terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Maratona Steampunk na Viriato Corrêa


Estive na noite e madrugada do sábado passado, 27/11, na Biblioteca Temática Viriato Corrêa (Rua Sena Madureira 298, Vila Mariana, São Paulo, SP) para participar da Fantástica Jornada Noite Adentro III, desta vez dedicada ao subgênero steampunk.

Encontrei minha amiga Giseli Ramos na estação de metrô Vila Mariana para comermos umas empadas antes de irmos para a Viriato Corrêa. Conforme prometido, as empadas eram mesmo gostosas. Pelo menos a empada de gorgonzola que comi estava deliciosa. Durante a refeição, Gi se dirigiu ao toalete para se compor a caráter para o evento performático de que participaríamos. O empenho e a preocupação dela eram tantos que comecei a ficar eu mesmo preocupado: afinal, não trouxera fantasia...

Regressando à Viriato Corrêa, encontramos o organizador Sílvio Alexandre, que nos cumprimentou efusivamente e nos colocou a par das últimas novidades do fandom paulistano.

Pouco depois chegaram Romeu Martins & Ludimila Hashimoto, Cristina Lasaitis e Camila Fernandes, ambas decididamente a caráter, e o editor da Tarja Gianpaolo Celli.

Romeu puxou um exemplar do Anno Dracula, romance emblemático de ficção alternativa recém-lançado em português numa edição primorosa da Aleph. Aproveitei para brincar com ele, afirmando que ele estava parecidíssimo com o Kim Newman, o autor do romance. Ele me perguntou sobre o lançamento de meu primeiro romance, Xochiquetzal e eu lhe falei que o livro deverá ser posto à venda ainda este ano, mas que, por questões de estratégia de mercado, a Draco decidiu só fazer o lançamento oficial em março de 2010.

Romeu questionou minha definição abrangente de steampunk, que inclui linhas históricas alternativas que abarcam avanços tecnológicos significativos a serviços de formações sociais arcaicas. Replicou que, por essa definição, minha noveleta “A Ética da Traição” também seria steampunk. Contra-argumentei que essa não era, mas que uma outra noveleta minha de história alternativa, “Assessor para Assuntos Fúnebres” podia ser enquadrada dentro do subgênero.

Após as tradicionais sessões de fotos, um must do evento graças à caracterização steampunk das meninas, entabulei um bate-papo com o Sílvio e o Gian sobre FC brasileira em geral, mas sobretudo sobre a antologia luso-brasileira Vaporpunk que estou organizando junto com o autor português Luís Filipe Silva. Adiantei que o livro sairá aqui no Brasil pela Draco e que provavelmente consistirá de oito trabalhos: cinco autores brasileiros e três portugueses. Sílvio veio com a ideia de lançarmos a antologia durante a Fantasticon 2010, que deverá se dar por volta de julho próximo.

Cristina, Mila Fernandes, Giseli, eu e Romeu Martins.

Quando eu e Gian papeávamos animados junto à mesa do café, o Sílvio convocou o público presente a ingressar no auditório para dar início a parte oficial do evento. Sentei na terceira fila. O auditório de cerca de cem poltronas estava com metade dos assentos ocupados.

Após o breve discurso de abertura bem-humorado da diretora da biblioteca pública, a atriz Cristiana Gimenes apresentou uma deliciosa leitura crítica com comentários sobre o romance vitoriano de Robert Louis Stevenson, O Estranho Caso do Dr. Jekyll e Mr. Hyde, delineando as nuances do caso de modo a iluminar as reais motivações de Henry Jekyll e tecer uma comparação, a posteriori óbvia, entre a compulsão do médico filantropo e humanitário com o vício em drogas.

Em seguida houve um desfile feminino em que as modelos (provavelmente amadoras, pois algumas possuíam corpos demasiado bonitos e nenhuma era raquítica como as profissionais) vestiam trajes vitorianos, algumas inclusive apenas de espartilhos e corpetes. Algumas das jovens armaram poses mais ou menos ousadas, enquanto outras simulavam timidez condizente ao que imaginamos para moças vitorianas. O desfile foi divertido e despertou a curiosidade do público presente.

