Lançamento de Dom Casmurro e os Discos Voadores, de Lúcio Manfredi
2010.09282359P3
“Gerson, é a última chance de retirar o que disse
e nós fingimos que não ouvimos nada...”
[Lúcio Manfredi]
Deu-se hoje à noite na filial Ipanema da Livraria da Travessa o lançamento do romance de ficção alternativa Dom Casmurro e os Discos Voadores, de Lúcio Manfredi, que marca a estréia desse autor como romancista.
Na verdade, foi o lançamento conjunto de quatro romances mash-up ou ficção alternativa (dependendo da quantidade de apropriação e alteração sobre o texto do autor clássico original) dentro do selo Lua de Papel, da editora Leya.* Uma tendência recente, importada do mercado editorial anglo-saxão, a partir do êxito comercial do romance mash-up Orgulho, Preconceito e Zumbis, baseado no texto original de Jane Austen. Felizmente, autores e editoras brasileiras tiveram o bom senso de explorar os clássicos originais brasileiros, em vez de tentar seus congêneres estrangeiros.
Capa do romance.
[*] Respectivamente, Dom Casmurro e os Discos Voadores, de Machado de Assis & Lúcio Manfredi; Senhora, a Bruxa, de José de Alencar & Angélica Lopes; A Escrava Isaura e o Vampiro, de Bernardo Guimarães & Jovane Nunes; e O Alienista Caçador de Mutantes, de Machado de Assis & Natalia Klein.
Ao chegar na Travessa surpreendi o autor fumando um cigarro na calçada da livraria (Ah, o vício...) para relaxar.— Pô, Lúcio! Você não devia estar autografando? E o seu público? — Reclamei.
— Relaxa, Gerson. Tá todo mundo lá dentro. Só tô aproveitando uma brecha aqui um pouquinho. — Replicou entre tragada e baforada.
Após comprar meu exemplar no caixa, encontrei com o Rafael Lupo Monteiro. Empolgado, Lupo contou que adquiriu os quatro romances lançados hoje. Lúcio logo se reuniu a nós, esclarecendo de bate-pronto a principal dúvida da noite: segundo ele, seu Dom Casmurro e os Discos Voadores é ficção alternativa e não um mash-up. Falou que acrescentou muita coisa sua, mantendo apenas cerca de 30% do texto original do Machado de Assis. Aproveitei para coligir meu autógrafo antes que os outros amigos e fãs chegassem à livraria.
Autor, Obra e eu.
Eduardo Torres chegou cerca de meia hora mais tarde e, após a primeira taça, elogiou o tinto servido no lançamento, que não conseguimos descobrir a procedência. Aliás, o serviço estava com o bom padrão de qualidade habitual da Travessa Ipanema, que eu anteriormente atribuía exclusivamente aos lançamentos da Rocco, uma vez que nosso amigo Max Mallmann sempre lançou seus romances ali. Além do patê de fígado com geleia, do musse de gorgonzola e do frango ao curry, como inovação, tivemos um delicioso caldinho de ervilha servido em copos de plástico do tamanho de cálices de licor.Conversamos sobre as várias narrativas de Spartacus, do romance do Howard Fast, ao filme clássico homônimo (1960), com roteiro de Dalton Trumbo e direção de Stanley Kubrick, passando pela série estilosa e quadrinística Spartacus — Blood & Sand presentemente exibida na Globosat HD. Esse papo começou quando Edu nos contou que seu sobrinho, entusiasmado com a leitura de O Centésimo em Roma do Max Mallmann, pediu-lhe outro romance histórico ambientado na Roma Antiga. O tio lhe comprou o romance de Fast e, mais tarde, o DVD remasterizado do Spartacus de Trumbo & Kubrick, com direito a entrevistas antigas e recentes de atores, diretor e roteirista, análise de cenas de roteiro mantidas ou mudadas no filme que foi às telas de cinema.
