dever.  Não permanecemos muito tempo na pousada e regressamos à Casa Fantástica por um atalho via ponte de pedestres sobre o rio Perequê-Açú que nos deixou tão próximo à sede da literatura fantástica brasileira na FLIP quanto o caminho escolhido pela manhã.

Uma vez lá, posicionamos os troféus e certificados à mesa em torno da qual receberíamos os finalistas, de forma que ocultasse os nomes dos finalistas e vencedores.

Minha amiga do Vórtice Literário, Juliana Berlim, apareceu nesta hora na Casa Fantástica.  Infelizmente, não houve oportunidade de tirarmos uma foto junto com o Ricardo França, outro companheiro do Vórtice.

GL-R e Ricardo França.

GL-R e Antonio Luiz M.C. Costa.

Apreensão antes da Cerimônia do Argos.

Juliana Berlim e GL-R.




Priscilla havia combinado comigo e com o Antonio Luiz que apresentássemos um panorama breve da ficção científica brasileira no século XXI.  Antonio falou sobre a diversidade de autores e narrativas nessas duas primeiras décadas.  Eu discorri sobre o boom da literatura fantástica brasileira nas duas últimas décadas e do predomínio relativo do horror e da fantasia sobre a ficção científica.

Em seguida, dei início à cerimônia do Argos 2019, narrando a história da premiação, com ênfase ao hiato de oito anos entre a primeira encarnação do prêmio (2000-2003) e a atual (2012-2019).  Aproveitei o ensejo para lembrar os presentes de que a continuidade do Argos dependerá das decisões da futura diretoria do Clube de Leitores de Ficção Científica.  Quem sabe não inspirei um certo senso patriótico pela causa no espírito da garotada?

Daí, passei à entrega da premiação na categoria Melhor Antologia.  Em primeiro lugar, anunciei a finalista 2084: Mundos Cyberpunk (Lendari), organizada pela Lídia Zuin, cujo certificado foi recebido pelo Mário Bentes.  Mário falou algumas palavras sobre a gênese da antologia.  Então, anunciei a finalista Aqui Quem Fala é da Terra (Plutão), organizada por André Caniato & Jana Bianchi.  Ambos compareceram para receber o diploma e proferiram um breve discurso conjunto de agradecimento.  Aproveitei a oportunidade para declarar que a Comissão Organizadora do Argos considera todos os nove finalistas vencedores do certame 2019.  Por fim, anunciei o vencedor da categoria: a antologia Fractais Tropicais (SESI-SP),organizada pelo Nelson de Oliveira.  Cláudia Dugim recebeu o troféu e o diploma em nome do Nelson que, devido à mudança de planos de última hora, não enviou discurso de agradecimentos.

Categoria Melhor Antologia.

Mário Bentes recebe o Argos em nome de Lídia Zuin por 2084: Mundos Cyberpunk (Lendari).

Jana Bianchi e André Caniato recebem o Argos por Aqui Quem Fala é da Terra (Plutão).

Claudia Dugin recebe o Argos em nome de Nelson de Oliveira por Fractais Tropicais (SESI-SP).





Para anunciar os vencedores da categoria Melhor Conto, convidei minha amiga, Ana Lúcia Merege, vencedora deste mesmo certame em anos anteriores.  Ana anunciou o finalista “A Noite Não me Deixa Dormir”, da Camila Fernandes, representada pelo Diego Guerra que, à ausência de um discurso da finalista, improvisou algumas palavras laudatórias de sua própria lavra.  Então, Ana Merege anunciou o finalista “Entre as Gotas de Chuva, Encruzilhada”, do Cirilo Lemos, representado pela Jana Bianchi, que leu o belo discurso de agradecimento enviado pelo finalista.  Enfim, Ana anunciou o vencedor da categoria, “Sombras no Coração”, de Marcelo Galvão, também representado pela Cláudia Dugim, que leu as palavras generosas do discurso de agradecimento do vencedor.

Categoria Melhor Conto: Claudia Dugin recebe o Argos em nome de Marcelo Galvão por "Sombras no Coração".




