Lançamento Carioca da Vaporpunk & Xochiquetzal, uma Princesa Asteca entre os Incas
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“Eu tenho direito, sim.”
[Daniel Ribas, afirmando que tinha o direito a autógrafos em todos os (muitos) livros trazidos à mesa]
Deu-se hoje na Livraria Blooks, situada da galeria Unibanco Artplex na Praia de Botafogo o lançamento carioca da antologia Vaporpunk (Draco, 2010) e também, finalmente, o tão aguardado lançamento do meu romance de história alternativa Xochiquetzal, uma Princesa Asteca entre os Incas (Draco, 2009).
Eu e Cláudia chegamos à Blooks mais cedo, por volta das 17:40h, para gravar uma pequena entrevista para o site da livraria e aproveitamos o relativo tempo livre para comprar um guia turístico heterodoxo da cidade de Santiago, escrito pela cronista gaúcha Martha Medeiros. A entrevista foi filmada pelo próprio Toinho Castro, um dos sócios da Blooks e consistiu de duas ou três perguntas sobre a importância do livro e da leitura para o escritor e que, naturalmente, ante minha prolixidade, rendeu panos pra manga e enveredou pelo prazer da leitura lúdica e o futuro do livro e das narrativas ficcionais.
Uma ausência bastante sentida foi a de nosso amigo Max Mallmann, escalado para moderar o bate-papo que eu e Octavio Aragão teríamos sobre história alternativa e steampunk. Com as chuvas torrenciais que acometeram o Grande Rio no início da semana, Max ficou ilhado em Muri, localidade próxima de Nova Friburgo, na Região Serrana do estado. O importante é que Max está bem, embora praticamente incomunicável, pois as estradas para Muri estão interditadas e a comunicação por celular permanece até agora interrompida. Ao que parece, Max conseguiu mandar notícias graças aos préstimos de um radioamador.
Outra ausência importante foi a de Eduardo Torres, nosso bom amigo e atual presidente do Clube de Leitores de Ficção Científica, atualmente em férias com a família na Costa Verde, região não afetada pela tragédia que se abateu sobre o Estado do Rio de Janeiro.
Estiveram presentes na Blooks os fãs eméritos Alexandre César, Rafael “Lupo” Monteiro, Ricardo França, Jorge Pereira e sua namorada Márcia, Daniel Ribas, Flávio e Dino, bem como os autores Ana Cristina Rodrigues, Carlos Eugênio Patati, Lúcio Manfredi e Roberval Barcellos. Lúcio veio acompanhado de duas amigas roteiristas, uma das quais, Ingrid, colocou questões bastante pertinentes quando da abertura para a participação da plateia.
Apesar de enrolado com os filhos em casa, graças à preciosa carona do amigo Amaury, Octavio conseguiu chegar à livraria mais ou menos a tempo, de forma que logramos iniciar nosso misto de mesa-redonda informal e bate-papo metido a besta por volta das 19:30h.
Gerson e Octavio — Jogando por Música.
Diante de uma plateia que girou ao longo do evento entre trinta e quarenta pessoas, após a breve apresentação de Toinho, abri os trabalhos com uma conceituação breve do que vem a ser história alternativa, definindo ponto de divergência, linha histórica alternativa e a distinção entre narrativas de passado alternativo e presente alternativo. Como exemplo concreto — solução mercadológica acertada — citei o enredo do próprio Xochiquetzal, detalhando a divergência, no caso, o naufrágio das caravelas de Bartolomeu Dias e a consequente descoberta da América por Cristóvão Colombo sob bandeira de Portugal, e tentei alinhavar a linha histórica resultante em poucas palavras.
Então passei a palavra ao Octavio que aproveitou o ensejo e apresentou um retrato breve pero assaz elogioso de minha humilde biografia literária, para a seguir falar com pertinência do subgênero steampunk como movimento literário e, sobretudo, cultural, com insights preciosos das vertentes cinematográficas, quadrinísticas e inserções nos mercados anglo-saxão, europeu, luso-brasileiro e japonês.
Em seguida, Octavio me devolveu o microfone para que eu falasse da antologia Vaporpunk. Depois de apresentar o biolog dele, com ênfase no Projeto Intempol e no romance de ficção alternativa A Mão que Cria, contei um pouco sobre a gênese da Vaporpunk, a filosofia de trabalho que possibilitou sua concretização, a opção por noveletas em vez de contos, as decisões de fazer uma antologia luso-brasileira, com dois coeditores, um brasileiro (eu) e outro português (Luís Filipe Silva, o coautor do magnífico Terrarium), enredos que abordassem as consequências dos avanços tecnológicos precoces de qualquer natureza (não se limitando meramente às máquinas a vapor) sobre sociedades brasileiras e/ou portuguesas alternativas.