Vez por outra, um Lúcio renitente era arrancado à própria revelia do nosso bate-papo ameno e forçado a se sentar à mesa de autógrafos para cumprir o ritual sagrado de autor. Das vezes em que presenciei tal violência, a única em que esse acedeu de bom grado foi para conversar sobre a capa de seu romance com uma fã mirim de uns sete ou oito anos de idade, faladeirinha e extrovertida que só ela...
Autor e sua mais jovem admiradora.
Pouco mais tarde, chegou Ana Cristina Rodrigues, que teceu elogios ao romance que iniciou toda a voga atual de “parcerias” entre autores mainstream mortos cujos textos já caíram sob domínio público e autores de literatura fantástica atuais, o Pride, Prejudice and Zombies, que leu no original. Segundo Ana, pelo menos esse romance seminal é de fato um mash-up e, em sua opinião, muito divertido. Comentei que o maior problema desse tipo de parceria é que, para que o leitor desfrute devidamente da sutileza do trabalho, em muitos casos, teria que primeiro ler ou reler o romance clássico original que inspirou o parceiro vivo a escrever o mash-up.Max Mallmann foi o penúltimo a chegar, mas fez questão de reparar uma grande injustiça. Outro grupo de amigos & conhecidos do Lúcio trouxe um exemplar em hardcover do The Big Penis Book lá do outro lado da livraria e o colocou perto da mesa de autógrafos para chocar nosso amigo ou, quem sabe, entusiasmar algum dos outros três autores da mesa. Em desagravo, Max desencavou um hardcover análogo sobre vaginas e o posicionou do lado do livro anterior. Casamento perfeito!
Já que o papo versava sobre sexo, comentei alguns detalhes picantes sobre a série Spartacus — Blood & Sand. Talvez por causa da temática de gladiadores e de certa predisposição anterior ao assunto, meus amigos levaram os comentários para o lado da sacanagem. Ainda tentei me explicar, mas há situações em que quanto mais você explica, mas se complica. Ao perceber que estava numa delas, julguei melhor me calar a fim de preservar os poucos trapos de reputação que me restavam. :-)
Autor & sua Tropa de Choque.
Ainda conversei com ela sobre a proposta do Erick Sama da Draco para que nós dois organizemos os lançamentos da editora aqui no Rio na livraria Blooks. A ideia é fazer uma mesa-redonda para o lançamento da Imaginários 3 (onde também seriam vendidas as Imaginários 1 & 2) e outra para a Vaporpunk (onde também seria vendido o Xochiquetzal). Eu moderaria as duas mesas e a Ana participaria de pelo menos uma delas. Vamos ver como é que vai rolar.
Estevão Ribeiro chegou quase da hora de encerrar a fase oficial do evento. O pessoal estava planejando partir da Travessa para o bar Devassa mais próximo. Não pude esticar com os amigos, pois tive que buscar minha filha no curso pré-vestibular noturno que ela está fazendo às terças e quartas-feiras.
Jardim Botânico, Rio de Janeiro, 28 de setembro de 2010 (terça-feira).
Participantes:
Ana Cristina Rodrigues
Eduardo Torres
Estevão Ribeiro
Gerson Lodi-Ribeiro
Lúcio Manfredi
Max Mallmann
Rafael “Lupo” Monteiro
Relato preciso do lançamento, muito bom! Agora vamos torcer pros lançamentos da Draco no RJ rolarem mesmo!
ResponderExcluirUm abraço!
Poxa, que pena que não fui... uma correçaozinha, Gérson:
ResponderExcluir"uma vez que nosso amigo Max Mallmann sempre lançou seus romances ali."
Síndrome de Quimera foi lançado na Argumento do Leblon, lá por... 2003?
- Felipe
Oi, Felipe.
ResponderExcluirÉ verdade. De acordo com minha crônica da época, *Síndrome de Quimera* (Rocco, 2000) foi lançada na Argumento.