Quando a apresentadora da leitura sobre a obra-prima de Stevenson voltou ao palco para uma nova apresentação, um jovem sentou-se ao meu lado esquerdo e se apresentou como sendo Erick Santos, o editor e publisher da Editora Draco, que está se lançando agora ao mercado e com o qual já troquei algumas centenas de e-mails, embora ainda não o conhecesse pessoalmente. Após cumprimentos efusivos de parte a parte, ele me presenteou com um exemplar de cada um dos dois volumes da antologia Imaginários, primeiro lançamento da Draco, que se dará oficialmente amanhã. Sob forma de pocket books, mas com acabamento rebuscado que inclui até orelhas, os dois volumes ficaram muito bonitos. Meu conto de FC hard “Coleira do Amor” abre o primeiro volume. Meus quatro amigos portugueses – Sacha Ramos; Jorge Candeias; Luís Filipe Silva e João Barreiros – aparecem no segundo volume.

Mais umas breves palavras da diretora da biblioteca e Sílvio Alexandre aparece no palco como moderador da mesa-redonda sobre steampunk para convocar os três participantes: eu como escritor desse subgênero e Carlos Felipe “Karl F.” e Bruno Accioly, membros do Conselho Steampunk. Contudo, como Bruno também viria do Rio e seu voo atrasou, Silvio escalou para compor a mesa Cândido Ruiz, outro membro paulistano do Conselho.

À semelhança de vários outros membros do Conselho Steampunk presentes na plateia, meus dois colegas de mesa estavam trajados a caráter.

Sob a moderação segura de Sílvio, a mesa-redonda transcorreu tranquila e animada. De minha parte, após me confessar um herege em relação aos cânones preceituados na Encyclopedia of Science Fiction, do John Clute e do Peter Nicholls, autêntica Bíblia do gênero, procurei conceituar o steampunk como subgênero da história alternativa e afirmar minha definição abrangente desse subgênero, posição que veio à luz justamente nas guidelines da Vaporpunk. Ao contrário, Caó e outros membros da plateia preferiram conceituar como steampunk trabalhos de ficção alternativa, como Anno Dracula e A Mão que Cria, de Octavio Aragão, talvez pela ambientação no todo ou em parte no século XIX ou o clima geral vitoriano. Aliás, a plateia mostrou-se bastante interessada, lançando perguntas e observações, em geral pertinentes, tanto durante as falas dos participantes da mesa quanto após o início oficial da sessão de perguntas.

Com o término da mesa-redonda, ainda ficamos batendo papo por cerca de dez minutos dentro do auditório, antes de partirmos para o coffee break lá fora. Erick Santos aproveitou o ensejo para me apresentar a esposa Janaína, que vem a ser filha do crítico de ficção científica, Antônio Luiz da Costa. Aproveitei para apresentar o casal ao Sílvio Alexandre. Eles se despediram, pois Janaína estava sonolenta, mas devemos nos encontrar amanhã.

No salão anexo ao auditório, dirigi-me ao stand de vendas improvisado no local para adquirir um exemplar da antologia Steampunk, organizada por Gian Celli pela Tarja. Um fã que se apresentou como Dalton afirmou ter lido e gostado muito da antologia Phantastica Brasiliana, que eu e Carlos Orsi Martinho organizamos em 2000 por nossa finada editora, Ano-Luz. Já leu alguns contos do Taikodom no site e perguntou pelos trabalhos inéditos publicados na Crônicas. Mostrou-se vivamente interessado em minha coletânea de história alternativa, Outros Brasis, publicada pela Mercuryo em 2006 e eu lhe expliquei porque já não é tão fácil conseguir exemplares desse livro.

Entabulei outro bate-papo com o Gian Celli e o Sílvio Alexandre, desta vez sobre evolução da linguagem narrativa por conta dos avanços tecnológicos, sobretudo o cinema e a internet. Trocamos experiências como editores com autores recalcitrantes de várias ordens e estirpes.


Herói steampunk em ação!

O táxi me trouxe de volta ao Jaraguá, onde cheguei por volta das 02:15h. Antes de dormir num ambiente climatizado em 18°C, babei as primeiras páginas do meu “Coleira do Amor” na Imaginários 1 e folheei a Steampunk da Tarja.

Hotel Jaraguá, São Paulo, sexta-feira, 27 de novembro de 2009.

Um comentário:

  1. Gerson, mais importante que estar a caráter é o conteúdo! E quem dá palestra certamente se sobressai nesse quesito. ;)
    Mila, a caráter e boiando no Red Bull

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