Também falei um pouco do “Fazenda Relógio”, conto do Octavio que abre a Vaporpunk, para concluir com o anúncio das “inscrições abertas” para a antologia Dieselpunk, que estou organizando para a Draco, com direito à apresentação de nosso motto, “Because steam was not dirty enough!”
Encerrado nosso diálogo informal, declaramos oficialmente aberta a participação da plateia, solicitando que retirassem das bolsas e mochilas os ovos podres, tomates estragados e pedras pontudas que decerto haviam trazido para a ocasião. Bem comportado, nosso querido público felizmente se furtou de nos interpretar ao pé da letra. Muito ao contrário, a plateia interagiu maravilhosamente bem conosco, brindando-nos com dezenas de perguntas e comentários inteligentes, tanto sobre história alternativa e steampunk quanto sobre atividade literária, processos criativos, o futuro da narrativa e opções de mercado. Os amigos Patati, Roberval e Lupo fizeram colocações perspicazes, contribuindo para abrilhantar o evento. Outros presentes na plateia, que eu ainda não conhecia pessoalmente, também tiveram participações interessantes, como numa linha de passe bem ensaiada que se prolongou por mais de uma hora e que só foi encerrada em virtude de nossa agradável obrigação de autografar os livros.
Plateia interessada & participativa!
Durante essa saborosa interação mesa-plateia, surgiram comentários suculentos sobre o excesso de purismo literário de alguns editores e... leitores (com direito a inconfidências sobre fãs brasileiros eméritos e editores franceses idem que, sinto informar, não serão repetidas aqui), as dificuldades de vários ícones da Golden Age com a temática sexual (resistirei bravamente a citar nomes), a questão das narrativas interativas, o futuro do hábito da leitura e muitos papos mais. No meio de toda essa agitação fosfórica, acabei confidenciando off-the-record sobre o interesse de uma editora norte-americana em traduzir a Vaporpunk ser traduzida para o inglês. Contudo, não estou minimamente preocupado a respeito, uma vez que todos os mais de quarenta presentes no bate-papo juraram sigilo incondicional e absoluto. Ao longo de todo o bate-papo procurei incentivar os autores em potencial presentes na plateia a submeter trabalhos para a Dieselpunk, frisando que desta vezes estamos trabalhando com o sistema de submissões abertas a todos e que o conhecimento profundo do funcionamento dos motores a explosão não é, em absoluto, condição necessária para se escrever uma boa noveleta dieselpunk.
Participação de Lupo, Jorge & Márcia em primeiro plano.
Ana Cris perguntou se a Dieselpunk seria a última antologia “punk” que eu organizaria para a Draco. Não resisti à inconfidência (eu e minha língua comprida...) e acabei falando da perspectiva de lançarmos a Solarpunk em 2012. Aliás, como desgraça pouca é bobagem, também confessei meu sonho de publicar uma nova antologia de ficção científica erótica, uma espécie de Como Era Gostosa a Minha Alienígena II, título provisório, Uma Alienígena em Minha Cama. Meu amigo Lúcio Manfredi ficou empolgadíssimo com a perspectiva. Rafael “Lupo” também não se mostrou indiferente...
Os autógrafos em si foram um show à parte. Ainda não temos ideia de quantos Xochiquetzal e quantas Vaporpunk foram vendidos, mas sei que nunca concedi tantos autógrafos quanto esta noite, impressão talvez corroborada pelo fato de que muitos dos presentes compraram ambos os livros. No entanto, um fator sintomático é que eu nunca havia dado tantos autógrafos para pessoas que eu ainda não conhecia. Ponto para a Blooks! De qualquer forma, o número e a animação das pessoas que nos cercavam superaram em muito nossas expectativas mais otimistas. O bate-papo na fila de autógrafos e a curiosidade dos leitores sobre nossos trabalhos também superaram tudo o que vivenciamos em lançamentos anteriores.
Saborosamente assoberbados pelos Autógrafos I.
Como de costume, Octavio autografou caricaturando ora personagens de seu conto, ora o próprio leitor. Muitos fãs insistiram em saber sobre o andamento de seu romance de ficção alternativa, A Mão que Pune, continuação do já clássico, A Mão que Cria. Num ato de bravura autoral (quem foi que disse que todos os autores são covardes?), Octavio confessou suas dificuldades em escrever romances e sua predileção pela produção de ficção curta.
