domingo, 15 de abril de 2012

Clinton in rio 2012



201204151055P1    18.909 D.V.

 “Passo ao seu poder as atas originais redigidas pelas mãos sagradas de nossos Pais Fundadores.”
[Presidente Eduardo Torres, entregando a documentação do CLFC ao Lord Protector Clinton Davisson]


“O CLFC espera que cada um cumpra o seu dever.”
[Capitão Mallmann, em franca inferioridade numérica, prestes a engajar contra o inimigo]



Diversos membros ativos e notórios da velha guarda da FC carioca se reuniram ontem à noite no Estação Gourmet, na esquina de Mena Barreto com Rua da Passagem em Botafogo para comemorar a primeira visita mais ou menos oficial de Clinton Davisson ao Rio após sua eleição para presidente do Clube de Leitores de Ficção Científica.

Neste sentido, o ex-presidente Eduardo Torres fez questão de guardar um lugar a seu lado para o Presidente Clinton (não o Bill), pois planejava promover a transferência oficial da documentação da instituição para as mãos do novo hierarca.

Edu Torres e Clinton Davisson - Passagem das Atas Sagradas.


Claro que a efeméride da visita desse líder carismático serviu de pretexto para mais uma noitada de revelações etílicas, algumas impublicáveis, que terei a honra de divulgar aqui.

*     *      *



Quando cheguei ao Estação Gourmet com pontualidade carioca (cinco a dez minutos de atraso em relação ao horário marcado das 19:00h), já estavam em nossa mesa tradicional Eduardo Torres e Carlos Eugênio Patati.  Conversamos por alguns minutos sobre as vicissitudes de se organizar antologias de literatura fantástica no esquema de submissão pública.

Quinze minutos mais tarde, chegaram praticamente juntos Max Mallmann, Miguel Carqueija e Raul Avelar.  Esse último chegou munido e animado com os subsídios para a palestra que deverá ministrar em breve sobre o arquifamoso Simpósio de Ficção Científica que se deu aqui no Rio em 1969, que ele assistiu integralmente, inclusive, coligindo autógrafos de diversos monstros sagrados do gênero, como Arthur C. Clarke, Poul Anderson, A.E. van Vogt, Robert A. Heinlein e outros menos cotados.  A fim de fornecer apoio de pesquisa para a palestra, emprestei a nosso decano a edição bilíngue dos anais do simpósio.  Raul nos contou que logrou adquirir seu próprio exemplar através de um sebo virtual, mas que ainda não o tem em mãos.

Em seguida, chegaram o casal Ana Cristina Rodrigues e Estevão Ribeiro e, logo depois, Sylvio Gonçalves.  Clinton Davisson assustou os clientes do restaurante ao adentrar no recinto bradando palavras de ordem e empunhando um sabre de luz de dimensões avantajadas e, ainda por cima, aceso e barulhento.  Repleta de vergonha alheia, Ana Cris cogitou se esconder sob a mesa, mas, no fim, cerrou os maxilares e resistiu condignamente como uma boa menina.  Mais tarde, vestindo uma camisa vermelha do The Big Bang Theory (Bazinga!), Max Mallmann posou para fotos brandindo o vigoroso sabre Jedi.

Sheldon Max Cooper, Cavaleiro Jedi.


Bem mais tarde apareceram Jorge Pereira, Ricardo França e Rafael “Lupo” Monteiro.

Aproveitando a presença motorizada de Clinton, vários sócios trouxeram livros e demais memorabilia para a mostra que rolará em paralelo com o lançamento da antologia Space-Opera em Macaé na próxima quarta-feira.  Sem a menor intenção de fazer trocadilho, prometi ao presidente que levaria oito Gostosas comigo para o evento.  Segundo Mr. President, o lançamento macaense seria prestigiado pela elite política local, com direito a jantar de gala em restaurante chique e presença da vice-prefeita.  Como dizem nossos amigos do fandom português, “a ver vamos”.

