Spaceblooks II
Dia 1 — Mash-ups de assis
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“Será que há semelhança entre os defensores do cânone literário que atacam os mash-ups e os críticos politicamente corretos que pretendem censurar o racismo na literatura infantil de Monteiro Lobato?”
[Octavio Aragão, curador do SpaceBlooks II]
Deu-se hoje na Livraria Blooks, situada da galeria Unibanco Artplex na Praia de Botafogo a abertura da SpaceBlooks II, com a mesa-redonda “Mash-ups Machadianos”, moderada pelo curador do evento, Octavio Aragão e a participação dos escritores Lúcio Manfredi, autor de Dom Casmurro e os Discos Voadores (Leya, 2010)[1] e Pedro Vieira, autor de Memórias Desmortas de Brás Cubas (Tarja, 2010).
Cheguei à Blooks direto do trabalho com quinze minutos de atraso em relação ao horário oficial de 19:00h. Já estavam presentes os autores da mesa e, para variar, Lúcio fumava seu “cigarrinho do antes” na entrada da galeria do Artplex para relaxar. Também presente estava o convidado especial britânico, Robert Shearman, trazido da Grã-Bretanha sob os auspícios da Cultura Inglesa. Shearman falará amanhã na palestra “Ficção Científica na TV”. Além disso, estavam lá o escritor e roteirista Max Mallmann e, é claro, o agitador cultural da própria Blooks, Toinho Castro e da gerente da livraria, Elisa Ventura. Jaciara, responsável pela divulgação do evento por parte da Cultura Inglesa também compareceu. Graças a ela, a SpaceBlooks II apareceu numa nota no caderno Prosa & Verso do O Globo de sábado passado e em O Dia.
Ausências sentidas foram a de Eduardo Torres, atual presidente do Clube de Leitores de Ficção Científica; da autora e editora de fantasia Ana Cristina Rodrigues, do autor e quadrinista Carlos Eugenio Patati e do fã emérito Ricardo França.
Por falar em fãs eméritos, compareceram também Rafael “Lupo” Monteiro e Daniel Ribas.
A mesa-redonda se iniciou por volta das 19:40h com o curador Octavio apresentando os escritores Pedro Vieira e Lúcio Manfredi à plateia de cerca de vinte e cinco pessoas, público menor do que o presente em eventos anteriores na Blooks, mas surpreendentemente bom para uma segunda-feira.
Pedro Vieira.
Pedro Vieira abriu os trabalhos falando da gênese de seu Memórias Desmortas de Brás Cubas a partir da leitura do mash-up Orgulho, Preconceito e Zumbis, de Grahame-Smith, baseado no clássico Orgulho e Preconceito, de Jane Austen. Após comentar que esse romance que deu origem à onda mash-up, é algo monótono, por esgotar a piada original bem antes de concluir a narrativa — talvez pelo fato do autor se ter sentir obrigado a reter boa parte do texto original de Jane Austen — Pedro esclareceu que seu romance não deveria ser classificado como mash-up, uma vez que não emprega trechos extensos do texto original do romance de Machado de Assis, preferindo começar do ponto em que Memórias Póstumas de Brás Cubas parou, à semelhança do que Kim Newman fez em Anno Dracula, em relação ao clássico do horror de Bram Stoker.
Lúcio Manfredi revelou que a produção de Dom Casmurro e os Discos Voadores fez parte de uma estratégia da editora Leya de organizar uma coleção de mash-ups garimpando os clássicos da literatura brasileira, questão já comentada na crônica sobre o lançamento do romance do Lúcio em setembro passado.
Lúcio Manfredi.
Os dois escritores teceram comentários bem-humorados sobre os preconceitos enfrentados e as críticas acerbas recebidas da parte da intelligentzia da literatura brasileira. De maneira geral, os críticos de plantão se mostraram indignados ante o atrevimento deles em fundir temáticas fantásticas a textos há muito santificados pelo cânone. Autores e plateia comentaram que diversas narrativas audiovisuais desprovidas de elementos fantásticos que atualizaram temáticas expressas em romances machadianos foram de maneira geral bem acolhidas pela crítica. Octavio estabeleceu uma comparação dessa atitude tacanha do cânone com a patrulha ideológica exercida há pouco tempo contra a literatura infantojuvenil de Monteiro Lobato, por conta de trechos pretensamente racistas, quando, em verdade, o autor só demonstra seu racismo no romance de ficção científica O Presidente Negro.
Max Mallmann, Rafael Lupo e Daniel Ribas levantaram questões e comentários relevantes para enriquecer o debate que se seguiu após as falas dos escritores. Ao longo dessa interação animada, um cidadão de cerca de setenta anos sentado na última fileira manifestou-se diversas vezes em voz gutural para cobrar a produção de mash-ups inspirados em Iracema e nas obras de Clarice Lispector e Jorge Amado. Houve quem insinuasse que tal indivíduo estaria, na verdade, emulando um zumbi para divulgar o evento, versão não confirmada por Jaciara.
Encerrada a mesa-redonda, autografei a coletânea Outros Brasis (Mercuryo, 2006) e o romance de história alternativa Xochiquetzal, uma Princesa Asteca entre os Incas (Draco, 2009) para o Pedro Vieira. Também autografei meus contos “Eram os Deuses Crononautas?” e “Coleira do Amor”, publicados respectivamente em Intempol (Ano-Luz, 2000) e Vinte Anos de Hiperespaço (Virgo, 2003) para Daniel Ribas.
Octavio Aragão, Curador do SpaceBlooks 2011.
Já mais ou menos de saída, travei contato com o autor britânico Robert Shearman, roteirista da série Doctor Who, sujeito que demonstrou ser a simpatia em pessoa, desejando-me sucesso no lançamento de A Guardiã da Memória (Draco, 2011) depois de amanhã. Também conversei com a gerente e dona da livraria, Elisa Ventura, sobre as garrafas de Boscato Reserva Merlot que levarei para os lançamentos da quarta-feira.
Rafael "Lupo" Monteiro, Max Mallmann, Lúcio Manfredi, Octavio Aragão e Pedro Vieira.
Após um bate-papo com Max Mallmann e Rafael Lupo, parti da livraria para aguardar a Cláudia, que viria de táxi da ABS para me buscar na entrada da galeria Artplex Unibanco.
Jardim Botânico, Rio de Janeiro, 30 de maio de 2011 (segunda-feira).
Participantes:
Daniel RibasElisa Ventura [Blooks]
Gerson Lodi-Ribeiro
Jaciara [Divulgação – Cultura Inglesa]
Lucio Manfredi
Max Mallmann
Octavio Aragão
Rafael “Lupo” Monteiro
Robert Shearman
Toinho Castro [Blooks]
[1]. Lançado em setembro do ano passado na Livraria Travessa do Leblon, junto com outros três mash-ups da editora, todos inspirados em clássicos da literatura brasileira já sob domínio público.
Gérson, só posso dizer uma coisa: você perdeu ontem, cara! Sensacional.
ResponderExcluirPena não ter dado para aparecer. É que na hora estava gravando para o podcast do Fábio Barreto sobre a antologia *SPACE-OPERA*.
ResponderExcluirFico feliz em que a palestra do Robert Shearman tenha bombado! Parabéns!!!
Gozado. A postagem acima acabou saindo como anônima, a conta do Google não conseguiu "logar"...
ResponderExcluirGerson.