E, para anunciar os nomes dos vencedores da categoria Melhor Romance, convidei a fada-madrinha da literatura fantástica brasileira na FLIP, Priscilla Lhacer.  Ela anunciou o romance finalista Corrosão (Caligari), do Ricardo Labuto Gondim, igualmente representado pela representante sênior, Cláudia Dugim, que leu as palavras de agradecimento enviadas pelo finalista.  Daí, Priscilla anunciou o finalista O Auto da Maga Josefa (Dame Blanche), da Paola Siviero, que agradeceu, emocionada, falando que esse foi seu primeiro romance publicado profissionalmente.[7]  Finalmente, Priscilla anunciou o vencedor da categoria: A Mão que Pune: 1890 (Caligari), de Octavio Aragão.  Na ausência de um discurso de agradecimento, improvisei algumas palavras, sobre essa continuação da novela A Mão que Cria (Mercuryo, 2006), aproveitando para introduzir o conceito de ficção alternativa à plateia.

Categoria Melhor Romance: Claudia Dugin recebe o Argos em nome
de Ricardo Labuto Gondim por Corrosão (Caligari).

Paola Siviero recebe o Argos por O Auto da Maga Josefa (Dame Blanche).

GL-R recebe o Argos em nome de Octavio Aragão por A Mão que Pune: 1890 (Caligari).




Finda a parte formal da cerimônia de premiação, finalistas e seus representantes posaram para fotos dos presentes.

Logo depois, postei no grupo de WhatsApp do CLFC os títulos dos três trabalhos vencedores.

Vencedores do Argos 2019 e seus representantes.



*     *      *



Encerrada a cerimônia do Argos, passamos à área dos estandes de vendas de livros da Casa Fantástica.  Ali travei contato com Renata Assis, que me pediu para falar sobre a trama de meu romance de ficção científica, Octopusgarden (Draco, 2017), detentora do Argos 2018 na categoria Melhor Romance, solicitação que atendi com prazer.  Para minha alegria, Renata adquiriu um exemplar autografado desse far future.

Acertei as contas de minhas vendas de livros com Raphael Fernandes, responsável pelo estande da Draco, com Priscilla e Mário Bentes.  Juliana Berlim comprou um exemplar da minha coletânea Histórias de Ficção Científica de Carla Cristina Pereira.

Despedimo-nos dos amigos e caminhamos pela última vez pela via crucis da Rua do Comércio até a ponte que cruza para o outro lado do rio.  Uma vez ali, dirigimo-nos à pastelaria na qual estávamos de olho cobiçoso desde a quarta-feira passada, pelo fato de que o estabelecimento prometia pastéis de trinta centímetros de comprimento.  Chegado o grande dia, pedimos dois pastéis para viagem: calabresa com catupiry para mim e queijo com banana para a Cláudia.

*     *      *



Uma vez no quarto 221, degustamos nossos pastéis, ainda quentinhos, com o espumante moscatel da Salton que compramos ontem no Carlão, enquanto conferíamos as repercussões da entrega do Argos nas redes sociais.

Findos os folguedos, dediquei-me à escrita desta crônica e à leitura da novela Lobo de Rua, da Jana Bianchi.

Amanhã partiremos de Paraty pela manhã, perdendo as atividades dominicais da Casa Fantástica.

Pousada Paisagem, Paraty, 13 de julho de 2019 (sábado).





Dia 05 — 201907140830P1 — 21.555 D.V.


“Take the Long Way Home.”

[Supertramp]



Neste domingo acordamos mais tarde.  Porém, não tão tarde, pois precisamos fazer as malas e o nosso check-out da pousada.  Assim, levantamos por volta das 06h30, baixamos a edição digital do jornal para nossos tablets, arrumamos o grosso das malas e descemos para o desjejum.

Na volta do café da manhã, já adiantamos o check-out e agendamos nosso táxi na recepção.  Regressamos ao 221 para fechar as malas e, quinze minutos mais tarde, estávamos de volta à recepção.

Nosso táxi marcado para às 09h00 apareceu às 09h05 em ponto.  Horário mais do que adequado, pois a viagem curta até a rodoviária levou menos de cinco minutos.  Embarcamos nossas malas no bagageiro do ônibus e embarcamos às 09h15.  Com partida prevista para às 09h20, o busão partiu com pontualidade paratiense às 09h25.