Desta vez, à bem de um esboço de dieta, abri mão do quase irresistível rodízio de pizzas e crepes do Estação, resistência heróica bebemorada com duas garrafas de um carmenère chileno honesto que dividi com o Edu, como parte de nossa contribuição ao boicote aos vinhos gaúchos por causa de seu projeto de lei espúrio de sobretaxar os vinhos importados — uma espécie de reserva de mercado, à semelhança daquela que prejudicou tremendamente a indústria de microcomputadores no país.  A propósito, a jovem lourinha que faz as vezes de maître no estabelecimento veio à nossa mesa e nos prometeu que a qualidade e a variedade da carta de vinhos do Estação Gourmet está prestes a sofrer uma melhora substancial.  Como diria o Ancelmo Góis, “vamos torcer, vamos cobrar”.

Muito mais tarde, à guisa de saideira, degustei duas doses de Cointreau.  Ainda convalescente de sua cirurgia, desta vez nossa heroína Ana Cris não pôde nos acompanhar em nossa aventura enoetílica.

Aproveitei a presença de meu afilhado e guru para questões cinéfilas, Sylvio Gonçalves para me aconselhar quanto às novas tecnologias de gravação e armazenamento de mídias audiovisuais, uma vez que os dois gravadores de DVD aqui de casa estão começando a dar de si e devemos visitar New York nas próximas férias.  A ideia básica é comprar um aparelho com disco rígido parrudo capaz de armazenar e editar filmes e séries.  Sylvio ficou de fazer uma pesquisa para mim.

Mais ou menos por essa hora, sem abandonar a temática Star Wars, nosso presidente pândego nos surpreendeu com uma máscara do Senador Palpatine, bastante realista, artifício que levou seus súditos atemorizados a aclamá-lo como Lord Protector do CLFC.  Aliás, Clinton revelou que o lançamento macaense da próxima quarta-feira contará com a presença de um grupo de fãs performáticos com fantasias de stormtroopers imperiais.

Presidente Clinton, Lord Protector do CLFC.


Ante a exibição dos clássicos autografados de Raul Avelar, lembrei de contar para meus amigos uma novidade velha de quinze anos: Stella Alves de Souza, tradutora de clássicos da ficção científica anglo-saxã publicada pela Expressão e Cultura na década de 1970 — como, por exemplo, O Enigma de Andrômeda de Michael Crichton; 2001, Odisseia no Espaço de Arthur C. Clarke; Poeira de Estrelas e Os Nove Amanhãs, ambos de Isaac Asimov — é minha clínica geral há quase um quarto de século.  Após a descrença inicial e os elogios pela qualidade das traduções, tomei um esporro dos amigos por não ter revelado o assunto há mais tempo.  Em realidade, já estava para falar disso há anos, quiçá décadas, mas sempre me esquecia...

Quando o novo presidente do CLFC aventou a possibilidade de escalar a palestra de nosso decano sobre o Simpósio de Ficção Científica ser ministrada em Rio das Ostras, uma cidadezinha simpática do interior fluminense, Edu replicou que o evento devia se dar no Rio de Janeiro.  Daí ativamos Miguel Carqueija para sondar a direção do SESC-Tijuca sob a possibilidade de fazermos a palestra lá, à semelhança de vários eventos lá realizados há coisa de dez anos, como o lançamento carioca da antologia erótica Como Era Gostosa a Minha Alienígena! e a cerimônia de entrega do Prêmio Argos 2003.  Mais tarde, depois da partida de Carqueija, Ana Cris aventou a hipótese de levar a palestra para a Casa da Leitura de Laranjeiras, um novo espaço que se abre para as tertúlias fantásticas cariocas.

Carlos Patati, Raul Avelar, Miguel Carqueija.


Edu Torres, Clinton, Ricardo França, Jorge Pereira, Max Mallmann.