Um dos primeiros da fila de autógrafos, Daniel Ribas, chegou não apenas com os dois lançamentos, mas também com minhas coletâneas Outros Brasis (Mercuryo, 2006) e Taikodom: Crônicas (Devir, 2009), além da antologia Imaginários 1 (Draco, 2009). Aproveitou o ensejo para me pedir detalhes sobre a Dieselpunk e eu lhe indiquei onde obter as guidelines. Ah, se todos os leitores fossem como ele, talvez alguns de nós pudéssemos, não digo viver de literatura fantástica no Brasil, mas, pelo menos, subsidiar a educação das crianças com nossos estipêndios literários.
Quando chegou a vez de Octavio autografar para um rapaz chamado Dino, meu amigo aproveitou o ensejo para espinafrar furiosamente o sujeito para que ele produzisse algumas pranchas de ilustrações de ideias que já teria concebido há tempos, mas ainda que não tivera oportunidade de concretizar. Há editores e críticos cruéis neste mundo! Em pensar que alguns dos piores críticos são nossos melhores amigos...
Saborosamente assoberbados pelos autógrafos II.
Roberval e um outro rapaz presente me perguntaram sobre a possibilidade de uma eventual continuação do Xochiquetzal. Confessei que está nos meus planos a ideia e o desejo de escrever uma história da vida da princesa asteca após a morte de Dom Vasco da Gama (afinal, a própria introdução do romance, não por acaso, aventa a possibilidade de uma continuação), com possíveis implicações na ascensão do filho do casal ao trono mexica (é questão de consultar a linha histórica apresentada no fim do livro) e à consequente guerra de independência de Anáhuac contra o Império Português. Porém, desculpem o clichê, mas, com pesar no coração, lembrei que normalmente um autor tem muito mais ideias instigantes para escrever suas histórias do que tempo para fazê-lo.
Autógrafo para Roberval Barcellos, autor da história alternativa "Primeiro de Abril".
Durante todo o lançamento, Cláudia documentou o evento com dezenas de fotos com nossa câmera digital. Consequentemente, desta vez terei fotos boas para mostrar, ao contrário daquelas que eu mesmo costumo cometer em eventos análogos. Porém, tudo na vida tem seu preço: ela própria não aparece, visto que estava sempre atrás da câmera...
Aproveitei a oportunidade e, finda a sessão de autógrafos, presenteei minha amiga e afilhada literária Ana Cristina Rodrigues com um exemplar do romance The Time Traveler’s Wife, da Audrey Niffinegger. Falamos um bocado do livro e do filme nele baseado, despertando interesse dos demais amigos ao nosso redor. Sem brincadeira: um dos melhores romances de ficção científica e absolutamente o melhor romance de viagens temporais que li em 2010!
Como já está se tornando tradição, ao fim do evento na Blooks, seguimos a pé até o Espaço Gourmet, ponto habitual de encontro da FC carioca. Desta feita, nossa insigne comitiva integrou dez pessoas: eu, Cláudia, Toinho e a esposa, Ana Cris, Ricardo França, Lupo e três amigos da Ana que participam das comunidades literárias capitaneadas por ela. Meia hora mais tarde, chegava Estevão Ribeiro, escritor e marido da Ana Cris.
Aproveitei para trocar algumas figurinhas com a Ana sobre a situação do Max lá na Região Serrana.
Aliás, como não podia deixar de ser, em virtude de nossa partida iminente para num passeio de quinze dias nos Lagos Andinos, um dos assuntos principais do nosso lado da mesa foram as diversas viagens pelo Brasil e no exterior. Toinho afirmou-se um gourmet de mão cheia e confessou que regressa periodicamente ao Recife não para rever a família, mas sim para comer caranguejos.
Em meio a queijos gostosos e um vinho abaixo de sofrível, Toinho nos concedeu ensinamentos preciosos sobre a obra do cineasta soviético Andrei Tarkovskii, diretor dos grandes filmes de ficção científica Solaris (1972) e Stalker.
Confraternização no Espaço Gourmet.
Paga a conta, já na despedida à porta do Espaço Gourmet, agradeci ao Toinho por ceder a Blooks para os lançamentos e aventei a possibilidade de lançarmos A Guardiã da Memória lá nos próximos meses. Vamos ver se rola.
Enfim, um lançamento bem sucedido que, por tudo e por todos, superou em muito nossas expectativas mais otimistas.
Jardim Botânico, Rio de Janeiro, 13 de janeiro de 2011 (quinta-feira).
Participantes:
Alexandre César
Amaury
Ana Cristina Rodrigues
Carlos Eugênio Patati
Cláudia Quevedo Lodi
Daniel Ribas
Dino
Estevão Ribeiro
Flávio
Gerson Lodi-Ribeiro
Ingrid
Jorge Pereira & Márcia
Lucio Manfredi
Marco Antônio & Giovanni
Mário Feijó
Octavio Aragão
Rafael “Lupo” Monteiro
Ricardo França
Roberval Barcellos
Toinho Castro
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