Apesar de suas três paradas e três entradas em condomínios de casas ao longo da Rio-Santos, nossa viagem durou cinco horas cravadas.  Só vinte e cinco minutos a mais do que a viagem de ida, não obstante o desvio por ruelas estreitas, para contornar o trecho em obras da Avenida Brasil, já próximo ao Terminal Rodoviário Novo Rio.  As três paradas se deram nas rodoviárias de Angra dos Reis (onde embarcaram cinco passageiros), de Itaguaí (onde desembarcaram sete) e numa lanchonete de beira de estrada à altura da cidadezinha de Itacuruçá.  Os condomínios visitados, sem qualquer embarque ou desembarque de passageiros, foram os das usinas nucleares Angra I e II, e o dos funcionários do estaleiro Verolme (que agora possui outro nome).  Durante o início da viagem, li a edição digital de O Globo.  Findo o jornal, passei à leitura da novela Lobo de Rua.   Finda a leitura, meus dois grãos de sal: gostei muito da trama e do jeito que a Jana contou a história, mas considerei o fim um tanto ou quanto frustrante.  Enfim, concluída a novela, comecei a ler o romance da Paola Siviero, finalista do Argos 2019, O Auto da Maga Josefa.

Ao desembarcar na Novo Rio às 14h20, resgatamos nossas malas e tomamos um táxi pré-pago com bandeira 2 cuja corrida saiu por R$ 53,00.  Na altura do elevado Paulo de Frontin pegamos um bruto engarrafamento, por causa de um acidente quase à entrada do túnel Rebouças.  Apesar dos percalços, chegamos em casa incólumes e com o sentimento do dever cumprido.😉

Resumo da ópera: embora menos intensa do que a experiencia da Casa Fantástica 2018, nossa estada em Paraty para a FLIP 2019 foi mais relaxante e menos estressante.  Não obstante as responsabilidades de proferir a palestra de abertura e presidir a cerimônia de entrega do Prêmio Argos 2019, desta vez houve tempo para almoçar em ritmo slow food, apreciar uns poucos pontos turísticos do centro histórico e caminhar pelas belas tardes ensolaradas deste feriadão flipeiro.

Agora, é torcer para que no ano que vem haver mais Casa Fantástica na FLIP 2020.

Jardim Botânico, Rio de Janeiro, 14 de julho de 2019 (domingo).




Participantes:

Ana Lúcia Merege.

Ana Rusche.

André Caniato.

Antonio Luiz M.C. Costa.

Berenice Young.

Carolina Mancini.

Ceres Postali.

Cid Vale Ferreira.

Clara Madrigano.

Cláudia Dugim.

Cláudia Pucci Abrahão.

Cláudia Quevedo Lodi.

Diego Amaro.

Diego Guerra.

Evelyn Postali.

Felipe Sali.

Fernando Vugman.

Filipe Laredo.

Gerson Lodi-Ribeiro.

Hedjan Costa.

Jana P. Bianchi.

João Peçanha.

Juliana Berlim.

Kyanja Lee.

Lucas Rafael Ferraz.

Maria José Gouveia (Italiano).

Marcos Brito.

Mário Bentes.

Oscar Nestarez.

Paola Siviero.

Paulo Vinicius (Ficções Humanas).

Priscilla Lhacer.

Raphael Fernandes.

Renata de Assis.

Ricardo França.

Rosana Rios.

Sabine Mendes Moura.

Sarah Helena.

Thiago Lee.



[1].  À noitinha, em nosso quarto na pousada de Paraty, depois de várias tentativas infrutíferas, logrei deletar as cópias das notas.  No entanto, o bug da geração espontânea de notas continua lá.  Só que agora, com três comandos rápidos, consigo deletar todas elas em questão de segundos.
[2].  Meu conto “Coleira do Amor” foi republicado nessa antologia.
[3].  À noite, de volta à pousada, adquiri os e-books do Lobo de Rua e d’O Auto da Maga Josefa.  Aos quais atribuí prioridade de leitura triplo zero.
[4].  Publicado na antologia Trasgo: Ficção Científica e Fantasia (Trasgo, 2017).
[5].  Já li o conto que empresta seu título à coletânea hoje à tardinha.  Gostei muito.  Cláudia conseguiu fazer mais com menos.
[6].  Termo que me remeteu de imediato às delações da Lava-Jato.  Mas, deixemos essas questões jurídico-políticas de lado, pois nosso negócio é literatura fantástica.
[7].  Fiz questão de mencionar que O Auto da Maga Josefa foi o grande vencedor na categoria Melhor Romance do prêmio André Leblanc deste ano.  O Leblanc é a outra grande premiação da literatura fantástica brasileira.

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