Por falar em Argos, destrinchamos impiedosamente a proposta de ressuscitar a premiação pela diretoria atual do CLFC.  Os três ex-presidentes presentes à mesa foram unânimes em louvar a ideia em conteúdo e criticá-la em sua forma.  Julgamos o número de categorias excessivo, inclusive, com excrescências desnecessárias, como, por exemplo, a categoria de HQ, uma vez que o Argos — pelo menos em sua formulação original — foi concebido como premiação literária e também pela existência de outras premiações e certames que contemplam especificamente as HQ.  Alertei o presidente quanto à necessidade de combater a prática dos lobbies, sob risco de desmoralizar esta nova versão da premiação.  Já Ana Cris alertou-o para tomar cuidado com os conselheiros que ela apelidou “engenheiros de obras prontas”, sempre prontos & ávidos em apresentar centenas de sugestões aparentemente úteis, mas que, na hora de se apresentarem como voluntários para concretizá-las, são céleres em dar o celebre “passo atrás” e não tardam a correr do pau.  Ana citou os respectivos bois e vacas, cujos nomes declinarei de registrar aqui por questões óbvias.

Confirmei com a editora Ana Cris que meu romance de ficção científica Quando Deus Morreu deverá sair ainda este ano pela Llyr Editorial, provavelmente na Fantasticon 2012.  Informei oficialmente ao Edu que o protagonista é seu homônimo, deixando-o deveras preocupado com o que tramei para o adolescente terrestre em meio às beldades asteroidais.  De todo modo, prometi-lhe que seu alter ego não seria seviciado com requintes de crueldade barreirianas.

Lá pelas tantas, com o teor alcoólico médio já bastante elevado nas correntes sanguíneas dos presentes, eis que Estevão Ribeiro recebe um convite para comparecer a uma festa dançante de sexagenárias que rolava no segundo andar do Estação Gourmet.  Considerando o risco severo de assédio sexual, na ausência temporária de nosso Lord Protector — que manobrou em frenética retirada estratégica, ocultando-se no toalete — fui forçado a assumir o comando, nomeando os operativos voluntários Capitão Mallmann e Tenente Ribeiro para uma expedição autopunitiva ao segundo piso do estabelecimento.  A missão consistiu em executar um rápido reconhecimento do terreno.  Alertei-os para que evitassem atos heróicos desnecessários capazes de resultar no sacrifício de suas vidas e/ou virtudes.  Despachei também o Alferes Monteiro como observador, determinando que operasse a partir de uma posição recuada segura e que batesse em retirada imediatamente se o pior acontecesse os nossos bravos combatentes que avançaram de peito aberto e braguilhas cerradas para confrontar o desconhecido.  Lamentei muitíssimo não dispormos àquela hora fatídica das tais armaduras stormtroopers cuja aquisição fora promessa de campanha de nosso antigo presidente e atual Lord Protector.  Após um alarme falso, acabou que não sofremos baixas.  Primeiro regressou o Alferes Monteiro, reportando ter avistado nossos oficiais engajados com as forças inimigas.  Contudo, ao que parece, tudo não passou de uma sagaz manobra desviacionista empreendida pelo Capitão Mallmann, que logrou recuar para as nossas linhas em segurança e com sua honra intacta.  Mais uma missão cumprida por nossos jovens heróis, com honra e bravura acima e além do dever.

Por volta de quinze para meia-noite deixamos o estabelecimento.  Embora algo tardio, tal hora não chega perto de nossos recordes.  Ao que parece, não somos mais os mesmos...J

Jardim Botânico, Rio de Janeiro, 15 de abril de 2012 (domingo).




Participantes:

Ana Cristina Rodrigues
Carlos Eugênio Patati
Eduardo Torres
Estevão Ribeiro
Gerson Lodi-Ribeiro
Jorge Pereira
Max Mallmann
Miguel Carqueija
Rafael “Lupo” Monteiro
Raul Avelar
Ricardo França
Sylvio Gonçalves

6 comentários:

  1. Show...Com certeza foi um ótimo evento! Clinton demostrou ser um perfeito Presidente para o CLFC. Um abraço! - Boz

    ResponderExcluir
  2. Problema nenhum, o chope estava aguado e quente.
    Ass.: Flávio, o eterno despeitado

    ResponderExcluir
  3. Contei a todos que ia, *EU* mesmo não via a hora de ir e no último momento fui abduzido por deveres familiares simplórios. Queria muito ter ido e prestigiado esse panteão literário |(

    ResponderExcluir
  4. Poxa, parece ter sido um superencontro! Pena que eu estou tão longe =( Mas ainda reuniremos toda essa turma boa =D

    ResponderExcluir